Com a divulgação da convocação final da seleção brasileira, foi, enfim, dada a largada para a Copa do Mundo. Agora ninguém segura. Daqui por diante, só um assunto impera. Copa! Haverá uma overdose de futebol em todos os lugares. Todo mundo falará apenas de um assunto. Copa!
Cabe aqui, porém, uma ressalva importante. Apesar da grande pira que o futebol vai gerar nos próximos dois a três meses, é fundamental que você se abstenha de tirar qualquer grande conclusão a respeito do futebol em si. Isso seria um grave erro metodológico. Agora ninguém fala de futebol, mas apenas de Copa. Copa! E Copa do Mundo não é futebol. Copa é Copa. Copa!
Seguindo essa premissa, essa coluna tentará esquecer do futebol e focar na Copa do Mundo. Confesso que não sei se conseguirei achar tanto assunto assim, mas enfim… Não custa tentar.
Para entender a Copa do Mundo, porém, é primeiro preciso entender como funciona a Fifa. E eu parto do princípio que para entender como funciona qualquer organização, é preciso entender como ela gera receita e como ela gera despesa.
A Fifa possui basicamente quatro grandes fontes de receita. A primeira, e mais importante, é a comercialização de direitos de transmissão de seus campeonatos, principalmente a Copa do Mundo, que é de longe o seu principal produto. Copa! Como muita gente quer ver a Copa, muita gente também quer transmití-la, logo a Fifa consegue trabalhar a demanda e ganhar uma boa grana com os direitos de transmissão do evento.
Atrelado a isso está a segunda grande fonte de receita da Fifa, que são as cotas de patrocínio, também principalmente vinculados à Copa do Mundo. Além disso, a Fifa levanta um trocado com ingressos das suas competições, licenciamentos e afins, e taxas diversas. Tudo isso somado dá uma boa grana, mais de um bilhão de dólares por ano.
O curioso, porém, é o jeito que a entidade máxima do futebol gasta esse dinheiro. A lógica sugere que se ela ganha tanto dinheiro assim com a Copa, então é normal que ela gaste muito também com o evento. Aí, porém, é que está a grande jogada. Apesar de ganhar muito dinheiro com a Copa, a Fifa gasta muito pouco com ela. Afinal, não é ela quem constrói estádios, que é o principal custo do evento. Aliado a isso, ela também não paga o salário dos jogadores que fazem parte do torneio. Na equação, a Fifa fica com o grosso da grana e o país sede e os clubes que empregam os jogadores, com o grosso dos custos.
Obviamente que, apesar do lucro com a Copa, a Fifa não guarda tudo no banco e deixa lá. Tampouco redistribui pra qualquer pessoa, uma vez que ela é uma entidade sem fins lucrativos, ainda que remunere seu presidente com uma quantia sigilosamente elevada. Na maior parte das vezes, a Fifa usa a grana para cobrir custos operacionais e, principalmente, fomentar o futebol em regiões menos desenvolvidas. Constrói um campinho aqui, uma arquibancada ali, dá um curso de arbitragem acolá, e assim vai.
O segredo do esquema, todavia, é que cada grana que a Fifa manda para alguma região subdesenvolvida futebolisticamente, representa um voto que ela ganha da federação em questão na eleição da Assembléia Geral. Como ela ganha bastante grana e gasta muito pouco com outras coisas, fica tudo na boa. E a coisa vai indo e se alongando. Sabe-se lá até quando.
Chamam de negócio da China. Deveriam mudar para negócio da Fifa.
Copa!
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