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As sutilezas do jogo de futebol: ataque a bola, velocidade e complexidade

Antes da minha coluna propriamente dita, devo dizer (escrever) que é um grande prazer participar novamente, semanalmente desse espaço.

Mais ainda por poder dar sequencia ao trabalho do colunista e amigo Bruno Baquete, e retomar algumas discussões que outrora deixei pelo caminho.

Importante destacar que na minha ausência das colunas, dentre outras coisa, pude me dedicar a análise de uma infinidade de dados que comigo estavam sendo armazenados por anos, ávidos para se transformarem em informação científica.

E agora, formatados para publicação, passo-os ao Bruno, para que sejam discutidos e publicados. E nesse revezamento de atribuições e produções, ganhamos todos nós.

Pois bem.

Então, agora vamos lá…

A análise da velocidade no jogo de futebol não deve estar restrita somente à observação dos movimentos dos jogadores (com ou sem bola).

Ela (a análise da velocidade) deve estar condicionada, além da execução da ação, propriamente dita, à percepção, interpretação, avaliação e tomada de decisão do jogador.

Da percepção para a ação, temos o tempo total entre um problema emergente e a resposta a ele em uma circunstância de jogo.

A boa “leitura” das situações-problema em uma partida de futebol pode permitir dedução antecipada das próximas ações dos adversários, e tornar mais rápidas e eficientes as respostas a essas ações.

Em um jogo ocorre um sem número de interações sistêmicas, a partir das quais, a ação de cada um dos jogadores interfere de imediato (direta ou indiretamente) na ação de seus companheiros e adversários.

Então, jogadores que “encurtam” o hiato entre o “perceber?…?agir”, acabam por exigir de seus companheiros e adversários, reações de mesma magnitude temporal, especialmente daqueles mais próximos de onde está a bola.

Tomemos como exemplo a distância entre um jogador de posse da bola e seu marcador, que se aproxima para tentar um desarme.

À medida que o marcador chega mais perto do jogador que tem a bola sob seu domínio, o ângulo de passe desse jogador se modifica. E estando o ângulo de passe condicionado a essa aproximação, o posicionamento em campo, de qualquer jogador que queira servir de apoio ao portador da bola, também estará condicionado a ela (a aproximação).
Isso significa que para dar sequência a uma jogada a partir da transmissão da bola, o jogador de posse dela, necessitará que seus companheiros se movimentem na mesma magnitude temporal do problema gerado pelo defensor que está se aproximando.

Na figura que segue podemos ver uma ilustração sobre esse exemplo.

O jogador “A” está de posse da bola. Os jogadores “A1” e “A2” são seus companheiros oferecendo linhas de passe. O jogador “D” (em vermelho) é o marcador, que do “quadro 1” ao “quadro 4” vai se aproximando da bola.

Notemos que quanto mais próximo da bola está o defensor, maior a necessidade de que os apoios se distanciem entre si para continuar oferecendo linhas de passe. Ao mesmo tempo, mais evidente a precisão de que o passe fique mais lateralizado.

Se os apoios se movimentassem em direção ao seu companheiro que está com a bola, talvez pudessem manter entre si a distância, mas diminuiriam em demasia o tamanho triângulo formado por “A”, “A1” e “A2”.

De qualquer maneira, quanto mais rápido o marcador se aproximar da bola, menos tempo terá o portador e seus apoios para continuar com as mesmas opções de ação.

A análise da velocidade no jogo de futebol envolve uma série de questões que precisam ser bem compreendidas, especialmente para que se entenda o significado de “velocidade no jogo” e “velocidade de jogo”.

O mesmo vale para qualquer variável, dimensão, conceito, habilidade ou capacidade relevante para o jogar.

O jogo de futebol é um sistema complexo. Toda auto-organização decorrente da interação e interdependência dos elementos desse sistema resulta em um dinamismo que se expressa na sutileza dos seus detalhes.

Olhar para os fenômenos do jogo, e perceber tais sutilezas, é o primeiro passo para entendê-las, e intervir nelas.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br
 

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O papel do treinador na dimensão individual – parte I

Somos unânimes quanto aos objetivos do treinamento. Na sua operacionalização, porém, aplicamos meios e métodos distintos, baseados em nossas experiências, crenças e conhecimentos teórico-práticos, na constante busca pelo aperfeiçoamento da nossa equipe.

Quem procura atuar a partir de uma perspectiva sistêmica deve respeitar o conceito dos fractais, já discutido em outra coluna, em que toda situação de treino criada deve ser uma parte representativa do Todo. Como o Todo, na essência, é Jogo, é fundamental que os treinos assumam essas características para que o princípio da especificidade seja contemplado.

E numa comissão técnica que assume (ou ao menos tenta assumir) uma periodização que tenha as situações de jogo como norteadoras do planejamento de treinos, dúvidas (naturais) surgem ao longo do desenvolvimento do trabalho.

Dentre essas dúvidas, uma parece ser predominante: a necessidade de realizar exercícios técnicos diversos (finalizações, cruzamentos, cabeceios) para complementar o trabalho. Sob esta ótica, acreditam que os erros individuais das ações técnicas do jogo serão corrigidos simplesmente com a repetição destas “mesmas ações” em situações de treino analíticas.

As justificativas para fazerem este complemento são bem variadas e abrangem além da destacada necessidade do aprimoramento técnico, a necessidade do atleta adquirir confiança na repetição do gesto e até a opinião do próprio treinador que pode não ter visto essas “mesmas ações” ao longo dos treinamentos e, portanto, realiza o complemento.

Influenciados pelo pensamento tecnicista, muitos treinadores simplificam o real problema de suas equipes. Simplificam, pois essas “mesmas ações” reproduzidas em exercícios analíticos, na verdade, estão muito distantes dos problemas impostos pelo jogo.

Quantas vezes você já viu um atleta finalizar seis bolas em sequência, todas aproximadamente na mesma distância do alvo? Acontecem quantas vezes num jogo a ida de um lateral a linha de fundo em que ele ergue a cabeça, vê que na área só tem companheiros de equipe e que ele deve cruzar a bola sem que o goleiro possa interceptar o cruzamento? E o volante que inverte uma bola sem qualquer pressão de espaço e tempo no setor que, no jogo, é o mais ocupado do campo?

Não significa que devemos retirar esses complementos que incidem sobre a dimensão individual da equipe e sim contextualizá-los (e aí eles deixam de ser complementos e fazem parte da periodização) com a realidade do Modelo de Jogo da equipe e, mais do que isso, do próprio Jogo.

Inicialmente, o treinador deve refletir se os erros observados que ele pretende corrigir tem origem exclusivamente técnica. Reitero a afirmação de outras colunas sobre os problemas do jogo (tático-técnico-físico-mentais) que são tantos para cada um dos seus onze jogadores, que é equivocado reduzirmos à somente uma vertente.

Então, uma vez que treinos (jogos) mais complexos, que envolvam maior número de jogadores e grandes princípios de jogo, podem não proporcionar a densidade de ações pretendida para um determinado problema de dimensão individual e diante do que foi abordado, qual pode ser a solução para o treinador corrigir problemas com essa origem?

A solução está nos Jogos Conceituais!

A partir das quatro situações hipotéticas abaixo, indicarei atividades conceituais que incidirão predominantemente sobre o problema.

1º Um centroavante precisa fazer mais penetrações;
2º Um meia não tem buscado a recuperação imediata da posse de bola após sua perda;
3º Um lateral tem errado muito as decisões quando chega à linha de fundo;
4º Um meia tem finalizado pouco.

Como o objetivo da coluna não é de trazer respostas prontas, antes de apresentar minhas sugestões, aguardo sua opinião, caro leitor.

Abraços e bons treinos!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br
 

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Abertura dos Jogos Olímpicos e os fatos de relevância jurídico desportiva

No último dia 27 aconteceu a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos. Eu tive a satisfação de acompanhar a festa em uma “fun fest” oficial realizada no Hyde Park, em Londres. 

Chamou atenção a estrutura extremamente organizada com abundância de banheiros e de pontos de venda de alimentos. Famílias e pessoas de todas as idades confraternizaram-se durante a abertura das Olimpíadas e curtiram os shows de Duran Duran e Snow Patrol.

No entanto, o evento teve algumas falhas. A primeira delas foi o sistema de som que emudeceu por alguns momentos. Além disso, não houve transmissão dos desfiles dos atletas, pois realizaram um show durante o desfile que foi abruptamente interrompido para exibir a chegada da tocha olímpica.

Outro ponto negativo diz respeito à frieza do povo inglês: as maiores manifestações se deram quando a Rainha apareceu no telão. Para completar, ao final da cerimônia os telões pediram silêncio por se tratar de área residencial.

Iniciados os Jogos Olímpicos, dois fatos chamaram a atenção do mundo jurídico desportivo.

O primeiro diz respeito à eliminação de duplas de badminton por conduta antidesportiva, eis que violaram o espírito esportivo ao jogarem para perder.

A Federação Mundial de Badminton eliminou quatro duplas femininas do badminton. As sul-coreanas Ha Jung-Eun, Kim Min-Jung, Jung Kyung-eun e Kim Ha-na, as indonésias Meiliana Juahari e Greysia Polii e as chinesas Yu Yang e Wang Xiaoli, atuais campeãs mundiais, foram acusadas de perder partidas intencionalmente. 

O outro envolveu uma esgrimista sul-coreana que foi prejudicada pela arbitragem e perdeu a chance de disputar a medalha de ouro. O fato se deu na semifinal olímpica, contra a alemã Britta Heidemann. Quando o combate já estava empatado na prorrogação, algum problema aconteceu com o cronômetro, que parou quando faltava um segundo para o fim. Foi aí que a esgrimista alemã aplicou três golpes em Shin A. Lam e, em um deles, conseguiu pontuar e garantiu sua vaga na disputa pela medalha de ouro. 

No primeiro caso, de fato, a carta olímpica, no capítulo 1, artigo 2º, confere ao COI a atribuição de promover a ética no desporto. Destarte, jogar para perder constitui violação a este preceito e o atleta deve ser punido exemplarmente.

Inclusive, segundo o diretor de comunicação do COI, Mark Adams. “Há uma cláusula (na carta olímpica) de que jogadoras têm que fazer seus melhores esforços”, afirma ele.

Com relação à esgrimista, as decisões dos árbitros são soberanas, razão pela qual devem ser acatadas. Juridicamente, um caminho a ser seguido seria uma ação civil indenizatória por perda de chance, nada mais. Por perda de uma chance entende-se a conduta de alguém que faz desaparecer a probabilidade de um evento que possibilitaria um benefício futuro para a “vítima”.

Um exemplo concreto ocorreu em decisão do Superior Tribunal de Justiça envolvendo uma pessoa que teve frustrada a chance de ganhar o prêmio máximo de 1 milhão de reais no programa televisivo “Show do Milhão”, em virtude de pergunta mal formulada.

De toda sorte, entre erros e acertos, o saldo é positivo. Parabéns aos organizadores pelo evento e que o Brasil possa figurar por diversas vezes no pódio olímpico.

Finalmente, além dos Jogos Olímpicos, outro fato polêmico deve ser destacado, qual seja, o adiamento, em virtude do desgaste do gramado, da partida entre Flamengo e Atlético Mineiro que aconteceria neste sábado, no Engenhão.

Circulam na internet comentários de que teria havido violação ao Estatuto do Torcedor, entretanto trata-se de “papo de internet” sem qualquer fundamento legal, uma vez que a lei de proteção ao consumidor não traz nenhuma previsão a respeito.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br
 

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A importância da estrutura do clube para a formação de atletas e desenvolvimento de clubes

O Brasil há bom tempo tem equipamentos de base com qualidade baixa: simples e sem muita tecnologia ou conforto – exemplo disso era o CT de base do Corinthians localizado onde hoje se constrói o estádio, em Itaquera.

A partir de uma tendência européia, como a do centro de treinamentos do Milan, o Milanello, clubes brasileiros começaram a investir mais em seus equipamentos. Grande exemplo disso é o Parque São Jorge, do Corinthians, e o centro de base do São Paulo, em Cotia.

Ambos direcionam para uma nova perspectiva para os clubes nacionais. Mais um clube que terá um equipamento, em breve, é o Internacional, com a reforma no Beira-Rio.

Ter uma estrutura física digna e completa é fundamental para a manutenção de jogadores no clube, valorização do esporte e do atleta e é ainda essencial para o treinamento adequado e recuperação de atletas lesionados.

É fazendo os atletas se sentirem confortáveis, com sensação de lar, que se conseguirá maior resultado no esporte, pois passam ali muito tempo. Tem que ter privacidade, conforto e certas regalias bem como beleza.

A arquitetura é fundamental. Tanto para facilitar o treinamento e funcionamento, quanto para garantir o bem estar de todos que ali ficam, desde o infantil, até o time oficial. O Milanello conta com decoração e muito requinte e seria o ideal, mas, por ora, podemos considerar satisfatório o equipamento que temos. Já estamos caminhando.

É com essa estrutura que os clubes se desenvolvem em outros esportes que não o futebol, fazendo jus ao nome “esporte clube”, como Flamengo, São Paulo e Corinthians, por exemplo, e que, sem dúvida, trazem mais retorno financeiro e marketing para eles.

O Brasil ainda está longe da qualidade dos equipamentos europeus, principalmente não por poder comparar os lucros dos clubes, mas, conforme o país vai aprendendo e investindo na sua imagem, a estrutura de base tende a se adequar e cada vez mais ter novos talentos e times mais bem estruturados, bem montados, com jogadores que desenvolveram seu futebol em seu próprio ambiente.

A oportunidade das Olimpíadas pode forçar um investimento em alguns equipamentos de modalidades diferentes das do futebol – se não forçar, ao menos deveria, pois é a oportunidade, o momento de investir e desenvolver mais esportes.

Se os clubes têm atletas na natação ou na ginástica olímpica, por exemplo, seria o mínimo aproveitar o evento mundial para trazer benefícios aos esportes em forma de estrutura para crescimento das modalidades.

Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br
 

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Sem alinhamento

A notícia que dá conta que o América de Natal começa a vender cadeiras para o seu novo estádio chama atenção pela eterna discussão sobre a existência, manutenção e sustentabilidade de grandes equipamentos esportivos nas cidades brasileiras.

Como todos sabem, Natal é uma das sedes da Copa, com a Arena das Dunas. E junto com Cuiabá, Brasília e Manaus, é uma das escolhas de sede da Copa mais criticada por dizerem que não há futebol consistente na capital potiguar. ABC e o próprio América são as principais equipes da cidade.

O registro do fato aponta para problemas que virão a prazo. Primeiro, que não se faz estádio de futebol sem futebol – e pós-Copa 2014 o futuro do estádio das Dunas tende a ser sombrio, pelo cenário que tem se desenhado.

Segundo, que ainda impera o amadorismo dos clubes em negociações com seus respectivos rivais – muitos dirigentes acreditam que a rivalidade deve ser mantida 24 horas por dia, ao invés de procurar fazer bons negócios em conjunto para poderem crescer juntos.

Por fim, o investimento do poder público, que poderá ser infrutífero nesses casos.

Apesar do caso em voga (Arena das Dunas) ter gestão-operação da Amsterdam Arena, com amplo know-how sobre gestão de estádios, é difícil imaginar sua sustentabilidade sem futebol.

Enfim, este é o registro de mais um caso da falta de alinhamento entre poder público, empresa parceira do estádio e negociação com os clubes. Este pilar é fundamental para que o equipamento seja efetivamente rentável ao longo de sua operação.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br