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Estruturação do espaço de jogo: a simetria e a assimetria defensivas

Em um jogo de futebol, a todo instante a variação dinâmica do posicionamento da bola, dos companheiros e dos adversários faz surgir, instantaneamente, uma readequação da estruturação individual e coletiva do espaço.

A variação dinâmica de qualquer natureza tende a gerar microdesequilíbrios organizacionais, tanto para a equipe que tem a posse da bola, quanto para sua adversária.

Sob o ponto de vista da estruturação do espaço, a lógica de reorganização dinâmica da equipe para manutenção de um equilíbrio posicional (defensivo e/ou ofensivo) pode ocorrer, ou de forma simétrica ou de forma assimétrica (LEITÃO, 2009; 2012).

Em geral, tanto a lógica de reorganização simétrica quanto a assimétrica independem da simetria ou assimetria geométrica da estruturação do espaço da equipe.

Isso quer dizer, em outras palavras, que para uma ocupação espacial simétrica do espaço, pode haver uma lógica interna de movimentação dos jogadores, simétrica ou assimétrica. O mesmo vale se a ocupação do espaço também for assimétrica.

Vou tentar exemplificar então, no texto desta semana, a partir de uma estruturação espacial defensiva zonal, o funcionamento de uma lógica interna de reorganização coletiva simétrica, e uma assimétrica.

Vejamos a Figura 1.

Temos nela (na Figura 1), a “equipe amarela” estruturada no 1-4-3-3.
Acrescentaremos uma equipe adversária (branca), de posse da bola, atacando pelo lado direito da defesa do time amarelo (Figura 2).

Com a bola pela esquerda da defesa, a equipe amarela flutua zonalmente para o lado dela (da bola).

A linha de ataque formada pelos jogadores 11, 9 e 7 (do time amarelo) mantém uma relação espacial entre eles, porém diminuindo a área do triângulo virtual formado no campo de jogo (Figura 3). O jogador número 9 assume um posicionamento especial para evitar que o time adversário consiga voltar a bola para trás (ele fecha o passe no jogador 3 do time branco).

Toda flutuação da equipe amarela tenta manter a geometria desenhada pelo 1-4-3-3.

Se a bola consegue ser circulada pelo adversário (equipe branca), saindo da direita do seu ataque, passando pelo centro, para depois chegar do seu lado esquerdo, deverá a equipe amarela (que se defende) flutuar de maneira a manter suas linhas do esquema tático, bem definidas.

Então, conforme podemos observar nas Figuras 4 e 5, quando a bola muda de lado, basta que as linhas da equipe que se defende, mantendo sua geometria, desloquem-se no campo de jogo, da esquerda para a direita.

Com a bola na direita da defesa, respeitando a mesma lógica defensiva que estava presente no lado esquerdo, mais uma vez a linha de ataque diminui a área do seu triângulo virtual, com o jogador número 9 “fechando” o passe do adversário para trás.

Toda essa lógica interna de reorganização dinâmica em função da posição da bola é uma lógica simétrica para a estruturação do espaço.

Isso é caracterizado pelo fato de que os jogadores das linhas de defesa, meio-campo e ataque não precisam mudar de posição entre si dentro da sua própria linha ou entre as linhas para poder manter a ocupação desejada do espaço (durante toda a dinâmica os jogadores 2, 3, 4 e 6 permanecem na linha de defesa, os jogadores 5, 8, e 10 permanecem na linha do meio campo, os jogadores 7, 9 e 11 permanecem na linha de ataque, e o goleiro mantém sua posição principal).

Agora, vejamos, para a mesma situação incial, e para a mesma estruturação do espaço, outra dinâmica de ocupação espacial.
Mais uma vez, a bola está do lado esquerdo da equipe amarela que se defende (Figura 6).

Mais uma vez o jogador número 9 da linha de ataque do time amarelo se posiciona para fechar o passe para trás da equipe branca.

Agora começa (didaticamente falando) a assimetria (Figura 7).

Quando a bola consegue ser circulada ao centro (pela equipe branca), ao invés do jogador número 9 (amarelo) correr para a faixa central, ele entra na linha do meio campo da sua equipe, pelo lado esquerdo.

Ao mesmo tempo sai para a linha de ataque o jogador número 8 (que pertencia à linha do meio-campo) – permanecendo nela (na linha de ataque).

Essa troca de posição, aparentemente mais racional sob o ponto de vista do deslocamento no campo de jogo, leva a mudanças posicionais constantes, de maneira que, para cada vez que a bola alterna de uma faixa para outra do campo de jogo, novos jogadores saem de uma linha para a outra.

Se a bola sai da faixa central e vai para a faixa direita da defesa da equipe amarela, dentro da assimetria estabelecida pela equipe, emerge uma simetria, pois após a mudança de linhas entre os jogadores de ataque e meio-campo, eles permanecem em suas novas posições sistêmicas (Figura 8).

No entanto, podemos observar (ainda na Figura 8) que ainda que esteja mantida a geometria do 1-4-3-3 zonal, estão diferentes as interações entre os jogadores 7, 9 e 11, e entre os jogadores 5, 8 e 10; porém não entre as linhas de defesa, meio-campo e ataque.

Com uma lógica interna de reorganização assimétrica, para manutenção equilibrada do espaço, é então de se esperar, que caso a bola saia agora da faixa direita de defesa da equipe amarela, em direção à faixa central, mais uma vez com uma troca, possivelmente o jogador número 8 (que agora na Figura 8 está fechando o passe para trás) entrará novamente na linha do meio-campo (por fora, pelo lado direito), e assumirá a faixa central na linha de ataque, o jogador número 11.

E, assimetricamente falando, por hoje é isso…

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A vertente emocional e mais um argumento para o treinamento com jogos

Antes de iniciar as discussões acerca do tema desta semana, gostaria de parabenizar a iniciativa de alguns profissionais do futebol que têm utilizado as redes sociais para a troca e propagação de conhecimento relativo a uma das tendências metodológicas do treinamento em futebol, mais especificamente da Periodização Tática.

Tenho acompanhado muitas das atualizações, porém, não tenho comentado por já possuir um espaço em que posso, de certa forma, colocar minha visão do mundo, ou melhor, do futebol. Além disso, não seria correto opinar e não ter tempo suficiente para avançar em discussões.

O fato é que se nota, nas leituras que faço cotidianamente, a intenção positiva dos profissionais em propor algo mais ao nosso futebol que, também notoriamente, está clamando por melhorias.

Em certos momentos percebi que alguns assuntos foram tão polêmicos a ponto de gerarem comentários mais ásperos. Penso que a divergência de opiniões é fundamental para o crescimento de todos e não há nada melhor que bons argumentos (teórico-práticos) para enriquecer e contribuir na eterna formação que deve ser nossa existência. Sugiro, apenas, como seres humanos que somos (nunca agindo somente racional ou emocionalmente), que reflitam ao optarem por reações equivocadas (colocações ásperas) que somente limitam a construção de um novo futebol.

E agora, iniciando o tema e buscando constantemente a construção de um novo futebol, lanço a seguinte pergunta: como você treina a vertente emocional de sua equipe?

Quando alguém joga futebol, representa em cada ação seu comportamento tático-técnico-físico-emocional diante dos problemas impostos pelo jogo. Para problemas semelhantes, na grande maioria das vezes, os atletas apresentam respostas também semelhantes. Exemplificando, aquele atleta que se omite do jogo quando a situação está adversa (problema) continuará se omitindo (resposta) na maioria das vezes que tal situação se repetir.

E como sabemos, a omissão não é o único comportamento evidenciado em uma partida. Diferentes situações como, torcida, placar do jogo, decisão do árbitro, cobrança de companheiros, atitudes do rival, local do campo, jogada anterior, peso da competição e tradição do adversário, potencializam o desencadeamento de inúmeras reações emocionais (e não só emocionais) em cada um dos participantes de um determinado jogo. Além de omissão, possivelmente por medo, raiva, confiança, insegurança, euforia, nervosismo, ansiedade, coragem e tranquilidade são exemplos de alguns comportamentos emocionais manifestados pelos seres que jogam.

Para você que é treinador de um clube de categoria de base, quantos jogadores de sua equipe “sentiram o jogo” ao enfrentarem um clube grande?

Outra pergunta, mais especificamente para quem trabalha com algum rebelde, quantas vezes este atleta se desligou do jogo após uma cobrança sua ou dos companheiros de equipe?

E você, que assistiu à final dos Jogos Olímpicos? Reparou em comportamentos emocionais distintos (com o placar desfavorável) dos evidenciados ao longo da competição?

Então, qual é o método de treino capaz de aproximar os problemas (não só emocionais) do jogo no treino? O método que utiliza jogos, obviamente.

Como o treinamento com jogos utiliza fractais do futebol para preparar a equipe, a essência e os pressupostos do jogo (desequilíbrio, imprevisibilidade, desafio e representação) são mantidos. Dessa forma, os atletas continuamente são expostos (no treino) aos problemas que podem (e vão) se repetir no jogo.

Infelizmente, não conseguimos recriar no ambiente de treino a totalidade das características que envolvem um jogo oficial, mesmo assim, a possibilidade de confrontar a todo o momento erros e acertos da equipe, vantagem e desvantagem no placar, erros e acertos do árbitro (técnico), ou até o comportamento nas transições ofensivas e defensivas, permite uma leitura precisa de cada um dos atletas.

Com a leitura desta vertente da equipe em mãos, a comissão tem mais uma boa ferramenta para periodizar o seu jogar.

Concluindo, não confundam a discussão do tema com a dispensa do psicólogo no grupo de profissionais que integra uma equipe. Acredito que seu papel é de uma assessoria na educação (eterna formação) do indivíduo para além do desporto. É a profissão que nos orienta para o autoconhecimento. Tema (quem sabe) para uma coluna futura.

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A “Operação Padrão da Polícia Federal” e a Copa do Mundo no Brasil

Escrevo do Aeroporto Internacional de Confins onde aguardo voo para São Paulo em conexão para São José do Rio Preto onde, a convite da OAB/SP, proferirei palestra acerca da Copa do Mundo e seus aspectos legais.

A coluna desta semana estava pronta e abordaria o tema de minha exposição em São José do Rio Preto, enfatizando a evolução da Copa do Mundo como negócio e suas implicações no mundo jurídico. Todavia, um fato mudou o enfoque deste texto.

Entretanto, logo pela manhã, li em redes sociais algo sobre uma “operação padrão” promovida pela Polícia Fedaral, inclusive, aconselhando chegar mais cedo aos aeroportos.

Como possuía compromisso inadiável pela manhã me dirigi normalmente ao aeroporto de Confins que, como o nome o sugere, é bem distante da capital mineira.

Ao realizar o “check in” a atendente da empresa aérea sugeriu-me ir o quanto antes à sala de embarque em virtude da mencionada “operação”.

E assim fiz.

Ao chegar na porta do embarque chamou-me a atenção uma imensa e incomum fila, especialmente, em se tratando de voos domésticos.
Adentrando a sala deparei-me com quase uma dezena de agentes da Polícia Federal educados, porém com feições fechadas e sem muita gentileza e, acompanhados de cães farejadores, mandando colocar bagagens no chão, em uma verdadeira operação de guerra.

Seria este o procedimento de rotina?

Se a resposta for positiva, não há ilegalidade no ato de hoje, mas teria havido gravíssima negligência da corporação nas ações pregressas.

Sendo a resposta negativa, os agentes participantes estão agindo contra a lei, eis que impõem ao cidadão contrangimento ilegal e desnecessário. Ademais, a Polícia Federal estaria claramente criando um embaraço a fim de forçar o atendimento aos seus anseios.

Destarte, trata-se de impedimento de livre circulação por meio de constrangimento ilegal e a violação ao direito de ir vir traduz ato inaceitável e injustificável e deve ser atacada por meio de “Habeas Corpus”.

Esta grave violação é oriunda de uma das corporações mais respeitadas pela opinião pública, símbolo da luta contra crimes federais como tráfico de drogas e corrupção. Triste constatar que a Polícia Federal tenha deixado de lado a atenção ao cidadão manchando sua imagem em prol de interesses particulares.

Aliás, atos parecidos tem sido realizados por servidores públicos remunerados pelo povo e para serví-los. A Defensoria Pública boicota a remuneração de advogados dativos e realiza greves impedindo que o cidadão menos favorecido possa buscar seus direitos. A receita Federal atrasa a importação de produtos encarecendo bens de consumo básicos.

Audiências trabalhistas deixam de ser realizadas pela falta de servidores e os trabalhadores deixam de receber seus direitos. Estudantes sem aula por paralização de professores e servidores.

Ressalte-se que a maioria das classes mencionadas (excetuando-se talvez apenas aquelas relacionados à área de ensino) possuem rendimentos muito superiores à média nacional e, ainda, uma série de direitos derivados do Regime Estatutário. As salas de aula de cursos preparatórios estão abarrotadas de concurseiros sedentos pelas remuneração e benefícios dessas carreiras e, certamente, nenhum dos manifestantes sequer cogita enveredar-se pelo ardiloso caminho da inicitativa privada.

Ademais, conferir ou não aumentos a servidores correspondem a uma questão matemática, pois o Governo somente pode aumentar sua despesa se aumentar sua receita e para isso não há mágica. Ou se cortam investimentos em educação, saúde, etc, ou se aumentam impostos, ou se imprime mais papel moeda (o que gera inflação).

De fato o direito de greve está previsto no artigo 7º da Constituição Brasileira, entretanto, a própria constituição estebelece que o exercício de greve por parte dos servidores públicos depende de norma regulamentadora que não existe. Assim, para viabilizar o direito de greve, o funcionário público precisa se valer do Mandado de Injunção (remédio constitucional contra violação a direito fundamental por ausência de norma regulamentadora). Sem norma regulamentadora e/ou mandado de injunção qualquer greve em setor público é ilegal.

De toda sorte, não se pode deixar de destacar que no caso da Polícia Federal não se trata de greve, mas de uma operação expressamente deflagrada com a intenção de trazer contratempos que violam fundamentais direitos ao cidadão.

Diante de tudo isso, percebe-se que muitos dos aspectos atinentes à Copa do Mundo que são amplamente debatidos tornam-se menores diante da violação de direitos perpetrada por órgão responsável pela proteção do indíviduo.

De nada adianta o país se preocupar com a Lei Geral da Copa, investir em infraestrutura, segurança, etc, se as suas instituições não respeitarem os cidadãos. O Estado e os servidores públicos perdem a razão existir a partir do momento em que se desvirtua seu dever legal.

Espera-se que a sociedade civil, o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil que, inclusive, possui dentre as suas junções a proteção às leis e aos direitos humanos, tomem medidas judiciais contra as ilegalidades perpetradas.

Espera-se também que a Adminsitração Pública não ceda e puna, nos termos do Estatuto dos Servidores (Lei 8.112/1990) exemplarmente aqueles servidores que estejam agindo contra a Constituição da República.

Somente assim o Brasil estará pronto para receber os grandes eventos esportivos e, por consequência, mostrar ao mundo sua pujança.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br
 

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Engenhão

Com o alto número de jogos somado à grande área de sombra proporcionada pela cobertura do Engenhão, os problemas do gramados são duros de combater. A alta frequência de jogos desgasta, enquanto a falta de luz natural faz com que pragas se proliferem.

Recentemente, o estádio adquiriu um equipamento moderno, de iluminação artificial a fim de suplementar a iluminação no gramado, principalmente nos pontos mais críticos. No entanto, os problemas não serão resolvidos sem um calendário de jogos mais coerente e consciente.

Aí é que o Botafogo entra em um impasse: como aumentar as rendas diminuindo os jogos?


 

Com jogos com frequência de quatro a seis mil torcedores, aumentando somente com a presença de Seedorf, e ainda somente nas primeiras partidas (com cerca de 23.500 espectadores), o time não conseguiu, nem mesmo, lotar o estádio (com capacidade atual de 47.000).

Três motivos podem estar diretamente ligado com o baixo público: o rendimento do time em campo, a forte ligação do clube com o torcedor e a localização do estádio.

Todos os itens são trabalháveis. O primeiro, com trabalho direto no campo; o segundo, com uma boa equipe de marketing e espelhamento em grandes times europeus, ou até mesmo no Internacional; já o terceiro é um item mais complicado. Daí a importância da escolha do local onde se construir um estádio. Temos locais da Copa, mesmo, com problemas e duvidosos da eficiência. Mas, voltando ao Engenhão, algumas coisas podem ser facilitadas.

A localização do Engenhão não é das melhores, próxima ao Complexo do Alemão, recentemente alvo de tentativa de pacificação e atuação da polícia. Esse fator não traz segurança total de acesso. É um problema social que interfere diretamente na frequência.

O medo atinge diretamente famílias que vão ao estádio juntos, os mais precavidos, a presença de crianças, mulheres e idosos. E com certa razão. Quem sai de casa para ir com dificuldade ao estádio, com riscos e ver o time do coração perder?

Além disso, o transporte público é complicado. Além de distante, o estádio não conta com metrô, o estacionamento é complicado, e não são tantas linhas de ônibus que passam ali. Ou seja, o custo, indo de carro ou táxi, também é grave e não é democrático.

A Prefeitura do Rio de Janeiro poderia muito bem melhorar o transporte até a região, não só pelo futebol, pelo Botafogo, pois não seria justificável, mas pela sociedade, mesmo. Iluminação na região é essencial para a segurança, assim como fiscalização, para quem for de carro ter o mínimo de tranquilidade.

São coisas simples, mas que podem trazer mais público ao Engenhão.

O estádio precisa de mais identidade. Não basta um escudo estampado no gramado, nem charme com os desenhos de listras no mesmo. Precisa que o torcedor se sinta totalmente em casa, e não em um estádio qualquer.

Precisa achar ações das quais a torcida participe. Mesmo fora de jogo, que ela tenha motivos para visitar o estádio. Isso pode gerar renda.

O Botafogo precisa trabalhar em cima de tudo isso, ou continuará com uma bomba nas mãos.

Sem mudanças nesse sentido, jamais o Engenhão poderá ser sede nas Olimpíadas, nem mesmo na Copa das Confederações, ou o público será baixo novamente, com gastos olímpicos.

O Rio de Janeiro precisa enxergar as possibilidades e necessidades para lucrar com os eventos e não ser um fiasco.

Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br
 

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Inteligência de jogo e Cristiano Ronaldo: o desempenho complexo no futebol

No blog “Falemos de Futebol” há uma entrevista, datada de 2009, feita por Nuno Amieiro (um dos autores do livro “Por que tantas vitórias?”) com o professor Vitor Frade, idealizador da “Periodização Tática”. É uma entrevista com pontos bem interessantes para debate.

Separei um trecho dela (abaixo) para que possamos fazer algumas reflexões. Está como aparece no blog, com o “português de Portugal”.

Antes, contudo, vou deixar solta no texto uma pergunta (que retomarei adiante). Vejamos: o que precisa ter um jogador para jogar bem futebol em alto nível?

Agora, ao trecho:

“Nuno Amieiro: Deixe-me pegar agora no exemplo do Cristiano Ronaldo… A generalidade das pessoas está claramente convencida de que o que ele é hoje enquanto jogador se deve em grande parte ao trabalho de ginásio (eu: academia, trabalho com pesos, etc.) que desenvolveu e provavelmente continua a desenvolver…

Vitor Frade: Isso rebate-se com facilidade. O Cristiano tem um morfotipo e joga numa posição que pode permitir que o lado atlético seja um acrescento. Mas eu penso que a juventude dele e o facto de estar a jogar em Inglaterra (eu: na época da entrevista o Cristiano Ronaldo jogava no Manchester United) ainda não o fez dar-se conta do desperdício que é o não uso tão regular da capacidade de drible, de simulação e de engano que ele tinha. E o jogo assente neste padrão atlético em que ele se está a viciar e do qual beneficiam os abdominais e o porte que ele tem, tirou-lhe algo que ele também tinha potencialmente, que era aquele poder de «ginga», que é mais o registo (eu: registro), por exemplo, do Messi.

E eu pergunto, alguém no seu perfeito juízo é capaz de dizer que o Cristiano Ronaldo é melhor do que o Messi? Na melhor das hipóteses dirão que um é tão bom quanto o outro. E o Messi é exactamente o oposto em termos de morfotipo: é pequeno, enfezado,… E é doente, pois tem problemas metabólicos.

Acho que o que é fundamental é que o jogador tenha a capacidade de resistir e de ter força… Mas é importante que se perceba o que eu quero dizer com isto, pois não tem nada a ver com o entendimento comum… Repare na conversa que há pouco estávamos a ter sobre o Fábio Coentrão. O Coentrão, sendo um indivíduo débil, frágil, numa disputa de bola contra dois jogadores matulões do FC Porto, o Cissokho e o Rolando, conseguiu, com uma «ginga», sentar os dois e ir embora com a bola… Isto, para mim, é que é ter força. Ter capacidade de arrancar, travar, voltar a arrancar mas pelo lado contrário…”

Pois bem. Independente do debate que vou propor a partir deste trecho, sugiro a leitura da entrevista na íntegra no blog (que parou de ser atualizado em 2009).

Então, vejamos.

O que você acha do apontamento feito por Vitor Frade, a respeito do desenvolvimento atlético do jogador Cristiano Ronaldo, quando argumentou em sua resposta, que a “aposta” em tal desenvolvimento deprimiu-lhe (tirou-lhe) a “ginga”?

O que você acha da associação feita por ele sobre o fato de Messi ser um jogador muito bom (melhor que Cristiano, ou na melhor hipótese – para o jogador português – “tão bom quanto”) e ter a “ginga” como marca registrada (além de pequeno, fisicamente falando)?

Jogadores de futebol podem alcançar o sucesso no alto nível competitivo, adotando caminhos diferentes, sendo oriundos de culturas diferentes, apresentando características morfológicas diferentes, com distintos comportamentos e distintas formas de jogar.

Seria justo com a Complexidade atribuir, por exemplo, à capacidade de driblar de um jogador, ou à sua potência muscular de membros inferiores, o sucesso do seu jogar (ou usar tais critérios para dizer que o jogador “A” é melhor ou pior que o jogador “B”)?

Não seria o Cristiano Ronaldo da época de Manchester United mais eficiente, perigoso e importante para a equipe, do que em sua época em Portugal? Não seria esse Cristiano Ronaldo, da Inglaterra, o que despertou o interesse do espanhol Real Madrid, e o alçou de vez como um dos melhores do mundo?

Reparem que não estou eu aqui dizendo (ou escrevendo) que o português, é melhor jogador depois que partiu de sua terra natal, em função de um motivo “X” ou “Y”. Estou insinuando apenas que ele melhorou, sem fazer atribuições a motivos específicos.

Isso quer dizer, que não seria simplesmente por “gingar” mais, ou menos, ou estar menos ou mais forte que Cristiano Ronaldo tornou-se um jogador melhor! Isso quer dizer, também, que não podemos julgar, baseado em nossas preferências particulares o desempenho de um futebolista.

O jogador torna-se melhor, mais eficaz, decisivo e determinante conforme aprimora sua capacidade de perceber?interpretar?avaliar?decidir?agir (percebendo aquilo que é importante, interpretando e avaliando corretamente, decidindo melhor e tendo capacidade de agir de maneira condizente com suas decisões), o mais rápido possível e de maneira mais econômica possível (economia complexa).

E, isso tudo, respeitando sua individualidade.

O jogador torna-se melhor, conforme fica mais inteligente para jogar. E então, o que precisa ter um jogador para jogar bem futebol em alto nível?

De certo não é driblar mais, ou correr mais. O que ele precisa, na essência, é expressar em ato, respostas excelentes aos problemas circunstanciais e imprevisíveis, emergentes durante uma partida. Cada jogador a sua maneira econômica, sem estereótipos, sem cartesianismos…

Se o desenvolvimento atlético de Cristiano Ronaldo atrapalhou sua “ginga” eu não sei. Mas que ele é melhor jogador hoje e que faz mais gols do que antes em Portugal, não há dúvidas – os “scouts” estão aí para mostrar.

Viva a Complexidade!

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A várzea forma melhor que os clubes brasileiros?

Certa vez encerrei uma de minhas colunas com a seguinte pergunta: a várzea forma melhor que os clubes brasileiros?

Na ocasião já deixava em pauta (para reflexão) um tema que tem, com os Jogos Olímpicos de Londres, um momento bem pertinente para abordá-lo.

No futebol masculino, dois atletas brasileiros tem se destacado na campanha que levou a seleção à final dos jogos diante do México.

O primeiro deles é Leandro Damião, que até a final havia marcado seis gols e estava isolado na artilharia da competição. Numa busca da história profissional do atleta, que tem 23 anos, podem ser extraídas algumas informações interessantes.

Reprovado em diversas peneiras de grandes clubes do futebol brasileiro, o atacante conseguiu espaço no futebol catarinense e foi uma das revelações do campeonato estadual de 2009 pelo Atlético de Ibirama-SC.

Havia ingressado no clube aos 18 anos, já em fase final de formação, e em menos de duas temporadas foi negociado junto ao Internacional-RS. Com a manutenção de seu desempenho e dos gols, num curto espaço de tempo chegou à seleção brasileira.

Com seu poder de posicionamento-remate, Leandro Damião integra a reduzida lista dos melhores centroavantes do futebol brasileiro na atualidade (que ultimamente, além de meias, também tem recorrido a atacantes estrangeiros).

Ver que um atleta chegou à seleção brasileira sem ter passado um período de formação em qualquer categoria de base (ao menos assim é a informação divulgada) permite alguns questionamentos e reflexões: será que os clubes brasileiros não estão conseguindo formar jogadores de alto nível para compor seu elenco principal e, inclusive, o da seleção?

Quais competências de Leandro Damião foram adquiridas na várzea que permitem que o atacante seja um dos melhores da função no futebol nacional?

É possível sistematizar o ensino de tais competências na base para aumentar o número de jogadores com potencial para servir à seleção brasileira?

Será que os clubes brasileiros, muitas vezes, retiram o Jogo dos nossos atletas e fragmentam o futebol (e os treinamentos) em suas quatro vertentes, distantes da realidade competitiva? Será que este não pode ser um dos grandes motivos da ausência de melhores jogadores no nosso futebol?

Mudando de assunto para o segundo atleta, menciono Neymar e suas atuações nos jogos olímpicos. Após um período de desempenho não excepcional, em que foi bem marcado na Libertadores pelos adversários estrangeiros das fases finais e pelo Corinthians (que tem os melhores princípios de jogo defensivos do futebol brasileiro), mais de um veículo de comunicação elogiou o atleta.

Segundo a mídia esportiva, mesmo diante da sua limitação de análise de jogo, mas respaldada pela opinião de Mano Menezes, o jogador está mais coletivo, solidário e evitando o drible (e a consequente perda) quando bem marcado.

O fato é que muitos têm afirmado que o período que Neymar tem passado com a seleção tem feito bem para o seu crescimento profissional.

Sabemos que o tempo em que os atletas ficam com as seleções, seja de base ou principal, são curtos e que muitas vezes o tempo de preparação para as competições são insuficientes. Diante disso, no tempo que está no cargo, Mano Menezes tem tentado desenvolver uma cultura de jogo que seja aplicada do sub-15 à seleção principal. Em médio-longo prazo este trabalho pode trazer resultados (não me refiro somente às vitórias). Enquanto isso, Neymar logo voltará ao seu clube e, se mal orientado, velhos comportamentos de jogo podem vir à tona.

Para facilitar o trabalho de Mano (e ele já afirmou isso em várias oportunidades), é urgente o desenvolvimento nos clubes de uma Filosofia condizente com os princípios de jogo do futebol moderno. Infelizmente, ainda vemos vários exemplos de projetos embrionários, ou então, inexistentes.

Se o cenário dos clubes assim permanecer, logo terei que publicar outra coluna. Desta vez, intitulada:

A seleção forma melhor que os clubes brasileiros?

Seria somente mais uma inversão de valores do nosso confuso futebol!

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Projeções do COB para 2016: crescimento de 100%

Os Jogos Olímpicos de Londres caminham para o seu final e o Brasil conquistou 15 medalhas e há expectativa de outras em modalidades como o vôlei, cujas finais ainda não ocorreram. Assim, a meta estabelecida pelo COB já foi atingida.

Há 20 anos, em 1992 (Barcelona), foram três medalhas; em 1996 (Atlanta), quinze; em 2000 (Sidney), doze; em 2004 (Atenas), dez; e em 2008 (Pequim), quinze. Dessa forma, a tendência é que se mantenha a média recente que atesta a evolução da equipe olímpica brasileira.

Os investimentos no esporte de alto rendimento aumentaram 48% desde Pequim e para o ciclo olímpico do Rio esta verba deve aumentar de 370 milhões de dólares para 700 milhões de dólares.

Com este aumento, o Comitê Olímpico Brasileiro tem a intenção de dobrar o número de medalhas, conquistando trinta em 2016.

Este crescimento de 100% é superior ao chinês que, de 63 medalhas em Atenas (2004), alcançou 100 medalhas em Pequim (2008), um acréscimo de 59%.

Além disso, pela proporção investimento x medalha, cada pódio chinês custou 30 milhões de dólares,enquanto cada conquista brasileira custará 23,3 milhões de dólares.

Importante destacar que medalhas olímpicas não podem ser compradas e que só o dinheiro não é suficiente, deve haver instituições, qualificação de treinadores, atletas experientes, enfim, o investimento deve ser contínuo.

Outro aspecto importante constado pelo COB é de que as grandes potências olímpicas para manterem seu padrão de medalhas devem conquistá-las em pelo menos treze modalidades, e o Brasil costuma chegar ao pódio em poucas categorias.

Metade das conquistas brasileiras são oriundas de vela, vôlei e judô. Em 2016, o COB pretende conquistar medalhas em dezoito modalidades.

A fim de alcançar a meta de 30 medalhas em 18 modalidades, o COB utilizará um programa de computador que levará em conta o número de medalhas em disputa em cada modalidade e dentre elas está o boxe, que conquistou três medalhas em Londres.

Ademais, será conferida experiência internacional aos atletas a fim de se evitar deslumbramentos.

Se tudo der certo, daremos um salto fantástico no Rio de Janeiro em 2016. Entretanto, deve-se ficar atento para que o crescimento seja duradouro como o chinês e não fracassado como o grego, que após avançar 23% entre 2000 e 2004 (saltou de 13 para 16 medalhas), conquistou apenas quatro em 2008.

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Clubes buscam novos endereços

Com a desatualização de suas casas, muitos clubes, no Brasil e em outros países, buscam novos endereços para ter seus estádios. O grande motivo é a impossibilidade de reformar, por limitações do entorno ou da capacidade do equipamento atual.

O Chelsea, como mostrei em uma coluna aqui na Universidade do Futebol, está em busca de um novo local para um estádio icônico e com capacidade maior. O Corinthians já deixou de ter o Pacaembu como palco principal de seus jogos para ter agora seu próprio estádio. Assim como o Grêmio e como muitos outrosclubes italianos e suas modernizações visionárias.

É totalmente compreensível a busca por novos espaços que sejam fonte renda e que tragam mais identidade e força para o clube. No entanto, como ficam os vários estádios abandonados? Virarão museus? Um galpão abandonado é facilmente transformado em edificações para outras atividades, mas e os estádios? É difícil imaginar uma atividade.

Que jogos o Pacaembu, por exemplo, terá? Shows são proibidos no estádio por causa da vizinhança. Quais atividades manterão o estádio? É interessante que cada estado tenha seu estádio público, mas a que custo?

O Morumbi é um exemplo de fidelidade. O São Paulo tem uma identidade e orgulho de seu equipamento, embora localizado em um terreno com entorno muito bem firmado e construído, ou seja, limitado para expansões e até mesmo para receber grandes eventos. Os que permanecem têm certas dificuldades, mas o que se faria se o São Paulo abandonasse um estádio como o Morumbi?

Universidades, museus, clubes, centros culturais? Algo bem inusitado, mas poderiam ser opções; mas, enfim, seriam equipamentos de múltiplas funções para conseguir dar conta financeiramente de um equipamento de grande porte como um estádio.

Vale lembrar que o brasileiro não tem costume de visitar museus. Temos um índice baixíssimo perto de países europeus. Então, neste momento de abandono, é o momento de fomentar a visitação, a cultura e educação, ou buscar usos mais inusitados ainda para conseguir evitar, aí sim, os elefantes brancos. Elefantes brancos não serão os da Copa do Mundo de 2014, mas aqueles deixados para a história.

Realmente era necessária a construção de novos estádios para a Copa do Mundo. Em alguns locais, os existentes não dariam conta mesmo com grandes reformas, por questões principalmente de segurança. Mas é realmente necessário pensar no que fazer com palcos de tantas partidas até então.

Estamos, assim como todos os proprietários desses estádios abandonados, fadados a encontrar uma atividade, uma forma de utilizar bem os espaços deixados para trás ou para uma possível e triste demolição.

Compreensível a atitude, mas problemática.

Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br
 

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Competição

A que mercado pertencemos? Onde a indústria do futebol está classificada? Com quem o futebol compete? Eis uma antiga discussão, que tem também um pouco a ver com miopia de marketing e a não compreensão sobre o setor em que a organização de fato atua.

Michael Porter, considerado um dos grandes nomes da estratégia organizacional, fala que a definição do trabalho estratégico deve passar pela compreensão e enfrentamento da competição.

Porter fala nas famosas cinco forças que moldam a competição no setor:

A ameaça de novos entrantes: caracterizado pelas organizações que investem para conquistar participação no mercado. Os clubes pouco sofrem com este fator no curto prazo por conta da longevidade que muitas marcas possuem e por não serem substituíveis tão facilmente quanto outros produtos de consumo.

O poder dos fornecedores: que transferem custos para os participantes do setor. No futebol, poderíamos exemplificar os agentes de futebol, que negociam contratos e comercialização de jogadores, fazendo pressão sobre as finanças dos clubes.

O poder dos clientes: podem captar valor ao forçar os preços para baixo ao exigir melhor qualidade ou mais serviços. Para o futebol, temos como clientes os patrocinadores, a mídia e os torcedores, para ficarmos nos exemplos mais simples. A questão é que raras vezes os supracitados são tratados de fato como clientes na acepção da palavra.

A ameaça de substitutos: desempenham função idêntica ou semelhante à do produto “original”, só que por meios diferentes. Considerando que estamos no mercado do entretenimento, todas as formas de fazê-lo podem ser substitutas ao futebol. Logicamente que marcas como Flamengo, Corinthians, Vasco, Palmeiras, São Paulo, Fluminense etc. são insubstituíveis. Mas na plataforma de consumo, em muitas situações, o são.

A rivalidade entre os atuais concorrentes: se manifesta sob formas como descontos de preços, lançamentos de novos produtos, campanhas publicitárias e melhorias nos serviços. Um patrocinador poderá escolher um ou outro clube por conta da sua organização, dos craques que as equipes possuem ou por um momento esportivo mais favorável.

Logicamente que seria leviano comparar os Jogos Olímpicos com o ofuscamento do Campeonato Brasileiro em virtude da dimensão dos dois eventos. Mas em histórico recente, muitos jogos de futebol têm perdido em público e audiência para outros esportes ou outras plataformas de entretenimento, como novela, shows, teatro, cinema ou passeio no shopping.

O breve relato serve para refletir sobre como efetivamente definimos nossas estratégias diante do mercado e do cenário macroeconômico e social existente. Entender estes movimentos e perceber as forças de cada aspecto é fundamental para a sobrevivência no médio-longo prazo.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br
 

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Culpa e desculpa

Um vídeo de grande repercussão, nesta semana, fez-me pensar a respeito dos rumos da gestão esportiva no Brasil, em termos estratégicos.

O futebol, obviamente, não escapou da crítica ali presente, também sendo citado como uma das causas do baixo grau de organização e desenvolvimento do contexto esportivo nacional, por canalizar os esforços de regulamentação legislativa e dos investimentos públicos e privados.

Intitulado “O Esporte pede desculpas”, são apontados diversos fatores que poderiam explicar e justificar os resultados ruins nos Jogos Olímpicos de Londres.
 


 

Penso que, em essência, são duas as formas de análise sensata do “quadro de medalhas”, até aqui, metade da competição já disputada.

Uma delas, individualizante, põe os atletas e/ou equipes sob a luz. Por que Cielo, Murer, futebol feminino, basquete feminino, Diego Hipólito, não conseguiram melhor desempenho?

Por que, se, dentre outros fatores, são os mesmos adversários que normalmente se encontram com os brasileiros nas demais competições internacionais – algumas de mesmo grau de exigência?

Por outro lado, temos um histórico déficit sistêmico no esporte brasileiro, quando olhamos de cima.

Faz muito pouco tempo que temos um estímulo a um maior número de esportes para proliferar no país.

Ainda assim, esbarra-se no baixo número e qualificação do aparelhamento e instalações capazes de forjar novos atletas.

Associado a isso, a organização das competições no país força, obrigatoriamente, os atletas promissores – não os de ponta, que já estão lá – a saírem do país para treinar e competir.

Por fim, mas como ponto mais importante, falta-nos estímulo maciço e qualificado da prática esportiva nas escolas.

Sim, esporte escolar. Esporte como educação. Esporte no ensino fundamental, médio e superior, que possibilite aumentar o número de praticantes com nível competitivo médio, para que, na ponta do alto rendimento, mais e melhores atletas disputem competições internacionais representando o país.

Como ocorre nos Estados Unidos.

Como poderia ocorrer aqui no Brasil, com vários esportes, incluindo o futebol.

Enfim, um sistema esportivo-educacional que, no mínimo, formaria um grande número de cidadãos inseridos na sociedade e que disseminariam os valores que lhes proporcionara o esporte.

Quando, e se esse momento chegar, as críticas negativas ou os grandes elogios aos nossos atletas e equipes serão mais sensatos.

Até lá, prefiro ficar na torcida, na arquibancada, e não pensar em culpa ou desculpas.

Simplesmente, torcer, pois é o que resta no cenário de carência de pensamento e ação integrados para aproveitar o potencial esportivo do país como transformação social, como primeiro passo, e medalhas no pescoço, como consequência.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br