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Meia-errata e necessidade dos clubes pensarem gestão de forma compartilhada

Olá amigos, na última coluna, alguns pontos que levantei geraram muita polêmica, nos emails que recebo dos colegas que acompanham os textos da Universidade do Futebol.

Pois bem, dentre os pontos, faço um esclarecimento: quando me referi ao contrato da Nike com o Corinthians no valor de 15 milhões, quantia praticamente igual a do patrocínio principal do São Paulo, me referi ao acordo divulgado pelo São Paulo com a LG em 2008, no valor de 16 milhões. Para 2009, esse contrato é de 18 milhões.

Fica uma meia-errata em relação aos valores e informações sobre o contrato de patrocínio da equipe do São Paulo. Reafirmo, como na semana passada, que utilizei as informações da Gazeta Press, e, como de costume, ainda verifiquei em outras fontes que também reafirmavam o valor mencionado.

Errei, e agradeço as correções dos leitores, dentre eles os e-mails assinados por Melveris Sas e Guilherme Mendes que corrigem os valores do patrocínio do São Paulo, baseando-se já em 2009, e ainda apresentam números em relação ao fornecimento de material da Reebok para o São Paulo, em cifras similares ou superiores (não colocarei informações mais precisas por falta de dados consensuais).

Esse é um ponto que gostaria de abordar. Cada veículo de informação divulga um valor diferenciado, por isso digo que é uma meia-errata. Mas, aprendendo com os erros, ficarei mais atento aos diferentes meios de comunicação, e também faço um apelo aos clubes brasileiros para tornarem cada vez mais transparentes (e que seja uma transparência de verdade) as informações (respeitando as necessidades e sigilos comerciais que lhes cabem) porque, assim, evitamos cair em armadilhas tal como eu caí.

No tocante a outro ponto polêmico, alguns concordaram com a preocupação com o demasiado egocentrismo do São Paulo e outros discordaram ressaltando que a equipe tricolor está muito a frente das demais.

São opiniões, e é nesse debate, que gosto de abrir com os colegas, que podemos contrapor visões e discutir, enfim, esse é um dos princípios de uma universidade tal qual a Universidade do Futebol se propõe.

Se todos concordássemos com uma única visão, o avanço seria mais lento, e é justamente a esse ponto que quis me referir em um breve espaço na última coluna. Está aí mais um erro, o espaço deveria ter sido maior para tal debate.

Ao fechar em si mesmo como modelo e referência nacional, e reafirmo que foi e que ainda é, o São Paulo tem realizado ações que, do ponto de vista estratégico, correm o risco de não acompanharem o que vem pela frente.

É como uma empresa pensar somente a curto prazo e realizar estratégias inovadoras e de excelente qualidade para obter resultados no presente, mas sem se preocupar com o que a concorrência pode apresentar, que por mais devastada que esteja no momento, alguma ação inteligente e proveitosa pode emergir e surpreender, afinal ela objetiva alcançar  e ultrapassar a referência do mercado.

Daí, a referência ao Palmeiras e ao Corinthians, nas figuras de dois excelentes e respeitadíssimos nomes que são Belluzo e Rosemberg (convido-os a consultar o currículo desses dois profissionais), e na busca que têm feito para dar alternativas aos seus clubes. Com idéias que visam a modernização de suas agremiações e que também partem da premissa de que, atuando em conjunto e em prol do futebol, seu clube só tem a ganhar. Poderia ter citado outros clubes, como, por exemplo, o Inter-RS com algumas ações recentes (tecnológicas e modernas).

Enquanto na Europa, os clubes se unem para facilitar a gestão, buscando uma organização em conjunto, na qual todos os integrantes são beneficiados, compartilhando tecnologia, informação e ações estratégicas, deixando que a competência e o trabalho diferenciado de cada um, isto é,  a forma como utilizam toda a estrutura conquistada (consequentemente diminuindo custos) seja o grande diferencial para sobrepor-se perante o outro, no São Paulo, percebe-se um certo egocentrismo, como dito anteriormente.

Essa observação, que tentei deixar mais clara, dada aos distintos e-mails que recebi, seja em concordância ou em discordância, é uma visão, outras tantas (cada um tem a sua) existem e acredito que, nessa troca, podemos ampliar nosso leque e aproveitar o que há de melhor numa universidade: aprender a ver o universo e a diversidade de opiniões acerca do mesmo fato.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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O melhor campeão brasileiro

O São Paulo de Muricy foi o primeiro tri, o único hexacampeão brasileiro. Tecnicamente, o Flamengo de 1982 foi o melhor time do país. Mas, por desempenho, ninguém superou os 84% de aproveitamento do Internacional de Rubens Minelli, bicampeão brasileiro.
 
Um papo com o mentor do time explica parte do sucesso colorado daquele que foi o melhor time do país nos anos 70:
 
Mauro – Você chegou ao Beira-Rio em janeiro de 1974, durante o BR-73. O Inter de 1975-76, de fato, começa em 1972, ainda com Dino Sani no banco. A base já estava lá. O Inter foi semifinalista do BR-72, e finalista dos quadrangulares de 1973 e 1974. A imprensa gaúcha detonava e dizia que o time só morria na praia – embora ganhasse tudo no campeonato estadual. Como foi o salto de um time “perdedor” para o maior vencedor brasileiro nos anos 70? Foi apenas a sua chegada, em janeiro de 1974, ou a vinda de reforços como Manga e Flávio (1975), Dario e Marinho Peres (1976), e a revelação de volantes como Batista e Caçapava?
 
Rubens Minelli – O meu sucesso no Inter é parecido com o do Muricy, hoje, no
São Paulo.  É a continuidade de um trabalho, de uma filosofia de jogo. É a manutenção de uma base. Pena que são poucos os dirigentes que entendem isso no futebol.
 
Fiquei três anos montando uma equipe, apurando a condição técnica e tática. Num time montado, qualquer reforço dá certo. Meu grande mérito foi a equipe ter uma grande obediência tática. Eram estrelas disciplinadas. A cada ano conseguíamos  jogadores melhor qualificados, e, por isso, tivemos o grande aproveitamento em 1976 [84% dos pontos conquistados, o maior campeão da história do Brasileirão]. Além disso, era um grupo raro, de estrelas sem vaidades. Eles compreendiam o que eu queria taticamente e conseguiam desenvolver esse futebol dentro de campo. O meu conceito sempre foi que o jogador tem liberdade para fazer o que quer quando tem a bola. Mas, sem a bola, vão jogar como eu quero.
 
Mauro – O time de 1976 foi o mais impressionante. Tecnicamente, só perde para o Flamengo de 1982, Mas, taticamente, era mais elaborado e competitivo. Qual o segredo?
 
Rubens Minelli – O grande segredo foi uma mudança tática que ninguém percebeu na época. Todos os times brasileiros atuavam no 4-3-3. Todos iguais, um volante e dois meias. Nós jogamos em 1976 no 1-3-1-2-3. O libero era o Marinho Peres, que havia jogado no Barcelona em função parecida, com o Rinus Michels. Ele ficava atrás da linha de três zagueiros: o Figueroa saía na caça, com o Cláudio e o Vacaria marcando os pontas adversários.

O Inter de 1976
 
Marinho Peres atuava como sobra, atrás da linha de três zagueiros

 
Mauro – Mas o Figueroa não saía tanto para cobrir as laterais… Esse era o maior problema tático da equipe?
 
Rubens Minelli – Sim. Quando o Cláudio avançava, por dentro, ficávamos um pouco desguarnecidos na lateral direita. O Figueroa era excepcional. Caçava o centroavante adversário, e deixava o Marinho na sobra. Até porque ele não tinha a mesma velocidade, embora tivesse bom passe. Mas o esquema funcionava. A grande sacaca era o triângulo no meio-campo, com o Caçapava na entrada da área marcando o meia-atacante adversário, e o Carpegiani ou o Batista pela direita e o Falcão pela esquerda. Quando todos os times atacavam, chegavam com dois meias. Um deles era marcado pelo único volante das equipes, e o outro era perseguido pelo quarto zagueiro.

Nós fazíamos diferente: quando o Inter tinha a bola, a base do nosso triângulo ficava voltada pro Manga, o nosso goleiro, e o ápice no ataque, com o Falcão, que eu adiantei mais; quando nos defendíamos, eu trazia o Falcão pra trás, e invertia a base do triângulo. Os nossos dois volantes marcavam os dois meias dos rivais que sempre vinham, e sobrava o Falcão. Nossa marcação começava mais à frente. Esse detalhe deu ao Inter toda a diferença em 1976.
 
Além disso, aperfeiçoamos a linha de impedimento que eu e o Marinho já fazíamos  desde a Portuguesa, e ele aprimorou no Barcelona. Nós marcávamos mais à frente, abafando o adversário.
 
Mauro – Não esqueço aquele gol contra o Coritiba, no Couto Pereira. Eram oito colorados contra dois coxas. Parecia a Holanda-74.
 
Rubens Minelli – Teve um gol mais impressionante, contra o Ceará, no Castelão. O zagueiro deles, o Artur, gostava de sair jogando. Mas, quando viu, tinha uma tropa em cima dele. Em vez de dar um bico na bola, tentou fazer o lance, trombou com o goleiro, e nós fizemos um gol muito engraçado. Esse era o nosso jeito de jogar. Atacávamos muito e nos defendíamos maravilhosamente bem.
 
Mauro – Esse 1-3-1-2-3 dava liberdade para os laterais?
 
Rubens Minelli – O Marinho ficava atrás da linha de três zagueiros. O Cláudio, quando avançava, ia por dentro, porque o Valdomiro jogava bem aberto, como ponta mesmo, e ainda marcava o lateral adversário quando ele apoiava. O Valdomiro era um monstro, com uma disposição tremenda, e um cruzamento perfeito, com a bola parada ou rolando. Ele fez o Flávio artilheiro em 1975, e o Dario, em 1976. Fora os escanteios que eram muito bem treinados. O Valdomiro batia onde estava o Carpegiani. Ele, de fato, servia de mira. Porque a bola ia até ele, mas quem chegava para cabecear vindo de fora da área era o Figueroa. Como o foi o gol do título do BR-75, contra o Cruzeiro.
 
Mauro – O Carpegiani era só “alvo” naquele time [risos]?
 
Rubens Minelli – Não. Ele era a referência técnica daquela equipe.
 
Mauro – Mais que o Falcão?
 
Rubens Minelli – Sim. O Carpegiani era quem ditava o ritmo da equipe.
 
Mauro – Aquele timaço não era só marcação. Sabia atacar. E muito, para um time gaúcho.
 
Rubens Minelli – O Vacaria tinha sido ponta-esquerda e cruzava muito bem. Ele avançava reto, ia bem ao fundo – isso quando o Lula fechava, ou trocava de posição com o Dario, que caía um pouco mais para a esquerda. Era uma das tantas jogadas que fazíamos. Mas, de fato, por ser tão ofensivo, era um time, digamos, pouco gaúcho. Era um time praticamente sem falhas. Muito técnico, forte e resistente. E que sabia entender as alternativas táticas.
 
Quando cheguei ao time, em 1974, no Sul só havia o Grêmio de rival de qualidade. E, mesmo assim, jogando fora de casa, 1 x 0 era goleada. Joguei o time pro ataque em todos os lugares, tentando mudar essa mentalidade de atuar apenas para não tomar gols, indepedente da qualidade do rival. Os grandes faziam 1 x 0 e terminavam atrás, dando bico pra frente. Consegui incutir de tal modo essa vontade de atacar que conseguimos ganhar o campeonato gaúcho de 1974 com 100% de aproveitamento.
 
Ganhamos os 18 jogos. Todos eles. Só tomamos dois gols. Mas o torcedor é gozado… Um frentista colorado me parabenizou pela conquista do Gauchão. Mas me cobrou para o ano seguinte que a gente não só ganhasse todos os jogos, como também não levasse nenhum gol! [risos].

Na defesa
 
Sem a bola, Falcão sobrava à frente da zaga, e os dois volantes marcavam os meias rivais

 
Mauro – O trabalho deu certo no Inter também por conta do preparador físico Gilberto Tim?
 
Rubens Minelli – Claro! E o pior é que o Inter queria trocar o Tim quando eu cheguei. Ele havia ganho todos os títulos estaduais… Mas eu resolvi apostar nele pela competência, além de ter um auxiliar gaúcho. Deu muito certo. Ele foi o primeiro no país a apostar na musculação para os atletas, para deixá-los mais fortes e resistentes.
 
Mauro – E quando não estava dando certo o Inter, entrava o Escurinho para decidir os jogos.
 
Rubens Minelli – Ele era o meu 12º. titular. Sempre jogava meia hora. E jogava bem. Tínhamos um lance forte, quando o Vacaria cruzava da esquerda para o segundo pau, e o Escurinho preparava para o centroavante ou para o Falcão. Dava sempre certo. Mas o Escurinho reclamava de só jogar meia hora. E eu respondia que, de fato, ele só jogava 15 minutos. E olhe lá [risos]…
 
Mauro – Para um treinador detalhista, como era estudar os rivais nos anos 70?
 
Rubens Minelli – Como sempre, a conversa com amigos ajuda bastante. Mas eu tinha o hábito de fotografar os adversários. Isso ajudava demais. Um fotógrafo tirava uns 60, 70 slides de jogos dos adversários. Na preleção, mostrava para o grupo, projetando as fotos na parede da cozinha. Todos gostavam e entendiam, menos o[ponta-esquerda] Lula.. Até que os próprios companheiros o alertavam, e tudo acabava dando certo. Eu também fui o primeiro treinador no Brasil a ter um videocassete. Isso foi essencial na montagem do São Paulo, campeão brasileiro em 1977.
 
Mauro – Aliás, o Muricy era seu jogador, e disse que você foi o mais completo treinador que ele teve. Você imaginava que ele pudesse virar o treinador que virou?
 
Rubens Minelli – Honestamente… [risos]. Ele já era meio turrão, ranzinza…
 
Mauro – Como todo bom treinador…
 
Rubens Minelli – Isso [risos]. Mas não esperava o sucesso que ele está tendo. E que merece por ser trabalhador e ranzinza. O técnico precisa ser assim. Porque o futebol é o único lugar onde o trabalhador manda no patrão. É preciso ter um comando firme.
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Fora de sintonia

Foram menos de três meses. Desde o dia 12 de dezembro de 2008, quando Ronaldo foi oficialmente apresentado como reforço do Corinthians, o clube paulista conseguiu manter um delicado equilíbrio em seu tradicional “centro gerador de crises”. Clube mais assediado pela mídia na capital paulista, o Corinthians tem de conviver com mais um barril de pólvora em meio a um incêndio com a presença de Ronaldo em seu time.

Tradicionalmente o Corinthians é um clube que não consegue viver sem crise. A excessiva preocupação da mídia com o time é sempre um prato cheio para encontrar problemas. O Timão está sempre equilibrado num castelo de cartas, que ao menor abalo pode ruir por inteiro. É isso que faz do clube um dos mais sensacionais casos de fenômeno de massa do país.

E com Ronaldo?

Bom, daí a mistura fica ainda mais explosiva. Principalmente desde o ano passado, quando Ronaldo decidiu que não ligaria mais para possíveis escândalos por suas farras e noitadas quase sempre bem acobertadas ao longo da carreira. Ou por bons assessores de imagem ou pelo simples fato de o atacante arrebentar quando entra em campo.

Mas agora as coisas são ainda piores. Ronaldo não tem mais a seu lado pessoas preparadas para acobertar pequenas “fugas” das condutas de boa moral que poderia ter. Da mesma forma, o jogador não está mais jogando há um ano, devido a nova contusão no joelho. Ou seja, não existe mais um para-raio para que o Fenômeno consiga desviar o foco de suas noitadas.

Na semana passada, em Presidente Prudente, em meio ao feriado de Carnaval, mais uma vez o jogador teve conduta não-profissional. Atrasou-se para um treino que começava quase que ao meio-dia, sendo que na noite anterior havia sido visto numa boate da pacata cidade do interior paulista, quase em Mato Grosso do Sul…

E o castelo de cartas começou a ruir! Porque o Corinthians entrou na semana de um clássico contra o Palmeiras. Provavelmente o jogo que marcará a estreia de Ronaldo com a camisa 9 alvinegra. Porque o Corinthians segue com dificuldades de encontrar um patrocinador disposto a bancar o risco que é ter Ronaldo. Em todos os sentidos. Porque o Corinthians parece que ainda não entendeu o que significa ter Ronaldo em seu elenco.

Sim, por incrível que pareça o clube, que parecia ter dado uma cartada de mestre ao fechar com o mais midiático jogador do país, não se atentou exatamente para a crise que ele teria de constantemente administrar exatamente por contar com Ronaldo. Se o Corinthians, por si só, já é um gerador de crises, eleve isso à décima potência com a contratação do Fenômeno.

Mas o clube está fora de sintonia com o seu maior ídolo recente. Não se entende com ele fora de campo, permitindo farras, noitadas e condutas pouco desejadas para um atleta que foi o melhor do mundo, mas hoje não entra em campo há um ano. 

O momento era para o Corinthians dar a Ronaldo o chá de cadeira que merece a cada tropeço em seu lento processo de recuperação. Mas parece que, quem deve mandar dentro do clube, está tão deslumbrado quanto o mais fiel do torcedor. E, com isso, deixa Ronaldo fazer o que bem quer, como uma criança idolatrada pelos pais, o que quase sempre gera um filho sem a menor noção da realidade.

Agora, o Corinthians não sabe se vai usar o “boneco” Ronaldo para passear em Itumbiara (GO), no jogo da Copa do Brasil. O jogador leva público e ainda mais atenção da mídia. Mas, do jeito que as coisas estão, é difícil ter qualquer bom presságio com uma estada do atleta pela cidade goiana. Ainda mais com Tulio Maravilha e Denílson como possíveis anfitriões…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Jogar à zona no escanteio defensivo

Existe no futebol um discurso antigo que persegue os jogadores de defesa na marcação dentro da área penal nas situações de escanteio.

Segundo ele (o discurso), o jogador que faz a marcação tem que ficar “de olho” no adversário a ser marcado por ele, e não na bola. Numa versão “mais evoluída” ele propaga e ecoa nos quatro cantos do campo de jogo, dos estádios e dos aparelhos de TV que “o jogador que marca no escanteio tem que ficar de olho no adversário a ser marcado mas com atenção à bola”.

Pois bem. Para debater a respeito daquilo que propõe as entrelinhas do “discurso”, recorro, abrindo um parêntese, a uma brincadeira/jogo de infância e pré-adolescência em que eu e meus amigos inspirados nos seriados da época encarnávamos personagens e criávamos um mundo paralelo de diversão; era a brincadeira/jogo de “polícia e ladrão”.

No jogo de “polícia e ladrão”, formávamos duas equipes com mesmo número de jogadores. Uma equipe (a dos “ladrões”) fugiria pela extensa área do condomínio onde morávamos e a outra (a dos “policiais”), depois de um tempo pré-determinado para que os “ladrões” fugissem e se escondessem, sairiam em busca de “capturá-los” e levá-los até a prisão (a prisão era um círculo de uns 10 metros de diâmetro desenhado no chão do playground do condomínio).

Era uma versão sofisticada do tradicional “pega-pega”. Para pegar bastava encostar a mão em quem fugia.

Toda vez que um “ladrão” fosse pego, era imediatamente conduzido para a “prisão”. Na prisão, poderia ser salvo. Bastava, para isso, que um dos jogadores da sua equipe que ainda estivesse livre, entrasse na prisão e encostasse a mão nele.

A brincadeira/jogo durava horas e a todo o tempo “policiais” e “ladrões” precisavam se ajustar as novas condições do jogo. Quando um “ladrão” era pego ao menos dois “policiais” eram remanejados para cuidar da prisão (caso contrário, corriam-se maiores riscos de que dois ou mais “ladrões” livres viessem tentar salvar seu companheiro, obtendo êxito).

Então, a cada necessidade imposta pelo jogo, uma nova organização (auto-organização) era estabelecida pelas equipes.

Normalmente, a equipe dos “policiais” se distribuía igualmente pelas áreas do condomínio; e nas redondezas da prisão ocupava pontos estratégicos para impedir as tentativas de salvamento. Os “ladrões” por sua vez tentavam alternar ataques a prisão com momentos de fuga e esconderijo, de acordo com as necessidades da equipe; diminuindo substancialmente os ataques a prisão conforme aumentava o número de “ladrões” presos.

Pois bem, exposta a brincadeira/jogo, voltemos ao discurso, nas suas duas versões.

Quando uma equipe tem a seu favor um escanteio, tem a chance de aproximar rapidamente bola e alvo, com uma distribuição já estabelecida de jogadores de ataque dentro da área penal ofensiva. Quando a bola é cruzada dentro da área, o objetivo máximo é finalizá-la a gol o mais rápido e com a maior eficácia possível.

Para a equipe que se defende, o escanteio ofensivo adversário é uma situação de perigo iminente e onde afastar a bola da meta defensiva é uma das prioridades.

Quando brincávamos/jogávamos de “polícia e ladrão” eu e meus amigos, ainda muito jovens tínhamos claro que quando éramos “polícia”, a melhor maneira de proteger a “prisão” (o alvo) do ataques dos “ladrões” era manter posições que garantissem uma distribuição equilibrada no terreno do jogo (obviamente não tínhamos a menor idéia do que significava “manter posições que garantissem distribuição equilibrada no terreno de jogo“; mas intuitivamente fazíamos).

Eram raríssimas as vezes que os “ladrões” tinham êxito.

Não, não, não, senhores!!!

Não estou propondo que a partir de uma brincadeira/jogo de criança mudemos algo no tão “jogo” como o futebol.

Mas façamos uma reflexão; não seria possível organizar a marcação no escanteio defensivo, para ao invés de priorizar o adversário como referência, orientar-se pela ocupação inteligente do espaço de forma a ter jogadores que possam chegar rapidamente à regiões de importância da área de meta – para no mínimo disputarem a bola e atrapalharem (dificultarem) a finalização adversária?

O que quero dizer em outras palavras é que havendo uma distribuição equilibrada, inteligente do espaço, não será necessário perseguir jogadores pela área; isso porque a distribuição dos jogadores que marcam garantirá que se tenham sempre jogadores na região em que a bola foi/for/ou será cruzada, independente de qual seja essa região.

Pensemos nisso.

E para que vocês senhores, não achem que isso é brincadeira de criança, sugiro acompanharem ao menos um jogo do Liverpool FC (que tal Liverpool vs Real Madrid dia 10 de março pela UEFA Champions League?), que tem dado um bom exemplo de como impedir o “ataques dos ladrões” a sua meta defensiva nos escanteios.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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A estabilidade contratual

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Desde a sentença Bosman, em 1995, com o estabelecimento da livre movimentação de jogadores europeus, decretado pela Suprema Corte Européia, e suas consequências em todas as demais partes do mundo, a questão da estabilidade contratual tornou-se um dos maiores desafios do futebol profissional mundial.

Em 2001, depois de um acordo firmado com a Comissão Européia, a FIFA incluiu em seus Regulamentos uma Seção inteira dedicada à manutenção da estabilidade contratual entre jogadores e clubes, com a finalidade de promover o respeito de todas as partes aos termos de um contrato profissional de futebol devidamente firmado.

Recentemente, (janeiro de 2008), o Caso Webster suscitou novamente a questão, quando o jogador rescindiu unilateralmente o seu contrato for a do chamado “Período Protegido” (Protected Period1), e o Tribunal Arbitral do Esporte (CAS) impôs uma indenização monetária devida ao clube no montante equivalente ao valore residual do contrato.

Essa decisão do CAS causou grande reação na indústria do futebol, uma vez que aparentemente permitia uma generalização da decisão, de modo que todas as subsequentes rescisões unilaterais fora do “Período Protegido” resultariam automaticamente no pagamento dos valores residuais pela parte que rescindisse. Esse endendimento, entretanto, não é correto.

O princípio básico da estabilidade contratual está contido no Artigo 13 do Regulations on the Status and Transfer of Players, que indica que “um contrato entre um profissional e um clube somente pode ser terminado mediante término de seu prazo de vigência ou por mútuo acordo entre as partes”.

Como mencionado acima, a FIFA também decidiu criar o hoje já bem conhecido conceito do “Período Protegido”, que significa o período de vigência do contrato de trabalho, em que as sanções desportivas deveriam ser aplicadas aos jogadores ou clubes pela rescisão antecipada unilateral sem justa causa, adicionalmente à eventual multa pecuniária.

Neste sentido, o término do contrato de trabalho no futebol profissional pode produzir consequências reparatórias para uma das partes, com exceção dos seguintes casos: (i) se o termo do contrato expirar; (ii) se houver acordo mútuo para término antecipado ou (iii) se houver rescisão antecipada por justa causa (nas hipóteses listadas no próprio Regulamento).

Na hipótese rescisão antecipada sem justa causa, se o contrato estiver fora da vigência do Período Protegido, então apenas sanções monetárias poderão ser aplicadas.

Desta forma, uma primeira lição que podemos tirar, e que devemos esclarecer: o “Período Protegido” foi criado pela FIFA com a intenção de reprimir ainda mais as rescisões contratuais nos primeiros anos de contrato, e não de incentivar as rescisões nos últimos anos. A regra continua mesma: é preciso que as partes respeitem os contratos firmados.

Passada essa primeira questão, temos ainda que resolver a polêmica gerada pelo caso Webster com relação ao cálculo do valor das indenizações nas rescisões unilaterais sem justa causa.

A esse respeito, é importante ressaltar que de acordo com o Artigo 17(1) dos Regulamentos da FIFA mencionados acima, a indenização deverá sempre ser calculada, a menos que disposto de outra forma no contrato, com a análise dos seguintes fatores: leis locais aplicáveis, especificidade do esporte e outros critérios objetivos existentes (cujos exemplos são apresentados nos Regulamentos).

No caso específico do Webster, o CAS entendeu que a indenização seria o valor residual por conta da peculiaridade do caso, tendo em vista os critérios acima mencionados, dentre eles o fato de não haver menção no contrato à época vigente sobre o valor da multa, ou de sua forma de cálculo.

Desta forma, a questão fica resolvida. Não há regra geral firmada pela decisão do Caso Webster. Apenas uma indicação de que a indenização pode vir a ser calculada com base nos valores remanescentes, dependendo das circunstâncias de cada caso. Atenção redobrada portanto na hora de confeccionar os contratos de trabalho.

Finalmente, vale a pena mencionar de fato o CAS não pôs em cheque o princípio da manutenção da estabilidade contratual. Basta olhar os casos subsequentes, Soto, Bayal, Mica e Zahovaiko.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Equação

Em determinado momento da temporada de 2005-2006, o Valencia resolveu que era hora de construir um estádio novo. Novinho em folha.

‘O maior estádio do mundo’, queriam alguns. ‘Um ícone mundial e um símbolo para a cidade’, queriam outros. A soma da primeira frase com a segunda frase, quando ambas se referem a um estádio de futebol, é igual a um projeto caro e superestimado. Sempre. Se tem uma coisa que encarece um estádio de futebol é o adjetivo ‘icônico’. O valor ficou próximo dos 400 milhões de euros.

O Valencia queria crescer, e esse crescimento se apoiava em duas coisas: um estádio novo e um time de qualidade dentro de campo. Nada mais justo para aquele que se considera o terceiro maior clube espanhol, e era, na época, um dos vinte mais ricos clubes da Europa.

Então eles começaram a construir o estádio, mas pararam de ganhar as coisas dentro de campo. Briga contra o rebaixamento, goleadas sofridas de rivais, esse tipo de situação que sempre está no roteiro dos clubes em crise. Aí demitiram o técnico e trocaram de presidente.

E o novo presidente acabou de anunciar a paralisação das obras do estádio. No meio do caminho. O concreto já ta de pé, o monstro já está erguido, mas tiveram que dar um tempo no esquema. O argumento é que, bem, o dinheiro acabou. O Valencia quase quebrou. Tem dívidas que não podem ser refinanciadas. A área do estádio antigo, que era um dos trunfos para a aquisição de capital que pagasse parte do projeto do no estádio, não foi vendida, tampouco tem interessados. Culpa da crise mundial, dizem os porta-vozes do clube, que dizimou o mercado imobiliário europeu e, em especial, o espanhol.

Para colaborar, uma das promessas de campanha do novo presidente era manter os principais jogadores: David Silva e David Villa, o astro maior. Isso levou o Valencia a recusar uma proposta de uns 300 milhões de reais do Manchester City pelo Villa, conforme especulações não confirmadas.

O resultado é que, além das obras do novo estádio paralisadas, o salário dos jogadores também estão atrasados. O Valencia está num dos momento mais delicados da sua história, beirando a bancarrota. Culpa da crise, e da péssima performance dos dois últimos anos. Uma outra regra da construção de estádios é que é quase impossível construir um novo sem que haja reflexos diretos dentro de campo. Construção do novo estádio (Connve) mais arquitetura icônica (Aicon) em um cenário de crise mundial (Crmnd) é igual a resultados fracos (Resfr). 

Crmnd (Connve + Aicon) = Resfr

Quando se tenta transformar essa soma, o produto da equação gera conseqüências severas para o clube.

Pura matemática.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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História da globalização do futebol

A ascensão e expansão do futebol em âmbito global – até conquistar a última fronteira, a Ásia – ocorreu ao longo de todo seu desenvolvimento, no século XX, junto aos diversos países que o albergavam, em decorrência da influência econômica e social dos ingleses: 

El fútbol, que ocupa un papel destacado en este proceso, surge como deporte en Inglaterra a lo largo del siglo XIX y su difusión geográfica se inicia hacia el último cuarto del mismo siglo, favorecida por el empuje comercial e industrial del imperio inglés. Este proceso cobra ímpetu en los años 30, cuando se celebra el primer campeonato mundial, y llega a su máxima expresión en el último cuarto del siglo XX, con el desarrollo de las tecnologías comunicativas audiovisuales, sobre todo con la televisón color, el sistema microondas, la comunicación satelital e internet. La más reciente incorporación de los países del este asiático marca la definitiva mundialización de este deporte de origen aristocrático, convertido en la actualidad en una práctica y afición multiclasista, transgeneracional y, poco a poco, transgenérica” (FIENGO, 2002, p.149).

Com efeito, o que antes era tido como esporte de elite burguês, nas últimas décadas do século passado e na presente, agora se mostra permeável e suscetível às inferências da globalização e sua transposição de conceitos e critérios exclusivistas.

GIULIANOTTI e ROBERTSON dividem a evolução do futebol rumo à conquista global em cinco fases, a saber:

Globalización del fútbol: La fase inicial (desde la pre-historia hasta princípios del siglo XIX en Gran Bretaña); la fase de desarrollo (princípios del siglo XIX a 1870, cuando empezó a formarse la sociedad internacional de fútbol, tras el primer encuentro internacional entre Escocia e Inglaterra); la fase de expansión (desde 1870 a 1920, cuando los clubes británicos empezaron a visitar los países del Imperio y América Latina; a partir de la fundación de la FIFA en 1904 y la entrada del fútbol en los Juegos Olímpicos en 1908); la lucha por la hegemonía (de 1920 hasta finales de la década de 1960); la fase de incertidumbre (desde fines de 1960 hasta la fecha)” (GIULIANOTTI; ROBERTSON, 2006, p. 13-17).

A fase atual, de incerteza, está marcada pela instabilidade das relações internacionais entre os demais pontos de referência básicos das etapas anteriores. Jogadores convertidos em estrelas de brilho internacional; técnicos, executivos e agentes com apelo midiático global; clubes com marca de reputação internacional versus seleções nacionais abaladas por falta de coesão e identidade nacional como outrora; multiplicidade de atores e instituições que tentam comandar a política e a administração do futebol no mundo: eis o panorama atual.

La incertidumbre, la quinta fase en el fútbol mundial, comienza a finales de los años sesenta y llega hasta la actualidad. Durante este período, la inestabilidad ha marcado las relaciones internacionales entre los cuatro puntos de referencia básicos de la globalización. Desde el punto de vista individual, los mejores jugadores del mundo se han convertido en gran medida en artistas mediáticos con gran movilidad mundial; y los directivos deportivos, los directores técnicos, los representantes de los jugadores y los personajes de los medios de comunicación se han unido a este nuevo panteón. Sin embargo, los jugadores de élite están sometidos actualmente a un control legal y de compartamiento mucho más estricto por parte de los empresarios (clubes), de las instituciones futbolísticas y de los medios de comunicación, que se centran cada vez más en la celebridad. Los Estados-nación permanecen como la unidad política principal del fútbol, pero su unificación cultural se ha visto frenada de forma radical, debido, por un lado, al aumento de los clubes de fútbol internacionales y, por otro, a la influencia de la polietnicidad en complicados patrones de identificación nacional, sobre todo en Francia, los Estados Unidos e Inglaterra” (GIULIANOTTI; ROBERTSON, 2006, p. 17).

Bibliografia:

FIENGO, Sergio Villena. Golbalización y fútbol posnacional: Antecedentes, Hipótesis, perspectivas. Anuario Social y Político de América Latina y el Caribe, Caracas, n. 5, p. 148-159, 2002.

ROBERTSON, Roland; GIULIANOTTI, Richard. Fútbol, globalización y glocalización. Revista Internacional de Sociología, Madrid, v. LXIV, n. 45, p.9-35, septiembre-diciembre, 2006.

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Ainda São Paulo x Corinthians

Olá amigos! Umberto Eco, certa vez, referiu-se à falação esportiva, que em linhas gerais é a continuidade do assunto em diferentes formas e abordagens. Seja partindo dos meios de comunicação, seja partindo das rodas populares, mas que no fim acabam criando um ciclo que mantêm a perpetuação do assunto até um novo fato mais atraente surgir.

Nesta falação esportiva, os primeiros dias após o fato consumado são de uma irritabilidade tamanha, pois todas as emissoras de TV , as de rádio, os jornais, as revistas especializadas, os círculos acadêmicos, e a internet parecem falar a mesma coisa, da mesma forma, e repetindo incessantemente o conteúdo.

Com o esgotamento do assunto, que acaba muito mais no sentido de esgotar as paciências do público receptor da mensagem e também do próprio emissor, do que um esgotamento no sentido de ter se explorado todas as variáveis e aprofundado no tema.

Me permito fazer algumas curtas (algumas nem tão curtas) reflexões sobre  as polêmicas do clássico do fim de semana retrasado, julgando que elas poderiam ser melhor percebidas e despertar uma discussão mais aprofundada do que o simples embate de quem está ou não com a razão.

Limitação de Ingressos:

A polêmica da limitação do ingresso para mim esconde por trás um problema mais sério, de interesses políticos e outras razões que desconhecemos, mas que esconde também algo com o que São Paulo deveria se preocupar.

No ambiente de gestão e mercado costuma-se dizer que o maior risco de ficar cego e ser ultrapassado pela concorrência é quando se está liderando o mercado, pois ocorre uma acomodação, que pode a determinado momento cegar, fazendo com que a percepção de quem está no comando é de que tudo que está sendo feito não precisa ser aperfeiçoado pois os resultados estão ai.

É o que vem acontecendo com o São Paulo na minha modesta opinião.  Sem dúvida o São Paulo esta liderando o mercado, com justiça pela estrutura e objetivo que foram traçados há alguns anos. Os resultados falam por si só. Mas, talvez, é hora de refletir e observar o que os outros estão a  fazer para alcançá-lo. Às vezes, esta olhada para traz ajuda a manter mais facilmente sua supremacia, porque quando apenas olhamos para o que nós mesmos fazemos, muitas vezes, não percebemos novos caminhos e tendências, ou o que é pior, nos recusamos a observar qualquer outra coisa porque consideramos apenas que nossos princípios estão certos.

Não é preciso esperar o declínio para mudar, e hoje acredito que se o São Paulo justifica uma limitação de ingressos por questões comerciais, pode não estar olhando para frente. Numa rápida conta, sem considerar aspectos mais aprofundados, será que valeu a pena tal ação pensando numa possível retaliação ao Corinthians decidindo não jogar mais no Morumbi, reduzindo receitas  do São Paulo?

Nessa óptica, o Marketing de Corinthians e Palmeiras nas figuras de Luis Paulo Rosemberg e Luis Gonzaga Belluzo estão a todo vapor. Há  quem diga que eles estão atrasados em relação ao São Paulo, mas ai é que está a questão. O momento tem de ser bem compreendido, pois alguns podem olhar como atraso, outros podem olhar como superação.

O Corinthians, por exemplo, acertou um novo contrato de fornecimento de material esportivo  (não é patrocínio) de 15 milhões de reais (fonte: Gazeta Press) que é praticamente o valor que o São Paulo acertou  como patrocínio principal em 2008. Sendo ainda que esse acordo realizado pela Corinthians só perde em termos de fornecimento de material para Manchester United e Barcelona.

Fica um ponto de reflexão, se fizermos algum esforço, grandes empresas que faliram, lideraram e foram referências de mercado, mas a falta de atualização e a prepotência cria uma cegueira, e quando menos se esperar a supremacia pode entrar em declínio e o revés pode ser mais custoso e demorado.

Polícia:

Entre declarações e depoimentos, o mais difundido foi de que a policia de dentro do estádio autorizou a saída e a policia de fora do estádio não. O que possibilitou o confronto, independente de quem foi para cima de quem, o fato é: será que ninguém passou um rádio informando da decisão?  Comunicação no estádio também é comunicação de decisões. Como queremos organizar uma copa se a própria declaração da policia nos indica uma falha de procedimento banal: alguém esqueceu de avisar lá embaixo que o pessoal estava liberado para sair e que não estavam simplesmente voltando por causa da chuva.

Expulsão:

Me irrita quando os profissionais do futebol buscam amenizar os erros e falhas por meio de elementos que não se justificam. O excelente treinador Mano Menezes, ao reconhecer e ao mesmo tempo minimizar a culpa de Túlio pela expulsão, refere-se a interferências externas, pois, segundo ele, a agressão não foi vista pelo arbitro , e apenas aconteceu por que alguém de fora interferiu.  Às vezes me pergunto se é um subterfúgio planejado para amenizar a pena que possivelmente será imposta depois, se é uma tentativa de fazer punir alguém do adversário para não sair em desvantagem. Enfim, muitas duvidas ficam.

E quanto ao jogador. ATENÇÃO JOGADORES DE FUTEBOL:

Para quem não percebeu ainda existem inúmeras câmeras em um campo de futebol e, com certeza, se o juiz não vir na hora uma agressão ou qualquer outro ato de indisciplina, ele será visto e reprisado, e com certeza analisado pelos tribunais.

Aliás, já estamos conseguindo vencer aquelas criticas aos tribunais por punirem os jogadores por imagem. No inicio criou-se uma resistência muito forte, mas pelo bem do futebol,
já está sendo mais aceito. Resta, agora, jogadores se atentarem a isso e, sobretudo as penas serem cumpridas e não trocadas por cestas básicas. Afinal, apesar de serem muito importantes para quem recebe tal doação (acredito que poderá continuar como uma ação complementar) o que é o custo de cestas básicas para um clube de futebol?

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Violência e Futebol: lembrando Carlito Maia

O tema é atual, mas não novo…
 
Em Agosto de 1983 a FSP promoveu em seu auditório um debate sobre o assunto. Tive a oportunidade de acompanhá-lo in loco e, decepcionado com seu rumo, fiz o que continuo fazendo até hoje: Manifestei-me através de carta encaminhada à Redação de Esportes daquele jornal, a qual foi publicada sob o título “Debate sobre Violência Frustra Leitor”. Dizia ela:
 
“Tendo presenciado o debate promovido pela Folha sobre a Violência no Futebol, registro minha frustração pela forma um tanto quanto centralizadora e, por isso mesmo, autoritária, adotada na condução dos trabalhos, como também pelos rumos tomados pelo debate.
 
Falou-se do legal, mas em nenhum momento questionou-se o legítimo. Tratou-se da Autoridade, mas em nenhum momento abordou-se o autoritarismo. Falou-se da necessidade de respeitar as regras do jogo, mas em nenhum momento cogitou-se da necessidade e legitimidade de os atletas participarem do processo de elaboração dessas regras e da eleição dessas autoridades. Falou-se até da necessidade de uma legislação penal esportiva mais severa, como forma de coibir-se a violência no futebol. Primeiro o próprio Sistema institui a violência, depois ele mesmo propõe formas violentas para reprimi-la!!
 
Perdeu-se, enfim, mais uma grande oportunidade de se falar da necessidade de democratização do futebol brasileiro, como forma de erradicação da violência na sua prática”.
 
Pois não é que passado exatamente oito dias da publicação da carta, ao buscar a coluna semanal que o publicitário Carlito Maia assinava naquele jornal, fui surpreendido por um texto que, sob o título “A Justiça dos Homens” se reportava à minha carta para falar da questão da violência…
 
26 anos depois, cá estamos nos deparando com o mesmo assunto… Que pelo menos, então, nos lembremos de Carlito Maia – que nos lembrava que o céu não criou o homem acima dos homens, nem abaixo dos homens – e, quem sabe, motivemos com suas palavras o surgimento de mais Carlitos em nosso mundo…
 
 
A JUSTIÇA DOS HOMENS
 
“O leitor de jornal sempre tem razão, especialmente quando se trata de quem já aprendeu a distinguir as coisas que são mentiras das que não são verdades, caso do Senhor Lino Castellani Filho, que escreveu à Folha Esportiva sobre o debate Violência no Futebol.
 
Vou sistematizar aqui o pensamento dele que, por acaso, coincide exatamente com o meu:
 
‘Falou-se do legal, mas em nenhum momento questionou-se o legítimo. Tratou-se da autoridade, mas não se abordou o autoritarismo. Falou-se da necessidade de respeitar as regras do jogo, mas não se cogitou da necessidade (e legitimidade) de os atletas participarem do processo de elaboração dessas regras, e da eleição dessas autoridades. Falou-se até da necessidade de uma legislação penal esportiva mais severa, como forma de coibir-se a violência no futebol. Primeiro, o próprio Sistema institui a violência, depois ele mesmo propõe formas mais violentas de reprimi-la!’
 
“E assim arremata o mais que atento leitor”:   
 
‘Perdeu-se, enfim, mais uma grande oportunidade de se falar na necessidade de democratização do futebol brasileiro, como forma de erradicação da violência na sua prática’.
 
“Belas e sábias palavras, Lino Filho, que representam o sentimento geral sobre a justiça dos homens da cartolagem, do mando, do poder. Juro que eu já havia escrito umas coisinhas sob o título acima, A justiça dos homens, em que dizia o mesmo que você, não tão inteligentemente, confesso, mas com a mesma sinceridade e veemência, garanto.
 
Porque eu já estou de saco cheio pelo fato de nós, brasileiros, nunca irmos ao âmago dos problemas, jamais vamos fundo, como dizem, ficamos eternamente pela rama, pelas beiradas, catando um jeitinho de maneirar as coisas, maldito sejas, Macunaíma, o falso malandro.
 
Neste País há dois códigos em vigor, Lino: o civil, para os poderosos, e o penal, para os miseráveis. No Brasil que foi da gente um dia, a injustiça é que a justiça dos fortes, coisa mais degradante.
 
Por que haveria o futebol de estar livre dessa podridão toda?…
 
Urge corrigir o Brasil, grande país, Nação anã, antes que seja tarde demais, antes que a geléia geral inunde tudo, do Oiapoque ao Chuí. E falta pouco, quase nada.
 
O povo está exigindo uma Assembléia Nacional Constituinte, eleita expressamente para ordenar as novas regras do jogo social brasileiro, as regras que sempre tivemos impostas, na marra.
 
Temos que batalhar pelo fim da LSN, lutar por uma Reforma Agrária, exigir eleições diretas em todos os níveis, acabar com essa imoralidade dos “biônicos”, dar um chega pra lá nos hitherzinhos e nos mussolinizinhos. Só assim poderemos pensar em justiça desportiva de verdade, não essa impostura vergonhosa da justiça dos hômi, com suas leis e seus juízes. Você tem toda razão, Lino, tanto que joguei fora o que já havia escrito e peguei uma carona em sua preciosa carta à Folha Esportiva, lembrando-me de John Lennon em sua canção, Imagine: dizem que sou um sonhador, mas não sou o único.
 
Da legalidade que nos enfiaram goela a dentro desde 1964, estou farto. Quero mais é a legitimidade das coisas, assunto do qual só o povo todo pode tratar, com liberdade e com a dignidade de viver reconquistada. Salvo o Brasil, salvo estará também o futebol brasileiro, Castellani Filho. As gerais estão se guardando pra quando o carnaval chegar…”

*Lino Castellani Filho é Doutor em Educação, docente da Faculdade de Educação Física/Unicamp, pesquisador-líder do “Observatório do Esporte” – Observatório de Políticas de Educação Física, Esporte e Lazer – CNPq/Unicamp, e foi Presidente do CBCE (1999/2003) e Secretário Nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer/Ministério do Esporte (2003/06)

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A importância da Universidade do Futebol para o desenvolvimento da modalidade no país

“Universidade” por definição representa um conjunto de disciplinas, faculdades ou escolas de ensino ou curso superior.
Ainda que diversas discussões possam ser feitas a respeito do significado de “ensino ou curso superior”, fato é que está na essência do conceito de “Universidade” a presença e atuação de diversas áreas do conhecimento universal humano.
Isso quer dizer, em outras palavras, que seu cerne avança o ensinar de valor mais alto e as construções mais profundas inerentes a ele, pois está antes de mais nada associado a r-e-u-n-i-ã-o das disciplinas do conhecimento científico.
Imergir numa universidade de conhecimentos não garante muitas vezes a compreensão real do significado que essa “uniãodiversidade” representa. Isso é evidente se observarmos que ao longo dos tempos a reunião das disciplinas do conhecimento foi se transformando, e o seu caráter multidisciplinar de “universidade dos conhecimentos” perdeu espaço, de tal forma que as novas perspectivas exigiram a transformação do que era “r-e-u-n-i-ã-o” em “reunião”; do que era “multi” para o que passou a ser “inter”; interdisciplinar.
Disciplinas que antes existiam no mesmo universo, isoladas, tomaram conhecimento umas das outras, avançaram, interagiram e construíram um saber comum a todas elas.
Em diversas áreas profissionais a problemática decorrente da prática diária aliada à Ciência permitiu grande e denso avanço do conhecimento científico aplicado; e muitas coisas antes impensáveis saltaram a frente dos nossos olhos em um único fechar/abrir de pálpebras.
No esporte, de maneira geral, a interação entre os construtos científicos e o ambiente real de treinos e competições fora ganhando proximidade, tornando-se, em algumas modalidades, íntimos.
No futebol, das escolinhas ao alto nível competitivo, muitas tensões fizeram com que a aproximação entre Ciência e a prática ocorresse de maneira lenta e conturbada (podemos dizer que hoje ainda a distância entre os dois é muito grande sob diversos aspectos).
Por um lado (no futebol), ao olhar da Ciência, a prática constitui um ambiente recheado de indivíduos que tentam fazer as coisas funcionar sem saber explicar exatamente como e por quê; por outro, ao olhar da prática, as teorias científicas filosofam sobre problemas que não são aqueles realmente enfrentados e constroem soluções para coisas que não existem.
As teorias são construídas em função dos problemas decorrentes da prática; só fazem sentido se possibilitarem a transformação da prática, para melhor!
Temos no nosso país uma série de pesquisas, dissertações e teses, que de tão especializadas em um único assunto, acabam por se distanciar da realidade dos fatos, de maneira que, tentando se aproximar dos problemas do mundo, acabam por se afastar ainda mais dele.
Temos também (e isso não é privilégio nosso) a partir da falta de conhecimento e das construções do senso-comum uma série de práticas dentro e fora do esporte que reforçam a cada dia remadas fortes na direção contrária ao avanço científico.
Falta, então, diálogo, entendimento, para que a Ciência e a prática se integrem e se tornem elementos de uma coisa só.
Melhorar o acesso ao conhecimento e levar a Universidade à prática torna-se, não o único, mas um dos melhores caminhos para que a cada dia os problemas oriundos da prática real possam ser resolvidos, garantindo a permanente escalada rumo a um saber cada vez maior que torne a prática cada vez melhor.
Para o futebol isso representa não só a evolução do jogo dentro do campo, mas de todos os elementos que o constituem como o fenômeno complexo que é.

Para interagir com o colunista: rodrigo@universidadedofutebol.com.br