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A equipe no divã: a análise de jogo

“O conhecimento acerca da proficiência com que os jogadores e as equipas realizam as diferentes tarefas tem-se revelado fundamental para aferir a congruência da sua prestação em relação aos modelos de jogo e de treino preconizados”

Júlio Garganta
 

Em um jogo de futebol, os acontecimentos são aleatórios e ocorrem em um ambiente altamente complexo.

Como esse esporte se tornou ao longo de sua história um fenômeno social altamente difundido e com um caráter altamente mercadológico, seu entendimento se tornou fundamental para o êxito na modalidade.

Nos últimos anos, o estudo do comportamento dos jogadores e das equipes dentro do jogo vem ganhando cada vez mais espaço.

Segundo Garganta (2001) o volume de estudos sobre o jogo a partir da observação do comportamento de equipes e jogadores aumentou consideravelmente nos últimos 30 anos e os mesmos vêm se aperfeiçoando ao longo do tempo. Os profissionais envolvidos com tal modalidade procuram analisar o jogo em busca de benefícios para incrementar seu entendimento sobre o jogo e, assim, desenvolverem a prestação esportiva de seus jogadores e equipes.

Para Hughes e Franks (1997) as informações advindas da análise dos comportamentos de jogadores e equipes são fundamentais no aprendizado e na performance esportiva por parte dos profissionais envolvidos com o futebol.

Os treinadores e investigadores estão buscando esclarecimentos acerca da performance dos jogadores e das equipes, com o intuito de identificarem padrões que elucidem o rendimento desportivo e de como os conteúdos dos modelos de jogo e treino induzem ou não a eficácia e a eficiência das equipes e dos jogadores de futebol.

Pois bem.

As definições dadas acima sobre a análise de jogo nos levam para outra esfera da observação e análise de jogo. Esses autores defendem a utilização de ferramentas de análise que nos tragam informações sobre comportamentos, padrões e modelos, e não apenas informações se “fulano” fez 40 passes com um aproveitamento de 70%.

Não é possível mais utilizar apenas tabelas com números destituídos de sentido e fragmentados do jogo para análise de uma equipe.

Para Garganta (2001) a tendência da análise desportiva é de configurar modelos de jogo a partir de análise de base de dados quantitativos e qualitativos que permitam definir táticas eficazes para a vitória.

Sendo o jogo um ambiente de elevada complexidade e aleatoriedade, faz-se necessário uma definição adequada de seus procedimentos e propósitos.

Com as informações “certas” é possível criar um ambiente de treino adequado a fim de adequar a complexidade das atividades aos níveis de conhecimento e desempenho dos atletas.

Vejam que a análise de jogo transcende os números e deve nos trazer informações sobre o jogo para que possamos potencializar nosso treino e trazer bases precisas sobre nossa equipe e os adversários.

Pensem sobre seus próprios modelos de observação e busquem entender o comportamento de suas equipes, coloquem-na no divã e façam as perguntas certas!

Até a próxima!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br 

Bibliografia

GARGANTA, J. M. Modelação tática do jogo de Futebol: estudo da organização da fase ofensiva em equipes de alto rendimento. Tese (Doutorado)-Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, Universidade do Porto, Porto, 1997.

GARGANTA, J. M., A análise da performance nos jogos desportivos. Revisão acerca da análise de jogo. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, vol. 1, nº 1, 57-64, 2001.

HUGHES, M.; Notational analysis in T. Reilly. Science and Soccer. Londres: E and F. N. Spon. 1996

HUGHES, M.D. FRANKS, I.M. Notational Analysis of Sport. Science and Soccer London: E. & F.N. Spon. 1997

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Para fazer mais gols!

Joga-se futebol para fazer mais gols que o oponente! Na busca desse objetivo, cada treinador operacionaliza o processo de treinamento de sua equipe de modo que a mesma seja mais eficaz em sua fase ofensiva. Ser eficaz no momento ofensivo do jogo significa transformar em gol a maior quantidade de ações possíveis em que houve invasão da zona de risco do adversário.

Para invadir a zona de risco do adversário, alguns preferem as bolas paradas; muitos, as jogadas pelas laterais que resultam em cruzamentos; outros, as jogadas individuais e ainda há os que preferem as jogadas pelo meio (aquelas que muitos “especialistas” afirmam nunca ser uma boa opção).

Para quaisquer das opções escolhidas, uma gama de competências táticas individuais e coletivas serão necessárias para ser cumprida a ideia do treinador.

E, analisando diferentes treinadores, o que é possível observar em algumas equipes de alto nível do futebol mundial no tocante à invasão da zona de risco do oponente?

A penetração na linha de defesa.

A penetração é uma ação tática individual que tem como conceito a ocupação do espaço, feita por algum jogador que esteja à frente da linha da bola, nas costas do defensor e que pode ser realizada em qualquer região do campo.

Como a coluna aborda a aproximação da zona de risco, a penetração em questão refere-se à ocupação do espaço atrás da última linha de defensores e que ocorrerá predominantemente através dos meias e atacantes.

No plano individual, para o atleta que executa a penetração, é preciso que tenha desenvolvido o conjunto de habilidades a seguir:

Antecipação da ação do passe em profundidade;
Leitura do posicionamento do penúltimo defensor para não se movimentar em impedimento;
Movimentações em diagonal nas costas dos defensores.

No plano coletivo, o atleta em posse da bola, que fará o passe para a ação de penetração do companheiro, deverá desenvolver:

Observação de espaços vazios importantes atrás da linha de defensores;
Percepção das características do jogador para quem faz o passe;
O timing da ação para não fazer passe para companheiro em impedimento;
Qualidade de passe para o ponto futuro.

Ainda no plano coletivo, além do jogador anteriormente mencionado, a leitura de outros companheiros da equipe para a ocupação do espaço deixado pelo atleta que realizou a penetração pode gerar desequilíbrios na organização defensiva adversária que, neste tipo de situação, precisa de comportamentos defensivos muito bem estabelecidos para não serem superados. Nas incertezas da interceptação do passe, no adiantamento da linha para deixar o atacante em impedimento ou na recomposição para evitar o recebimento da bola após penetração, ter mais um jogador nesta ação (devidamente posicionado) será um complicador para a ação defensiva.

Abaixo, alguns lances de penetração retirados de Barcelona, Manchester United e Real Madrid, válidos pela fase de grupos da Uefa Champions League 2011/2012.
 


 

Desenvolver essas habilidades nos jogadores demanda tempo, treinamento e conhecimento. É importante mencionar que esta não é a maneira exclusiva de chegar com qualidade à zona de risco do adversário.

É fato, porém, que chegar com qualidade nesta região privilegia os ávidos pelo bom futebol, pelo espetáculo e pelo alto nível competitivo.

E, após chegar com qualidade, talvez o número de finalizações perigosas da equipe aumente, ao contrário de simplesmente se treinar finalização.

Somente finalização, não!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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O investimento no torcedor

Na última terça-feira, participei de um programa de rádio em Belo Horizonte cujo nome é “Só dá Galo” e que trata exclusivamente do Clube Atlético Mineiro. Por alguns minutos, falamos acerca da importância da aplicação do Estatuto do Torcedor e da necessidade de se tratar o torcedor como um consumidor e até mesmo como patrimônio do clube.

Trata-se de debate que sempre instigo em minhas palestras, pois a única razão de existir de um time de futebol é a sua torcida. De nada adianta ganhar títulos e formar belas equipes se não existir o torcedor. Ocorre que, infelizmente, a maioria dos clubes brasileiros ainda não se deu conta disto e insiste em ignorar seus torcedores.

O fato é que o investimento no bem estar e no contentamento do torcedor traz como consequência retorno financeiro e também esportivo. Se, por um lado, o torcedor é capaz de distorcer a realidade em prol de seu clube do coração, por outro, ao ser continuamente mal tratado, acaba afastando-se dos estádios e não adquirindo produtos de seus clubes.

Se no final da década de 80, o futebol inglês era símbolo de violência, hoje é exemplo de organização e sucesso. A Liga Inglesa de Futebol (Premier League), junto com as ligas americanas de beisebol, futebol americano, hóckey e basquete, é uma das cinco mais valiosas do mundo. A grande razão desse sucesso foi a repaginação estabelecida no trato com o torcedor por meio de melhora na estrutura dos estádios e no tratamento dos torcedores.

No Brasil, o Internacional, de Porto Alegre, em meados da década passada, iniciou profunda mudança na forma de tratar seu torcedor e, após ser o primeiro clube brasileiro a se certificar com o ISO 9001, passou a conquistar vários títulos e é, atualmente, a instituição esportiva, fora de Europa, com o maior número de sócio-torcedores.

O sistema de gestão implantado pelo Inter foca a melhoria da interface com o torcedor objetivando superar as expectativas deles e dos sócios através da melhoria contínua de seu processo de recepção e atendimento ao público, fundamentado pela valorização de seus colaboradores e pela busca permanente em atingir as metas de qualidade estabelecidas.

Neste sentido, o Estatuto do Torcedor constitui importante ferramenta – eis que sua adequada utilização trará aos Clubes retorno em visibilidade, venda de ingressos e até em títulos. Ademais, o desrespeito ao torcedor pode ocasionar uma série de demandas contra os clubes, tal como ocorreu após a edição do Código de Defesa do Consumidor.

Dessa forma, a cada dia cresce a necessidade dos clubes de futebol adotarem medidas de excelência no atendimento aos seus torcedores; eis que com a profissionalização do esporte, não há outro caminho e os clubes que não se adequarem podem estar fadadas ao ostracismo.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br
 

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Pliometria para o desenvolvimento de força no futebol

Entre as capacidades motoras necessárias para a prática do futebol estão a força rápida, também chamada de força explosiva e a velocidade. Das diferentes estratégias utilizadas para o desenvolvimento dessas capacidades, sem dúvida, a pliometria é uma das mais importantes.

Ao contrário do que muitos imaginam, pliometria não significa simplesmente saltar. O termo plio significa “maior” e o termo metric se refere a “média”. Ambos são oriundos do vocabulário grego pleytein que também significa “aumentar” e, portanto, pliometria significa aumentar o tamanho da musculatura.

Nesse tipo de exercício o músculo esquelético deve ser “aumentado” como se estivesse alongando ao mesmo tempo que se contrai e por mais paradoxo que isso possa parecer, do ponto de vista mecânico é perfeitamente possível.

Esse tipo de ação muscular que gera estiramento mesmo contraindo é chamado de ação excêntrica e é um dos requisitos essenciais do treino pliométrico.

Nesse tipo de ação o ciclo alongamento-encurtamento do músculo esquelético deve ser aproveitado ao máximo e essas ações excêntricas agirão como freios à medida que são acionadas a favor da ação gravitacional, por exemplo.

Do ponto de vista neural, a vantagem dessas ações é que a via motora do Sistema Nervoso Central consegue recrutar mais rapidamente as fibras musculares do Tipo IIX (que são mais rápidas e mais potentes do que as outras fibras musculares), as quais possibilitarão ao músculo gerar mais força o mais rápido possível.

Do ponto de vista metabólico essa ação é vantajosa pelo fato de o estiramento das estruturas contráteis (filamentos fino e espesso) gerar contração sem gasto de energia (contração passiva), ao passo que as estruturas elásticas (tendão, epimísio, perimísio, endomísio e titina) “acumulam” energia elástica. Essas duas respostas otimizam a transformação de energia química (ATP) em energia mecânica (ação concêntrica – ativa) fazendo com que o trabalho muscular seja mais eficiente na ação muscular concêntrica subsequente.

Para que a transferência de energia elástica em energia mecânica seja feita de forma ótima a mesma deverá ocorrer o mais breve possível (normalmente abaixo de 200ms). Caso isso não corra, a energia elástica será dissipada em forma de calor e ao invés de otimizar o trabalho muscular irá prejudicá-lo.

Apesar de extremamente vantajoso para o ganho de impulsão e de velocidade, na prática, para que o trabalho de pliometria seja efetivo, torna-se imprescindível:

i)adaptar a musculatura do atleta a esse tipo de treino;
ii)determinar a altura ideal dos saltos a serem realizados;
iii)minimizar o tempo de contato com o solo;
iv)realizar as ações motoras sem sinais de fadiga.

Caso esses itens sejam negligenciados, ao invés de melhora da força rápida, o atleta poderá ficar mais lento, menos econômico, menos eficiente e aumentar suas chances de lesão muscular.

Na próxima semana daremos exemplos de exercícios para o desenvolvimento desse tipo de trabalho.

Até lá!

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br

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E o assunto é Neymar

O assunto do momento e todas as atenções da mídia tem se centrado na figura de Neymar. A renovação de contrato com o Santos até 2014 na última semana chamou atenção não só dos meios de comunicação do Brasil como também do mundo, pela audácia, inversão de papéis pela visão de que até então os clubes tupiniquins eram meros fornecedores de “pé de obra” ao mercado europeu do futebol e a força da economia nacional, que permitiu bancar salários e imagem de craques e futuros craques do principal esporte do planeta.

Revistas de negócios e economia a falar sobre a relação de Neymar com o clube, publicações femininas e voltadas para o público a adolescente a idolatrar o craque como símbolo de uma geração e, naturalmente, a mídia especializada em esporte a abordar toda a genialidade do jogador dentro de campo.

Para pagar todo este investimento, vê-se o pool de empresas que se formou e passou a colocar o atleta como endorser de inúmeras campanhas publicitárias, todas elas articuladas pelos seus empresários e pela organização empresarial que se criou dentro do próprio clube.

A partir desta lição feita pela equipe da Vila Belmiro, chegamos a dois pontos que sempre se comentaram em apresentações de especialistas em marketing esportivo e também que aparecem em publicações da área:

1.De o clube assumir um papel que vai além da trivial contratação e pagamento de salários. O Santos assumiu o papel de co-gestor da carreira do atleta, o que trouxe não só uma tranquilidade para o clube negociar alguns contratos, como também possibilitou a geração de receitas suplementares, que até então ficavam nas mãos de empresários ou de outros agentes alheios a cadeia produtiva do futebol.

2.De que ainda temos um campo muito aberto a explorar no sentido dos fãs do futebol no Brasil. Pouco se falou, por exemplo, na questão dos produtos licenciados ou mesmo no aumento do faturamento em bilheteria/dias de jogo pela presença de Neymar em campo, em que os clubes do país do futebol estão bem distantes de seus pares do velho continente.
 

É preciso pensar em estratégias mais eficazes neste sentido. A dependência de uma única fonte de receita é sabidamente temerosa em qualquer segmento de negócios. Amanhã, pela visão das empresas, o “queridinho” pode não ser mais o Neymar, e sim o galã da novela das oito.

Para o futebol e o esporte, ele tende a render por mais 10, 20 ou 30 anos e, portanto, é preciso ser perspicaz para ampliar cada vez mais o leque de receitas com a imagem deste promissor jogador.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Puxa, fulano tem uma baita sorte, hein!?

Saudações a todos!

Vejo constantemente pessoas reclamando da sorte dos outros. “Puxa, fulano tem uma sorte de outro planeta, tudo o que ele faz dá certo”. Mas será que é só sorte? Tenho certeza de que não.

Mesmo quem ganha na loteria não teve apenas sorte – teve ao menos o trabalho de ir à casa lotérica e de fazer uma aposta. Tenho uma história bem interessante para ilustrar um caso assim:

“Um senhor vivia reclamando da sorte dos outros para Deus. Ia todas as semanas na igreja e falava para Deus: ‘puxa, fulano ganhou na loteria e eu não ganhei nada’. Na semana seguinte voltava à igreja e falava: ‘puxa, 12 ganhadores e eu nada’. E fez assim por 30 anos seguidos. Deus tem muita paciência, como sabemos, mas depois de 30 anos ele mesmo não aguentou e quando o homem, na semana seguinte voltou à igreja e repetiu a reclamação, Deus respondeu em voz alta: ‘meu filho, ouço seus pedidos há mais de 30 anos e faço um grande esforço para te ajudar, mas por favor, faço a sua parte, aposte pelo menos uma vez na vida na loteria e prometo que você ganha!'”.

É claro que se trata de um conto, mas mostra com muita clareza como as pessoas encaram os acontecimentos do dia a dia. Seja nas empresas, nos clubes ou mesmo no convívio familiar, todos querem ter sorte, mas poucos criam alternativas, comandam seus objetivos e principalmente trabalham para tê-la e conquistá-la. Sinto que é mais energia gasta para reclamar da sorte dos outros.

Além do caso que contei, tenho outros exemplos mais próximos da nossa realidade e, ao lerem, vocês com certeza se recordarão de outros vivenciados em suas rotinas. Vejam alguns deles:

Em um de meus negócios – uma de nossas empresas é um site de empregos – e sou constantemente procurado por profissionais de idades, cidades, níveis hierárquicos diversos, como uma pergunta em comum: “tenho meu currículo cadastrado em seu site há X meses e nunca arrumei um emprego, mas meu primo, meu vizinho ou meu amigo arrumou emprego rápido. Ele tem muita sorte, né?”.

Eu escuto e esclareço algumas questões para a pessoa ter uma dimensão de onde está inserida e em seguida volto a fazer algumas perguntas. O esclarecimento é simples: nosso sistema tem mais de 11 milhões de candidatos cadastrados e os mais de quatro mil clientes oferecem mais de 25.000 vagas para profissionais de todos os níveis em todo o Brasil e até no exterior.

Então, vejamos:

1.Será que seu primo tem só sorte ou fez algo a mais?

2.O que você tem feito para se destacar dos outros candidatos?

Passada a etapa do não sei e não sei!

Agora que esta pessoa tem ideia de em qual contexto está inserida, e a consciência de que está deixando de fazer algo, eu faço as seguintes perguntas (todas as ações abaixo podem ser feitas no sistema gratuitamente):

1.Seu currículo está completo e sem erros gramaticais?

2.Você fez uma carta de apresentação específica para as empresas que deseja trabalhar?

3.Gravou um vídeo currículo?

4.Pediu referências pelo sistema aos seus conhecidos e ex-empregadores?

5.Tem visto as vagas dentro do seu perfil e se inscreveu nas de seu interesse?

Acreditem, as respostas são sempre “não, não fiz nada disso” e invariavelmente a justificativa é a de que “não tive tempo”. E em seguida, após esse choque de realidade, eu peço que faça uma atualização do currículo com base no que falamos, separe as vagas que deseja participar e me mande o currículo pelo site, para eu avaliar e dar dicas específicas, focadas no perfil. E mais uma vez, acreditem, de cada 100 pedidos, eu recebo um de volta, e esse um que seguiu as dicas, atualizou o currículo e está mandando para eu avaliar. Os outros 99 que não me enviaram os currículos continuarão a achar que são só seus os primos, amigos ou vizinho que têm sorte, eles não!

Vocês já devem ter ouvido que o Michael Schumacher é um cara de muita sorte. Essa expressão é muito comum aqui no Brasil. Gostamos de falar dele, que ele tem sorte, pois foi sete vezes campeão da principal categoria do automobilismo. Além disso, Schumacher tem um acordo com o site oficial da Fórmula 1, e é estatisticamente o maior piloto de todos os tempos, que detém inúmeros recordes, incluindo voltas mais rápidas, maior número de campeonatos, vitórias, Pole Position, pontos marcados e o maior número de corridas ganhas em uma única temporada. É ainda o único piloto na história da F-1 a terminar entre os três primeiros em cada corrida de que participou. Muita sorte mesmo, né?

Mas o que ninguém fala, e o que nem se contabiliza, é o número de voltas que ele já deu em treinos, o número de horas em academias para manter a forma física, o tempo longe da família, as restrições alimentares, etc. Todos continuam achando, inclusive muitos companheiros de grid, que Schumacher é um sortudo e que os demais não têm a mesma sorte.

Sorte é necessária. Tenho certeza de que os primos, amigos e vizinhos dos candidatos que reclamam a falta emprego, tiveram sorte também. Não tenho dúvidas de que o Schumacher é um cara de sorte, mas acima de tudo tenho absoluta certeza de que em ambas as situações houve muito trabalho. Sorte, como diz Milton Neves, é o encontro da competência, com a oportunidade. E acrescento que além de competência para ter sorte, é necessário trabalhar como um Escravo.

É isso, pessoal!

Reflitam sobre isso e façam a sua sorte: ela pode estar bem mais perto do que vocês imaginam. Agora, intervalo, vamos aos vestiários e nos vemos na próxima.

Abraços a todos!

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br  

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Formação, o mercado europeu e a Bola de Ouro

“A ambição do homem é tão grande que para satisfazer a uma vontade presente, ele não pensa no mal que dentro em breve daí pode resultar”

Henry Ford

 

Peço licença aos meus leitores para, nesta coluna, abordar um tema que foge um pouco do campo, mas que vejo como pertinente para nossa reflexão.

Há alguns meses venho ouvido falar sobre uma possível transferência de dois de nossos maiores craques na atualidade.

Em meio a um turbilhão de informações, alguns “especialistas da bola” alertaram sobre o fato de que outros atletas jovens saíram de nosso país como novos “Pelés” e não tiveram o mesmo sucesso lá fora.

Ouvi ainda que os jogadores obtêm destaque no Brasil, pois nosso futebol não tem um nível técnico tão elevado, fato que nos leva a um “complexo de vira lata moderno” e que o mundo inteiro vê isso, por isso que até este ano não tínhamos nenhum indicado entre os melhores jogadores do mundo ao prêmio Bola de Ouro da Fifa.

Fiz uma profunda reflexão sobre tudo isso que foi dito e gostaria de compartilhar com vocês minhas inquietações.

Primeiro, nosso jogadores passam de seis a oito anos nas categorias de base de nossos clubes. Nesse ambiente, os garotos são submetidos a inúmeras competições que reproduzem proporcionalmente as exigências do futebol profissional. Essa reprodução vai além das quatro linhas do campo e se expande para a organização, nível de cobrança, busca pelo êxito, etc.

Todo esse ambiente “forma” o jogador para atuar em nosso futebol.

Esse fato me fez pensar: como um jogador com 18 anos, que passa quase metade de sua vida na base dentro da cultura de nosso país, pode se adaptar rapidamente e obter êxito em uma cultura de futebol totalmente diferente em um país totalmente diferente?

O fato é que alguns se adaptam, sim! Mas como?

Pelo caráter continental de nosso país, temos em nossas bases jogadores de milhares de quilômetros, onde cada um deles pode ser de uma região do país, que tem seus próprios costumes, os quais são muitas vezes diferentes da cultura onde o clube tem sua sede. Muitos desses garotos têm que se “virar” longe da família e se adaptar muito cedo a uma nova realidade.

Esse fato pode ajudar nas transferências internacionais, mas é tudo?

Acredito que não!

Não tenho todas as respostas, mas acredito que devemos preparar nossos jogadores para entender o jogo de uma maneira complexa para além do modelo, de olho na parte esportiva. Já para prepará-lo para se adaptar a uma cultura totalmente diferente, é preciso um trabalho transdisciplinar, onde a vivência de outra cultura precisa existir, seja por intercâmbio, seja por oficinas, ou alguma outra estratégia (alguns clubes que tem por objetivo negociar jogadores com o exterior já fazem isso).

Outro ponto importante e que somos agentes é que nosso futebol precisa sair desse “complexo de vira lata” e assumir uma postura de vanguarda dentro do cenário mundial. Para isso não podemos apenas nos focar em trazer grandes jogadores, mas sim em buscar a excelência em todas as áreas, criando uma identidade forte e respeitada de nossos clubes lá fora!

Se fortalecermos nosso futebol, podemos ter um dia sete indicados entre os melhores jogadores do mundo à Bola de Ouro da Fifa, assim com a Espanha tem neste ano. Além disso, não ficaremos brigando tanto para manter nossos craques em nosso futebol.

Vejo nosso futebol com muita esperança e noto, dia a dia, que as coisas estão mudando, para melhor. Então, tenhamos paciência, que essa mudança não ocorrerá do dia para a noite.

Até a próxima!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br 
 

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Entrevista Tática: Nei, lateral-direito do Internacional

Está aberta a entrevista tática!

“Ouvir” os jogadores de futebol brasileiro traduzirá um pouco da visão que os mesmos têm sobre a modalidade e auxiliará a prática de todos os membros da comissão técnica. Para complementar as perguntas-padrão divulgadas na coluna de apresentação, a Universidade do Futebol agradece as contribuições de todos os leitores e insere as perguntas elaboradas por Douglas Soares (aluno de graduação da UNISA/ pergunta 3), Luiz Peazê (CEO da Clínica Literária / pergunta 13) e Marcelo Padilha (aluno de graduação da UFMG / pergunta 14).

Além destas, algumas perguntas foram elaboradas ao atleta para complementar a compreensão das suas respostas.

Lembrem-se de que esta é apenas a primeira entrevista. Periodicamente, ela poderá ser aperfeiçoada, complementada ou até mesmo modificada para manter o objetivo que a mesma se propõe.

Acompanhe abaixo as respostas do Nei, lateral-direito titular da equipe do Internacional:

1-Quais os clubes que você jogou a partir dos 12 anos de idade? Além do clube, indique quantos anos tinha quando atuou por ele.

Palmeiras-SP – 12 anos / Bragantino-SP – 15 e 16 anos / Ponte Preta-SP – 18 a 20 anos e 21 anos / Corinthians – 20 anos / Atlético-PR – 21 a 23 anos / Seleção Brasileira sub-23 / Inter-RS – 24 e 25 anos.

2-Para você, o que é um atleta inteligente?

Atleta inteligente é aquele que consegue se diferenciar dos outros atletas não só dentro de uma partida, mas sim aquele que dentro e fora tem respeito dos seus companheiros. Um cara que coloque sua profissão como foco principal e que tenha uma personalidade que não muda nas horas boas ou ruins.

3-Você saberia descrever o quanto o futebol de rua, o futsal ou o futebol de areia contribuiu para a sua formação até chegar ao profissional?

Eu creio que são modalidades com muita diferença uma da outra, mas de onde você pode tirar aprendizado para o campo e para o profissional. Por exemplo, no futsal você pensa muito rápido por ser um espaço mais curto e você tem um passe melhor e aprimora seu drible. No futebol de areia, você praticamente fica com a bola no ar o tempo todo, pois não tem condução, então, aumenta o controle; e no futebol de rua você aprende a malandragem do brasileiro, pois não tem regras.

4-Em sua opinião, o que é indispensável numa equipe para vencer seu adversário?

Organização tática, muita tranquilidade e treinamento. Precisa também de um líder positivo dentro de campo.

5-Quais são os treinamentos que um atleta de futebol deve fazer para que alcance um alto nível competitivo?

Acho que primeiro de tudo tem que ter uma aprendizagem de leitura tática aprimorada. Depois, um fortalecimento que o mantenha sempre em alto nível e repetição de trabalhos específicos à sua posição.

Você pode exemplificar como devem ser estes trabalhos específicos?

Os trabalhos têm que ser voltados para o que você vai usar no campo. Os meias têm que fazer uns passes com mais marcação, giros rápidos e enfiadas de bola difíceis. Os atacantes, mais finalizações, tabelas rápidas; os volantes, passes e viradas de jogo; os laterais, cruzamentos, tabelas e finalização; e os zagueiros, posicionamento e bolas aéreas.

6-Para ser um dos melhores jogadores de sua posição, quais devem ser as características de jogo tanto com bola, como sem bola?

O lateral, primeiro de tudo, tem que saber que a sua função é marcar. Não tem tanta necessidade de apoio, só tem que descer com certeza. Hoje em dia, um lateral que guarda sua posição, que não deixa tomar gols pelo seu lado e quando sobe tem um bom passe tem tudo pra ser um dos melhores. Com a bola, além do passe, ele tem que saber se projetar, pois sempre será o desafogo da equipe; e sem a bola, saber ocupar os espaços do campo sempre se posicionando pra ajudar os zagueiros.

7-Quais são seus pontos fortes táticos, técnicos, físicos e psicológicos? Explique e, se possível, tente estabelecer uma relação entre eles.

Taticamente, eu tenho uma boa leitura do jogo e consigo prever várias jogadas, assim posso antecipar um lance mais facilmente. Tecnicamente, sou um cara que me projeto muito fácil ao ataque e chego muito fácil à linha de fundo para uma jogada típica dos laterais. Fisicamente, sou privilegiado, pois tenho velocidade, sempre fui muito forte e tenho uma resistência muito boa, o que me ajuda a manter em um jogo inteiro a mesma performance.

Psicologicamente, sou muito concentrado e praticamente não escuto nada de fora. Sou blindado, isso me ajuda a não oscilar se recebo vaias ou aplausos. Sendo assim, uma qualidade puxa a outra: ser rápido, ter boa velocidade, gostar de jogadas de profundidade e encontrar espaços pra ultrapassagens mais rapidamente e não ligar quando erro. Isso ajuda.

8-Pense no melhor treinador que você já teve! Por que ele foi o melhor?

(…) Um cara que taticamente posiciona o time de uma forma única e consegue ocupar todos os espaços do campo com todos os jogadores.

9-Você se lembra se algum treinador já lhe pediu para desempenhar alguma função que você nunca havia feito? Explique e comente as dificuldades.

Sou conhecido por minha polivalência, então, nunca tive muita dificuldade de jogar em outras posições, mas sempre que atuo na lateral esquerda tenho um pouco de dificuldade, pois inverte totalmente o corpo pra tudo, tanto pra dominar, como pra driblar e chutar. Apesar disso, sempre joguei tranquilamente.


 

10-Qual a importância da preleção do treinador antes da partida?

Pra mim, o mais importante foram os treinamentos e a preleção é mais pra relembrar.

Pra você, quanto tempo deveria durar uma preleção e o que precisa ser relembrado?

Dez minutos e relembrar as jogadas ensaiadas e bolas paradas.

11-Quais são as diferenças de jogar em 4-4-2, 3-5-2, 4-3-3, ou quaisquer outros esquemas de jogo? Qual você prefere e por quê?

4-4-2 e 4-3-3, eu tenho que me posicionar e me preocupar mais com a marcação sem tanta obrigação de apoiar, já no 3-5-2 eu tenho a liberdade pra atacar e às vezes quase chegando como meia. Eu prefiro o 4-4-2, pois é uma tática mais consistente onde é muito difícil de entrar.

Um time certinho com o 4-4-2 e as peças certas tem tudo pra ser campeão.

12-Comente como joga, atualmente, sua equipe nas seguintes situações:
Com a posse de bola;
Assim que perde a posse de bola;
Sem a posse de bola;
Assim que recupera a posse de bola;
Bolas paradas ofensivas e defensivas.

Com a bola, nosso time joga no 4-5-1, onde priorizamos a posse de bola, pois temos um time muito técnico. Quando perdemos a bola, adiantamos um dos meias, vamos para o 4-4-2 e o time todo marca na linha do meio-campo. Recuperando a bola, tentamos ficar o máximo de tempo com a posse de bola por não termos jogadores de muita velocidade e tentamos acertar um passe pelo meio, então, ficamos com a bola até a hora certa.

Nas bolas paradas ofensivas sempre vamos com quatro jogadores para a área, sempre preenchendo o primeiro pau e um no segundo. Na bola parada defensiva, marcamos individual nos escanteios e nas faltas laterais marcamos por zona.

Existe alguma mudança de comportamento previamente treinada para jogos fora de casa? E com a vantagem no placar? Explique:

Não tem nenhum tipo de
treinamento pra essa situação. Eu pelo menos nunca vivenciei um treinamento assim.

13-O que você conversa dentro de campo com os demais jogadores, quando algo não está dando certo?

Tento acalmar e, o mais importante, manter o posicionamento. Continuar com posse de bola e mostrar que temos condições de recuperar.

14-Como você avalia seu desempenho após os jogos? Faz alguma reflexão para entender melhor os erros que cometeu? Espera a comissão técnica lhe dar um retorno?

Eu assistia a todos os meus jogos, em casa, antigamente, mas com o tempo você vai ficando mais calejado, não precisa mais ver e sabe onde você errou. Estando mais experiente você não precisa que ninguém venha dizer que está errado ou que precisa melhorar.

15-Para você, quais são as principais diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu? Por que existem estas diferenças?

O futebol brasileiro tem muita improvisação, já o europeu é muito tático e você nunca vê um time desorganizado por mais largo que seja o placar. Acho que essa diferença é de cultura mesmo, pois aqui é o país do futebol e achamos que nunca temos que aprender nada. Lá, o futebol evoluiu muito e enxergaram que taticamente você consegue montar um time campeão.

16-Se você tivesse que dar um recado para qualquer integrante de uma comissão técnica, qual seria?

Pense sempre com a cabeça do jogador, nunca tente pensar com a tua. É bem mais fácil e assim você vai entender, poder ajudar e melhorar o time todo.

Para finalizar, dê sua opinião sobre o que achou da entrevista e como, na sua visão, a mesma pode contribuir com o futebol brasileiro:

Uma entrevista muito interessante para quem é treinador, que poderá ver o pensamento de jogadores de diferentes status, posições e divisões. Conhecendo mais os jogadores que tem, facilita o trabalho para os treinadores.

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De quem é o Mundial?

Nunca um Projeto de Lei despertou tanta polêmica quanto o que se refere à Lei Geral da Copa. A fim de participar de audiência pública da comissão especial responsável pela análise do projeto da Lei Geral da Copa, na Câmara dos Deputados, o secretário-geral da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Jérôme Valcke, esteve no Brasil esta semana.

Dentre vários temas, debateu-se a viabilidade de haver categoria especial de ingressos com preço reduzido para os jogos do Mundial de 2014, em que seriam incluídos os estudantes, idosos e pessoas de baixa renda e a questão das bebidas alcoólicas nos estádios.

A Lei Geral da Copa trata, na verdade, da positivação (transformação em texto legal) dos compromissos contratuais assumidos pelo país para receber a Copa do Mundo de Futebol. Tem-se que pensar o Brasil como um ente com personalidade jurídica que firma um contrato com outra entidade, no caso, a Fifa.

Ao se candidatar e ser escolhido como o país anfitrião da Copa do Mundo de 2014, o Brasil assumiu compromissos com a Fifa que, por sua vez assumiu compromissos contratuais com seus parceiros e colaboradores. O Brasil, ao aceitar “cláusulas” exigidas pela Fifa, não está abrindo mão de sua soberania, mas concordando em fazer alguma concessão em uma relação bilateral que trará algum benefício.

O Brasil deve esquecer a “síndrome de vira-latas” e ter a ciência que a Fifa estabelece uma série de exigências a todos os países que pretendam sediar um Mundial. Tanto que Patrick Nally, empresário responsável pelo atual modelo de negócios dos Mundiais e dos Jogos Olímpicos, afirmou, em entrevista recente, que os Estados Unidos dificilmente voltarão a receber uma Copa do Mundo ou Olimpíadas, uma vez que há proibição legal para concessão de garantias financeiras exigidas do país-sede.

Assim, devem-se avaliar três pontos: quais das exigências são pertinentes para assegurar que a Fifa honre seus compromissos, quais não representem risco nacional e quais não violem a Constituição da República Federativa do Brasil, a Lei Maior do país.

Não é necessário, portanto, aceitar todas as exigências, nem negar todas, mas avaliar, caso a caso, se estão presentes os três requisitos e qual o custo-benefício para o país. Guardadas as devidas proporções, é algo parecido com o que acontece quando qualquer cidadão vai assinar um contrato importante.

Dessa forma, se vai haver ou não meia entrada, se haverá bebidas nos estádios, etc., deve ser avaliado com cautela, mas abrir mão dos procedimentos protocolares e imigração, dos direitos do consumidor, ou se vão ser criados tribunais de exceção, são temas vedados constitucionalmente, razão pela qual, ainda que previstos na Lei Geral da Copa, estarão fulminados pela inconstitucionalidade.

Portanto, a Lei Geral da Copa deve ser amplamente discutida para permitir que o Brasil se beneficie do Mundial como o fez a Alemanha, que renasceu para o turismo e hoje possui índice de simpatia nunca alcançado desde a Segunda Guerra Mundial e, ao mesmo tempo, evitar que ocorram prejuízos como se deu na África do Sul, que acabou por não obter lucro imediato para o país.

Sobre a questão que inaugura o presente texto, a resposta é mais simples do que parece. A Copa do Mundo de Futebol não pertence à Fifa, não pertence ao país, mas ao povo brasileiro que possui o Mundial cravado em seu DNA e que vivenciará o clima envolvente da Copa do Mundo e guardará eternamente na lembrança e no coração os inesquecíveis dias de 2014.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br
 

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Portuguesa: o maior amor do mundo da minha aldeia

Muita gente que saiu do Canindé na terça-feira com o título antecipado da Série B não sabia o que era ser campeã. E nem precisava disso para saber ser tão ou mais feliz e orgulhosa que alguns que torcem por best-sellers, campeões de audiência e de campo.

É fácil torcer pelo melhor ou pelo maior. Pode causar raiva em muitos, inveja em tantos, discussão sempre. Mas admitir torcer por um clube de menos títulos, torcida, dinheiro e poder é quase encerrar a discussão e iniciar a galhofa. Ou, muito pior, o que há de mais nefasto, e o que há de mais podre e pobre para o nosso coração rico de paixão: o desprezo. A comiseração.

Pior que ser gozado na derrota é não ser zoado. Melhor aturar uma segunda-feira ainda mais perdida que a partida de domingo que aquele olhar de deixa-pra-lá-que-não-vou-zoar-o-infeliz-que-não-sabe-o-que-é-ser-campeão. Algo que muitas vezes o torcedor campeão da Série B por antecipação e com imensos méritos sabe muito mal o que é.

Mas tem algo que muitos que não foram campeões na terça-feira (mas foram muito mais vezes outros tantos dias) podem não saber sentir. Ou não ter a menor ideia mesmo. Não é o prazer de ser campeão. É o prazer de ser. Simplesmente isso: ser.

Quem é Portuguesa é. Ponto final. Algumas vezes pontos ganhos. Muitas vezes pontos e partidas perdidas. Mas quem é Portuguesa quis. E quer muito mais que outros mais queridos pela bola. Quem é Portuguesa pode amaldiçoar o avô, o pai, a mãe, Madredeus, a namorada, o bairro, Portugal, a camisa rubro-verde, o caldo verde, o pastel, o fado, os fardos, o Roberto Leal, a Amália Rodrigues, o coração, o Tejo, Camões, Julinho Botelho, Djalma Santos, Ivair, Enéas, Edu Marangon, Dener, Zé Roberto, Cabral, Caminha, os caminhos, as caravelas, os caras velhos que não dão as caras, os caras pintadas que cobrem o rostos, os euros, os escudos, os brasões, os barões assinalados, os plebeus apunhalados, as armas, as almas, os Desportos, a Portuguesa, a Lusa, a luz que não acende às margens do Tietê ainda mais marginalizado no Canindé.

Mas quem viu aquela gente toda ali contra o Sport. Quem vê não tanta gente por aí neste esporte que vai muito além de ser campeão, sabe que um torcedor rubro-verde precisa se respeitar mais que o próprio clube pelo qual ele torce.

Não sou Lusa. Mas queria que mais gente no meu Palmeiras amasse tanto a Portuguesa como essa turma ótima do Jorginho. Gente de primeira linha que não importa a divisão ou multiplicação. Não importa se é primeira ou última colocada. O que importa é ser. Portuguesa!

Vamos à luta, ó, campeões!

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.