Categorias
Sem categoria

Balanço entre o esporte e o capital

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Recentemente o presidente da Fifa, Joseph Blatter, informou que a entidade máxima do futebol está estudando alterações nos regulamentos da Copa do Mundo para evitar excessivos empates nos jogos e a consequente monotonia e falta de gols para os espectadores.

Essa preocupação nos remete mais uma vez à discussão sobre a necessidade de os esportes, e no nosso caso do futebol, serem adequados para o seu melhor aproveitamento comercial e até que ponto essa adequação pode ser feita sem que os princípios fundamentais do esporte sejam colocados em um segundo plano.

Todos já sabemos que a Fifa sempre adotou uma postura conservadora com relação a eventuais mudanças no futebol. Sempre foi assim com relação à introdução de inovações tecnológicas na arbitragem, por exemplo. Nesse caso, para a Fifa, o erro humano da arbitragem faz parte da cultura do futebol, e, assim, não poderia deixar de existir.

Ocorre que, na última Copa do Mundo da África, erros capitais de arbitragem começam a prejudicar o espetáculo e a causar efetivos danos financeiros para diversas partes. É nessa medida que agora a Fifa já considera introduzir determinadas inovações de tecnologia para auxiliar e balizar a atividade dos árbitros.

No caso objeto desta coluna, inovações que visem aumentar a atratividade do jogo como ora divulgado pela Fifa, são, em nossa opinião, bem vindas. As constantes reduções na participação do goleiro no jogo são, por exemplo, algumas das iniciativas de sucesso para essa finalidade. No passado mais distante, a criação da disputa de pênaltis também veio nessa esteira, e também já faz parte integrante do espetáculo, sem que o futebol fosse radicalmente alterado.

O que não podemos aceitar é a pressão de patrocinadores e outras forças com grande poder financeiro no futebol para que algumas medidas que valorizem o espetáculo em termos financeiros altere as “cláusulas pétreas” do esporte.

Pequenos ajustes são sempre bem-vindos. Vivemos em uma sociedade dinâmica, e o esporte deve sim adequar-se para atender as demandas de cada época em que vivemos. E, ressalte-se, essa adequação é fundamental para que os investidores do futebol permaneçam interessados e continuem a garantir a viabilidade financeira do esporte.

Por outro lado, não podemos “vender” a integridade e a confiabilidade das competições de futebol, sem as quais o futebol não seria tão popular ao redor do mundo.

Encontrar a justa medida é difícil, mas necessária. E deve ser revista, caso a caso, sempre que houver a necessidade. Vamos aguardar as propostas concretas para alteração dos regulamentos da Copa do Mundo e torcer para que, se aprovadas, elas de fato viabilizem uma maior quantidade de gols por partidas e mais emoção aos jogos, que é o verdadeiro combustível dessa modalidade.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Sobre Naming Rights

Existe uma mística curiosa em torno da ideia do “naming rights” no Brasil. Por alguma razão, clubes tendem a acreditar que a venda dos direitos do nome de um estádio pode ser a plataforma principal de financiamento na obra. Não é. Nunca foi. Jamais será.

O conceito básico do “naming rights” é simples: um clube é popular e frequentemente aparece em diversos veículos midiáticos; como o clube manda seus jogos em um estádio, seu estádio também acaba aparecendo em muitos veículos; como uma empresa não pode normalmente comprar o nome de um clube, ela compra o nome do estádio, sendo que toda vez que o estádio aparecer na mídia, será o nome da empresa que estará sendo mencionado. Dessa forma, a empresa compra, na verdade, o direito de ter seu nome citado por incontáveis vezes em um determinado período de tempo.

Com estádios novos e mais modernos, porém, uma empresa pode acabar inserindo outros direitos na parceria, que vão além da simples troca de nomes. Ela normalmente vira dona de um dos principais camarotes do estádio, ganha uma quantidade razoável de ingressos para distribuir por jogo e pode usar as instalações do estádio para fins corporativos diversos, de simples reuniões a grandes convenções.

Tudo isso é muito bacana do ponto de vista mercadológico, uma vez que a parceria concilia interesses mútuos a partir do uso de uma boa quantidade de criatividade e inteligência. O problema é que para tudo isso dar certo, a coisa mais básica do processo tem que acontecer: os veículos midiáticos (e consequentemente o público que acompanha o esporte) precisam falar o nome da empresa.

Às vezes, isso fica um pouco complicado quando uma empresa compra os direitos sobre o nome de um estádio já existente, uma vez que é preciso um trabalho árduo para convencer as pessoas e as mídias a chamarem o estádio pelo novo nome. Para evitar isso, empresas tendem a buscar batizar estádios novos, que dessa forma não possuem outro nome qualquer.

Outras vezes, porém, alguns canais de mídia simplesmente se recusam a falar o nome da empresa, e chamam dão ao estádio um nome genérico. Isso acontece principalmente quando um determinado canal possui uma audiência dominante e pode se dar ao luxo de adotar essa postura sem se preocupar muito com eventuais retaliações dos donos do estádio. E esse, para o azar dos estádios, é o caso do mercado brasileiro, onde a Globo se dá ao luxo de cortar todas as asas possíveis da Red Bull, por exemplo.

Não existe uma explicação óbvia para imaginar que o “naming rights” é a salvação dos estádios brasileiros. Não existe sequer uma razão óbvia para acreditar que algum dos estádios novos do Brasil vai conseguir fechar um contrato de “naming rights” alto por um longo período de tempo.

Estudos sérios dão conta que empresas que pagam pelos “naming rights” dificilmente conseguem aumentar sua receita em um nível próximo ao investido na aquisição do nome. Isso nos EUA. No Brasil, em que ninguém vai falar o nome, imagine. Dos dez clubes mais ricos da Europa, só dois venderam o nome dos seus estádios. Na Copa do Mundo, a Fifa ignora o nome e manda tirar qualquer placa do estádio que não seja dos seus próprios patrocinadores.

Nesse cenário, não tem por que acreditar que o “naming rights” vai vingar no país. Tampouco que um estádio que usa ele como principal fonte de financiamento vai conseguir sair do papel.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br