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Frequência cardíaca aplicada ao futebol

Com o rápido avanço tecnológico ocorrido nas últimas duas décadas, fica cada vez mais acessível o controle de variáveis de desempenho e de carga de treinamento.

Entre as variáveis fisiológicas mais utilizadas para este fim encontram-se dosagem de hormônios, enzimas e subprodutos metabólicos.

Uma das medidas mais antigas, simples, rápidas, de fácil acesso, relativamente barata é a frequência cardíaca (FC).

Desde a década de 20 do século passado, após os trabalhos pioneiros de Hill (1923), assumiu-se que a FC tinha uma relação linear com a intensidade da tarefa, i.e., à medida que a intensidade aumentava, ela também aumentava na mesma proporção.

Contudo, trabalhos posteriores mostraram que esta resposta, além de linear (painel A), também poderia ser curvilinear (painel B) ou até mesmo sigmóide (painel C).

 

      

Isso significa que, dependendo da tarefa executada e do tipo de resposta da FC, análises diferentes devem ser efetuadas.

Outro aspecto importante a ser levado em conta é que quando se obtém a FC máxima de um atleta durante um teste máximo em corrida progressiva, por exemplo, será que podemos assumir com 100% de certeza que os valores obtidos no teste podem ser transferidos sem limitações para a prática do futebol?

Quando se monitora a FC para controle da carga durante treinos ou partidas, não podemos esquecer que aspectos emocionais e ambientais também interferem nessa resposta. Isso porque ao passar por uma situação estressante, por exemplo, determinado atleta poderá ter elevação da FC sem, no entanto, estar se movimentando. Isso significa que uma FC alta pode indicar estresse ao invés de esforço. Nesse caso um erro dessa interpretação poderia ser catastrófico.

Outro problema da mensuração da FC é o fato de verificar a FC de atividades realizadas em intensidades superiores às do VO2máximo, pois ao realizar um tiro de 10-15m entre 20 e 25 km.h-1 (que são intensidades onde a maioria dos jogos são decididos), provavelmente a FC não terá sua resposta máxima manifestada pela curta duração da tarefa (3 a 6s). Isso também levaria a um erro de interpretação da carga, já que um valor baixo de FC indicaria uma atividade submáxima.

Para evitar os erros citados acima, é interessante analisar conjuntamente os movimentos do atleta para maior precisão na informação que está sendo adquirida. Mas se por um lado há vantagem dessa estratégia em aumentar a precisão do dado, por outro, aumenta o custo da medida, além de necessitar de mão de obra mais especializada e tecnologia mais avançada.

Por este motivo, antes de se optar em utilizar a FC para controle de carga, é necessário compreender suas vantagens e desvantagens, minimizar suas limitações e lembrar que na pior das hipóteses é melhor medir com certo erro do que não medir nada!

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br

Para saber mais

Boudet G, Garet M, Bedu M, Albuisson E, Chamoux A. Median maximal heart rate for heart rate calibration in different conditions: laboratory, field and competition. Int J Sports Med. 2002 May;23(4):290-7.

Bradley PS, Mohr M, Bendiksen M, Randers MB, Flindt M, Barnes C, Hood P, Gomez A, Andersen JL, Di Mascio M, Bangsbo J, Krustrup P. Sub-maximal and maximal Yo-Yo intermittent endurance test level 2: heart rate response, reproducibility and application to elite soccer. Eur J Appl Physiol. 2011 Jun;111(6):969-78.

Casamichana D, Castellano J. Time-motion, heart rate, perceptual and motor behaviour demands in small-sides soccer games: effects of pitch size. J Sports Sci. 2010 Dec;28(14):1615-23.

Dellal A, Chamari K, Pintus A, Girard O, Cotte T, Keller D. Heart rate responses during small-sided games and short intermittent running training in elite soccer players: a comparative study. J Strength Cond Res. 2008 Sep;22(5):1449-57.

Hill AV, Lupton H. Muscular exercise, lactic acid, and the supply and utilization of oxygen. Quarterly Medical Journal. (1923) 16: 135-171.
Lambert MI, Borresen J. Measuring training load in sports. Int J Sports Physiol Perform. 2010 Sep;5(3):406-11.

Lamberts RP, Lemmink KA, Durandt JJ, Lambert MI. Variation in heart rate during submaximal exercise: implications for monitoring training. J Strength Cond Res. 2004 Aug;18(3):641-5.

Owen AL, Wong del P, McKenna M, Dellal A.Heart rate responses and technical comparison between small- vs. large-sided games in elite professional soccer. J Strength Cond Res. 2011 Aug;25(8):2104-10.

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Steve Jobs e a gestão pelo significado

A coluna desta quarta-feira serve como uma leitura generalista e um passeio sobre o conceito e o legado de Steve Jobs perante a Apple, que tem sido nesta última semana, de longe, o tema mais debatido (e analisado). Vou me furtar a traduzir um texto que achei interessante, escrito por Roberto Verganti em 7 de outubro de 2011,  em que o autor faz um passeio sobre a perspectiva de “Steve Jobs e a gestão pelo significado”.

Steve Jobs sempre foi considerado uma anomalia na gestão; seu estilo de liderança era algo para admirar ou criticar, mas definitivamente não servia para replicar. Ele não se encaixava nos estereótipos de livros de negócios: de um lado, os pressupostos de gestão “ortodoxa”; e do outro, Steve Jobs.

A razão pela qual as teorias institucionalizadas de gestão sempre olharam para o seu estilo como uma exceção é que ele estava navegando em um território que é muitas vezes obscuro para a gestão: a criação de significado, tanto para clientes e como para funcionários.

Ele colocou as pessoas no centro. E isto não significa dizer que ele deu aos usuários o que eles queriam ou que tenha criado uma organização “linear” e “lúdica”, em que as ideias surgiam de baixo para cima. A abordagem da Apple para a inovação não é aquela que comumente chamamos de “user-driven” (em que o consumidor é quem dita as regras), mas sim passava por apresentar propostas diferenciadas para eles. Muito por isso é que os discursos de Jobs apresentavam um estilo de liderança vertical, com uma abordagem de cima para baixo e muitas vezes dura. No lançamento de novos produtos, ele, não a equipe, era o protagonista.

O “gerenciando pelo significado” reconhece que as pessoas são humanos: eles têm dimensões racionais, culturais e emocionais e, por conta disto, apreciam a pessoa que cria um significado para eles se envolverem. Sabemos que os clientes não compram o produto da Apple simplesmente por causa da sua utilidade ou funcionalidade; as pessoas estão propensas a perdoar até mesmo algumas das limitações técnicas da Apple em troca do design – e identidade. Para Jobs, design não era só beleza, mas a criação de novos significados para os usuários.

Jobs foi constantemente impulsionado pela busca de produtos que faziam mais sentido para as pessoas. E a Apple tem sido campeã na criação de produtos com novos significados: o iMac G3, lançado em 1998, com seu colorido, aplicado em materiais translúcidos, inspirado em produtos modernos da época que eram voltados para o uso doméstico, mudou o significado dos computadores, migrando da percepção de que os mesmos eram objetos de escritório para se tornarem dispositivos residenciais; o iPod agregado ao aplicativo e à loja virtual iTunes criou um novo significado no mundo da música: a acessibilidade. Isto transformou completamente a maneira de pesquisar, descobrir, comprar, ouvir e organizar músicas, onde quer que o cliente estava; o iPhone transformou o significado dos smart phones a partir de objetos de negócios para objetos de entretenimento social. Esses produtos não são necessariamente o melhor sob o ponto de vista do desempenho, mas eles representaram um significado superior para os usuários.

Jobs também ofereceu significado para seus empregados. Sabe-se que os funcionários da Apple trabalhavam duro em projetos visionários, que se esforçavam para cumprir as metas e satisfazer a atenção maníaca de seu líder ao detalhe. Jobs infundiu-lhes um sentido de missão. A Apple tinha que deixar sua marca no mundo da computação, melhorar a vida das pessoas, ser ousada e, é claro, “pensar diferente”.

Especialistas e estudiosos alocados em escolas de negócios têm muitas vezes rejeitado esta abordagem como o resultado único da personalidade de Steve Jobs. Uma espécie de “processo de guru”, como um colega me disse certa vez. Nada a ser considerado como um único modelo. A razão é que a gestão das organizações está enraizada em análise, engenharia e ciências sociais. Jobs não tinha desprezo por isto, mas o significado está ligado a outros áreas do saber: a cultura e as ciências humanas, que, infelizmente, as escolas de negócios ensinam mal.

Durante uma entrevista, Jobs afirmou que “o único problema da Microsoft é que eles não têm senso crítico. Quero dizer de uma maneira ampla (…) Eles não trazem muita cultura em seus produtos. Fontes proporcionalmente espaçadas servem apenas para a composição e a publicação de belos livros”. E em 2010, durante seu discurso para o lançamento do IPAD, ele disse: “A razão pela qual temos sido capazes de criar produtos como este é porque nós tentamos nos posicionar na intersecção da tecnologia e da arte”.

A Teoria Geral da Administração está com medo da cultura e da humanidade. Isso não é mensurável e não pode ser codificado nos processos. Isso depende exclusivamente do ser humano. O que Jobs nos ensinou é que os gerentes são pessoas antes de serem gerentes. Eles têm uma visão pessoal do mundo, cuidadosamente desenvolvida ao longo de anos de pesquisa e de exploração da sua vida. Por que os gerentes se esquecem da cultura? Nenhum método, nenhuma ferramenta ou processo pode dar à você a capacidade de criar significado, de criar visões. Apenas a sua cultura pessoal pode, que ninguém é capaz de imitar.

Jobs mostrou que os negócios e a cultura não estão em contradição, mas sim que eles sustentam uns aos outros. Não é hora de considerar isso como um modelo em vez de uma anomalia? Poderia Jobs se tornar institucional e a noção sobre a “gestão por significado” tornar-se um capítulo central nos futuros livros didáticos sobre gestão?

Nota para os gestores do esporte

Sobre o texto, cabem inúmeras reflexões, uma vez que o esporte possui diversos sensos e significados inerentes à sua natureza de prática e identidade cultural, que muitas vezes não é explorado por completo em respeito a essa imensa pluralidade.

Para os gestores do esporte, serve para refletirmos: qual o significado de um clube para um torcedor apaixonado? São só as vitórias dentro de campo (mesmo sabendo que apenas uma entre 20 equipes será a campeã – pensando, neste caso, em um Campeonato Brasileiro da Série A)? O que representam cores, cantos, pessoas, lugares e momentos para as pessoas que se relacionam constantemente com o futebol? Será que sabemos realmente explorar todos os seus significados?

Divagações nesse sentido não nos faltam. Cabe aos gestores do esporte entendê-las e, de acordo com a cultura de cada um, saber utilizá-las da melhor maneira possível…

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br 

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Clubes: invistam em entretenimento tecnológico

Olá, amigos!

No último texto, propusemos levantar questões relativas aos aspectos tecnológicos que um clube de futebol pode oferecer para seu torcedor. Solicitamos que vocês enviassem via e-mail, Twitter ou Facebook algumas sugestões. Vamos a elas:

– Utilização de recursos que auxiliam a comissão técnica na tomada de decisões;

– Games e jogos eletrônicos com a marca, atletas e imagem do clube (Pro Evolution Soccer, Fifa EA Sports, entre outros);

– Games e aplicativos para celulares em diferentes plataformas, com níveis de interatividade, informações e complementos atuais e diversificados;

– Site mais atrativo, interativo, com dados e informações que tragam o torcedor de volta.

Esses tópicos sintetizam as respostas recebidas, algumas mais fortes num determinado grupo, outras fazendo alusão a mais de uma opção.

Em síntese, tivemos a participação de 32 pessoas, que se caracterizam entre profissionais do meio e torcedores. Se ampliássemos o debate e o prazo, poderiam surgir alguns outros aspectos, mas acredito que muitos estariam relacionados aos tópicos extraídos das opiniões dos amigos que colaboraram.

O clube deve identificar os anseios de seu público. Pesquisar, inovar, variar, trazer novas possibilidades, e não apenas insistir no que já tem por ai (vide exemplo do Steve Jobs).

O que acontece muitas vezes hoje no universo do futebol é alguém de uma empresa do setor de tecnologia que resolve oferecer seus serviços ao clube. No clube, quem recebe não está apto nem com o foco para essas questões. Diante disso temos algumas conseqüências:

1.Não há negócio e não se consegue estabelecer um diálogo.

2.A empresa oferece recursos que o clube não consegue avaliar e adota sem obter resultados, culminando na desistência do acordo.

3.O clube solicita recursos que a empresa tem dificuldade de entender e não consegue assimilar e fica distante do que é desejado.

A utilização dos recursos tecnológicos como entretenimento para o torcedores deve ser pensada com estrutura e cabeça organizacional.

Aqui, listo alguns pontos que julgo importantes:

O clube deve ter um setor preocupado com isso, que domine a linguagem técnica para lidar com tais empresas.

As empresas devem estudar o consumidor do futebol e entendê-los como fanáticos e diferentes de um clube para o outro. O torcedor do Avaí pode e com certeza deve ter uma forma diferente de interagir com seu clube do que o torcedor do Náutico, ainda que a essência de torcedor seja a mesma.

Os clubes devem planejar suas ações, com estudos, pesquisa de mercado, análise de variáveis e tendências.

Sobretudo, o clube ou dirigente que atua nesse setor deve ter a mente aberta e entender que nem sempre o que ele gosta e usa é o que o público espera e, sobretudo, que inovação e novos recursos são riscos, mas podem ser recompensadores. Desta forma, evitaria ficar na mesmice, esgotando possibilidades e formas que em termos tecnológicos já são ultrapassadas.

Os clubes devem olhar para frente, com planejamento, pesquisa e coragem de inovar. Não dá para aceitar clubes investindo em mensagens SMS e apostando no sucesso da internet 3g no país. Cá entre nós, ainda que tenha de melhorar em termos tecnológicos, isso é passado: já se fala em 4G.

Que tal investir em soluções que venham com essa tecnologia e ser pioneiro? Do contrário, corre-se o risco de acontecer igual à TV digital no Brasil: quando as empresas começarem a trabalhar conteúdos e interatividade para oferecer ao público, já será algo obsoleto.

Clubes: ouçam seus torcedores. Mas, mais do que isso, surpreenda-os. Como? Investindo, arriscando e inovando.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Por que não?

Steve Jobs se foi.

Sua gestão à frente da Apple foi revolucionária.

De um homem inspirado, muito daquilo que fez ao longo da trajetória na empresa americana foi inspirador para todos nós – mesmo que não pertencentes à geração X, Y ou Z.

A linha de produtos da Apple virou sinônimo de inovação.

Jobs deu à tecnologia um status importante atrelado a nossa vida, cada vez mais consumista e “pop”.

Virou objeto de desejo ter algum “i” em casa – iPhone, iPad, iPad, iMac. Ou todos eles.

Porém, a experiência do usuário sempre foi levada em conta, uma vez que, aliado ao design, a funcionalidade e simplicidade dos produtos era buscada à exaustão.

O uso confortável e intuitivo dos aparelhos é algo unânime.

Jobs, diz-se, falara que um dos pensamentos favoritos que adotava em sua vida era o do irlandês George Bernard Shaw: “Alguns homens vêem as coisas como são, e dizem ‘Por quê?’ Eu sonho com as coisas que nunca foram e digo ‘Por quê não ?”

Muito do que vemos na gestão do futebol está impregnado de arquétipos antigos, acomodados num tradicionalismo limitador de evolução e crescimento das instituições.

Não se pergunta, não se questionam as causas daquilo que não funciona na administração de clubes, campeonatos, federações, jogadores, patrocinadores.

Apenas se acostuma a responder “porque sim”. Ou, a mais clássica: “futebol é assim mesmo. Futebol é diferente de qualquer outra coisa.”

Não, não é. Para mim, não é.

Para mim, é mais uma atividade complexa, que deve ser estudada e administrada como tantas outras.

Como uma empresa de tecnologia, por exemplo.

No já famoso discurso de Jobs que circula há tempos na internet, a uma turma de formandos de Stanford, nos EUA, o próprio invoca que, num de seus livros de cabeceira na juventude, a mensagem final recomendava o seguinte: “Continue faminto. Continue ingênuo”.


 

Não sou applemaníaco. Não tenho (ainda) nenhum produto da Apple.

Mas tenho certeza de que Jobs pode inspirar a inovação da gestão no futebol.

Ou isso não se aplicaria aos clubes:

“A inovação não tem nada a ver com a quantidade de dólares que você investe em pesquisa e desenvolvimento. Quando a Apple lançou o Mac, a IBM estava gastando no mínimo 100 vezes mais em P & D. Não é uma questão de dinheiro. É a equipe que você tem, como você lidera e quanto você entende da coisa”. (Jobs, para a Revista Fortune, em 1998)

Por que não?

Think different.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

Leia mais:
Steve Jobs e a gestão pelo significado

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Como controlar as demandas físicas de jogo no treino complexo

Venho apresentando inúmeras atividades para o desenvolvimento integral de jogadores de futebol, contudo, uma dúvida paira no ar quando falamos em treinos pautados nos jogos: como posso saber se o objetivo físico-técnico-tático-mental da sessão de treino está sendo atingido?

Em uma sessão de treino complexa, os jogadores são submetidos a uma carga de jogo, em que os fractais estão sendo desenvolvidos concomitantemente com o todo complexo.

Nesse tipo de sessão, o controle das variáveis do treino parece ser extremamente complicado e por vezes acaba sendo deixado de lado. Sendo assim, passo a fragmentar e a não ter controle daquilo que está acontecendo no treino.

Não tendo o controle das variáveis, deixo o acaso tomar conta da sessão e o desenvolvimento da performance de jogo de minha equipe fica extremamente prejudicada.

Em um treino pautado na complexidade preciso saber qual a demanda física, técnica, tática e mental de cada atividade.

No planejamento do treino, essas demandas devem ser pensadas e cada uma delas deve ter uma meta de desenvolvimento específico.

Pensemos na questão física: em uma sessão X, o objetivo é o desenvolvimento da resistência anaeróbia lática. Sabendo disso, devo criar atividades com uma relação estímulo pausa adequada.

No caso do desenvolvimento da resistência anaeróbia lática, as atividades devem propiciar ao atleta um ambiente com uma carga de estímulos alta para um tempo reduzido de pausas.

Contudo, essa relação estímulo/pausa deve respeitar a especificidade do jogo: não posso ter um estímulo (entenda “estímulo” como a ação do jogador dentro de um jogo, e não no tempo da atividade em si) de cinco minutos para 30 segundos de pausa, pois isso não respeita a especificidade do jogo e gera uma sobrecarga negativa para o jogador.

Após o planejamento, devo aplicar o treino e verificar se este foi realizado dentro do esperado e é neste ponto que queria chegar: controle do treino.

Uma das ferramentas que mais ganha espaço atualmente é o GPS, que nos traz dados sobre o deslocamento, desde a distância total até a velocidade dos sprints. Com seus dados, posso dar um passo importante para verificar se os objetivos físicos da sessão estão sendo atingidos ou não.

Em uma sessão com o objetivo do desenvolvimento da resistência anaeróbia lática, devo verificar se o atleta realizou atividades de alta intensidade em períodos determinados de tempo e como foi o padrão de deslocamento durante toda a sessão (número de sprints, distância e velocidade de cada um deles, etc.).

A frequência cardíaca também pode auxiliar no controle do treino, quando podemos cruzar as informações do GPS com o gráfico do comportamento da frequência cardíaca dos jogadores.

No pós-treino, podemos avaliar o grau de exigência física através da coleta da percepção subjetiva de esforço dos atletas, comumente chamada de PSE. Essa ferramenta nos mostra quanto o treino foi exigente para cada um dos jogadores através da sua própria percepção.

É preciso, contudo, deixar claro como a avaliação deve ser feita e como cada um deve definir a “nota” dada ao treino. Normalmente, a PSE vai de 1 a 10, em que os valores indicam o nível de esforço dentro da sessão como um todo.

Para uma avaliação mais precisa, podemos utilizar ainda a análise de marcadores bioquímico-fisiológicos dos atletas, como a verificação do lactato na corrente sanguínea, dos leucócitos, das plaquetas, dos níveis de CK, de LDH, de uréia, de glicose, cortisol, etc., mas esse tipo de análise ainda está distante de grande parte dos clubes…

Por isso as informações do GPS, frequência cardíaca e percepção subjetiva do esforço são valiosíssimas para o controle adequado dos treinos.

Com esses dados, posso provar que os treinos estão propiciando um estímulo “físico” adequado aos atletas. Isso é fundamental para dar tranquilidade ao trabalho e provar que os jogos também treinam o físico.

Até a próxima!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br 

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Participe da “Entrevista Tática”

A Universidade do Futebol, dia após dia, amplia seu acervo de notícias, entrevistas, colunas, aulas gratuitas e cursos online com o objetivo de proporcionar ao leitor uma atualização constante nas diversas áreas do conhecimento inter-relacionadas do futebol. Em relação às entrevistas, em cerca de oito anos, foram publicadas mais de trezentas, com diferentes profissionais direta ou indiretamente ligados à modalidade.

Dentre os entrevistados, estão técnicos, preparadores físicos, auxiliares, preparadores de goleiros, treinadores adjuntos, psicólogos, advogados, profissionais de marketing, nutricionistas, fisiologistas, filósofos, médicos, mestres, doutores, especialistas, enfim, centenas de profissionais que contribuem com cases, opiniões, discussões, reflexões e apontamentos que favorecem a todos os leitores quanto ao desenvolvimento de um olhar transdisciplinar do futebol.

Com o objetivo de contribuir com esse espaço, a Universidade do Futebol criou a “Entrevista Tática”. Idealizada por este colunista, a entrevista será realizada com jogadores brasileiros de diferentes categorias e escalões do futebol nacional e, possivelmente, internacional.

Como a demanda das entrevistas semanais é significativa e, tradicionalmente, é um espaço reservado para outros profissionais do futebol que não os próprios jogadores, a “Entrevista Tática” será postada periodicamente como tema da minha coluna semanal.

Utilizando a tática como pano de fundo, o portal pretende oferecer um novo material que aproxima o jogador de futebol da Ciência. Sem o intuito de capacitá-lo, a ideia será somente ouvi-lo para que todos os interessados em melhorar sua atuação profissional possam ter noções de como é a interpretação da realidade por cada jogador, principalmente como o mesmo enxerga o futebol.

Na coluna desta semana, serão apresentadas as perguntas-padrão que farão parte da entrevista e será aberto a você, leitor, um espaço para sugestões de novas questões (lembrando do viés tático como pano de fundo) que, após análise do portal, poderão ser incorporadas às tematicas já estabelecidas.

Abaixo, a lista de perguntas-padrão da “Entrevista Tática”:

1- Quais os clubes em que você jogou a partir dos 12 anos de idade?

2- Em sua opinião, o que é indispensável numa equipe para vencer seu adversário?

3- Para você, o que é um atleta inteligente?

4- Quais são os treinamentos que um atleta de futebol deve fazer para que alcance um alto nível competitivo?

5- Para ser um dos melhores jogadores da sua posição, quais devem ser as características de jogo tanto com bola, como sem bola?

6- Quais são seus pontos fortes táticos, técnicos, físicos e psicológicos? Explique e, se possível, tente estabelecer uma relação entre eles.

7- Pense no melhor treinador que você já teve! Por que ele foi o melhor?

8- Você se lembra se algum treinador já lhe pediu para desempenhar alguma função que você nunca havia feito? Explique e comente as dificuldades.

9- Quais são as diferenças de jogar em 4-4-2, 3-5-2, 4-3-3, ou quaisquer outros esquemas de jogo? Qual você prefere e por quê?*

*Leia-se 1-4-4-2, 1-3-5-2, 1-4-3-3 e plataformas de jogo

10- Comente como joga, atualmente, sua equipe nas seguintes situações:
Com a posse de bola;
Assim que perde a posse de bola;
Sem a posse de bola;
Assim que recupera a posse de bola;
Bolas paradas ofensivas e defensivas.

11- Para você, quais são as principais diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu? Por que existem estas diferenças?

12- Qual a importância da preleção do treinador antes da partida?

13- Se você tivesse que dar um recado para qualquer integrante de uma comissão técnica, qual seria?

Mais três perguntas serão analisadas e escolhidas para complementar a entrevista. Nas próximas duas semanas, através do meu e-mail (indicado no final da coluna), irei interagir com o leitor para ler e encaminhar as sugestões aos responsáveis pela aprovação. Caso sua pergunta seja escolhida, você receberá os devidos créditos na coluna de abertura.

A Universidade do Futebol irá se aproximar daqueles que dão vida ao jogo de futebol e às ideias de jogo dos treinadores. Participe!

Para interagir com o autor: eduardo@149.28.100.147 

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Participe da "Entrevista Tática"

A Universidade do Futebol, dia após dia, amplia seu acervo de notícias, entrevistas, colunas, aulas gratuitas e cursos online com o objetivo de proporcionar ao leitor uma atualização constante nas diversas áreas do conhecimento inter-relacionadas do futebol. Em relação às entrevistas, em cerca de oito anos, foram publicadas mais de trezentas, com diferentes profissionais direta ou indiretamente ligados à modalidade.

Dentre os entrevistados, estão técnicos, preparadores físicos, auxiliares, preparadores de goleiros, treinadores adjuntos, psicólogos, advogados, profissionais de marketing, nutricionistas, fisiologistas, filósofos, médicos, mestres, doutores, especialistas, enfim, centenas de profissionais que contribuem com cases, opiniões, discussões, reflexões e apontamentos que favorecem a todos os leitores quanto ao desenvolvimento de um olhar transdisciplinar do futebol.

Com o objetivo de contribuir com esse espaço, a Universidade do Futebol criou a “Entrevista Tática”. Idealizada por este colunista, a entrevista será realizada com jogadores brasileiros de diferentes categorias e escalões do futebol nacional e, possivelmente, internacional.

Como a demanda das entrevistas semanais é significativa e, tradicionalmente, é um espaço reservado para outros profissionais do futebol que não os próprios jogadores, a “Entrevista Tática” será postada periodicamente como tema da minha coluna semanal.

Utilizando a tática como pano de fundo, o portal pretende oferecer um novo material que aproxima o jogador de futebol da Ciência. Sem o intuito de capacitá-lo, a ideia será somente ouvi-lo para que todos os interessados em melhorar sua atuação profissional possam ter noções de como é a interpretação da realidade por cada jogador, principalmente como o mesmo enxerga o futebol.

Na coluna desta semana, serão apresentadas as perguntas-padrão que farão parte da entrevista e será aberto a você, leitor, um espaço para sugestões de novas questões (lembrando do viés tático como pano de fundo) que, após análise do portal, poderão ser incorporadas às tematicas já estabelecidas.

Abaixo, a lista de perguntas-padrão da “Entrevista Tática”:

1- Quais os clubes em que você jogou a partir dos 12 anos de idade?

2- Em sua opinião, o que é indispensável numa equipe para vencer seu adversário?

3- Para você, o que é um atleta inteligente?

4- Quais são os treinamentos que um atleta de futebol deve fazer para que alcance um alto nível competitivo?

5- Para ser um dos melhores jogadores da sua posição, quais devem ser as características de jogo tanto com bola, como sem bola?

6- Quais são seus pontos fortes táticos, técnicos, físicos e psicológicos? Explique e, se possível, tente estabelecer uma relação entre eles.

7- Pense no melhor treinador que você já teve! Por que ele foi o melhor?

8- Você se lembra se algum treinador já lhe pediu para desempenhar alguma função que você nunca havia feito? Explique e comente as dificuldades.

9- Quais são as diferenças de jogar em 4-4-2, 3-5-2, 4-3-3, ou quaisquer outros esquemas de jogo? Qual você prefere e por quê?*

*Leia-se 1-4-4-2, 1-3-5-2, 1-4-3-3 e plataformas de jogo

10- Comente como joga, atualmente, sua equipe nas seguintes situações:
Com a posse de bola;
Assim que perde a posse de bola;
Sem a posse de bola;
Assim que recupera a posse de bola;
Bolas paradas ofensivas e defensivas.

11- Para você, quais são as principais diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu? Por que existem estas diferenças?

12- Qual a importância da preleção do treinador antes da partida?

13- Se você tivesse que dar um recado para qualquer integrante de uma comissão técnica, qual seria?

Mais três perguntas serão analisadas e escolhidas para complementar a entrevista. Nas próximas duas semanas, através do meu e-mail (indicado no final da coluna), irei interagir com o leitor para ler e encaminhar as sugestões aos responsáveis pela aprovação. Caso sua pergunta seja escolhida, você receberá os devidos créditos na coluna de abertura.

A Universidade do Futebol irá se aproximar daqueles que dão vida ao jogo de futebol e às ideias de jogo dos treinadores. Participe!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br 

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A geografia do Campeonato Brasileiro

Chegando a reta final do Campeonato Brasileiro, percebe-se certa superioridade das equipes cariocas sobre os times de outras regiões. Os quatro cariocas (Vasco, Botafogo, Flamengo e Fluminense) encontram-se entre as seis primeiras posições (isso corresponde a 66%), enquanto apenas duas equipes de São Paulo figuram entre os primeiros colocados (33,33%) e as equipes de Minas Gerais passam por dificuldades para não serem rebaixadas.

Mas se por um lado as equipes cariocas e mineiras encontram-se em situações completamente diferentes no campeonato, por outro elas apresentam um ponto em comum: a reforma de seus principais estádios.

Com a falta de jogos no Maracanã, os representantes do Rio de Janeiro passaram a mandar seus principais jogos no Engenhão, enquanto Cruzeiro, Atlético e América se voltaram a estádios mais afastados – geralmente na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas. Assim, enquanto os jogos dos cariocas ainda são realizados com grande média de público, os mineiros jogam não apenas com menor capacidade de público, mas também com pior qualidade de gramado e piores condições de jogo.

Alguns dirão que a diferença entre cariocas e mineiros ocorre apenas pelo futebol apresentado e que a falta de estádio não teria a menor importância. Outros podem dizer que o problema dos mineiros seria dos próprios times, das administrações dos clubes, dos jogadores, ou até de outros fatores associados.

Vale lembrar que muitos estudos demonstram diferenças de desempenho em equipes que jogam em casa ou que jogam fora. Entre os fatores que se mostram mais importantes para interferirem no resultado, encontram-se: a qualidade das equipes, a torcida, o privilégio arbitral e a familiaridade com o campo de jogo.

Técnicos e atletas reconhecem ser importante saber as condições específicas do local de jogo como vento, posição do sol, referências visuais e familiarização com as irregularidades do campo, pois ao conhecer estas particularidades, a equipe pode ter benefícios e se preparar melhor para disputar um jogo dentro de um ambiente familiar.

É possível que ao mandar seus jogos na Arena do Jacaré, embora a apenas uma hora de Belo Horizonte (80 km), as equipes mineiras, bem como seus torcedores, não se sintam em casa, pois mesmo estando sob administração do Governo do Estado de Minas Gerais, histórica e culturalmente ele é considerado casa do Democrata FC. Com isso, fatores que têm sido documentados na literatura como favoráveis para o desempenho em casa acabam sendo minimizados e podem explicar, em parte, o mau rendimento apresentado pelas equipes mineiras.

Outro aspecto é que como existem três equipes mandando seus jogos em Sete Lagoas, se torna inviável que as equipes treinem neste local. Até porque a logística para os clubes seria completamente diferente e o desgaste do gramado poderia piorar ainda mais as condições de jogo.

E quanto aos cariocas? Por que a falta do Maracanã não atrapalhou tanto? Provavelmente porque Vasco e Botafogo que mandavam seus jogos em São Januário e no Engenhão, respectivamente, já estavam habituados a jogarem sem o Maracanã. Além disso, como Flamengo e Fluminense já estavam mais habituados com o Engenhão, o efeito comportamental da torcida e dos jogadores pode não ser tão prejudicado, já que por ser mais recente, mesmo estando sob a administração do Botafogo, em parte, todos podem se sentir “em casa”.

Com a Copa do Mundo cada vez mais perto, resta saber se o efeito das reformas e construções de estádios afetará mais equipes em todo o território nacional. Meu conselho é que dirigentes, treinadores e atletas observem esse fenômeno, pois se ele se reproduzir, talvez a fase de preparação das equipes deva começar a ser repensada até que tudo se normalize.

Para saber mais:

Boyko RH, Boyko AR, Boyko MG. Referee bias contributes to home advantage in English Premiership football. J Sports Sci 2007;25(11):1185-1194.

Dosseville FEM. Influence of ball type on home advantage in French professional soccer. Percept Mot Skills 2007;104(2):347-351.

Dowie J. Why Spain Should Win the World Cup?. New Scientist. 1982;94(10):693-695.

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Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br 

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Troca de comando

Na coluna desta quarta-feira vou pegar um gancho em uma edição especial do Jornal “Meio & Mensagem”, também desta semana, que traz na capa o mesmo título da nossa coluna, embora a abordagem daquele conceituado veículo trate da sucessão em grupos e agências do meio publicitário.

A base de discussão tem a ver com os melindres e anseios das organizações em mudarem pessoas (e conceitos) após um determinado período de tempo. Isso se reflete na transição, principalmente, de empresas familiares para um modelo de gestão diferente ou mais profissional. De acordo com a reportagem, citando o IBGE: “70% das empresas familiares não sobrevivem à passagem de comando para a segunda ou terceira geração”.

No nosso contexto, que são os clubes de futebol, eles não morrem (como organizações) pelo seu caráter social e identidade cultural com a região onde foram fundados. Mas as transições de poder e continuísmo de estratégias e planos têm um desenho muito parecido com as empresas do mundo corporativo.

Vamos ficar em três exemplos básicos: (1) assistimos na segunda-feira a passagem de bastão da família Perrella, 17 anos no poder do Cruzeiro, para um sucessor, Gilvan Tavares, que na realidade era candidato da situação e venceu com folgas o pleito – deverá assumir o clube a partir de janeiro de 2012; (2) no Palmeiras, embora não tenhamos um sobrenome, temos a comunidade italiana a comandar (e incomodar) os bastidores do clube; (3) na mesma lógica ocorre com a Portuguesa, desta feita pelos laços lusitanos.

São casos muito parecidos com aquilo que ocorre no mundo corporativo. A diferença é que nos clubes não há um dono, embora alguns dirigentes pareçam. Também que nos clubes existem as eleições de uma maneira mais ampla do que a escolha de diretores ou presidente dentro das empresas.

A verdade é que pouco importa, neste caso, a questão legal ou normativa de cada entidade. O fato é que, à medida que ocorre uma ruptura abrupta de uma linha de trabalho no nível estratégico para outra, que sucederá a anterior, é preciso atentar-se para alguns pontos, de acordo com a própria reportagem do Meio & Mensagem:

1.Preparo: quem está por vir deve estar bem preparado e entender o mercado e a organização que assumirá o comando.

2.Planejamento: programar a ação de transição, sem negligenciar informações no lapso de tempo que vai da saída da atual gestão para a nova.

3.Pessoal: aproveitar ao máximo os recursos humanos de qualidade existentes na organização, pois serão eles os responsáveis pela manutenção de um ciclo virtuoso de aprendizagem.

Para que a troca de comando seja algo saudável e benéfico para uma determinada organização, é fundamental a atenção a tais princípios. Do contrário, a mesma começará do zero a cada mudança na cúpula diretiva.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Não nascemos prontos

Mario Sergio Cortella é filósofo, com mestrado e doutorado, em Educação, pela PUC de São Paulo, onde leciona.

Alguns dos leitores devem estar familiarizados com a figura, pois também conduz o programa Dialógos Impertinentes, na TV PUC, e também como articulista do jornal Folha de São Paulo.

É das mentes mais privilegiadas, no que concerne ao entendimento do ser humano em sua complexidade multifacetada, dentre elas a espiritual – não confundir com a religiosa – como medida de construção do caráter.

Em seu livro Não nascemos prontos!, assume o papel de provocar, com fundo filosófico, o leitor a entender que a insatisfação que vivenciamos é o que nos move, que faz com que busquemos criar, inovar, modificar e, com isso, construir e reconstruir a nós mesmos, constantemente.

Impulsiona-nos a lutar contra o “risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual”.

O episódio grave que envolveu o jogador brasileiro Breno, investigado pela polícia alemã como suspeito de ter provocado o incêndio de sua própria casa, suscitou indagações sobre motivos que o teriam levado a esse ponto.

Sucessivas lesões que não lhe deram sequência de trabalho. Falta de adaptação ao futebol e a cultura da Alemanha.

Segundo Muricy Ramalho, ter saído muito cedo de São Paulo, além da falta de amparo e orientação dos seus empresários.

A palavra “depressão” rondou o diagnóstico oficioso, especulado junto a uma crise conjugal.

Fato é que os jogadores de futebol levam a vida em sobressaltos, tanto pra cima quanto pra baixo.

A frugalidade da vida não lhes é permitida, razão pela qual lhes é difícil ter medida razoável de que nem sempre as coisas acontecem como desejamos ou pintamos no quadro.

E que o caminho da vida se faz caminhando. Não há outro jeito.

Diz Cortella: “Quando crianças (só as crianças), muitas vezes, diante da tensão provocada por algum desafio que exigia esforço (estudar, treinar, emagrecer, etc.) ficávamos preocupados e irritados, sonhando e pensando: por que a gente já não nasce pronto, sabendo todas as coisas? Bela e ingênua perspectiva. É fundamental não nascermos sabendo e nem prontos; o ser que nasce sabendo não terá novidades, só reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição; todavia, ambição é diferente de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer só para si próprio”.

Quero ter essa energia vital inquieta, para seguir sempre adiante. Ambição, para ter mais e, principalmente, melhor.

Isso poderia servir também para o Breno resgatar sua carreira.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br