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Expectativas para 2010

As festas natalinas e o fim de ano passaram e não foi possível passar sem olhar para o que ficou para trás e perspectivar o que vem pela frente.

O ano de 2010, que já começou, promete. Eleições presidenciais – a primeira, desde muito tempo, sem a presença direta de Lula como candidato… ano de renovação (?) no Congresso Nacional, nos legislativos e executivos estaduais… e… ano de Copa do Mundo… de futebol, é claro, a primeira a se realizar em continente africano.

Tudo isso se articulado à já confirmada realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas em nosso país, respectivamente em 2014 e 2016, nos remete à análise do que foi a política esportiva nos anos Lula, até porque é grande a possibilidade de ele retornar em 2014 para, neste campo, concluir o que começou.

Em fevereiro de 2009, mais precisamente no dia 10, o Partido dos Trabalhadores comemorou seus 29 anos de existência. Não resta dúvida ter havido muito a comemorar, pois não há como falar da democracia brasileira sem falar das lutas entabuladas por ele para a sua (dela, democracia) consolidação.

Se foi – e foi – momento de comemoração, também foi de reflexão, notadamente para os que desejavam comemorar outros tantos anos de sua presença na história política de nosso país.

Várias seriam as possibilidades de refletirmos sobre sua história. Optamos, na ocasião, por fazê-lo a partir de sua presença à frente do governo de nosso país e pelo viés de um campo específico definidor de política pública: o do Esporte.

De imediato expressamos o entendimento de sabê-lo (o PT) majoritário, mas não hegemônico – no sentido gramsciano do termo – na esfera governamental. No âmbito da política esportiva isso se configurou, desde o primeiro momento do primeiro mandato, pela presença do PC do B à frente do Ministério do Esporte sem nada que o comprometesse com a compreensão de política esportiva e de lazer configurada no interior do PT ao longo de sua existência…

A entrega da responsabilidade pela política esportiva brasileira àquele partido sem a configuração de compromisso programático traduziu-se nesses 7 anos em dois fatos dramáticos para aqueles setores do campo esportivo comprometidos com a superação do modus operandi conservador, retrógrado e reacionário que nele – campo esportivo – prevalece desde os seus primórdios, localizados no período estadonovista:

1) O fortalecimento dos setores conservadores do campo esportivo devido a explícita e concreta terceirização, pelo PT, da responsabilidade pela configuração da politica esportiva brasileira;

2) O aprisionamento dos responsáveis pela implementação da referida política pelos setores acima mencionados do campo esportivo, sabidamente majoritários e … hegemônicos no que tange à construção do imaginário popular sobre o assunto.

Por um lado, a propalada terceirização só foi possível dada a fragilidade da instância interna ao PT responsável pela temática (Setorial Nacional de Esporte e Lazer) que se perdeu numa disputa interna fraticida (sabemos o quanto o “fogo amigo” consome as forças) e por fim, golpista, que culminou com a sua própria morte, com atestado de óbito datado de 19 de fevereiro de 2006, coordenada, irresponsavelmente, nada mais nada menos do que pelo arquiteto da famigerada ação de barbárie de invasão das dependências do Congresso Nacional, no segundo trimestre daquele mesmo ano, naquela época à frente da Secretaria Nacional de Movimentos Populares do Partido.

Por outro, a ausência de compromisso programático aliado à ausência de sustentação partidária à ação do Setorial Nacional De Esporte e Lazer – dada a sua fragilidade política no interior do próprio Partido e a miopia de sua forma de agir – estruturou o pano de fundo a partir do qual o PC do B, sem algum tipo de tradição na área, buscou se legitimar no campo esportivo – campo no sentido definido por Bourdieu -, aproximando-se, por uma questão de sobrevivência (ou seria oportunismo?) política, ainda que, a princípio timidamente, aos que detinham a maioria, indo no sentido contrário ao propugnado pelo mote de campanha e de governo, qual seja, ser porta-voz de mudança, de construção do substantivamente novo…

Até aquele momento, o que assistíamos não era de todo inesperado, dada a lógica inerente à real politica imperante na capital federal. A busca de legitimação levava, dia após dia, a uma submissão consentida aos setores conservadores, que acabou por se traduzir na capitulação e aprisionamento dos responsáveis pela definição e execução da política esportiva aos interesses daquela fração do campo esportivo.

O que não sabíamos era que cada vez mais e mais esse processo de aprisionamento, de se terem como reféns daqueles segmentos, passaria a ganhar contornos estarrecedores, somente passíveis de serem compreendidos através da analogia com o que se tornou conhecido internacionalmente sob o nome de Síndrome de Estocolmo.

Segundo a Wikipédia, a Síndrome de Estocolmo (Stockholm Syndrome) “é um estado psicológico particular desenvolvido por pessoas que são vítimas de sequestro, que se desenvolve a partir de tentativas da vítima de se identificar com seu captor ou de conquistar simpatia do sequestrador…”

Em sua busca desesperada por legitimação no campo esportivo – essencial para a manutenção de seu status na esfera governamental – os senhores do ME provavelmente não se aperceberam, de início, do quanto se tornavam cada vez mais e mais semelhantes aos senhores dos anéis… E não só a eles, mas também àqueles que orbitavam entorno daquele setor contentando-se em servirem-se das migalhas que sobravam dos laudos banquetes oferecidos pelas entidades de direito privado, bancadas por recursos públicos…

Ainda segundo a Wilkipédia, “as vítimas começam por identificar-se emocionalmente com os sequestradores, a princípio como mecanismo de defesa, por medo de retaliação e/ou violência. Pequenos gestos gentis por parte dos captores são frequentemente amplificados porque, do ponto de vista do refém é muito difícil, senão impossível, ter uma visão clara da realidade nessas circunstâncias e conseguir mensurar o perigo real…”.

Talvez isso ajude a explicar o porquê do lançamento da política nacional do esporte, em 2005, ter se dado no popular e nada elitista Clube Pinheiros, São Paulo, e lá ouvirmos os elogios do presidente do COB, como também do presidente da Confederação Brasileira de Clubes, ao presidente Lula ali presente, pelos reconhecidos (por eles) feitos de seu governo a favor do esporte nacional… Na lógica por eles defendida, é claro.

É importante observar que – de acordo com a Wilkipédia – “o processo da síndrome ocorre sem que a vítima tenha consciência disso… Entretanto, a vítima não se torna totalmente alheia à sua própria situação, pois parte de sua mente conserva-se alerta ao perigo e é isso que faz com que a maioria das vítimas tente escapar do sequestrador em algum momento, mesmo em casos de cativeiro prolongado…”

Pois é a essa possibilidade que – prestes ao anunciar de 2010 – nos apegamos para construirmos nossa expectativa de que o Ministério do Esporte consiga romper tal quadro de submissão voluntária e retome, no tempo que lhe resta de governo, o caminho que projete para o Governo vindouro a consolidação da política esportiva centrada no reconhecimento constitucional de ser o esporte direito social inalienável do povo brasileiro e, portanto, responsabilidade de Governo. Em outras palavras, que governe para o povo e não para o “povinho” com o qual se comungou até agora…

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br