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Os tipos de jogos: o técnico, o conceitual, o específico e o contextual

Há algum tempo venho defendendo a utilização dos jogos como ferramenta para o desenvolvimento integral de atletas. Tenho destacado também que não basta criar vários jogos a esmo: o fundamental é que elaboremos um processo adequado em que cada jogo terá ligação com os demais.

Nesta coluna vamos discutir quatro tipos básicos de jogos para o desenvolvimento do jogar dos atletas: os técnicos, os conceituais, os específicos e os contextuais. Existem outras classificações de jogos, como os jogos gerais, os jogos pré-desportivos, jogos lúdicos, jogos populares, jogos cooperativos, que de certa forma contribuem para o desenvolvimento dos atletas, mas não serão foco de nossa discussão.

Dentro das quatro classes de jogos que iremos discutir, cada um tem seu objetivo específico e organização própria.

Comecemos pelos jogos técnicos.

Os jogos técnicos, como o próprio nome já apresenta, tem como objetivo o desenvolvimento técnico dos jogadores em ambiente de jogo. Nessa classe, os jogos geralmente são estruturados quanto a suas dimensões, número de jogadores, equipes, tempo, local do campo, em função do fundamento em questão.

Por exemplo, se quero desenvolver a finalização de curta distância, posso criar um jogo de 2×2 dentro da área. Já se quero desenvolver o passe, posso criar um jogo de 6×6 em meio campo, no qual a equipe marca ponto se trocar 10 passes.

Além disso, é preciso pensar sobre como gerar sobrecarga no processo de seleção da informação, tomada de decisão e ação do jogador, pois para gerar um ambiente de aprendizagem é preciso trazer um problema condizente com a zona de desenvolvimento proximal do atleta.

Nos jogos conceituais, o que se preconiza é o desenvolvimento de conceitos de jogo que se aplicam em diferentes situações. Nesses jogos, os atletas são submetidos a estímulos que visam desenvolver o entendimento individual e coletivo de alguns conteúdos gerais e específicos do jogo.

Por exemplo, imaginemos uma situação hipotética em que preciso modificar o tipo de marcação de minha equipe, da marcação mista para a zona. Para que esse processo seja realizado de forma adequada, os jogadores precisam entender o conceito de marcação por zona em jogos conceituais, no qual o espaço geralmente é menor e as situações problemas ficam mais evidentes.

Sendo assim, ele tomará consciência das premissas, dos conceitos e implicações desse novo conteúdo em questão e a transição do tipo de marcação acontecerá de forma adequada.

Nos jogos conceituais, os campos, o número de jogadores e suas dinâmicas são variadas e se adequam, agora, aos conceitos que precisam ser desenvolvidos.

Os jogos específicos: nesse tipo, os conceitos são abordados em ambiente específicos. Isso significa que os conceitos desenvolvidos nas atividades conceituais são transportados para situações mais próximas às realidades específicas do jogo formal.

Por exemplo, após o desenvolvimento do conceito da marcação por zona, em que o jogador entenderá que sua movimentação precisa ser realizada em função da posição da bola, dos espaços e de seus companheiros, ele será submetido a situações específicas no campo de jogo. Nele, o tipo de marcação se somará ao esquema tático, as regras de ação e ocupação de espaço da equipe.

Nessas atividades, as regras do jogo em si são respeitadas, enquanto que nas atividades conceituais pode haver gols próximos um dos outros ou campos com dimensões bem reduzidas, fato que não ocorre nesse tipo de jogo. O campo pode ser reduzido, mas não descaracterizado, ou seja, não pode haver um gol dentro do círculo central do campo, por exemplo.

Nos jogos contextuais, o objetivo é preparar a equipe para o jogo do fim de semana. Nesse tipo de jogo, as características do adversário são levados em conta e as atividades são construídas a fim de que minha equipe se prepare para resolver os problemas impostos pelo adversário e/ou manipulá-los contra o mesmo.

Esses jogos acontecem geralmente em ambiente específico e são amplamente utilizados em equipes profissionais.

Cada jogo possui suas características particulares que se integram dentro de um processo de formação de equipes. Cada um tem sua importância e funcionalidade ao longo do planejamento, mas é preciso cuidado para organizá-los ao longo dos anos, meses, semanas e dias…

Não basta saber criar um jogo, mas é preciso saber quando, onde, para quê, por que…

Na próxima coluna apresento exemplos de cada um desses jogos.

Até a próxima.

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br 
 

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Irresponsáveis

Os presidentes de São Paulo e Corinthians falam demais. O do Palmeiras, de menos.

Juvenal e Andrés podem manter sua discussão de boteco nos urinódromos de bares, mas não devem trazer seus ressentimentos pessoais, suas picuinhas profissionais e seus negócios para a mídia e para o torcedor sem modos e meios. Mantenham fora do foco e do fogo os estultos que cobram de reservas dos reservas pelo mau futebol e pelos problemas do Palmeiras, por exemplo.

Cada palavra envenada e com querosene dos presidentes de Corinthians e São Paulo pode incendiar torcidas e pavios curtos. Andrés, ao menos, admite normalmente quando erra e quando detona pólvora. Juvenal, soberbo e jactante, encastelado em seu feudo, evidentemente não se mistura. E não admite que suas preconceituosas declarações não enriquecem o debate, não corrigem injustiças, e não trazem nada de positivo ao futebol – a não ser fios desencapados e audiência para a imprensa.

A irresponsabilidade de Juvenal e Andrés é proporcional ao silêncio e omissão da gente que tenta administrar o Palmeiras e não consegue. Não apenas pelos problemas que o próprio clube cria. Mas pela falta de um pulso mais firme, de uma língua mais dura para enquadrar quem se perde com a bola, com as boladas, com a língua, com a torcida, com as comissões, com tudo.

Andrés tem razão em exigir mais dos cartolas e atletas quando jogador é agredido apenas por ser um jogador de um time em má fase crônica. Mas é o mesmo dirigente que pouco fez quando o próprio clube foi atacado depois da derrota para o Tolima e outras atitudes tão absurdas quanto a que sofreu João Vítor – ainda que também ele aparentemente não tenha sido apenas vítima. É o mesmo cartola que cita salários e luvas de um atacante de um co-irmão que poderia ir para outro co-irmão. Dirigente que, como fundador da Pavilhão 9, deveria conhecer o poder que as torcidas profissionais têm.

Se comentarista fosse, e seria dos bons, porque entende de futebol, negócios e muitas coisas, Andrés poderia falar. Mas Andrés só é ouvido por ser presidente do Corinthians. Precisa pensar e se portar como tal. Como também deveria fazer o mesmo o Juvenal que atira a torto e sem o menor direito, achando-se superior aos pares, e acima das questões, inclusive as legítimas e legais.

Tirone entraria no balaio de ferro do trio se estivesse há mais tempo na jogada. Ou se minimamente se manifestasse. O que não faz nem no mínimo. Nem no máximo. Nem na média. Ou apenas na média.

Claro que a encrenca com João Vítor não tem a ver com o que costumam brigar presidentes de São Paulo e Corinthians, e com o que não costuma lutar o presidente do Palmeiras. O que falei no “Jogo Aberto” da Band (e que gente que não quer raciocionar troca as bolas com a mesma facilidade com que jogador troca de clube) é que muito da intolerância entre eles acaba levando ao absurdo que se vê em campo, nos CTs e, agora, também nas ruas.

Defender o seu sem atacar o do outro é atitude cada vez mais rara na vida e no futebol. As gratuitas (porém caríssimas) agressões virulentas, verbais, vernaculares e verorissímeis entre presidentes servem para quê?

Estão todos errados. Uns mais, outros menos. Mais ou menos como Felipão e Kleber, no Palmeiras. O treinador palmeirense não tem sido o que foi. Kleber, desde o enrosco com o Flamengo, ainda menos. Mas, ao menos, um sempre quis ficar no Palmeiras. Outro, que sempre quis retornar ao clube, parece jamais ter se contentado em voltar. Ou ficar.

Não é preciso dizer quem o Palmeiras deve escolher. E, quem permanecer, que deve ser Felipão, precisa também mudar. Melhorar. Para não perder o pouco de elenco que tem a favor. O que não é problema incontornável. Telê Santana, multicampeão pelo São Paulo, entre 1991 e 1994, sempre teve parte do elenco contra. Alguns que estarão na homenagem a ele a ser feita em 10 de dezembro, na reinuaguração do estádio do Ibirapuera, não gostavam do treinador que hoje idolatram.

A bola resolveu as questões. Problema que o atual elenco do Palmeiras parece distante de conseguir. Ainda mais porque também tem gente de chuteira virada em relação a Kleber dentro do elenco. Outro que, do nada, em pouco tempo, conseguiu perder um jogo que ganhava de goleada.

Administrar grupos é assim mesmo. Tem gente que trabalha comigo e não gostaria de estar ao meu lado. Como tem gente com quem eu não faço questão de trabalhar ao lado. E, mesmo assim, estamos todos juntos. É assim a vida.

Só não pode ser a morte que irresponsáveis alimentam e aumentam quando pensam com os cotovelos e fígados. Se pensam.

(Ah, sim, e o termo “pensar” não faz referência ao português mal tratado por Andrés, que é inculto, mas muito inteligente; e também não pode ser usado em deferência a Juvenal, culto e inteligente, mas que usa o cérebro como a imprensa usa as declarações dele: sempre para o pior lado).

E, sim: Andrés e Juvenal estão entre os maiores presidentes da história dos clubes que bem dirigem. E até nisso eles usam algumas vezes para o pior lado.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.