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O dilema da profissionalização – parte II

Conforme abordado na semana passada, a profissionalização deve começar por entender fundamentalmente a cultura dos clubes. É muito bonito falarmos que nossos dirigentes são amadores e virmos com um caminhão de estratégias como se ela fosse solucionar todos os problemas da instituição.

É preciso, em um processo de transição para um modelo de gestão profissional, entender e respeitar questões básicas sobre a cultura e a história que determinou a constituição daquela entidade e compreender como aqueles dirigentes lá chegaram – e porque se dedicam tanto ao clube, mesmo não sendo remunerados para isso. Alguma coisa os move a estar lá, a responder e a brigar por tudo que diz respeito à organização.

Neste campo, me baseio pelo pensamento do Prof. Luís Miguel Cunha, da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa-Portugal que, em uma de nossas conversas, abordou o aspecto cultural que possui as entidades de prática do desporto em terras lusas e, por tabela, se reproduz perfeitamente para o território tupiniquim.

A razão de existir de um clube são justamente os dirigentes não-remunerados, ou seja, amadores. Este é o aspecto fulcral que sustenta essas entidades. É pela crença no manto e na história clubística que se baseia todo o enredo de adoração pela marca, cores, mascote, costumes e por aí vai. Os torcedores-consumidores alimentam seu fascínio e fidelidade por tudo isso que norteia a entidade, por todo esse imaginário.

Assim, a profissionalização deve surgir no meio de uma escala hierárquica, partindo do interesse dos dirigentes (amadores), que hão de contratar executivos para o campo estratégico e operacional. Esses profissionais devem, sobretudo, respeitar seus limites de atuação, especialmente naquilo que está ligado à “paixão” de algumas pessoas pelo clube.

As tomadas de decisão passam a ser um conjunto de pensamentos, em que o respeito aos costumes daquele ambiente deve, em certos momentos, prevalecer em detrimento daquilo que parece ser a forma mais correta a fazer pelas teorias da administração – e é isso que acaba, em muitos casos, determinando o sucesso ou o fracasso da organização.

É preciso profissionalizar? Sim, é fundamental para a sobrevivência destas entidades hoje, uma vez que elas passaram a lidar com outras que até então eram alheias às questões econômicas que estão ligadas ao mundo do esporte. A televisão e os patrocinadores são um exemplo de organismos que antes até participavam, mas ficavam à margem de qualquer interesse comercial mais robusto, atuando ora como parceiro, ora como filantropo – atualmente está clara a intenção de se apropriar do esporte e aferir resultados econômicos para si, vendo o negócio efetivamente como negócio.

É possível mudar uma cultura? Sim, é possível, mas leva tempo. A grande pergunta passa por saber se é interessante mudar determinadas culturas de clubes e se essa mudança seria positiva para a estrutura econômica e esportiva da instituição. A inteligência de um trabalho de profissionalização é saber perceber essas nuanças e utilizá-las a seu favor.

O sucesso de um processo de profissionalização passa, portanto, pelo tripé da honestidade, confiança e consciência. Honestidade dos dirigentes em não utilizar o clube para serviço próprio; confiança sobre os executivos, que hão de tomar decisões em nome do clube; consciência para contratar profissionais competentes, além de respeitar e entender o espaço de cada pessoa inserida no clube de futebol.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Ausência

Caro leitor,

Excepcionalmente nas próximas semanas não teremos a coluna de Eduardo Fantato. O colunista estará em recesso até 25 de abril, voltando com seus textos semanais no dia seguinte.

Um grande abraço,

Equipe Universidade do Futebol

Leia mais:
Veja as últimas colunas de Fantato na Universidade do Futebol

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O jornalismo-show

A semana que passou fez com que, pela primeira vez, o Brasil sentisse na pele um pouco da tragédia que acomete os americanos de tempos em tempos. O massacre na escola de Realengo, no Rio de Janeiro, mostrou o quão despreparados ainda estamos para pensarmos numa evolução da espécie, da vida em sociedade e do respeito ao próximo.

Mas, pior do que isso, a cobertura da imprensa sobre a tragédia revelou o quanto o jornalismo-show, que acomete cada dia mais as redações, pode desvirtuar completamente o sentido de existência de uma imprensa capaz de informar e formar as pessoas.

O que se viu na sequência da tragédia fluminense foi um total desserviço da mídia. A notícia foi substituída pelo espetáculo. A informação era o massacre, mas rapidamente passou a ser a vida abruptamente interrompida das crianças, o fim do sonho de uma vida (como se alguma criança soubesse qual o projeto de vida que lhes cabe), o desespero de familiares, os detalhes sórdidos da carta de despedida do assassino…

O show deu a tônica de toda a cobertura da mídia. O importante é chocar, como se o choque natural de todos nós não fosse mais do que suficiente para impressionar. Mas não. Em busca de cliques, de vendas, de pessoas sintonizadas e de pontos na audiência, trocamos a informação pelo espetáculo.

A mídia só se interessou em ficar no raso da tragédia, em contar a história triste de vidas interrompidas. Não houve qualquer espaço para o debate dos motivos que levam uma pessoa a não apenas tirar sua própria vida, mas também a de outras pessoas, num espetáculo brutal de selvageria e descontrole.

Talvez a esfera da mídia não fosse, realmente, a melhor para esse tipo de discussão. Rapidamente o questionamento não seria apenas a vida difícil que o assassino tinha, mas também o espetáculo que a mídia costuma fazer em situações como essa, estimulando os outros a seguirem um caminho parecido.

O jornalismo-show é uma das pragas trazidas pela cobertura esportiva, em que a promoção do entretenimento tem de ser a regra, e não a exceção no exercício do jornalismo. Mas uma coisa é tentar transformar o esporte em entretenimento. Até porque, desde sempre estamos acostumados a tentar “levar a vida na esportiva”, o que demonstra o quão importante o esporte tem de ser em nosso cotidiano.

O entretenimento é parte importante de nossas vidas. Mas, quando há um fato jornalístico, transformá-lo em uma espécie de show é prestar um desserviço. Não é de duvidar que, nos próximos anos, tenhamos novos massacres de Realengo acontecendo em nosso país.

Infelizmente o show da cobertura da tragédia, em vez de nos fazer parar para pensar, só estimula novos corações aflitos a buscarem seus 15 minutos de fama. Nem que, para isso, ela seja uma fama póstuma.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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Amigos do Paraná e Amigos do Japão

Na última quinta-feira, em Curitiba, presenciamos um grande exemplo de solidariedade.

Um jogo de futebol beneficente, na Arena da Baixada, do Clube Atlético Paranaense, em prol das pessoas que sofreram com o tsunami no Japão, bem como com as chuvas que assolaram o litoral do Paraná em março.

O “Jogo da Solidariedade”, como ficou conhecido, também pode ser referido como Amigos do Paraná e Amigos do Japão.

Isso. Não Amigos do Paraná x Amigos do Japão.

As duas equipes de estrelas do futebol nacional somaram esforços para fazer do esporte um instrumento de integração social, cidadania e solidariedade.

Estádio lotado, com mais de 20 mil pessoas – famílias felizes em frequentar o estádio, sem violência e podendo ajudar outras pessoas – e grandes figuras do nosso futebol, liderados por Zico e Alcindo, que foram consagrados também no Japão, além de Paulo Rink e Raí, que já assumiram o DNA da solidariedade.

Raí, na Fundação Gol de Letra. E Paulo Rink, grande ícone do futebol no Paraná, que sempre está envolvido na beneficência em eventos no Brasil e na Europa.

Esses jogadores têm se notabilizado por liderar o apoio às causas que utilizam o esporte como meio de transformação do mundo em que vivemos.

Ao mesmo tempo, lamento pelo triste episódio ocorrido, na mesma data, no Rio de Janeiro, onde um jovem provocou uma tragédia em uma escola de Realengo, a mesma em que estudara, assassinando 12 crianças.

E, repetindo a pergunta de um apresentador da ESPN Brasil, na noite daquele dia: “O que o futebol tem a ver com essa tragédia pra ser abordado aqui?”.

O futebol deve ter muito, mas muito mais da energia positiva gerada pelo evento beneficente, como o “Jogo da Solidariedade”, e ser compartilhado pela sociedade.

O esporte é um grande valor social, um mecanismo de construção da cidadania.

Por isso que esses temas são pertinentes à coluna que escrevo.

A todos os envolvidos na organização do evento, como cidadão e ser humano, agradeço pelo gesto e parabenizo pela grandeza de espírito.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br  

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Mais jogadores à frente da linha da bola: nenhum gol em casa, três feitos na Allianz Arena e cinco sofridos no San Siro

Leitores,

Este é meu texto de abertura como colunista da Universidade do Futebol. Antes de iniciar as questões táticas referentes ao tema desta semana, gostaria de agradecer a indicação do treinador Rodrigo Leitão, a quem substituo, parabenizá-lo pelas mais de quinhentas páginas (muito bem escritas) sobre assuntos direta ou indiretamente relacionados ao futebol e, também, agradecer ao convite feito pela Universidade do Futebol, que foi orgulhosamente aceito por mim.

Estou ciente da responsabilidade e, desde a primeira coluna, comprometo-me a manter a qualidade dos temas discutidos, obviamente com a minha identidade, além de proporcionar ambientes de discussão a partir de conteúdos teórico-práticos da modalidade.

A organização ofensiva de uma equipe pode ser construída de diferentes maneiras. Com estruturas fixas, móveis, com jogo apoiado, vertical, com predomínio de finalizações a curta ou média distância, com cruzamentos, maior ou menor amplitude, penetrações frequentes, dribles, além de quaisquer outras ações que privilegiem a aproximação à zona de risco do adversário. Com a posse, é certo também que, quanto maior a quantidade de jogadores à frente da linha da bola, maiores são as possibilidades de criar linhas de passe verticais, vantagem numérica e obter êxito nas movimentações ofensivas para se aproximar do alvo adversário. No entanto, é importante lembrar que quanto mais jogadores participarem à frente da linha da bola, menos jogadores ficarão responsáveis pelo balanço defensivo da equipe.

Em cada um dos seus três últimos jogos na Champions League, a Inter de Milão, do técnico brasileiro Leonardo, apresentou comportamentos ofensivos distintos, influenciados por mudanças de plataforma, características e regras de ação dos jogadores, e que serão explicitadas a seguir.

No primeiro confronto da 8ª de final, contra o Bayern de Munique, a Inter foi a campo em um 1-4-3-2-1 como pode ser observado na imagem abaixo:


 

Durante todo o jogo a Inter defendeu com pelo menos oito jogadores atrás da linha da bola e, ao roubá-la, a passagem por Sneijder (que busca constantes desmarcações) era a melhor opção nas transições ofensivas. As que foram realizadas com passes longos beneficiaram a equipe alemã.

Na fase ofensiva, com a bola em seus pés, Sneijder tinha quase sempre somente duas opções: Stankovic, pela direita, tentando criar linhas de passe com menor agilidade que o holandês, e Samuel Eto’o, que incomodava ao menos três defensores alemães e recuava entre linhas defensivas do adversário para a função de pivô.

Veja, no pequeno trecho a seguir, duas ações ofensivas com a participação dos meias e do atacante da equipe italiana:
 


 

Num jogo em que a equipe de Milão não se expôs ofensivamente, atacando com poucos jogadores, criou três chances de gol a partir de bola parada, outros três em transições ofensivas, sendo duas com Cambiasso e uma com Maicon, além de uma finalização de Kharja após mais uma bem sucedida função de pivô, seguida de assistência, feita pelo Eto’o.

O placar do jogo, como todos sabem, foi 1 a 0 para os alemães com uma falha (que nem todos sabem) que não foi exclusiva de Júlio César.

No confronto seguinte, em Munique, mudanças na equipe nerazurra: 1-4-2-3-1, entrou Pandev, saiu Zanetti e a necessidade da vitória para permanência na competição. Ao longo do jogo, ao invés de dois jogadores à frente da linha da bola, o meia criativo Sneijder tinha três (Pandev, Stankovic e Eto’o). Mais ofensivos, apoiavam ao ataque em amplitude Maicon e Chivu, dando espaços para Ribery e Robben nas transições.

Como foi escrito anteriormente, com mais jogadores à frente da linha da bola, “maiores são as possibilidades de criar linhas de passe verticais, vantagem numérica e obter êxito nas movimentações ofensivas”. Logo no início da partida, 1 a 0 Inter.
 


 

Ainda no primeiro tempo, o Bayern empatou em um rebote que Gomez aproveitou depois de jogada individual e finalização de Robben e virou após um passe que foi mal interceptado e sobrou para Müller deslocar o goleiro. Mais duas chances claras de gol foram criadas em transições ofensivas, com Gomez e Ribery, porém, o primeiro tempo terminou 2 a 1 para a equipe local.

No segundo tempo, a entrada de Philipe Coutinho e a maior mobilidade com a equipe em posse aumentaram o desempenho ofensivo dos italianos que, numa jogada com três jogadores à frente da linha da bola e a função de pivô de Eto’o, terminou em finalização de Sneijder e empate no placar:
 


 

O poder ofensivo dos alemães não foi o mesmo da etapa inicial. Robben foi substituído, a mobilidade ofensiva da Inter não resultava em finalizações, com exceção de um chute de Pandev e, aos 42 minutos, Eto’o (aquele que incomodava ao menos três defensores) recebe um chutão de Sneijder e novamente na função de pivô serve Pandev, que finaliza sem chances para Kraft: 3 a 2 Inter e vaga nas quartas de final.
 


 

O adversário, Schalke 04, “modesto” 10º colocado do Campeonato Alemão. A mídia e alguns dos jogadores imaginavam um duelo relativamente fácil, creditando vantagem à equipe italiana, que jogaria no San Siro. Lúcio, suspenso, deu entrevista pedindo humildade, entretanto, agradecia o sorteio e o não chaveamento com Real ou Barça pós-classificação.

Com nova alteração na plataforma e jogadores, saíram Lúcio e Pandev e entraram Zanetti e Milito, com a equipe distribuída em campo no 1-4-4-2 (losango), como mostra a figura abaixo:


 

Assim como na vida, as explicações do futebol são complexas e, seguramente, o resultado obtido em um jogo não advém somente da quantidade de jogadores à frente da linha da bola. No duelo da última terça, em que a todo o momento as opções ofensivas de Sneijder eram pelo menos quatro (Milito, Eto’o, Stankovic/Kharja, Cambiasso, e às vezes Maicon e Thiago Motta), o excesso de exposição ofensiva e a lentidão (física, técnica, tática e emocional) nas transições defensivas facilitaram o jogo apoiado do Schalke que, nesta ordem, fez um gol de bola parada, um a partir de transição ofensiva, dois gols a partir de posse em progressão e, o último, também em transição ofensiva.


 

Como exemplo, veja o segundo gol dos alemães, no fim do primeiro tempo, construído em uma transição ofensiva alemã, em que o volante Thiago Motta saiu do seu s
etor e, após a perda da bola e fragilidade no balanço defensivo, o atacante do Schalke Edu recebeu um belo passe e empatou o jogo.
 


 

O placar final todos já sabem: 5 a 2 e uma boa vantagem (adquirida e não creditada) para o jogo de volta.

O desempenho da equipe italiana (e não somente o resultado) traz algumas reflexões:

– Eram necessários tantos jogadores à frente da linha da bola, considerando que Lúcio estava suspenso e a performance defensiva da equipe poderia ser prejudicada?

– Milito ocupou o espaço (e fez a função) que Eto’o vinha ocupando nos jogos anteriores?

– Com Eto’o predominantemente na faixa lateral esquerda do campo, a função de pivô foi eficaz?

– Com a expulsão de Chivu, Eto’o não poderia ocupar um espaço no meio-campo, como já o fez com Mourinho?

– Kharja ou Philipe Coutinho?

– Sneijder “para de pensar” quando está perdendo?

Essas reflexões (e muitas outras) Leonardo e sua comissão técnica terão que fazer para definir o comportamento da equipe no que será o jogo do ano para a Internazionale. Uma das grandes características deste time (transições ofensivas com rápida aproximação ao alvo oponente) pode não ser possível com um adversário que classifica perdendo por até três gols de diferença. Pelo que apresentou nas últimas partidas, faltam características no comportamento da equipe (e jogadores) para a construção de um jogo apoiado. O Schalke, de mero coadjuvante das quartas, passou a forte candidato das semifinais, creditado(???) por ter goleado a atual campeã do torneio.

No futebol, assim como na vida, as explicações são complexas…

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br  

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Caso Neymar

Caros amigos da Universidade do Futebol,

vimos nesta semana o caso das expulsões dos atletas do Santos em jogo válido pela Copa Libertadores da América de 2011. O que nos chamou mais a atenção foi o do Neymar, que, não tendo praticado qualquer ato que pudesse representar ofensa ao árbitro, adversários ou torcedores, acabou sendo punido com o segundo cartão amarelo e, consequentemente, com a expulsão do jogo.

E, de fato, o árbitro não errou. Ele simplesmente cumpriu a regra e a orientação da Fifa, que decorre da evolução histórica da entidade.

Com a evolução da comercialização do jogo, o órgão máximo do futebol mostra-se, a cada dia, mais preocupado em agradar seus parceiros comerciais. Essa é uma tendência de qualquer organização esportiva, a exemplo do que há muito ocorre nos Estados Unidos, mestres em agradarem os sponsors.

Com o passar dos tempos, algumas empresas conseguiram usar a imagem do futebol para promover suas marcas de forma gratuita. É o fenômeno hoje conhecido por “marketing de emboscada”.

Essa prática acontecia, entre outros momentos e locais, no ato do gol, momento máximo desse esporte. Jogadores levantavam os uniformes e mostravam mensagens de cunho comercial de empresas que não aquelas patrocinadoras oficiais do evento ou dos organizadores.

Para coibir essa prática, a única alternativa era punir aqueles que se envolviam com ela e sobre os quais os organizadores possuem alguma relação contratual ou institucional; nesse caso, os jogadores. Para tanto, incluiu nas regras do jogo que os atletas não podem utilizar nada que não for previamente aprovado pelos organizadores.

Essa norma consegue proibir a conduta indesejável, mas, por outro lado, pune um atleta desavisado que aparentemente não procurava promover qualquer ação de marketing de emboscada.

É por isso que os jogadores devem sempre procurar ler e entender todas as regras do jogo, para evitar prejuízos aos seus clubes. O jogo é hoje um negócio, e o Santos fora da Libertadores representa um grande prejuízo ao clube.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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O dilema da profissionalização – parte I

Já virou papo de botequim. O dilema da profissionalização no futebol brasileiro caiu na boca do povo e é tratado hoje quase que no mesmo tom do folclore que abarca a modalidade. Não são raros os casos em que dirigentes se tornam tão celebridades quanto os festejados jogadores e treinadores de sua equipe.

Na coluna desta e da próxima semana abordarei a questão da famigerada profissionalização no futebol para tentar entender por que ela é tão difícil de ser aplicada, mesmo com toda a informação disponível atualmente.

Em primeiro lugar cabe uma pergunta, que pode ser considerada chave para este ensaio: como? Exatamente, o “como” deve permear a nossa esfera de raciocínio, pois devemos considerar, neste caso, dois aspectos: (1) a capacitação e capacidade de atuação profissional; (2) a disponibilidade de profissionais no mercado.

Pela capacitação e capacidade de atuação, é possível perceber uma lacuna entre a área da educação física/ciências do esporte com o conhecimento sobre as ciências humanas, nomeadamente a administração, economia, marketing, contabilidade etc., e vice-versa.

Os profissionais formados na área da educação física devem buscar um aprofundamento paralelo ou posterior na gestão, enquanto que aquele formado em administração precisa completar seus estudos com conhecimentos sobre esporte – o que retarda bastante a formação e entrega para o mercado de pessoas com tal capacitação.

Depois, que são poucos os cursos de especialização que operam com qualidade suficientemente boa a ponto de suprir a demanda – até porque, por se tratar de uma área de conhecimento relativamente nova, os formadores são provenientes do mercado, apresentando vez por outra estudos de caso pelas suas práticas, ou seja, conhecimento tácito. O conhecimento explícito da gestão do esporte no Brasil ainda está por se construir efetivamente.

A lacuna da capacitação surge, portanto, da inexistência de cursos de graduação na área de gestão do esporte. Esse fato, por sua vez, está estreitamente ligado ao segundo aspecto, que é a disponibilidade.

Por disponibilidade basta levar em conta que não há tantos profissionais disponíveis e capacitados quanto todas as necessidades que o mercado apresenta. O “apagão da mão-de-obra” no Brasil também tem sido abordado com certa ênfase por especialistas da área de recursos humanos, em todas as áreas de conhecimento, alavancado sobretudo pela aceleração da economia que é incompatível com a negligência histórica que se tem com a educação no nosso país.

Assim, de nada adianta querer e sonhar com a profissionalização do esporte se no ambiente externo não há expertise suficientemente capaz de atender a complexidade e multidisciplinaridade do mundo esportivo. A frase que traduz um pouco isso é mais ou menos como: “se não gosta de nosso trabalho no clube, então venha e faça melhor”.

Lógico que a frase pode se apresentar com uma visão míope em um primeiro momento (até porque ela já foi falada algumas vezes por velhos dirigentes que, sem argumentos de defesa, preferem o ataque), uma vez que, em não havendo conhecimento e pessoas disponíveis, é plenamente possível a organização assumir esse papel e formá-las, como fazem algumas empresas, com a criação de universidades corporativas, bastando boa vontade para isso – temos inclusive exemplos no Brasil desse tipo de ação, como o Internacional, de Porto Alegre e também na Europa, com o Real Madrid, apenas para citarmos alguns modelos.

É que somado a tudo isso temos um pequeno problema (ou solução): a questão cultural dos clubes. Mas este assunto ficará para a próxima semana, quando falarei sobre a relação de identidade e passado com vínculo estreito entre as pessoas e as organizações clubísticas no Brasil.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Choque de gestão no futebol: os cabelos estão arrepiados

“Ele é um excelente profissional, muito bom caráter, um homem sério, mas nós que convivemos no dia a dia achamos que é necessário fazer um choque de gestão”.

Com essa frase, a diretoria do Atlético Goianiense justificou a demissão de René Simões do comando da equipe, técnico que conseguiu evitar o rebaixamento no ano anterior e que liderava o campeonato estadual.

Virou moda.

Agora no futebol a onda é fazer um choque de gestão. Choque de gestão virou desculpa para fracasso, virou desculpa para erro e agora, ainda mais, virou justificativa para o famoso “me deu na telha trocar tudo”.

O futebol precisa, cada vez mais, de uma central de informações e recursos tecnológicos que auxiliem a avaliar, medir desempenho, e forneçam informações que possam ser transformadas em conhecimento.

Mas isso não basta, se as pessoas que decidem não souberem o que fazer com elas. Ou, o que é pior, tomarem decisões sem ao menos olhar para informações: o tal “choque” não fará nem cócegas.

Nos últimos anos vimos com frequência o termo ser utilizado no futebol. Atlético- MG já utilizou, Corinthians recentemente para justificar o fracasso da Libertadores, o Flamengo, o Goiás, enfim, tantos dizendo sem dizer.

O futebol precisa aprender com o mercado, porém, não adianta só fazê-lo no nome e da boca para fora. Choque de gestão, em resumo simples, remete a mudança no rumo e na forma de gerir, ou seja, o dirigente que o propõe deve estar amparado em informações para tomar tal decisão e não tomar a decisão e justificar com tal alcunha.

Como um choque de gestão pode ser aplicado se não existem parâmetros, critérios e ferramentas que possam avaliar os rumos? Um técnico com 70% de aproveitamento é alvo de choque de gestão, técnico invicto também, técnico rebaixado, técnico interino, enfim, toda mudança de técnico virou choque de gestão.

Independentemente do nome, é importante que as decisões de mudança de rumos, que nem sempre se concretizam com a simples mudança de uma peça (treinador), sejam amparadas com argumentos, informações, dados, análises, critérios, e não apenas no feeling de uns e outros.

O feeling é extremamente importante e não pode ser descartado, porém, os gestores do futebol brasileiro se apegam a ele como justificativa: “senti que era hora de mudar”.

Precisamos de critérios para tomar decisões. Se no futebol os resultados justificam tudo, vamos avaliar resultados, sejam eles de jogo, sejam eles de retorno de marketing, sejam eles de investimentos ou da natureza que for. Caso contrário, vamos ser todos eletrocutados com tanto choque à toa e continuaremos com nossos cabelos arrepiados.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Guarani, 100 anos

O movimento que mais admiro de o Guarani não é a abertura monumental e famosa da ópera de Carlos Gomes. É o solo de Zenon, quando ultrapassou uma barreira vermelha de zagueiros colorados e avançou para fazer um dos três gols da vitória heroica contra o Internacional, no Beira-Rio, no BR-78. Driblou os rivais, superou a linha de impedimento, e começou a botar no mapa daquele Brasileirão uma camisa verde poderosa.


 

Haveria mais. O maestro catarinense bateria uma falta no Maracanã que abateria o Vasco. Daquelas que a gente diz que ele colocou com a mão. Mas foi algo mais para guardar nos olhos. Foi outra obra de arte daqueles arteiros artistas campineiros. Daquele exército caipira do ponta Capitão, daquela companhia de alegria do ponta de nome circense Bozó.

Daquele meia-direita de Seleção Brasileira de Morungaba, o menino Renato. Daquele centroavante ainda mais moleque de Araraquara, o genial Careca cabeludo. Careca por gostar de palhaço. Cerebral por jogar aos 17 anos de idade como se tivesse 17 de Brinco de Ouro. Jeito de gênio, ginga de craque que irritou Leão na primeira decisão no Morumbi e cavou o pênalti que começou a cavar a cova do gigante de verde na decisão do BR-78. Careca que pegou uma carona de Beto Fuscão e fez o gol da vitória por 1 a 0 em Campinas. A vitória do campeão brasileiro de 1978. O primeiro título do interior do Brasil. Dos maiores títulos da história brasileira.

Tinha o mineiríssimo Zé Carlos para comandar aquela tropa campeoníssima no meio-campo. Tinha a mineiridade de Carlos Alberto Silva para dirigir o time do banco. Tinha de quase tudo, tinha para poucos adversários. O Guarani só soube vencer na reta de chegada do BR-78. Quase fez a mesma coisa no BR-86, quando parou diante de um grande rival, e de uma arbitragem infeliz. Quase repetiu o feito no SP-88, mas houve uma Viola no meio do caminho para desafinar a festa.


 

Teve mais Guaranis para lembrar em 100 anos. Teve o de 1994, semifinalista do Brasileirão. Teve o de 1995, o de Djalminha, Luizão e Amoroso, mas o joelho deste impediu que o trio brilhasse. Alguns mais Guaranis foram dos melhores times que vi.

Mas, daí, com o tempo que foi dinheiro demais, executaram o Guarani. Não como se faz pelo mundo nas salas de concerto. Infelizmente, executaram de um jeito que quase não deu conserto. Nos últimos dez anos, mais descensos que acessos, mais acessos de raiva e abcessos administrativos que nomes, times e títulos para contar, não apenas para protestar em cartório.

Não está fácil fazer futebol no Brasil. No interior do Brasil, ainda mais. Mas quem fez a história do país a partir do interior não pode ficar reduzido a um time sem cara, a um clube sem alma, a um estádio esvaziado pela especulação imobiliária, comercial e futebolística.

Eu não quero mais só falar NenecaMauroGomesEdsonMirandaZéCarlosRenatoZenonCapitãoCarecaBozó sem vírgulas e espaços, como um só corpo, como um só timaço. Eu quero falar daqueles tantos times que, como amante do futebol, como palmeirense e como jornalista aprendi não só a admirar e respeitar.

Neneca (goleiro), Edson (zagueiro-esquerdo), Mauro (lateral-direito), Gomes (zagueiro-direito), Miranda (lateral-esquerdo) e Zé Carlos (volante); Capitão (ponta-direita), Renato (meia-direita), Careca (centroavante), Manguinha (meia-esquerda substituto do suspenso Zenon) e Bozó (ponta-esquerda do time campeão de 1978, na decisão no Brinco)
 

Também a temer.

Cada jogo no Brinco, cada visita ao meu estádio, cada partida que, independente da qualidade do time, eu sabia que veria um Bugre bravo e guerreiro.

Não apenas uma série de nomes que guardo na memória enquanto ela ainda me protege. Não quero mais ter de falar só do passado. Quero um presente do Guarani nestes 100 anos. Quero o Guarani de volta. Quero o futuro.

O grande final da obra campineira não pode apenas se encerrar em nosso peito. Vamos tocar essa sinfonia para frente. Vamos tocar o Guarani, não executá-lo. Vamos aplaudi-lo pelos próximos 100 anos.

Como? Não sei. Mas sei que um time que fez o que fez em 1978 pode muito bem refazer a história.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br


*Texto publicado originalmente no blog do autor, no portal Lancenet.

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O técnico

O Palmeiras de Felipão contra o Santos de Ganso, Neymar e cia. O jogo entre Santos e Palmeiras foi, invariavelmente, apresentado dessa forma pela imprensa paulistana. Além dessa forma de criar “donos” para os dois times, também esteve presente o básico “melhor ataque contra a melhor defesa. Quem levará a melhor?”.

Só que, na partida que terminou com vitória palmeirense, o que ficou claramente resolvido foi que a imprensa e, especialmente, os dirigentes de futebol da atualidade, precisam entender que a existência de um bom treinador é fundamental para um time vencer e, mais do que isso, poder ter algum futuro dentro de uma competição.

O bordão “ninguém se lembra do Lula como treinador do Santos de Pelé” é tão estúpido quanto acreditar que, naqueles tempos, a disposição tática dos times era absolutamente fundamental para decidir uma competição.

Nos anos 50, quando o futebol consagrava a profissionalização do atleta, treinador ainda era um bem de menor grandeza. Os astros eram unicamente os jogadores, que não se superavam tanto pelo vigor físico, mas principalmente pela qualidade técnica. Mesmo assim, o Santos de Pelé só dava absolutamente certo porque tinha, dentro de campo, uma série de jogadores que sabiam desempenhar funções táticas, sejam na proteção da defesa ou na armação de jogadas.

Mesmo naquela época, a Europa já consagrava a inserção da tática dentro do plano de jogo de uma equipe. A Hungria, da primeira metade da década, era uma prova dessa situação. A sua derrota na final da Copa do Mundo de 1954 para a Alemanha também foi fruto de um baile tático dado pelos alemães na partida decisiva.

Atualmente, com o desenvolvimento cada vez mais pleno do futebol em todas as suas áreas, pensar num time sem a presença de um treinador é impossível. Torna-se inconcebível crer que uma equipe possa ser bem-sucedida abdicando de ter, em seu quadro, um treinador.

Essa prova pode ser tirada na vitória palmeirense sobre o Santos. Por melhor que sejam os jogadores santistas, falta aos 11 que estão em campo um padrão de jogo, uma coerência tática. No outro lado, porém, sobra ao Palmeiras a parte tática, enquanto a questão técnica é sofrível. Por conta disso, o time consegue obter bom desempenho, mesmo com um time inferior ao do seu adversário.

Achar que treinador é um mero detalhe no futebol atual é um erro tão infantil quanto acreditar que “futebol bem jogado era o de antigamente”, outro jargão que costuma poluir transmissões e mesas-redondas país adentro.

O futebol mudou. Simplesmente essa é a diferença que permite que, lá no passado, o Santos fosse de Pelé. Hoje, o Santos de Neymar, Ganso e cia. nada mais é do que um punhado de excelentes jogadores tentando desordenadamente vencer seus jogos. Quando o rival é muito inferior a ele, o desempenho é obtido. Basta ter o mínimo de igualdade, porém, para tudo desandar.

O técnico é parte importante de uma equipe. Num time como o Santos de hoje, é a peça que falta para que a equipe seja, inegavelmente, a de maior qualidade do país. Como foi no primeiro semestre do ano passado.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br