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Os ensinamentos de Felipão e o desenvolvimento do cabeceio – parte II: transcendendo o método

Na coluna anterior, discutimos a relação direta entre a visão do jogo em si e seu reflexo no treino. Antes de entrar nas atividades práticas, gostaria de abordar a ação do treinador.
Resolvi tocar nesse conceito após ter uma discussão muito interessante com o treinador Leandro Zago.
Antes de mais nada, quero trazer luz ao fato de que o treinador Luiz Felipe Scolari é um vencedor e se destacou ao longo de sua carreira na maior parte dos clubes por que passou. Em seu currículo, muitos títulos e o maior deles é a Copa do Mundo de 2002. Ninguém pode negar que o Scolari é um treinador do mais alto nível.
Visto isso, devemos pensar na seguinte questão: o que leva um treinador a conquistas e a uma carreira de sucesso? Será que só o método de treino garante isso?
Pela complexidade do jogo, não podemos afirmar que apenas um fator o levará ao êxito ou ao fracasso.
Não basta apenas dominar o método (qualquer que seja ele)!
Se voltarmos nosso olhar para a atividade da força e esquecermos que existe um treinador agindo diretamente sobre a ação (e a intencionalidade) dos atletas, podemos correr o risco de fragmentar ainda mais as coisas.
Acredito que existem “n” maneiras de se desenvolver o jogar da equipe, mas um jogo com regras adequadas ao jogar da equipe por si só sem a ação do treinador não trará os resultados esperados. Por outro lado, um exercício “simples” de cabeceio se bem conduzido pelo treinador pode agir na forma de jogar e na intencionalidade dos atletas.
Surpreso? Vamos trazer luz a essa questão.
Hermes Balbino, no ano de 2005, defendeu sua tese de doutorado, intitulada “Pedagogia do treinamento: método, procedimentos pedagógicos e as múltiplas competências do técnico nos jogos desportivos coletivos”. Em resumo, Balbino entrevistou treinadores de renome como Bernardinho, Parreira, Zé Roberto, etc. Seu objetivo era identificar conjunto de competências pedagógicas desses treinadores. Depois de ouvir e analisar cada um deles, o professor chegou à conclusão que “a ação do treinador extrapola seus métodos de trabalho”.
As atividades, ou o método em si, não são tudo!
Porém, é preciso destacar que só focar na ação do treinador pode deixar lacunas que em determinados pontos do processo poderão fazer falta.
Pensemos no duelo Pep Guardiola e José Mourinho, em que ambos dominam o método e aparentemente os transcendem. O que faz diferença, então?
Complexidade!
Seria muito mais fácil se tivéssemos o “elixir da vitória” ou “a poção mágica da formação de atletas”, mas nada é tão simples como parece!
Em uma atividade de força podemos mudar o comportamento de jogo de um atleta! Talvez seja isso que o Felipão esteja fazendo e nós é que estamos tendo uma visão fragmentada sobre o todo…
Sócrates estava certo quando reagiu ao pronunciamento do oráculo de Delfos, que o apontara como o mais sábio de todos os homens, dizendo “Só sei que nada sei”.
Se admitirmos isso, buscaremos sempre aprender com tudo e com todos!
Até a próxima!
Para interagir com o colunista: bruno@universidadedofutebol.com.br
 

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Um novo horizonte e um ano de Universidade do Futebol

Caros leitores,

solicitei à coordenação da Universidade do Futebol uma semana de pausa nas produções semanais para reorganizar minha vida profissional. Relembrando o colunista Bruno Baquete, em um post no início do ano, só teremos conhecimento do que alcançaremos em nosso caminho a partir das nossas decisões. E a que tive que tomar nestes últimos dias modificou bastante meu cotidiano.

Abdicar de uma vida estável na Área Fitness, que ocupava cerca de 30 horas da minha agenda semanal, além do cargo de treinador da categoria sub-14 em meu antigo clube, no ano do meu casamento, para aceitar a desafiadora oportunidade de trabalhar como assistente técnico num clube que voltará a disputar a categoria profissional após 14 anos, na última divisão do futebol paulista, foi bastante difícil.

Bastante difícil, pois a maior inquietação que vem à mente é a da instabilidade dos profissionais de campo do nosso futebol. Não faltam exemplos, somente no presente ano, de equipes que trocaram de treinador nos campeonatos estaduais por pelo menos três vezes.

E esta inquietação teve, obrigatoriamente, que ser superada, pois acredito que a constante troca das comissões técnicas (mesmo com dados apontando a ineficiência) ainda está longe de ser extinta, salvo raríssimas exceções.

Para tomar a decisão, algumas conversas, muitas reflexões e o foco no que almejo para minha jornada profissional em longo prazo. Diante disso, indicarei o contexto deste novo momento de minha carreira. Escolhi este tema, pois ele norteará algumas das minhas futuras colunas.

O novo clube

O Novorizontino, clube da cidade de Novo Horizonte, alcançou a elite do futebol paulista e foi finalista da conhecida “final caipira” em 1990. Na ocasião, a equipe comandada por Nelsinho Batista foi derrotada pela equipe do Bragantino, que tinha como treinador Wanderlei Luxemburgo.

A última grande conquista do Tigre foi o título da Série C do Campeonato Brasileiro em 1994. Quatro anos depois, o clube encerrou suas atividades até o ano de 2010, quando retornou à disputa do Campeonato Paulista sub-15 e sub-17.

A comissão técnica

Élio Sizenando é o treinador da equipe. Campeão paulista sub-20 da segunda divisão em 2010 pelo Paulínia FC e terceiro colocado no Campeonato Paulista da mesma categoria, porém, da primeira divisão, em 2011, são seus principais resultados. Como auxiliar técnico, obteve um acesso à série A-3 do Campeonato Paulista em 2010. Será sua estreia como treinador profissional.

Além do meu cargo, já mencionado no início do texto, a composição da comissão tem Ricardo Guareschi como preparador físico, Jussiê da Silva como preparador de goleiros, Alex Garcia na função de analista de jogo, Cristian Lizana de fisiologista e Walter Zaparolli, que possui muitos acessos em sua carreira, de diretor técnico.

A competição

A Série B do Campeonato Paulista tem início no dia 6 de maio e será disputada por 42 equipes. As quatro melhores no decorrer de cinco fases, ou 30 jogos, conquistam o acesso à série A-3 de 2013.

O elenco

São 34 jogadores com somente um atleta acima dos 23 anos de idade. Tal atleta é o atacante Alessandro Cambalhota, que foi revelado pelo clube novorizontino e jogou em grandes times como Porto-POR, Atlético-MG, Cruzeiro-MG e Fluminense-RJ.

Parte do grupo advém de uma parceria com investidores e atuarão por empréstimo, outros são contratações do clube, além dos atletas oriundos das categorias de base.

Apesar de ser um grupo jovem, o elenco conta com atletas experientes nesta divisão e atletas com muitas “horas de voo” nos campeonatos estaduais de categorias de base. Sem dúvida um time muito competitivo para a disputa desta divisão.

Minhas funções

Como assistente técnico, no contexto atual do clube, tenho como funções:

•Auxiliar o treinador na operacionalização de sua ideia de jogo nas sessões de treinamento;

•Auxiliar o treinador no planejamento semanal, idealizado a partir de uma perspectiva sistêmica;

•Auxiliar o fisiologista no controle da carga de treinamento;

•Desenvolver material virtual com o software Tactical Pad que identifique o comportamento pretendido pela Comissão Técnica nos quatro momentos do jogo e que facilite a compreensão dos atletas;

•Desenvolver e aplicar, juntamente com o preparador físico, atividades preventivas proprioceptivas e de fortalecimento;

•Auxiliar o preparador físico no desenvolvimento de atividades analíticas com o caráter de reabilitação de lesões;

•Capacitar o analista de jogo para observar quantitativamente e qualitativamente nossa própria equipe, além dos adversários;

•Cumprimento de outras funções requisitadas pela diretoria ou por algum integrante da comissão técnica.

Esta inesperada mudança profissional coincidentemente ocorreu após completar um ano como colunista da Universidade do Futebol, que é um marco que não posso deixar de mencionar.

Desde que recebi o convite de Rodrigo Leitão, sabia da responsabilidade que seria substituir um dos maiores estudiosos da modalidade no país. Desde então, com os conhecimentos que tenho e também os que busco para meu aperfeiçoamento profissional, tento manter a qualidade da coluna e contribuir na capacitação de profissionais da comunidade do futebol.

Obrigado Gheorge, Medina, Camarão e Tega pela oportunidade, pelas inúmeras discussões e trocas de e-mails que contribuem dia após dia para meu crescimento pessoal e profissional. Não tenho dúvida de que as magníficas ideias da Universidade do Futebol se disseminarão no “País do Futebol”.

Enfim, se você chegou até aqui, espero que não lamente por não ter aprendido nada sobre tática. Nesta coluna, resolvi abrir minha vida profissional, meus anseios, meus objetivos e minha nova e desafiadora jornada. Pode ser inspiradora ou ao menos provocar uma pequena reflexão em quem pretende seguir carreira como gestor de campo.

Para mim, estou certo, que será (e está sendo) uma grande oportunidade para aliar teoria e prática e, acima de tudo, aprender. Afinal, estamos aqui para isso…

Rumo à série A-3 em 2013!
 

 

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br
 

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O Estatuto do Torcedor e a venda de ingressos

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Análise dos estádios

Em junho de 2009, eu iniciava uma série de análises no blog Gol da Arquitetura sobre a proposta de cada cidade-sede escolhida para a Copa do Mundo 2014. Hoje, após três anos repletos de polêmicas, mudanças, demissões, obras em andamento, novas ideias, propostas, manuais da Fifa e até mesmo troca de dois dos estádios inicialmente escolhidos (Cuiabá e São Paulo), acredito que seja fundamental para compreensão do objetivo inicial e percepção do desenvolvimento do projeto um novo olhar, permitindo que, através da técnica de arquitetura, possamos compreender se estamos no caminho certo, e, caso contrário, se podemos fazer algo ainda para mudar.

As análises serão exclusivamente técnicas, ou seja, tratarão da arquitetura e urbanismo dos estádios, deixando de lado a proposta geral da cidade e as duvidosas licitações, que, em um período de Ricardo Teixeira, devem ter contribuído muito para a escolha errônea e antiética de materiais, locais de implantação, técnicas e até mesmo de escritórios de arquitetura e, principalmente, de fornecedores – forma mais comum de “direcionismo” em licitações.

Com esta avaliação, será possível, por meio de fotos atualizadas das obras, esclarecer dúvidas sobre o que antes ainda não estava nos projetos ou coisas que ainda estavam obscuras por falta de detalhamento.

A análise da arquitetura pode facilitar a gestão, mas, de fato, a arquitetura deveria ser feita a partir das ideias de gestão, com programas definidos mesmo que multifuncionais, mas específicos; e, com isso, mostrarei a fraqueza, o risco dos chamados “elefantes brancos” e a minimização de aproveitamento do no nosso pós-Copa, desmistificando o tal “legado” para o país.

Já sabemos, portanto, que a organização anda no sentido contrário do ideal, embora, com muito cuidado, possamos atingir nosso objetivo total ou parcialmente.

Felizmente, para melhor compreensão, serão textos mais ilustrados que o normal, o que deixará a coluna mais agradável e dinâmica. Quem tiver interesse em ler a análise original, fique à vontade para visitar o blog. Mas quem quiser saber exclusivamente sobre as arenas de hoje, não ficará por fora das notícias em nenhum momento.

Na próxima semana, darei início a uma das 12 cidades-sede; portanto, espero que contribuam com suas opiniões, críticas, complementos, trocando informações e participando desta coluna.

Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br
 

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Novos tempos?

Final de campeonato. Casa cheia. Público esgotou os ingressos no mesmo dia em que foram colocados na bilheteria. Grande expectativa em torno da partida pelos meios de comunicação. TV aberta e fechada transmitindo simultaneamente a partida…

Infelizmente, para os amantes do futebol, o primeiro parágrafo não se refere a um jogo de futebol. Estamos falando da final feminina da Superliga de Voleibol, disputada no último sábado entre Unilever e Sollys/Nestlé no Maracanãzinho, que levou quase 12 mil pessoas para o evento.

Tudo bem que hão de dizer que uma final de campeonato no futebol leva maior quantidade de público, até pela natural capacidade dos estádios. Mas chama atenção que a média de público destas equipes do voleibol foi bem alta ao longo de toda a competição.

Mal comparando, os quatro grandes do Rio de Janeiro, também no último fim de semana pelo Campeonato Estadual, na rodada que decidiu os classificados para as semifinais da Taça Rio, levaram 9.690 pessoas para os estádios juntos, em uma média de pouco mais de 2.400 pessoas por jogo. Isto mesmo: os quatro e mais populares clubes do Rio, em um momento considerado decisivo, tiveram menor público em conjunto que a final do vôlei feminino.

Isto é resultado, a meu ver, da negligência por parte do futebol com o espetáculo dentro de campo, com estádios inseguros e desconfortáveis, campos mal cuidados, tratamento hostil ao invés de cordial, serviços de baixa qualidade, etc. Do outro lado, a recepção às famílias em um ambiente agradável e propício para a realização do espetáculo esportivo.

Enfim, que o voleibol vem crescendo e caindo no gosto popular não é novidade para ninguém. Que irá bater a preferência do brasileiro pelo futebol, parece pouco provável. Mas que começa a dar sinais de que é de fato um concorrente importante à fatia da renda familiar destinada para o entretenimento, isto o futebol não pode negar, nem tampouco fechar os olhos para esta realidade, sob pena de tal situação começar a refletir nos balanços dos clubes em um médio-longo prazo.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

 

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Ressurreição

Na última semana, passamos pela Páscoa e por uma famigerada Sexta-Feira 13.

A Páscoa encerra, em seu simbolismo, a fé na ressurreição de Jesus Cristo que, ao dar sua vida e seu sangue pelos cristãos, representa a paixão e o amor pelo próximo – um dos principais preceitos do cristianismo.

Relata-se que Jesus Cristo pregou aos seus discípulos e apóstolos o amor incondicional ao próximo como grande meio de transformar a sociedade da época.

Sua simplicidade e intensidade naquilo que pregava e, principalmente praticava, fez com que se tornasse um grande líder, carismático e também verdadeiro.

Entretanto, isso incomodava as lideranças políticas do Império Romano.

Eis que resolvem pela sua crucificação exemplar, não sem, antes, passar por sofrimento e humilhação em praça pública, rumo ao Calvário.

Já a “maldita” Sexta-Feira 13 carrega o misticismo de estar ligada à bruxaria, à má sorte, ao ocultismo e à danação.

A origem dessa história remonta às crenças de alguns povos nórdicos, em que Friga, deusa da beleza e do amor, foi transformada em bruxa, passando a se reunir com outras 11 bruxas e o diabo às sextas-feiras, praguejando contra todos.

A data inspirou Hollywood a criar Jason Vorhees, da famosa série de filmes chamada “Sexta-Feira 13”.

Na série, Jason é um estudante que morre afogado numa viagem com os colegas de escola, mas ressuscita para se vingar de todos. Acaba se vingando mesmo, em uns 10 filmes. Haja vingança.

No caso de Jason, a ressurreição lhe convém apenas para repetir aquilo que sempre fez – buscar vingança – e que não lhe permite a paz do descanso. É um eterno recomeço.

Ressuscitar. Ressurgir. Uma questão de fé, de paixão, de força, de atitude de sabedoria.

Acima de tudo, de resignação ante a premissa de que, para ressuscitar, é preciso morrer.

E, na vida, temos muitas “mortes” simbólicas. Fim de relacionamento, mudança de emprego, término de amizade, bancarrota financeira…

O futebol, no Brasil e também lá fora, tem exemplos de ressurreição institucional bastante evidentes a seu tempo.

Internacional, Santos, Atlético Paranaense por aqui. Napoli, Milan, Manchester City, Tottenham, a própria Uefa, ao se “desconectar” da dependência da Fifa.

O futebol brasileiro, em especial no âmbito da gestão corporativa e da formação de talentos, precisa reconhecer que está, no mínimo, rumo ao Calvário.

E que, se for crucificado, sim, tenhamos fé, paixão, força e sabedoria para ressuscitá-lo visando um novo começo.

Não um simples recomeço.

A diferença pode ser sutil, mas recomeçar pode remeter ao ponto de onde se havia parado.

Como o personagem Jason Vorhees – sem evolução no que pratica.

Um novo começo é, de fato, novo caminho.

Será que conseguimos?

Eis o mistério da fé.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

 

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Os ensinamentos de Felipão e o desenvolvimento do cabeceio – parte I: analisando o jogo

No exato momento em que me preparava para escrever minha coluna semanal, recebei um e-mail de Sir Gheorge Randsford com um texto que tinha como manchete “Após erros na bola aérea, Felipão põe jogadores para pular no Palmeiras”.
Só com a manchete já fiquei intrigado.
Será que temos um treino revolucionário baseado no “pular” que resolverá os problemas da bola aérea?
Comecei a ler a matéria e me deparei com a seguinte descrição do treino:
“Durante parte de treino desta quarta-feira, Scolari utilizou uma espécie de forca. Amarrou uma corda em uma bola no alto e obrigou os zagueiros, laterais e mais o volante Chico a tentar alcançá-la com a cabeça…”.
A explicação para esse tipo de trabalho foi que na derrota para o Guarani na última rodada a equipe tomara três gols em jogadas originadas em bolas paradas.
Bom, antes de discutirmos o treino, precisamos olhar para o jogo e observar os problemas apresentados pela equipe, a fim de agir na origem dos mesmos.
Não vamos discutir o jogo todo, mas os gols em questão a fim de entender as declaração e o treino de nosso amigo treinador.
Vejamos os gols:

A altura do salto foi a diferença determinante nos gols?
Vamos lá!
Em uma análise geral, podemos observar que nos dois primeiros gols a organização defensiva de bola parada da equipe da capital apresentou problemas.
Nesses momentos do jogo (bola parada defensiva), a equipe tinha como referência uma marcação individual aos pares.
No primeiro gol, o atacante Barcos (189 cm), marcador direto do atacante do Guarani Bruno Mendes (184 cm), não fez a marcação individual como deveria ser feita.
Barcos, por sua vez, não fez o treino com a forca do Felipão e tem 5 cm a mais do que o atacante do Guarani. Saltar foi o problema?
Além disso, do ponto de vista coletivo, a equipe palmeirense não apresentou relações fortes dentro do sistema – parecia que cada jogador obedecia a referências próprias, que por sua vez não eram muito bem elaboradas do ponto de vista organizacional e da lógica do jogo.
Dá a impressão de que se um atleta errar o sistema não vai conseguir se reorganizar rapidamente e corrigir o erro…
No lance houve alguns erros: no primeiro, o jogador do Guarani sobe sozinho e desvia a bola para o gol.

No rebote do goleiro, a marcação individual falha de novo e o zagueiro Neto, do Guarani, marca.

Vejam que nesse lance o jogo se resumiu a confrontos individuais. Treinado o salto vou “reforçar” a ação individual ou a ação coletiva?
Entendam que treinar o “salto” ou outra capacidade física é importante se temos a complexidade como pano de fundo, mas treinar apenas o “salto” para resolver os problemas do jogo não me parece uma ação muito boa.
No segundo gol, a marcação individual ocorre da mesma forma. Como a falta é mais próximo à linha de fundo, temos um jogador marcando por zona (bola baixa), que não ajudou muito na origem da jogada.

Na sequência, o atacante do Guarani antecipa seu marcador, e o jogador que está na bola baixa, cabeceando a bola na trave.

No rebote, a bola cai no espaço mal ocupado pela defesa (esse espaço está mal ocupado, pois a equipe do Palmeiras se preocupa em marcar os jogadores e não em controlar os espaços do jogo) e o atleta que está no rebote da equipe de Campinas antecipa o seu marcador que chega atrasado e faz o pênalti.
No terceiro gol, a jogada é de contra-ataque. Vejam que no início a equipe do Palmeiras não está estruturada para a transição defensiva na região próxima à perda da posse de bola e não há zonas de pressão nesses espaços; sendo assim, o Guarani consegue progredir no campo de jogo e aproveitar o contra-ataque.

Após conduzir a bola por muitos metros, o jogador do Guarani encontra um passe, aproveitando-se da falha palmeirense.

No fim da jogada, novamente o atacante do Guarani antecipou a defesa e marcou o gol.

Vejam que em cada um dos gols o “salto”, ou a ação motora do jogador, foi uma parte, mas não o todo!
Um ponto a ser destacado é que pela dificuldade coletiva das equipes (isso é um reflexo de nosso futebol), em muitos lances o que se pode observar são confrontos 1×1.
Será que isso é bom?
Será que esse é um sintoma de nosso olhar fragmentador sobre o jogo?
Será que por isso olhamos para o “salto” e não para o jogo como um todo?
Deixo um desafio: pense em cada um dos gols e reflita sobre como podemos corrigir os erros de forma coletiva através de atividades práticas de campo.
Nas próximas colunas, continuo essa discussão e pretendo apresentar atividades complexas para desenvolver o jogar em cada uma dessas situações.
Até a próxima!
Para interagir com o colunista: bruno@universidadedofutebol.com.br
 

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Você se faz entender?

Saudações a todos!

Existem muitas formas de comunicação: escrita, visual, auditiva, falada, por meio de gestos. Nesta coluna ficarei apenas nas formas falada e escrita para provocar um pouco de reflexão.

Tenho visto muitas confusões desnecessárias em empresas, iniciadas por conta de uma simples troca de e-mails. Essas mensagens, que muitas vezes levaram menos de 30 segundos para serem escritas, em alguns casos geram tanto desconforto que exigem vários dias de conversa para normalizar os ambientes e, em situações mais graves, não têm mais conserto, criando animosidades entre pessoas e até áreas inteiras.

E por que isso acontece? Na grande maioria dos casos, a confusão começa porque quem escreveu o e-mail não conseguiu passar de forma clara a sua mensagem. A falta de clareza nos detalhes, que podem ser interpretados de forma equivocada quando não são muito bem explicados, abre margem para interpretações equivocadas. Ao não entender, o seu interlocutor, motivado pela fúria ou decepção, responde o e-mail também de forma inadequada, e aí começa a troca “torta” de e-mails. Em geral, a confusão só termina quando alguém, normalmente de nível hierárquico superior, interfere e sentencia: “Chega! Vocês precisam conversar pessoalmente”.

Em alguns casos a conversa pessoal resolve, apesar do tempo perdido, sem deixar marcas. Já em outros casos, a situação é incontornável e as consequências chegam inclusive a demissões.

Mas é possível evitar isso? Sim, possível e muito fácil. Existem várias formas, basta praticar.

Vejam alguns exemplos:

Se você precisa falar algo importante ou relevante para alguém que está próximo, no mesmo andar ou no mesmo prédio, ao invés de mandar um e-mail, vá até ela, fale sobre o assunto, explique os detalhes. O olho no olho, além de ser mais direto, é mais simpático e gera melhores resultados. Depois de falar pessoalmente, você pode formalizar a conversa, mas aí o destinatário já conhecerá os detalhes do assunto e não existirá o risco de o e-mail ser interpretado de forma errada. Só fique atento para não escrever nada diferente do que foi combinado pessoalmente.

Se a pessoa que você precisa falar não está próxima, ligue antes de enviar o e-mail e explique os detalhes do que quer transmitir. Pelo tom de voz e maneira como flui a conversa, você identificará se o assunto está sendo entendido corretamente pelo seu interlocutor, se sua forma de falar está agradando e poderá inclusive adequar a forma de transmitir seu recado. Após o bate papo por telefone, formalize por e-mail.

Nas minhas empresas (não olhem a expressão de maneira pejorativa), eu instituí o termo “TBC – Tire a Bunda da Cadeira”, e os resultados foram imediatos: problemas resolvidos de forma mais rápida e eficaz, sem confusões!

Uma de minhas filosofias de gestão é valorizar e apoiar os profissionais resolvedores de problemas, exceto os que resolvem problemas que nunca precisariam ter existido por sua ação ou omissão.

Após ler minhas “recomendações”, os mais pessimistas questionarão se isto é o fim do e-mail e a volta aos tempos das cavernas. Claro que não! O e-mail ainda existirá por um bom tempo (as redes sociais são potenciais substitutos, mas esse é assunto para outra coluna) e continuará sendo muito importante, resolvendo de maneira rápida e eficaz vários assuntos, mesmo sem um conversa prévia. Mas acredito que o olho no olho, o bate-papo e o TBC são instrumentos fundamentais para evitar desinteligências corporativas.

É isto, pessoal! Reflitam e vejam se estão se fazendo entender.

Agora, intervalo. Vamos aos vestiários e nos vemos no próximo mês!

Abraços a todos!

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O caso Oscar

A mídia tem destacado a disputa jurídica entre o Sport Club Internacional e o São Paulo Futebol Clube.

Quando Oscar era menor de idade, tinha contrato com o São Paulo. O jogador foi emancipado, podendo assim estender seu vínculo com o clube paulista e assim o fez aos 16 anos.

Entretanto, ao completar 18 anos, o atleta propôs Ação Judicial para se desvincular do clube e o Magistrado, entendendo que o jogador havia sido lesado, sentenciou entendendo que o 2º contrato não era mais válido.

O fundamento da ação foi de que, quando tinha 16 anos, o atleta teria sido coagido pela diretoria do São Paulo a assinar um contrato com validade de três anos, o que é proibido pela Fifa. O atleta alegou, ainda, estar com os salários e FGTS atrasados.

Dessa forma, Oscar ficou livre para assinar com qualquer clube e foi contratado pelo Internacional.

O São Paulo recorreu, e o TRT reformou a decisão ao entender que o atleta Oscar não fora lesado, tendo a equipe paulista cumprido suas obrigações, e decidiu por validar o segundo contrato.

Com esta decisão, o São Paulo notificou a Federação Paulista de Futebol, que notificou a CBF, consequentemente a Federação Gaúcha.

Dessa forma, Oscar deveria se apresentar ao clube paulista, uma vez que seu contrato estava em vigor, e o seu contrato com o Inter, automaticamente, havia sido anulado.

A referida decisão foi descumprida e o atleta atuou pelo Internacional contra o Grêmio; eis que seu nome constava no Boletim Interno Diário (BID) da CBF (BID estava desatualizado em razão de recesso).

Posteriormente, a CBF registrou Oscar como atleta do São Paulo e comunicou a Federação Gaúcha e, enfim, o São Paulo volta a ter o jogador, o que o impede de atuar pelo Inter.

A grande questão é que, mesmo com a determinação da justiça, aparentemente, Oscar não quer voltar a vestir a camisa tricolor. Assim, com o imbróglio, perde todo mundo: o Internacional, que não pode escalar o jogador, o São Paulo, que não deve escalar um atleta insatisfeito, e o próprio jogador, que pode perder a oportunidade de disputar os Jogos Olímpicos de Londres, eis que está na pré-lista do Mano Menezes.

Portanto, a melhor saída para a questão é, de fato, um acordo entre todos os envolvidos a fim de que se minimizem os prejuízos e o jovem atleta possa retomar sua promissora carreira.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

 

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Não adianta culpar a Fifa pelos custos dos estádios

A Fifa, por meio de recomendações e exigências, coordena a organização do evento, bem como a construção dos estádios. Nos manuais entregues, partes são obrigatórias, partes são sugestivas, como a questão de sustentabilidade, por exemplo, recomendando que as cidades se preocupem com os destinos de lixos, embalagens, gastos energéticos, entre outros tópicos.

Até o estádio estar próximo à conclusão, a Fifa fica livre para fazer as sugestões e exigências que convierem e que possam fazer um evento melhor e mais saudável, desde que não interfira em algo já construído. No entanto, casos como a nova exigência de drenagem a vácuo podem, sim, ser contestados com argumentos financeiros e de viabilidade – falta de mão de obra adequada e o custo da mesma pode pesar, mas pode até mesmo desenvolver o setor, barateando o custo no país.

Índices pluviométricos podem ser argumentos válidos para contestar a possível exigência, o que, em Londres, por exemplo, seria difícil reverter. Não é impossível reverter a situação.

A Fifa não é incontestável, mas uma vez que o Brasil pediu para sediar o evento, é bom entender os motivos da entidade, desde que o país não tenha prejuízos enormes e custos posteriores injustificáveis. Os manuais da entidade são exigências gerais para seus eventos, não específicas para o Brasil, e vão aumentando a cada Copa, somando experiências positivas e negativas que cada sede teve.

No entanto, culpar a Fifa por custos extras nos estádios, não é o caminho. Claro que para o evento existe a necessidade de setores de hospitalidade, de camarotes e centros de mídia gigantescos que não são necessários em eventos menores, mas os benefícios que o país pode tirar com isso compensam e são espaços nos estádios (internos e externos) que podem ser convertidos para áreas e programas de atividades adequados para o período pós-Mundial.

Trata-se de um plano organizacional brasileiro, visando seus próprios interesses baseados nos trunfos do evento e nas suas limitações temporárias. Não se tratam de partes desmontáveis, como um dos nossos estádios propõe, mas de um programa de continuidade do projeto. Por exemplo, após o evento, saem camarotes (com mobiliário possivelmente alugado) e entram continuidade das arquibancadas, não redução de público, ou mudança de usos, pois é atitude errônea.

Basta ter um plano de projeto, visando usos de que a região precisa, que a população sente falta ou em acertar a fonte de renda que vai, de fato, sustentar o estádio e aumentar lucros e visibilidade dos clubes.

A Fifa não vai providenciar regras e sugestões para o lucro do Brasil, mas para a qualidade do evento Copa do Mundo. É aí que o Brasil não está se entendendo. As preocupações parecem estar voltadas somente para os custos e execução das “temíveis e absurdas” exigências. Deveriam, no entanto, ter dois comitês: o Comitê de Organização Local (COL) e um brasileiro, sem vínculo direto com a Fifa – pois nem é de interesse deles –, mas com poder de conversa e possível negociação, mesmo que através do COL, e que este comitê brasileiro seja responsável por criar estratégias para o país em geral e específicos para as cidades-sedes.

Poderia ter uma composição feita por diferentes áreas: empresários, comerciantes, turismólogos, arquitetos, urbanistas, etc., abrangendo, assim, todos os ramos.

O Brasil pode lucrar com cultura, restaurantes, hotéis, turismo em geral e comércio. Poderia ter este órgão com campanhas de marketing, criando atividades, slogans, que trabalhassem o Brasil como um todo, visando à captação de verba para o país com a Copa do Mundo. A Alemanha visava, com a Copa de 2006, mudar a imagem do cidadão carrancudo, mostrando que o povo pode ser amigo, carismático e hospitaleiro. Conseguiram reverter um pouco da imagem da Alemanha de Hitler. O Brasil tinha o intuito de valorizar a Copa Verde, mas isso não está nítido ainda, e pode não agrupar todos os setores que podem lucrar. A principal imagem ainda não é forte o suficiente. Há a necessidade de pensar nisso, e estamos perdendo o tempo útil.

Além de ser errado culpar a Fifa, é também uma desculpa, jogando a culpa enquanto não se olha para o próprio umbigo. Para um país que está reclamando de custos elevados dos estádios, nossas arenas deveriam, no mínimo, ter em seus projetos técnicas e materiais para palcos econômicos. Mas não: temos propostas com vidros e vidros espelhados que, no caso do Brasil, só trazem gastos com refrigeração. Temos banheiros climatizados que, embora possam trazer benefícios à segurança e diminuição de violência, ainda não preveem fontes de energia natural, ou seja, elevando os custos também.

E nada disso é exigência da Fifa, mas opção de projeto – culpa de arquitetos mal preparados e especializados ou dos comitês locais e clubes (clientes), que enxergam somente em curto prazo, ou até mesmo, culpa de corrupção e licitações duvidosas que privilegiam interesses de organizadores.

Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br