Categorias
Sem categoria

Estádio publico ou privado?

Na coluna desta semana levanto outro dilema para os clubes de futebol no Brasil: usufruir de um estádio público ou ter um estádio próprio? A questão levantada merece reflexão especial, pois este tende a ser um grande problema para o país no pós Copa de 2014, especialmente naquilo que se refere aos famosos legados dos megaeventos esportivos.

Hoje, de um lado, muitos clubes fazem pressão no poder público, querendo que este construa o estádio na cidade, utilizando como argumento a enorme mobilização social em que o futebol está envolto. A primeira história dá conta que o clube é importante para a cidade, que é centenário, que dará visibilidade para o município e daí por diante. De olho nesse pomposo discurso, os políticos costumam levá-lo adiante, sobretudo de olho na sua popularidade e votos para a próxima eleição.

No entanto, depois de erguido, os clubes acabam sofrendo com as limitações advindas da morosidade característica pela gestão desse ente público. A venda de camarotes, por exemplo, só pode ser concedida por meio de licitação prévia em determinadas situações, causando lentidão no processo e não sendo possível uma venda de propriedades pela emoção, como é característica na indústria do esporte. Outras propriedades comerciais acabam tendo restrições de comercialização, prejudicando a obtenção de renda adicional pelos clubes.

O resultado é, salvo raras exceções, acabar transformando o espaço, que deveria ser moderno e de mobilização social diversa, em algo obsoleto ao longo do tempo em razão da negligência recorrente por manutenção (fruto do famoso jogo de empurra de responsabilidades entre clubes e poder público) e pela limitação da exploração comercial compreensível em bens públicos.

Para erguer um estádio privado, próprio do clube, é preciso planejamento. E isso é uma coisa que poucos clubes conseguem fazer de forma eficiente. Além disso, pela paixão que move o futebol, a execução de uma obra do porte de uma arena esportiva pode ferir por algum tempo o investimento na equipe de futebol, afetando em certos casos os resultados esportivos.

Se não vejamos: a alocação de recursos ao longo de um período para a construção de um estádio naturalmente fará com que o clube enxugue despesas de outras áreas. Esse respingo atinge o investimento no futebol profissional, como não é difícil de se imaginar. Neste caso, a entidade deve estar com uma visão de negócio muito bem definida para enfrentar desgastes naturais com a imprensa, a torcida, a comunidade de um modo geral e os demais stakeholders.

A título de exemplo, Atlético Paranaense e São Paulo passaram por isso até terem seus próprios estádios. O clube paranaense ainda sofre o dilema de concluir a obra ao mesmo tempo em que deve investir no time profissional para se manter na primeira divisão do Campeonato Brasileiro.

A pergunta lá no início do texto é de difícil resposta. Já li algumas análises e estudos sobre o tema, sendo que as conclusões são bastante divergentes. No caso da parceria entre clube e algum organismo público, tem se demonstrado que o médio-longo prazo de um modelo deste tipo acaba por não ser benéfico para nenhuma das partes. Para o caso de estádio privado, com recursos próprios do clube, o dilema passa por abrir mão de resultados esportivos por cerca de 10 anos, que é o que se costuma ver na prática.

E tal modelo pode ser muito bem aplicável nas duas hipóteses que levantamos neste texto: pela privatização do bem público (como se faz com as Rodovias Federais), prevendo contrapartidas para a população local e para o clube que irá usufruir do espaço, ou mesmo nas parcerias firmadas do clube com outras empresas que operam neste ramo de negócio. Talvez o modelo de empreendimento adotado pelo Palmeiras na Arena Palestra Itália pode ter ótimos resultados futuramente, sem entrar no mérito dos percentuais relativos ao contrato de parceria com a WTorre, que não nos compete neste momento.

Assim, é possível ter um bom espaço de prática esportiva sem haver descapitalização, tendo ainda a possibilidade de aferir novas receitas quando o empreendimento estiver pronto. Finalizo com um breve desafio: quem se habilita a aprofundar o tema? Objetos de estudos não nos faltarão nos próximos anos em terras tupiniquins, só nos faltam métricas para chegar a boas conclusões.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br