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O que a Arena da Amazônia ensina sobre comunicação

A Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil, conheceu no último fim de semana o oitavo de seus 12 estádios. A despeito de ainda estar com 98% das obras concluídas, a Arena da Amazônia, em Manaus, recebeu seu primeiro evento teste.

O local abrigou um empate por 2 a 2 entre Nacional e Remo, válido pelas quartas de final da Copa Verde, e tudo que cercou o evento serve como subsídio para uma discussão sobre comunicação.

A inauguração da arena teve 20 mil ingressos. Desse total, 35% foram destinados a operários da obra. A estimativa do governo do Amazonas é que o estádio comporte 42 mil pessoas quando estiver pronto.

O primeiro tópico a ser observado, portanto, é a lotação. O Campeonato Amazonense de 2013 teve média de 807 pagantes por jogo. Como uma partida entre Nacional e Remo consegue colocar 20 mil pessoas em um estádio?

Há várias explicações para essa quantidade, a começar pelo fator novidade. As pessoas foram ao estádio porque queriam conhecê-lo. O trabalho do gestor nesse caso, portanto, é fazer com que essas pessoas tenham vontade de voltar. E mais do que isso, fazer com que outros queiram ir ao local. Mesmo que sejam movidos pela mesma curiosidade.

Como fazer isso? Com promoção, é claro! Comunicação adequada para chamar atenção do público e comunicação ainda mais incisiva para quem já tomou a decisão de comprar um ingresso. A pessoa que investiu tempo e dinheiro em uma entrada tem de ser bombardeada com informações e ações. E isso tem de acontecer do momento da aquisição até o retorno para casa.

E aí começam os problemas da Arena da Amazônia. O estádio estava inacabado quando foi inaugurado, com defeitos em aspectos como estacionamento, (des) orientação de público e falhas estruturais nos banheiros. Tudo isso é comunicação. E comunicação da pior espécie.

Houve relatos de torcedores que passaram até 45 minutos nas filas dos bares do estádio. Que tipo de consumidor recebe esse tipo de atendimento e volta para casa disposto a retornar a um estabelecimento?

No entanto, os problemas da inauguração ainda tinham o atenuante de se tratar, obviamente, de uma inauguração. O que aumentou a proporção da situação negativa foi o posicionamento do governador do Amazonas, Omar Aziz.

No domingo, o político foi questionado pela “ESPN” sobre o custo do estádio. A obra da Arena da Amazônia consumiu R$ 604 milhões, R$ 89 milhões do que a previsão inicial.

“Isso é problema nosso, não de vocês. Isso é problema do povo amazonense, não é teu. Não é problema da imprensa do sul [sic]. É nosso o problema, deixa com a gente. Se nós tivemos competência para construir uma arena desse porte […] nós teremos competência para dar um legado”, respondeu Aziz quando questionado sobre o que vai ser do equipamento após a Copa.

Desde o ano passado, dirigentes de times do Amazonas têm dito que não há interesse em gerir o estádio. Os argumentos são o alto custo de manutenção e o tamanho do equipamento, muito maior do que o necessário para a realidade local.

Questionado sobre o estouro no orçamento e o que vai ser da arena depois da Copa do Mundo, Aziz podia ter explicado ou construído um raciocínio que o aproximasse do público. Ele podia ter falado sobre as dificuldades de um empreendimento dessa proporção e podia ter começado a direcionar um discurso sobre o pós-evento. Em vez disso, optou pelo clima de guerra e pelo regionalismo.

A questão é: o público da Região Norte é suficiente para um estádio do tamanho do que existe em Manaus? Se for, ele será assíduo o bastante para a arena ignorar que existem outras regiões no país?

O estádio é problema de todos, sim. Sobretudo por ter sido construído com dinheiro público. E dar satisfações do que é feito com dinheiro público é parte importante de um trabalho para diminuir o distanciamento entre gestores e consumidores.

A Arena da Amazônia, como outros empreendimentos relacionados à Copa do Mundo de 2014, é uma excelente oportunidade de negócios. Se bem conduzida, pode ser um importante polo para desenvolver a região (e não apenas o futebol da região). Mas isso depende de um plano extenso de comunicação.

Esse plano de comunicação não pode ignorar a relação com o consumidor. E não há relação com o consumidor que ignore aspectos como o serviço da inauguração e as informações sobre o futuro do aparato.

A Copa do Mundo não serve apenas para 64 jogos. Enquanto o Brasil não entender isso, o país seguirá discutindo qual região tem direito a saber sobre o estádio. E inaugurando equipamentos que não dão condições favoráveis aos consumidores.

No fim, a Copa do Mundo tem servido para escancarar o quanto o Brasil trata mal a comunicação.

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Manutenção da bola, pressão em bloco alto, transição em largura… Os conteúdos do jogo não são mais importantes do que o próprio jogo?

O futebol, para aqueles que como eu, são aficionados pelo estudo do jogo, é um ambiente muito rico para exploração de conceitos e visualização de fenômenos ligados a ele (ao jogo).

Seja pelos óculos da matemática, da física, da pedagogia, da filosofia, ou de qualquer outra área do conhecimento científico que alimente e seja alimentada pela “Teoria do Jogo”, é possível, a partir do futebol (como meio, como caminho) compreender melhor a essência do jogo.

Por outro lado, e ao mesmo tempo, a partir do jogo propriamente dito, é possível também compreender o futebol como esporte coletivo de confronto, com alvo a defender, alvo a atacar, implemento (bola) como extensão do jogador e de campo com dimensões consideráveis.

É possível jogar futebol, sob o ponto de vista tático-estratégico, de diversas formas.

É possível jogar futebol em altíssimo nível competitivo utilizando-se das mais distintas referências organizacionais.

É possível vencer jogos de futebol respeitando diferentes lógicas de ação, individuais e coletivas.

Mas, jogar futebol de forma competitiva em altíssimo nível e vencer partidas só é possível, independente de estratégias, referências organizacionais e/ou lógicas de ação, se a Lógica do Jogo (interna e inexorável) for dominada e “executada” por quem joga!

Ter obsessão pela bola ou abdicar dela, pressionar em bloco alto ou bloco baixo, transicionar em profundidade ou em largura… O domínio da Lógica do Jogo pode se expressar estrategicamente de várias formas. E ainda que ela, a Lógica do Jogo, seja essencialmente única para o futebol, os caminhos para seu cumprimento são variados.

E aí há um conceito primordial para a relação que cada um de nós estabelece com o jogo de futebol quando o observamos: só fará sentido cada uma das várias formas estratégicas para dominar o jogo, e só fará sentido a existência de vários caminhos para cumprimento da lógica do jogo, se as estratégias e os caminhos não tiverem fim em si mesmos!

Isso quer dizer, em outras palavras, por exemplo, que se uma equipe propõe, como identidade marcante e básica do seu jogar, a manutenção apoiada da posse da bola, ela (a posse) só fará sentido para o jogo em sua essência, se (e apenas se) tiver como finalidade o cumprimento da inexorável Lógica do Jogo!

Se a finalidade (o fim) for ter a bola e fazer uma grande roda de “bobinho” no jogo formal 11 contra 11, haverá crítico distanciamento entre aquilo que, no cerne o jogo requer, e aquilo que se está propondo.

O objetivo no futebol é fazer mais gols do que o adversário!

E ainda que objetivo e Lógica sejam coisas diferentes, eles estão intimamente relacionados.

Não há nada de errado em adotar o modelo “A” ou o modelo “B’ de jogo!

Mas, quando os conteúdos do jogo passam a ser mais importantes do que o jogo propriamente dito, é como se ele deixasse de ser aquilo que essencialmente é – e passasse a ser outro jogo, com outro tipo de lógica interna.

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Goleiro Bruno e o retorno aos gramados

O goleiro Bruno, ex-Atlético, Flamengo e seleção brasileira, assinou o contrato para atuar pelo Montes Claros Futebol Clube, equipe do módulo II mineiro, sediado em cidade homônima no norte do estado.

O contrato foi assinado na penitenciária onde o goleiro cumpre pena de 22 anos e três meses desde julho de 2010 pelo assassinato de Eliza Samúdio e tem o prazo de cinco anos.

Agora, os advogados de Bruno solicitarão a transferência dele para Montes Claros para, logo após, pedirem ao Juiz responsável pela execução criminal naquela comarca a possibilidade do detento trabalhar fora da penitenciária.

O embasamento legal está nos artigos 36 e 37 da Lei de Execuções Penais que permitem ao preso a saída para o trabalho. No entanto, apesar da legislação permita o trabalho externo, há de se cumprir alguns requisitos.

Segundo o artigo 36, o trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, o que não se aplica ao caso em tela.

O artigo 37, por sua vez, estabelece que a prestação de trabalho externo dependerá de autorização pela direção do estabelecimento prisional, aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena.

Considerando-se que 1/6 (um sexto) da pena do goleiro seria cerca de 4 (quatro) anos, em mais alguns meses o último requisito estaria cumprido.

Entretanto, como se trata de crime hediondo (homicídio qualificado), para haver progressão da pena seria necessário o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, ou seja, cerca de 9 (nove) anos.

Portanto, por mais que o trabalho seja importante medida de ressocialização do preso, no caso em tela há importante obstáculo legal à liberação do goleiro Bruno para exercer atividade laboral no Montes Claros.

Outrossim, como o direito não corresponde à uma ciência exata, é possível que princípios constitucionais de acesso ao trabalho e outros fundamentos socioeducativos possam oportunizar o deferimento judicial do pedido de autorização judicial para o trabalho.

Vale destacar que, por mais violento que seja o crime, a legislação brasileira e o Tratado de San Jose em que o Brasil é signatário prezam pela garantia da dignidade e dos direitos humanos aos condenados.

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Lições para uma seleção de futebol

 Na semana em que a seleção brasileira de futebol faz seu último amistoso oficial (data Fifa) antes da Copa do Mundo da Fifa 2014, coube talvez ao adversário ser o nosso grande inspirador para uma grande apresentação na Copa do Mundo.

O recém-falecido líder da África do Sul foi grande líder e demonstrava frequentemente suas lições de sabedoria e liderança a todos nós. Este legado pode servir como linha inspiradora para nossa seleção brasileira, que enfrentará diferentes adversários durante a Copa do Mundo alguns menos preparados do que nós e outros talvez melhor preparados.

Esse legado de Mandela pode ser sintetizado em lições de liderança e sabedoria, extraídas da sua autobiografia escrita por Mandela com o jornalista Richard Stengel, que se aplicam facilmente no futebol, conforme podemos ver em algumas que compartilho com o amigo leitor.

1 – Coragem não é ausência de medo

Nenhum de nós nasce corajoso, diz Mandela. Tudo está na maneira como reagimos a diferentes situações. Como sabemos, no futebol a forma como reagimos aos fatos ocorridos dentro de uma partida pode influenciar nosso lado emocional e sem o controle adequado para lidar com as adversidades emocionais corremos o risco de perder uma partida decisiva.

2 – Seja ponderado

No meio de situações turbulentas, Mandela era calmo e procurava a calma nos outros. Um homem que foi seu companheiro de prisão durante os quase 30 anos em que ele esteve preso diz que só o viu bravo duas vezes – e ambas envolviam carcereiros insultando sua mulher. No futebol sabemos que manter o controle e agir conforme o planejado são recursos fundamentais para colocar em prática tudo que foi treinado para determinada partida.

3 – Lidere na frente

"É absolutamente necessário, às vezes, o líder agir independentemente, sem consultar ninguém, e apresentar o que fez à organização", Mandela disse. O que significa também ser responsável e assumir as consequências. Sua concepção é a de que líderes devem não apenas liderar, devem ser vistos liderando.

No futebol, as lideranças dentro do campo também precisar se impor com atitudes que demonstrem uma liderança efetiva no grupo, seja para inspirá-los à ação ou para segurar os ânimos em determinados momentos de uma partida.

4 – Lidere na retaguarda

Mandela sabia que não há nada que faça outra pessoa gostar mais de você do que lhe pedir sua ajuda – quando você reconhece a opinião dos outros, aumenta a lealdade deles a você. Sabia que não podia estar sempre na frente e que seu objetivo poderia morrer, a menos que permitisse que outros liderassem.

O futebol também possui essa prerrogativa, os que lideram dentro e fora do campo precisam lançar mão da estratégia de liderar na retaguarda, seja quando o técnico deixa o seu capitão liderar na linha de frente ou seja dentro do campo, ou quando o próprio capitão deixa que outro atleta também exerça a liderança em momentos de uma partida.

5 – Veja o que há de bom nos outros

É extraordinário que um homem que foi maltratado a maior parte da sua vida possa ver tanto o que há de bom nos outros. Mandela começa com a suposição de que você está lidando com ele de boa-fé. Acredita nisso, julgando que o que há de bom nas outras pessoas melhora as chances de que revelarão o melhor de si. Os técnicos, enquanto líderes, buscam de maneira semelhante ao ensinamento de Mandela, obter ou extrair o que há de melhor em cada um de seus atletas, seja nos quesitos técnicos, como também em suas competências comportamentais.

Talvez, algumas das lições citadas aqui sirvam de reflexão para aqueles que lideram nossa seleção de futebol profissional e que estas reflexões possam ajudá-los na condução deste grupo de seres humanos durante a Copa do Mundo Fifa 2014.

Mais ainda, que tais princípios possam de alguma forma serem exaltados para que os que lideram nosso país possam refletir sobre os males que estão assolando a nação e que em nossa “Copa do Mundo” particular, contra nosso egoísmo, nossa falta de pensamento coletivo, nossa constatação de impunidade e corrupção.

Luta cada vez mais difícil porém necessária para que a nossa nação não fique apenas em busca de redenção de quatro em quatro anos, a cada Copa do Mundo de Futebol Fifa!

Até a próxima!

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Cooperação internacional

O Clube Atlético Paranaense (CAP), recentemente, anunciou o lançamento de sua fundação, a FUNCAP.

A FUNCAP tem como finalidade a promoção de atividades educacionais, sociais e culturais.

Nesse sentido, a estratégia do clube, pelo menos na primeira etapa de desenvolvimento da FUNCAP, será voltada à utilização de sua rede de “Escolas Furacão” para que tais iniciativas sejam implementadas.

O Clube Atlético Paranaense tem uma forte atuação social através das Escolas Furacão. O projeto, que tem como um dos principais objetivos a inclusão de jovens em atividades esportivas e educacionais, acontece em escolas licenciadas e espaços públicos, ambientes em que conta com a participação de professores e voluntários.

Indo além, o CAP decidiu inovar e estabeleceu parceria estratégica com a Tottenham Hotspur Foundation, fundação instituída pelo renomado clube inglês; com o British Council e com a Premier League para a realização do Programa “Premier Skills”.

O programa Premier Skills é uma parceria global entre a Premier League e o British Council e utiliza o futebol como ferramenta para engajar e desenvolver habilidades de jovens em todo o mundo. O Premier Skills combina a comprovada experiência da Premier League em projetos de futebol comunitário com a presença global e experiência no desenvolvimento e implementação de projetos culturais e educacionais do British Council.

O Premier Skills tem sido realizado com sucesso nos seguintes países: Índia, Indonésia, China, Vietnã, Malásia, Coreia, Quênia, Uganda, Botsuana, Sudão, Malaui, Egito, Tunísia,Marrocos, Senegal, Camarões, e também no Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo e, agora, Curitiba).

A Tottenham Hotspur Foundation usa esportes, em particular o futebol, como um veículo para dar oportunidades a crianças de comunidades. O trabalho é feito através de parcerias com governos, escolas, universidades e empresas. A Tottenham Hotspur Foundation existe há 5 anos e já beneficiou mais de 1.5 milhão de crianças e adolescentes através de projetos sociais que visam criar oportunidades e promover educação através do esporte.
 

 

Com o intuito de aumentar o alcance social das Escolas Furacão, o CAP, o British Council e a Tottenham Hotspur Foundation, a fundação social do clube de futebol homônimo, ofereceram treinamento no dia 18 de fevereiro, no Centro de Treinamentos do Clube Atlético Paranaense. Professores e voluntários de 12 projetos sociais das Escolas Furacão participaram do treinamento, em que três especialistas em programas comunitários da Tottenham Hotspurs Foundation falaram sobre o desenvolvimento de projetos comunitários.

Nas palavras de Ana Bessa, gerente de projetos no British Council, “o objetivo do treinamento é compartilhar melhores práticas e contribuir com ferramentas que ajudem a maximizar o impacto social do trabalho que já vem sendo desenvolvido pelos projetos sociais do Atlético Paranaense. O esporte, principalmente o futebol, facilita a comunicação com crianças e jovens e é um canal excelente para engajá-los em atividades educacionais e de cidadania”.

Para o CAP, essa parceria é muito importante, segundo o gerente das escolas, Ricardo Silva, “porque entendemos que temos uma responsabilidade com a nossa sociedade. Poder contribuir, através do esporte, com o futuro de crianças e adolescentes é o principal objetivo do clube e dos parceiros. A filosofia que implantamos em nossos projetos tem sempre o alinhamento necessário com os responsáveis pelos projetos em cada cidade. Assim, priorizamos as aulas e os processos pedagógicos, sempre visando a socialização e a formação dos valores com nossos alunos”.

A delegação também visitou o Complexo Pequeno Príncipe, maior hospital pediátrico do Brasil, para promover o estreitamento de laços com o Programa Gols pela Vida, programa de responsabilidade social voltado à visibilidade e captação de recursos em prol da saúde infantil, que conta com Pelé como padrinho.

Durante a visita, o que chamou a atenção foi saber que o orçamento anual da Tottenham Hotspur Foundation é de £ 5.6 milhões.

E que, até pouco tempo atrás, as ações de responsabilidade social que o clube promovia junto à comunidade, contando com a participação dos seus jogadores e comissão técnica, era algo ligado ao marketing do clube e, hoje, passou a fazer parte integrante da relação contratual como compromisso profissional bilateral.

Na prática, isso se traduz no engajamento dos profissionais em atividades que os sensibilizem sob diversas alternativas (saúde, educação, inclusão social, esporte) e superem a mera “obrigação profissional” para alcançar o contexto de “give back” (devolver à sociedade aquilo que ela ajudou a construir).

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Isso é hora para crise?

O Brasil vai receber a Copa do Mundo de futebol e os Jogos Olímpicos, dois dos principais eventos esportivos do planeta. Ainda assim, o esporte brasileiro está em crise. Entender isso é fundamental para qualquer profissional que trabalha com comunicação.

Candidato único ao posto de sede da Copa do Mundo de futebol de 2014, o Brasil foi aclamado em 2007. A definição do Rio de Janeiro como palco dos Jogos Olímpicos aconteceu dois anos depois, em outubro de 2009. O esporte brasileiro está prestes a entrar no período mais importante de sua história. No entanto, pululam exemplos, em diferentes modalidades e em diferentes formatos, para mostrar que não há bonança alguma. Entender e discutir os porquês disso são processos fundamentais para todo profissional de comunicação.

No futebol, por exemplo: as obras para a Copa do Mundo estão atrasadíssimas, mas esse é apenas um dos aspectos negativos. A preparação do Brasil para receber o evento também tem sido marcada por enormes percalços na comunicação.

Isso começa com as secretarias locais que administram os projetos da Copa do Mundo. Um exemplo disso aconteceu na última semana, em Cuiabá, onde a regional da Ordem dos Advogados do Brasil precisou acionar a Justiça para ter acesso a dados sobre o cronograma das obras na cidade.

Nas obras relacionadas à estrutura esportiva, como os estádios, ainda há uma cobrança. E as iniciativas nas cidades? E o tal legado da Copa do Mundo? O que efetivamente estará pronto para o evento e o que será feito depois? Há estimativas consistentes e estimativas pouco consistentes sobre o que ficará no Brasil depois, mas não há nenhum plano abrangente com prazos e objetivos.

O planejamento do Brasil para a Copa do Mundo de 2014 falha ao não criar um plano abrangente e unificado de comunicação. E erra ainda mais ao não transmitir correta e detalhadamente as informações para o público. Transparência é item imprescindível em um evento dessa proporção.

O Brasil da Copa do Mundo, contudo, não é o único que está em crise. Basta ver os Estaduais inchados, desinteressantes, com jogos como Legião x Atlético Ceilandense, válido pelo Campeonato Brasiliense, que teve apenas nove pagantes. Não há nada que justifique um jogo com nove pagantes.

Melhor: um jogo com nove pagantes tem muitas justificativas implícitas. A começar por uma demonstração clara da falta de cultura de promoção que impera no esporte brasileiro. Quantas pessoas em Brasília e nas regiões próximas efetivamente sabiam quando seria o jogo e foram incitadas a comprar um ingresso?

No Brasil, falar em promoção costuma ser quase um sinônimo de falar em publicidade. Só nos últimos dias, houve protestos na equipe brasileira de taekwondo e em times como natação, vôlei e ginástica artística de São Caetano.

Maurren Maggi, campeã olímpica do salto em distância em Pequim-2008, criou um site para angariar fundos para pagar treinos e competições. Outros atletas, como o mesatenista Gustavo Tsuboi, apostaram em um mecanismo similar, mas coletivo.

No mesmo período, a Vivo encerrou um patrocínio ao basquete de Franca e o vôlei brasileiro se viu envolvido em denúncias que afastaram até o secretário-geral da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), Marcos Pina, que será investigado.

São muitas notícias ruins em um intervalo bem pequeno. Está claro que não é apenas coincidência. O esporte brasileiro vive, infelizmente, um período de crise.

A crise tem relação com uma grande lista de fatores, como o desaquecimento da economia interna e os problemas da economia externa. Também pesam aspectos como a falta de cultura de investimento em esporte.

Contudo, momentos assim também são excelentes oportunidades para reflexões. Será que o esporte brasileiro tem uma percepção clara de como funcionar como negócio? E nesse modelo, será que a comunicação tem o tratamento adequado?

Aí entra uma crítica que não é apenas a dirigentes, mas a todo o mundo do esporte. Por exemplo: o que Maurren Maggi oferece para aumentar o poder de barganha e se aproximar de patrocinadores? Que tipo de venda ela faz e quais propriedades ela inclui? Qual retorno ela oferece?

Responder a todas essas questões é fundamental para qualquer negociação. É fundamental também para entender quais são os responsáveis pelo atual momento do esporte brasileiro.

O problema é: quem faz esse tipo de pergunta? E quando esse tipo de pergunta é feita, que tipo de informação ela gera? Há pesquisas, dados ou projetos sobre novos caminhos para o esporte brasileiro? Se houver, há algo que esteja sendo colocado em prática com detalhamento e comunicação?

O esporte brasileiro nunca teve tanto dinheiro. Confederações com trabalhos minimamente estruturados, como rúgbi e handebol, mostram que é possível crescer até quando existem problemas.

A grande questão é que a proporção desses problemas depende muito de quem conta a história. E enquanto não houver um jeito certo de contar, as diferentes versões só vão ampliar a sensação de crise.

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Os estudos sobre a Periodização Tática: conhecê-la antes de criticá-la

As reflexões sobre as metodologias de treinamento têm se tornado cada vez mais frequentes nos diferentes ambientes que se discute futebol.

Na ânsia pelo microciclo ideal, ex-jogadores, acadêmicos, treinadores, adjuntos e fisiologistas buscam, em maior ou menor grau, as melhores ferramentas para os auxiliarem no dia-a-dia de treinamento.

É inegável que uma das ferramentas que nós, brasileiros, temos à disposição é o rico material teórico correspondente à Periodização Tática.

Seja pela facilidade do idioma ou pela fundamentação teórica a partir de áreas do conhecimento cada vez mais presentes no futebol o fato é que opinar sobre o material desenvolvido pelo português Vítor Frade é pré-requisito para quem pretende trabalhar qualificadamente com a modalidade.

Muitas vezes os profissionais da área técnica do futebol ficam incomodados, insatisfeitos e até irritados com análises superficiais e/ou errôneas que surgem de diferentes segmentos que se relacionam com o jogo. Um diretor que se posiciona de maneira equivocada, um comentarista que não acompanhou as evoluções do futebol e se posiciona de forma ultrapassada ou um jornalista que não formula perguntas coerentes são duramente criticados pelos gestores de campo que não admitem tamanho despreparo profissional.

Com a divulgação gradativa da PT no Brasil, tem se tornado comum críticas severas a este modelo de periodização. O momento é pertinente para fazermos a seguinte reflexão: Estaremos nós, gestores de campo, emitindo opiniões tão superficiais e/ou errôneas sobre a Periodização Tática quanto aquelas que duramente nos opomos?

Antes de nos posicionarmos, seja para criticá-la, apoiá-la ou quaisquer que seja a manifestação, precisamos dedicar um tempo de estudo em alguns dos inúmeros materiais que existem sobre o tema. Livros, apresentações e monografias abordam com muita qualidade todos os pressupostos metodológicos que a compreendem.

Na sequencia, serão feitos alguns apontamentos com o intuito de levá-los a uma reflexão sobre qual é o seu domínio atual sobre a PT.

Para os que têm pouca experiência com o tema, não se assustem com as terminologias. Com boas discussões, estudos e aplicações elas podem ser muito bem compreendidas.

•A periodização tática é desenvolvida a partir de três princípios metodológicos. São eles: Princípio das Propensões, Princípio da Progressão Complexa e Princípio da Alternância Horizontal em Especificidade;

•Preocupa-se em por em prática as ideias de jogo do treinador;

•Para colocá-las em prática, há de se respeitar: cultura do país, cultura e história do clube, estruturas e objetivos do clube, estruturas/sistemas de jogo, características e níveis dos jogadores, além de outros fatores que podem exercer qualquer tipo de influência;

•A inter-relação destes elementos irá compor o Modelo de Jogo;

•Para Vitor Frade, o Modelo de Jogo é, previamente, uma intenção que devemos tentar concretizá-la em ação;

•O princípio das propensões relaciona-se com o direcionamento e características/objetivos principais do treino (para deixá-lo propenso à…);

•O princípio da progressão complexa está relacionado com o crescimento gradativo da forma de jogar (e treinar);

•O princípio da alternância horizontal em especificidade preconiza um padrão semanal de treino, alternando o conceito de microciclo para morfociclo;

•Estes pressupostos garantem a manifestação de um supra-princípio: a Especificidade;
•Para cada dia do morfociclo, existem as dinâmicas de esforço e elementos do jogar que caracterizam a sessão de treino;

•Ainda sobre o morfociclo, existem dias da semana que tem caráter predominantemente aquisitivo (em diferentes regimes de contração muscular) e dias de caráter recuperativo;

•Na aplicação do morfociclo a equipe deve evoluir nos diferentes princípios de jogo que compõem o Modelo de Jogo;

•Recuperação imediata da posse de bola após a perda, circulação da posse de bola e compactação são alguns exemplos de princípios de jogo;

•Além dos grandes princípios de jogo, existem também os sub-princípios e os sub-sub-princípios de jogo com dias específicos do morfociclo para serem estimulados;

•Quanto menor o princípio de jogo, menor a porção do Jogar que será representada;

•Menores porções do jogar compreendem exercícios com menos jogadores, em espaços menores, por menos tempo, entre outras variações que os distinguem do jogo formal;

•O jogar é técnico, físico, psicológico e tático. Este último refere-se à supra-dimensão que denomina a periodização;

Não espere na Periodização Tática nenhuma receita pronta para a aplicação em sua equipe. No entanto, tenha certeza que encontrará uma rica fonte para sua capacitação. Para concluir, e para lembrá-los do início do texto com o objetivo de dar sequência a discussão, aguardo a sua valiosa opinião.

PS: o material escrito teve como referência o livro Periodização Tática vs Periodização Tática, de Xavier Tamarit.