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Juiz no banco dos réus

Crise de organização, de criatividade técnica, de inovação tática, de formação. O estado moribundo também atinge a arbitragem.

Os árbitros têm sido protagonistas na maioria das rodadas do Campeonato Brasileiro de 2012. E, como a máxima do futebol, em minha opinião, se aplica perfeitamente, quando isso acontece é sinal de problema.

Empresto o título dessa coluna do jornal Zero Hora deste último domingo, que traz reportagem interessante sobre o tema, entrevistando árbitros brasileiros tarimbados.

Nela, as perguntas buscam encontrar causas e propor mudanças sobre a formação dos árbitros no país, a profissionalização da atividade, diferenças de estilos quando se apita fora do país, como na Taça Libertadores, o sorteio de árbitros.

Emito minhas opiniões específicas a respeito.

A profissionalização dos árbitros é mais do que bem-vinda. É necessária e já está atrasada em relação ao que se exigiu e se exige dos demais componentes da indústria do futebol.

A formação dos profissionais deve ser rigorosa e contínua. Obviamente que, para que seja atraente e justifique os investimentos, deve-se profissionalizar a atividade, para que a regularidade e qualidade da remuneração seduzam bons árbitros a ingressar nos quadros.

Não se pode considerar a arbitragem como algo secundário. Se assim for, os resultados dessa evolução exigida também serão, provavelmente, secundários.

Sobre o sorteio dos árbitros para os jogos, fui convencido, ao ler a reportagem, de que a imposição legal do Estatuto do Torcedor cria discrepância técnica ao tentar coibir manipulação e corrupção de resultados.

Isso pode acontecer com árbitros sorteados ou previamente escalados. E o Brasil é o único país que adota este procedimento.

Por fim, por que existem diferenças entre o estilo de apito dos árbitros brasileiros, no Brasil, e desses mesmos árbitros, nas competições internacionais?

Porque as circunstâncias são diferentes. Porque a cultura do futebol é diferente entre o Brasil e os demais países.

Como afirma Leonardo Gaciba, o desafio aqui é de ordem técnica. Os jogadores desafiam a arbitragem com simulacros, ludíbrios e desorientações. Inclusive má-fé e deslealdade.

Fora do Brasil, a dificuldade é de natureza disciplinar. Testar limites do árbitro para a violência e jogo duro, viril, truculento e, por vezes, desleal.

Não sei qual dos dois cenários é mais complexo.

Mas, como sou brasileiro, e vivi de forma diletante o futebol, dentro de campo – coisa que sigo fazendo – com maior ou menor grau de competitividade, prefiro analisar nossas circunstâncias do que jogar pedra nos vizinhos e hermanos.

Até no campeonato amador que disputo aqui, a animosidade e a agitação para com a arbitragem é excessiva.

E o excesso tem origem no comportamento dos jogadores que o disputam. Em geral, decorrente da falta de técnica, de condição física, e de sobra de frustrações acumuladas ao longo da semana.

Que não justificam o comportamento, embora expliquem por estarem amparados na condição humana.

Mas a condição humana também deveria levar, para dentro de campo, atitudes como à de Klose, que marcou um gol de mão, validado pelo juiz que, posteriormente, acatou o pedido do jogador para anulá-lo, num gesto de honestidade e caráter que vem desde fora do campo. Veja no link abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=HTfYDHFJwKg

A Lei de Gerson segue ecoando nas entranhas do futebol brasileiro e isso o impede de evoluir, rompendo com o que já não serve mais.

Além disso, a cultura da reclamação pura e simples, para se levar vantagem em detrimento da justiça e do bom senso representa, perigosamente, o que a sociedade brasileira, efetivamente, deseja para si.

Se o mesmo ímpeto fosse canalizado para protestos efervescentes nas ruas, como acontece na Espanha, contra a corrupção na política, tenho certeza que nosso futebol também estaria em outro estágio de civilidade e evolução.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br