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O efeito sanfona

Acompanhando o final de semana de acessos para as séries “B” e “C” de alguns clubes, torno a refletir sobre seus respectivos projetos. Conversando com alguns amigos, classificamos muitas dessas conquistas como o “EFEITO SANFONA DO FUTEBOL BRASILEIRO”. Sei que já tratei um pouco desse assunto, quando discutimos sobre o rebaixamento de clubes com alguma expressão no futebol.

Mas o tema continua pertinente, uma vez que muitas destas entidades acabam por dar um passo maior que suas pernas, não quebrando um paradigma de administração moderna em clubes de futebol. As principais premissas dizem respeito ao:

1. Amadorismo: é impressionante como muitos clubes insistem em uma gestão amadora, há anos, negligenciando completamente o profissionalismo e as informações que palpitam sobre qualquer entidade neste mundo globalizado. E profissionalismo não é simplesmente se dedicar de corpo e alma ao clube de futebol. É preciso muito mais que isso. É preciso conhecimento. É preciso ter recursos humanos capacitados e capacitar as pessoas que estão lá dentro, contando com gente com expertise na administração do esporte e na área técnica da modalidade.

2. Diretor precisa colocar dinheiro: há uma velha ideia no mundo do futebol de que diretor precisa ser um megaempresário, rico e colocar dinheiro no clube. Pura conversa. Diretor precisa ser bem resolvido financeiramente e precisa ter o discernimento de contratar profissionais de qualidade que possam administrar o clube, de acordo com um orçamento e um planejamento previamente definido. Se esses profissionais não cumprirem com suas metas e obrigações, é hora de trocar de comando e de pessoas. Da mesma forma que se faz em qualquer empresa do ambiente corporativo.

3. Estrutura: uma estrutura minimamente adequada para as necessidades de treinamento da equipe são fundamentais para o alcance de resultados dentro de campo. A negligência sobre tal premissa custa caríssimo em um momento decisivo, de qualquer partida de futebol.

4. Equipe Multidisciplinar: essa conversa é antiga e completamente ignorada pela grande maioria dos clubes. Ou melhor, pela grande maioria dos clubes que entram no chamado efeito sanfona, de subir e descer de divisão ano a ano. Ter uma equipe de trabalho multidisciplinar é o eixo de suporte para que, em momentos decisivos, os jogadores tenham tranquilidade para
decidir.

O trabalho de um psicólogo, por exemplo, é fundamental para que os atletas suportem a pressão por resultados. O acompanhamento de um nutricionista serve para equilibrar a alimentação com a carga de treinamento diária de um atleta, repondo a energia gasta ao longo dos trabalhos. Essa equipe multidisciplinar engloba ainda a figura de um Podólogo (isso mesmo, um especialista que cuide da saúde dos pés dos jogadores); um Dentista (há uma relação muito próxima entre a existência de lesões musculares e a existência de foco dentário); um Fisiologista (que acompanhe diariamente o treino e possa dar suporte ao preparador físico); e outras tantas como um Pedagogo do Treino, uma Equipe de Observadores Técnicos; um Assistente Social, um Coordenador Técnico e daí por diante.

5. Planejamento: o que se quer subindo de divisão? Se o clube não sabe responder a tal pergunta, qualquer resultado serve. É preciso possuir uma visão de médio e longo prazo para nortear todas as ações a serem realizadas na dinâmica do clube nas divisões superiores do futebol nacional, acompanhando o seu nivelamento técnico.

6. Formação de atletas: não me lembro de clubes que tenham conquistado resultados expressivos em campo com o futebol profissional nos últimos anos que não tenha tido um projeto de investimento maciço nas categorias de base. Atletas jovens, com objetivos de crescimento na carreira e com identidade com o clube, mesclado com jogadores mais experientes, tem sido a melhor receita para as vitórias no médio-longo prazo.

7. Ajuda: nenhum clube precisa da ajuda de ninguém. Eles precisam de investimento. O futebol é um motor de negócio importante e não uma entidade filantrópica. Trata-se de uma relação de troca, em que todos devem sair ganhando de alguma maneira. Quebrar alguns desses paradigmas (e outros que não foram lembrados ao longo do texto) pode ser a chave para que as equipes consigam resultados sustentáveis ao longo do tempo, criando uma cultura mais rígida e criteriosa na administração de alguns clubes do nosso futebol.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br