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Querida encolhi os atletas! Chuteiras galácticas para os… ah! Os jogadores

Onde está a tecnologia no futebol? Em que aspectos ela está mais avançada? Ela inexiste nesse universo? Seria o futebol um vácuo, no qual a tecnologia não se propaga?

O futebol sem dúvida envolve uma gama de vertentes e variantes: o espetáculo, o business, a performance, entre outras. É símbolo daquilo que o historiador e sociólogo francês Pierre Bourdieu define como campo esportivo, gerador de tantas funções e interesses que despertam de sua prática – os atletas, os jornalistas, as empresas de material esportivo, os empresários, e por ai a diante.

O que mais me chama atenção é a estratosférica distância que se estabelecem nesses campos em torno do futebol em relação aos avanços tecnológicos. A tecnologia está presente no futebol, sim! E com muito investimento! – O amigo que acompanha os textos dessa coluna deve estar confuso e estranhando, já que tenho sido tão crítico a falta de tecnologia na nossa querida modalidade, mas é ai que mora o grande abismo.

A tecnologia atinge algumas dessas vertentes. Não temos dúvida dos recursos e investimentos que são gastos para o desenvolvimento dos uniformes, da bola, das caneleiras, luvas, e a estrela maior da indústria do material esportivo, nada mais nada menos que ela… a chuteira.

De fibras de carbono, a titânio, de borrachas especiais a couro inimitável, com flexibilidade inigualável, ajustada aos pés dos maiores ídolos, testados impacto a impacto, estudada biomecanicamente em função das ações especificas, permitindo caracterizar uma chuteira em função do estilo de jogo do atleta, se ele corre mais com a base do calcanhar, utiliza mais força para o chute, se é mais técnico na corrida, enfim a chuteira é desenvolvida considerando cada ossinho, músculo e tendão em movimento.

Mas o que nos preocupa não são esses avanços, nem tantos outros importantes que já ocorrem como a evolução da grama, sistemas de irrigação, sem contar sistemas de avaliação física que tem se aprimorado cada vez mais. Somos extremamente favoráveis aos avanços, desde que não se esqueçam de uma figura importante nesse processo.

Algumas dessas vertentes do campo esportivo, no caso mais especifico o futebol, às vezes esquecem “daquilo” que está justamente atuando sobre o outro campo, aquele verde no qual coexistem com chuteiras e uniformes o que nos acostumamos chamar de atleta. Ah! Acaba parecendo que encolhemos esses atletas e o que vemos é um futebol praticado por chuteiras e uniformes.

Mas o amigo pode achar uma injustiça, alegando que muitas das tecnologias aplicadas visam justamente a melhoria de performance do atleta e que outras tantas atuam diretamente no atleta. Em tempo, é necessário frisar que tanto umas como outras têm como foco a melhoria do desempenho, considerando o atleta simplesmente como um instrumento no qual devem ser aplicados recursos para otimizar o desempenho, seja direta ou indiretamente.

Partindo do conceito de tecnologia que fundamenta nossas idéias, relembrando, tecnologia é processo e recurso que buscam otimizar os objetivos, até parece-nos adequado os grandes investimentos em alguns campos específicos do futebol. Mas o fato é que alguns dos principais fatores que deveriam ser considerados acabam ficando relegados nessa corrida de inovação tecnológica desordenada no mundo do futebol.

O que determina um resultado do jogo? Ah se eu tivesse a resposta, estaria milionário! Mas tenho convicção que dentre as variantes que influem significativamente estão as questões técnicas e táticas. E quem é o grande responsável por essas questões? Tchazan! O atleta, o mesmo atleta que utiliza as chuteiras galácticas desenvolvidas pela tecnologia, sobre gramados milimetricamente elaborados e estudados, e sobre o qual são aplicados os recursos mais fantásticos para otimizar sua performance.

Mas onde está a tecnologia para otimizar aquilo que pode ser o grande diferencial de um atleta que treina as mesmas coisas, com os mesmos recursos tecnológicos que os outros, mas que o torna diferente, aquilo que permite a imprevisibilidade através de elementos técnicos e táticos. Que se busque valorizar tais questões na formação do atleta. Não mais apenas pela altura ou força, mas pela capacidade de compreender um jogo.

Alguns poderiam dizer que é loucura falar em tecnologia para as questões de inteligência e dom dos atletas. Concordo, ainda que a genética já esteja por ai e não imaginamos o que pode vir de positivo e negativo dela.

Mas o que já é possível falar sobre a tecnologia nesse processo (olha aí um dos termos que definem tecnologia), é uma das coisas mais valiosas atualmente: INFORMAÇÃO.  Alguém dúvida do que pode ser feito para armazenar, tabular, organizar, traçar tendências, identificar padrões, etc, etc, etc com a tecnologia que dispomos hoje? Eu não! Duvido apenas da capacidade dos homens do futebol (sempre há exceções, que não se sintam ofendidos aqueles que aqui se encaixam, nem que se considerem aqui presentes aqueles que não devem) de transformar tudo isso em informação.

Até lá torço para que nossos atletas mantenham suas técnicas e táticas bem armazenadas com os recursos tecnológicos presente em seus cérebros, para que não sejam encolhidos até o ponto do que uma vez Umberto Eco imaginou como o futuro das copas do mundo: um futebol de robôs, confrontando marcas, tecnologias…

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br