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Sobre futebol e, sobretudo, sobre vida!

Eduardo Galeano, se não bastasse ter nos brindado há tempos com o imperdível “As Veias Abertas da América Latina“, leitura obrigatória de todos nós latinoamericanos, também nos presenteou com vários escritos sobre uma outra sua paixão, o futebol. Tenho em mãos, neste momento, a 2ª edição (2002) do seu “El Fútbol a sol y sombra“, por aqui editado pela gaúcha L&PM Editores, onde ele logo de início se diz um mendigo do bom futebol, andando pelo mundo de chapéu na mão e nos estádios suplicando por uma linda jogada…
 
Recorri a ele por conta dos recentes acontecimentos em torno do Adriano, “O Imperador“, os quais fizeram circular na internet um belo texto atribuído ao sociólogo Emir Sader intitulado “Quem está doente: Adriano ou os outros?”.

Se alguém ainda tivesse dúvidas de ser o futebol uma prática social ao mesmo tempo produtora e tradutora dos valores inerentes à sociedade no qual se encontra inserido, certamente as deixaria para trás, convencido pela sua leitura do quanto o futebol reflete a cultura de seu tempo…

 
Em seu livro, Galeano, tendo Maradona como mote, afirma que “o prazer de derrubar ídolos é diretamente proporcional à necessidade de tê-los”. Sader, por outras vias, ratifica o entendimento de seu companheiro de luta ao perguntar, para depois responder:
 
“Que sociedade é esta que – quando alguém diz que não estava feliz no meio de tanto treino, tanta pressão, tanta grana, tanta viagem, que prefere voltar à favela onde nasceu e cresceu, comprar cerveja e hambúrguer para todo mundo, ficar empinando pipa – considera que essa pessoa está psiquicamente doente e tem que procurar um psiquiatra? Estará doente ele ou os deslumbrados no meio da grana, das mulheres, das drogas, da publicidade, da imprensa, da venda da imagem?“.
        
Para não deixar dúvidas de que o conceito de normal/normalidade é construção sócio-histórica, continua Sader a tecer consideração sobre o modo de vida da sociedade do ter, que se afirma em detrimento da sociedade do ser:
 
“O normal é ter, consumir, se apropriar de bens, vender sua imagem como mercadoria, se deslumbrar com a riqueza, a fama, odiar e hostilizar suas origens, se desvincular do Brasil. Esses parecem ‘normais’. Anormal é alguém renunciar a um contrato milionário com um time italiano, primeiro colocado no campeonato de lá (…) para viver de bermuda, camiseta e sandália havaiana (…) falar como ser humano que singelamente tem a coragem de renunciar às milionárias cifras, eventualmente até pagar multar pela sua ruptura, dizer que vai ‘dar um tempo’, que não era feliz no que estava fazendo, que reencontrou essa felicidade na favela da sua infância, no meio dos seus amigos e da sua família…” 
        

Pois é… Mudando de personagem, mas não de assunto, por isso tudo é gratificante ver um Ronaldo Fenômeno ressurgir das cinzas, estampando um sorriso que não deixa dúvidas sobre a felicidade que o embala e que ele faz questão de brindar com gols e… com uma Brahma!

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

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Soberania continental

A classificação dos cinco clubes brasileiros para a fase final da Copa Libertadores é a prova da soberania do futebol brasileiro no continente. O Brasil está para a América do Sul assim como a Inglaterra está para a Europa.

Pudera. As duas nações não apenas são aquelas que têm a moeda nacional mais forte, mas também são aquelas que possuem, de maneira mais territorialmente disseminada, mais apego ao futebol. Se na América do Sul a Argentina aparece como grande concorrente do Brasil, na Europa quem faz frente à Inglaterra é a Espanha. Mas Argentina e Espanha possuem suas forças extremamente concentradas. Na Espanha, o dueto Barcelona e Real Madrid impera. Ora um, ora outro. Na Argentina, é tudo concentrado, em Buenos Aires. Mais especificamente, pelo menos nos últimos tempos, no Boca Juniors. Nem o River faz mais tanta frente aos clubes brasileiros.

A questão é que não tem muito o que fazer. Em geral, a Inglaterra compra os melhores talentos da Europa e, consequentemente, forma as melhores equipes. No Brasil, isso não é tão evidente, mas acontece. A concentração de jogadores sul-americanos nas equipes brasileiras cresce a cada dia. Tem espaço pra crescer ainda mais.

Enquanto Brasil e Inglaterra continuarem sendo potências clubísticas e econômicas, o cenário dificilmente irá mudar.

A Inglaterra sofreu um baque feio com a crise. A libra esterlina perdeu um valor considerável em relação ao Euro. Uma eventual aceleração da decadência econômica inglesa pode dar início à perda de poder dos seus clubes de futebol. O Brasil até está sofrendo com a crise, mas nada que vá fazer o cenário mudar, uma vez que os outros países sul-americanos estão sofrendo muito mais.

Mas convenhamos, se for para depender do avanço econômico dos outros países da América do Sul, o futebol brasileiro vai reinar por muito tempo ainda.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br