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Mudar é preciso

Permita-me regredir um pouco no tempo e voltar ao último domingo, mais precisamente aos acontecimentos do jogo entre Náutico e Botafogo.
 
As cenas que agitaram os noticiários e os comentaristas não devem surpreender ninguém. Afinal, todo mundo sabe que esse tipo de coisa acontece a todo o tempo por todo o país. Estranhamente, o Brasil não parece ter um tipo de segurança preparada para lidar com eventos e multidões, seja segurança pública ou privada.
 
De qualquer maneira, o que se viu em Recife não me parece ser muito anormal. Já vi outras vezes, em outras situações. Muitas outras vezes, muitas outras situações. Pesquisadores e intelectuais dizem que uma das principais soluções a serem adotadas para solucionar o problema de violência brasileiro é a desmilitarização da polícia. Quando se vê o batalhão de choque agindo em um campo de futebol para prender jogadores, talvez eles não estejam errados.
 
Fato é que a violência no Brasil continua preocupando, seja por esse acontecimento ou pela pesquisa do IBGE recém-publicada que aponta o crescente número de homicídios. Ou até pela própria percepção pública, que não me parece caminhar em outro sentido diferente.
 
Esse problema é possivelmente um dos maiores desafios para a Copa no Brasil. Questões estruturais, a princípio, parecem ser algo mais simples de se resolver. Basta construir, o que é um trabalho mais concreto, previsível e exato. Agora, para conseguir fazer com que a sociedade fique menos violenta é necessário um trabalho muito mais árduo e arriscado.
 
Talvez o que mais preocupe não seja necessariamente a violência da população em si, mas sim o método de repressão aos inúmeros problemas e manifestações de massa que ocorrem durante uma Copa do Mundo. Como irá a polícia reagir aos hoolingans? E aos barra-bravas argentinos? E aos turistas que beberem e quiserem gritar e agitar no meio do centro da cidade? E aos brasileiros tirando sarro dos franceses?
 
Esse é o tipo de coisa que as pessoas tendem a ignorar, mas que pode facilmente gerar uma imensa repercussão negativa. Logo, é o tipo de coisa que pode comprometer todo o evento.
 
Construir um estádio não é das coisas mais fáceis. Mudar o comportamento da população e da polícia em seis anos é pior ainda.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br