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Zezinho do Scout traz uma análise da aplicação do scout no jogo São Paulo x Cruzeiro

Meus amigos, aproveitando a época de eleições, eu assumo aqui uma promessa… sic… quero dizer, um compromisso com vocês, caros eleitores …sic.. digo, leitores. Mas é um compromisso que, espero, possa nos trazer muita discussão e reflexão. Em toda última terça-feira de cada mês, eu pretendo trazer aqui nosso personagem principal: Zezinho do Scout. 

Zezinho fará uma análise do scout de um jogo de destaque na semana, utilizando os recursos tecnológicos da ScoutOnline para uma análise em tempo real, e tentará mostrar como uma ferramenta de scout pode contribuir com os profissionais do futebol, seja do ponto de vista da dinâmica, velocidade e informação em tempo real, ou seja, do olhar rigoroso e cientifico de um instrumento metodologicamente validado.

Isso (o rigor e validação das informações) é importante ressaltar, haja visto que scout não é simplesmente levantamento de dados quantitativos, mas sim, um cruzamento de informações qualitativas em relação aos fenômenos do jogo. E sem rigor e padrão cientifico, podemos cair em “achismos” ou ainda pensar que qualquer um pode fazer. Ou ainda, o que não é muito incomum, que cada um consegue adaptar os dados encontrados conforme suas expectativas, para que as informações não denunciem seus equívocos. O que é diferente de adequá-lo às suas necessidades e forma de analisar e interpretar os jogos, essas sim peculiares e ajustáveis a cada treinador e comissão técnica.

Para não me alongar na apresentação do Zezinho do Scout, e aproveitarmos esses espaço que ele terá todo mês, deixamos para conceituar e discutir outras questões numa outra semana. Fala Zezinho:

Olá pessoal, não vou ficar de blá blá blá, já fui apresentado, vamos logo ao que interessa. Vou usar dados e imagens da Prancheta Eletrônica da ScoutOnline* que eu usei durante o jogo do Cruzeiro x São Paulo. Como existem várias formas de análise e discussão, vou a cada análise utilizar algumas possibilidades, para que possamos melhor compreendê-las e não ser muito superficial. Assim, mostro para vocês também um pouco de como eu tiro minhas conclusões.

Uma das análises que gosto de fazer é situar os jogadores que são mais acionados em momentos do jogo e ver quanto eles representam efetivamente nas ações da equipe. No caso abaixo, nos primeiros 15 minutos de jogo temos 3 jogadores tanto do São Paulo quanto do Cruzeiro como responsáveis por cerca de 50% da circulação de bola de suas equipes.


* Cruzeiro atacando para esquerda e São Paulo atacando para direita

Fonte rica de informações:

Num primeiro momento, podemos olhar para imagem e não significar nada, ou questionarmos porque que eu selecionei essa imagem. Vamos lá: observando a tabela de ocorrências verifiquei a informação de que 50% dos passes de cada equipe concentrava-se nos pés desses jogadores.

Como gosto de fazer sempre essas conexões, já deixo sempre uma visualização pronta, já que durante o jogo não dá para ficar perdendo tempo, tenho que ver a informação de forma rápida para que possa pensar em alternativas, caso fosse eu um dos técnicos do jogo, concordam?

Assim observei os campogramas mostrados acima. Oras, um indicativo significativo do que vinha ocorrendo no jogo, São Paulo concentrava seu jogo na direita, e com jogadores que não eram tido como seus principais articuladores, enquanto o Cruzeiro já concentrava suas ações em jogadores que costumeiramente armam e articulam as jogadas.

Observando essas questões imediatamente pensei no que isso significa de fato: pelo São Paulo, os jogadores de defesa mantinham mais a posse de bola e apresentavam dificuldades de fazê-la passar pelos seus principais jogadores, o que era inverso no Cruzeiro. Esse tipo de analise já nos mostra uma série de tendências sobre posicionamento e marcação, e com certeza, me forçaria a modificar ou explorar mais algumas possibilidades surgidas.

Seguindo até o fim do 1º tempo, notei uma modificação, ao invés de três, as equipes concentraram 50% dos seus passes em quatro jogadores. Pelo São Paulo começam a aparecer mais no jogo Hugo e Jorge Wagner, enquanto no Cruzeiro Jonatas e Henrique também assumem papel importante.

Isso me alertou um pouco para os cuidados que o Cruzeiro deveria tomar. Com Hugo e Jorge Wagner, há uma inversão de lado da atuação do São Paulo e uma melhor distribuição pelo campo, com jogadores mais técnicos, enquanto que o Cruzeiro permanecia com sua proposta oferecendo dificuldade ao adversário com jogadores ofensivos e seus alas na articulação ofensiva.

Ainda poderíamos mostrar as informações detalhadas do 2º tempo, imagino que muitos prefiram vê-las do que ler meus comentários, mas quero aqui mostrar que a tecnologia é uma ferramenta e que a analise vem de quem lê e interpreta antes de aplicar.

Muitos poderiam dizer, mas todos sabemos que o São Paulo tem sua força pela esquerda com Jorge Wagner e Hugo, não nos surpreende eles terem assumido a responsabilidade na parte final do primeiro tempo. 

Mas grande diferença de um jogo pode não estar nas questões óbvias, às vezes está num período específico do jogo em que a equipe está estruturada, seja por questões de opção ou força das ocasiões do jogo. Como o São Paulo nos primeiros 15 minutos, que concentrou ações em jogadores mais defensivos e pela direita, que acabou por surpreender o adversário.

Muitas vezes um técnico prevê uma atuação do adversário e durante o jogo,  o mesmo comporta-se de maneira diferente. Se posso me valer de recursos que identificam essas tendências e padrões instantaneamente, fica mais fácil fazer uma intervenção, não preciso tomar um gol para validar a informação, tenho que confiar que a informação já é validada.

Só para constar, do inicio do 2º tempo até o momento do gol de André Dias, o São Paulo tinha três jogadores que detinham praticamente 50% das ações de passe da equipe, eram eles Joilson, Andre Dias e Jean (veja no campo abaixo).

O São Paulo já mostrava uma tendência de jogo pela direita, reforçada pela entrada de Jancarlos (imediatamente antes do gol) para ocupar o setor. O escanteio originou-se de um passe de Hugo pelo meio campo para a direita com Jancarlos, conquistando o escanteio.

Após o gol Jorge Wagner e Hugo passaram a ser responsáveis por 46% dos passes certos da equipe tricolor, principalmente pelo setor esquerdo, ou seja, o São Paulo voltou a usar a estratégia de segurança. E não por acaso, numa roubada de bola de Jorge Wagner pela esquerda, passa (ainda que travado) para Hugo…falta recebida. Gol de falta de Jancarlos!

Eis um bom exemplo para diferenciarmos scout de estatística. Na estatística, o São Paulo ganhou com gols de bola parada. No scout, mostrei um exemplo do que fui vendo no decorrer do jogo e que foi  determinante para que as
tais bolas paradas acontecessem. Essa análise é baseada em uma das muitas e variadas possibilidades, e olha que nem combinei muitos dados (alias praticamente quase nada), apenas trabalhei em cima de informação numérica e pela área de atuação.

É isso ai pessoal, espero que tenham gostado, e desafio o amigo leitor a me enviar suas análises, para que possamos debater e ver como podemos enxergar e tirar conclusões diferentes dos dados a partir de um mesmo recurso. Isso é enriquecedor, lembrando do fato citados por nós na coluna Google e o egoísmo no futebol brasileiro sobre times ingleses rivais compartilharem informações estratégicas e uso de recursos tecnológicos, apostando nas diferenças de interpretações e análises em cima dos mesmos dados.

Abraço a todos

Zezinho do Scout.

* ferramenta para acompanhamento de scout do jogo em tempo real da ScoutOnline.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br