Ouve-se muito falar que o brasileiro é um povo sem memória, que pouco valoriza e demonstra orgulho de suas tradições e origens socioculturais.
A falta de memória – memória recente, inclusive – também é caso grave quando o povo, chamado à maior demonstração e exercício da cidadania em um país democrático que é o voto, comete os mesmos erros e perpetua políticos desqualificados no poder.
Ainda que tenhamos grandes discrepâncias socioeconômicas em nossas regiões do Brasil, nunca fomos tão nitidamente desejos de um separatismo entre o Sul, o Norte, o Nordeste, o Sudeste e o Centro-Oeste.
A exceção foi a infame iniciativa denominada de Sul é o meu país, surgida no Paraná na década de 1990, que visava fundar o Estado do Iguaçu e se separar do resto Brasil, sob a alegação de que a região sustentava economicamente os devaneios políticos acima das fronteiras de São Paulo.
A força do Brasil está, justamente, em nossa rica diversidade cultural. Somos um país forjado pela miscigenação de povos ao longo dos anos, o que contribuiu, positivamente, para nossa reconhecida adaptabilidade e superação das adversidades, bem como ser visto como um povo cordial e convidativo aos forasteiros.
De tanta mistura, nem lembro direito o que aprendi nas aulas de História do Brasil, sobre o que significa cafuzo, mameluco, crioulo, caboclo.
Esse caldo tempera o nosso futebol até hoje, desde a sua formação. Um grande privilégio.
Na Áustria, por exemplo, você encontra somente jovens austríacos jogando futebol. Um ou outro vai ser filho de imigrante, e olha lá.
De vez em quando – muito raramente – vemos a exceção a essa regra, como nos casos de jogadores negros representando as seleções de Alemanha e Polônia recentemente.
Assim é em boa parte dos países do Velho Continente. Ao contrário do Brasil, onde estamos juntos e misturados.
Portanto, soa muito agressiva a manifestação racista do jogador Danilo, do Palmeiras, em direção ao jogador Manoel, do Atlético Paranaense.
O próprio conceito de raça já foi posto em cheque, logo, não haveria razão de ser utilizado de qualquer maneira.
Pior ainda quando levamos em conta que ambos foram colegas de clube até pouco tempo atrás.
Dizia um amigo meu, grande publicitário, a respeito de um exercício que fora feito numa aula, na qual os alunos assistiram a um comercial em que um ator negro contava piadas de negros: Sabe quando preto toma laranjada? Quando vai à feira. Sabe a diferença entre o pneu furado e a preta grávida? E por aí enfileirava umas três piadas no comercial e a turma toda ia às gargalhadas…
Até um momento em que a câmera fechava nele e, bem sério, perguntava: Quer ouvir mais uma? Você sabia que, no Brasil, não existe preconceito?
Será que não?
Disse-me que o silêncio na turma, nesse momento, foi absoluto e constrangedor.
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