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A venda do artista continua sendo a solução

Mesmo com a tão propalada evolução do mercado do futebol no Brasil, em que os clubes vem conseguindo, paulatinamente, aumentar suas receitas, apesar do igual aumento de seu endividamento, tem-se como solução final para salvar as contas a comercialização do artista, que é, na prática, aquele que tem a capacidade de gerar ainda mais recursos quando pensamos em um ciclo virtuoso de gestão.

Esse é o indicador tangível de que continuamos “colocando a carroça na frente dos bois”. A necessidade de tomar decisões pelo imediatismo ou para resolver problemas pontuais é o sinal claro de que o planejamento de controle do endividamento e de processos para o trabalho a ser realizado ao longo de uma temporada ainda é pouco eficiente.

As saídas recentes de Paulo André (este, talvez, por razões um pouco mais complexas e ligadas a política do futebol brasileiro) e de Hernane (um dos principais jogadores do Flamengo no último Brasileirão e então candidato a vaga no ataque da seleção brasileira) para a China, apenas para ficar em exemplos deste mês, mostram que o cuidado em preservar ídolos passa à margem de um debate mais estratégico.

Talvez a impressão de quem está olhando de fora, com base apenas no noticiário esportivo, seja um tanto quanto vaga. Mas, pelas atitudes e pela forma, tudo indica que ainda procuramos o caminho mais fácil e rápido para gerar os recursos.

O trabalho de base, os projetos de marketing e o desenvolvimento de um plano consistente e coerente, de acordo com as características de cada clube, ainda parece, em muitos casos, um pouco distante da nossa realidade.

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Brasileiro Sócrates

 Fala, Magrão.

Aqui na terra estão jogando futebol. Tem muito pagode, funk ostentação, ostentação e pouco rock and roll. Tem um rol de coisas para lavar. Alguns para levar. Mas até o Chico Buarque não rima mais como antigamente. Caetano canta pouco e fala muito – se a ex-mulher deixar. Tem ação penal de tudo quanto é partido, ops, sigla. Dá pena. Mensalão petralha. Mensalão privateiro. Tem uns termos da turma de lá e de cá de dar medo na medula. Virou Fla-Flu a política. Mas Fla de Peralta. Mas Flu de Itaberá. Sheherazade das 1001 noites retrógradas, Reinaldo dos 1001 posts azedumes, Zé dos 10001 tuítes partidários. Radicais livres demais. Tudo pessoal, piçol, pizzolatos, lobões e carneirinhos patrulheiros do pensamento alheio. Tem para tudo – sem desconto e com dízimo. Dizimando o debate na base do @ mas faz. Disputa para saber quem mensalou menos. Gre-Nal para definir o que é a Venezuela: uma Paris administrada por suecos ou um Haiti governado por Cabul.

Sei que você me explicaria melhor. Ainda que eu não concordasse, ou mesmo entendesse, você daria uns três exemplos, tomaria uns 13 gorós, e estaria tudo melhor. Ao menos na sua visão utópica. Típica. Prática. Ideológica. Visão clínica. Filosófica. Socrática. Democrata.

Fidelíssimo a Fidel. Impregnado de um saudosismo muitas vezes saudável, outras vezes pueril. Quantas vezes discutível ao extremo que tolerava extremismos. Mas sempre tão passional quanto Racional. Tão defensável quanto detestável. Tudo ao mesmo tempo agora.

Justo agora que você precisava estar por aqui. Condenando o condenável ao limite do intragável. Elogiando o elogiável além do limite do Bom Senso F.C. que sempre você teve. Com a coragem que você transbordou, pintou, bordou, bebeu, amou.

O seu braço erguido de luta por aqui foi desvirtuado. Por quem foi preso, pelos que mandam prender e arrebentar. O seu brado retumbante precisava gritar contra os maracanazos anunciados. As arenazas que super fraturam os orçamentos. Os puxadazos dos aeroapertos. Os atrasazos na imobilidade urbana. Os buzinazos nas manifestações pacíficas. Os badernazos dos encapuzados sem vergonha.

Você era umas vozes para pontuar a Copa das Copas, para capar os capos dos capos de suas tribunas ditas de honra. Nos seus arroubos, doutor, você colocaria a língua nas feridas dos que roubam, suturaria os insuportáveis dedos e digitais de pessoas jurídicas de tão fictícias, de pessoas físicas de tão químicas. Nos seus delírios deliciosos você veria coisas que não existem. Mas enxergaria o que está à nossa frente e não temos coragem para ver. E viver.

Há 60 anos você é um artista, como bem definiu o Cachaça, claro, seu amigo. Artista por ser craque que só jogava de costas. Artista por ser médico que nem uma galinha operou. Artista por ser cantor que… bem, não preciso falar, muito menos ouvir.

Artista por ter vivido a vida além da conta. E ter deixado tanta vida para contar. Tanta conta para pagar. E ainda assim ser a voz que nos falta. A voz que precisava falar para colocar as coisas no lugar. Como aquela bola que você jogou no ângulo dos soviéticos – justo você, camarada! Como aquele gol em que você deixou de bumbum no gramado o Zoff do império italiano. Como tantas coisas que a gente viu e não acreditava. Como tantas coisas que você acreditava no Brasil e ainda não vimos.

Vê aí em cima, Magrão, se ainda dá para a gente ver uma Copa do Brasil mais que do mundo. Vê aí de cima se dá para pendurar essa conta também. Estamos precisando.

 

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet

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Uma invasão, diferentes versões

Afinal, o que aconteceu com Paolo Guerrero no dia 1º de fevereiro deste ano? O centroavante do Corinthians foi esganado por torcedores que invadiram o centro de treinamento do clube, apenas conversou com o grupo ou chegou a tentar intimidar o grupo? A versão sobre esse episódio mudou várias vezes desde o incidente. Entre os erros de gestão cometidos por todas as partes no caso, talvez o principal tenha sido a comunicação.

Recapitulando: no dia 1º de fevereiro, um sábado, um grupo de torcedores do Corinthians invadiu o centro de treinamento do clube para protestar por causa de maus resultados da equipe alvinegra no Campeonato Paulista.

Quando os torcedores invadiram, a maioria do elenco ainda estava nos vestiários – apenas os goleiros trabalhavam no campo. Segundo relatos de funcionários do Corinthians, houve uma correria generalizada. Atletas ficaram trancados por horas em uma sala, sem acesso a comida ou bebida. Guerrero, que estava no corredor e foi o último a entrar no local, foi interpelado diretamente pelo grupo.

O presidente do Corinthians, Mario Gobbi, disse que “Guerrero foi esganado por torcedores”. O clube incluiu essa agressão no relato feito ao Ministério Público e ao Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), órgão ligado à Polícia Civil. No último domingo, o peruano negou que isso tenha acontecido e relatou apenas uma conversa com o grupo de adeptos. Romarinho, companheiro dele no ataque alvinegro, foi questionado sobre as duas versões. Saiu-se com uma terceira, sobre Guerrero ter levantado o tom de voz para os torcedores.

Além disso, há relatos de que três celulares teriam sido roubados no dia da invasão. Um deles, o rádio do meio-campista peruano Luis Ramírez, com uma agenda repleta de contatos do departamento de futebol da equipe paulista. Isso teria desencadeado uma série de ameaças a jogadores e até a parentes deles. O Corinthians nega.

O problema de comunicação do Corinthians no episódio, na verdade, começou no dia da invasão. A polícia foi chamada, mas os funcionários do clube não descreveram todo o cenário. Por causa disso, nenhum torcedor foi preso em flagrante.

Depois, começaram a circular diferentes versões sobre o caso. As incoerências pululam em falas de jogadores, dirigentes, funcionários e torcedores. Sobretudo porque apenas duas das 22 câmeras de segurança do CT estavam funcionando normalmente no momento da invasão – e elas só mostram imagens do grupo de adeptos entrando no local.

No dia posterior à invasão, o técnico do Corinthians, Mano Menezes, foi questionado sobre o que havia acontecido. Respondeu apenas que as imagens eram claras e que dariam uma noção exata do episódio.

Jogadores e funcionários do Corinthians têm repetido que a invasão foi muito pior do que se sabe e que podia ter tido um desfecho trágico. Torcedores, por outro lado, dizem que o incidente foi muito mais leve do que se tem notícia.

Em situações assim, o primeiro passo para um clube é obrigatoriamente a criação de um plano de gerenciamento de crise. E qualquer gerenciamento de crise depende de um controle sobre as informações.

O Corinthians precisava ter reunido uma equipe ainda no CT, no dia da invasão, para decidir o que seria comunicado a cada esfera. O time devia ter montado planos específicos para mídias, polícia e para a própria cúpula.

Esse plano devia ter sido feito de forma estratégica. Por exemplo: era relevante a imprensa saber tudo que aconteceu ali? E qual era a melhor abordagem para relatar o caso aos dirigentes do clube?

A partir de um plano do que seria dito, o Corinthians devia ter adotado uma preocupação gigantesca com o que não podia ser dito. A blindagem é um tópico nevrálgico em qualquer estratégia para gerenciar crises.

Por último, o Corinthians devia ter pensado em que tipo de efeito o clube imaginava que a invasão precisava ter para as relações institucionais. Ao dizer que torcedores esganaram o centroavante titular da equipe, por exemplo, Gobbi criou (mais) animosidade entre o time se os torcedores.

A invasão de um local de trabalho é um ato condenável, e isso precisa estar claro. A partir disso, é precipitado fazer qualquer análise sobre o que aconteceu no dia 1º de fevereiro. A ausência de provas e a total inexistência de um plano de gerenciamento de crises impedem isso.

O tamanho do estrago que esses problemas causam é mais do que claro. Ao entregar uma versão cheia de furos e com pouca sustentação às autoridades, o Corinthians não conseguirá nenhuma punição severa aos invasores. O clube ainda não conseguiu sequer determinar se isso seria necessário, aliás.

Discutimos constantemente por aqui o quanto a gestão do futebol brasileiro precisa evoluir e o quanto a comunicação faz parte desse diapasão. O episódio do dia 1º de fevereiro é uma demonstração perfeita disso.

Sem uma estratégia clara, o Corinthians não consegue nem precisar o que acontecerá com o clube a partir da invasão. A relação com torcedores será abalada? Os jogadores ficaram com medo de defender a equipe? Alguém facilitou a invasão? Um dos adeptos disse à polícia que entrou pela porta da frente.

Os torcedores do Corinthians cometeram um erro gigantesco ao invadir o CT do clube. As maiores falhas da história, contudo, foram da própria equipe. O ponto agora é tentar descobrir por quê.

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Futebol, o talento e a equipe: o todo maior do que a soma das partes ou as partes potencializadas pelo todo?

A última coluna que publiquei aqui, recebeu um bom número de comentários (https://universidadedofutebol.com.br/Coluna/12419/Marcacao-no-futebol-a-gestao-do-espaco-defensivo-na-relacao-%E2%80%9Ceu-adversario%E2%80%9D). Por isso, nas próximas semanas, vou escrever um ou mais textos, seguindo as sugestões e respondendo as dúvidas encaminhadas pelos leitores, que por email ou facebook enviaram suas mensagens.

Na coluna de hoje, o que pretendo, é debater um pouco, algumas ideias que envolvem um outro tema – também mencionado no último texto.

Tentarei então explorar um pouco o conceito de inteligência de jogo dentro da ideia de um “pensamento sistêmico”.

Já está bem estabelecido na literatura científica e é consenso em boa parte do ambiente futebolístico, que na formação de uma equipe de futebol, organizada para jogar em alto desempenho, o treinador deve conseguir fazer com que a “performance” coletiva do time seja superior a “simples soma” dos talentos individuais que o compõe.

Em outras palavras, e parafraseando/adaptando Edgar Morin, o “todo” (o todo é a unidade complexa = equipe) deve ser maior do que a soma de suas “partes constituintes”.

Pois bem.

Por menos pretenciosa que essa ideia (da relação entre o “todo” e as “partes”) possa parecer, ela tem contribuído, Brasil à fora, para a reformulação do pensamento a respeito do olhar sobre o jogo, e assim também, sobre a preparação do futebolista para o jogar.

E ainda que os benefícios dessa reformulação fiquem mais claros apenas no médio prazo, é fato que hoje, a discussão sobre o futebol como fenômeno complexo está bem mais adiantada do que dez anos atrás.

Não há dúvidas porém, que o fato de estar mais adiantada não exclui a realidade de que há ainda muito para evoluir. Estamos no início do caminho (uma pena). Mas ao menos a caminhada foi iniciada, e quem sabe, em breve, não se transforme em uma corrida.

Mas quero chamar a atenção para algo que, por vezes, em nome de uma visão pseudosistêmica acaba por “cartesianar” (licença poética: tornar cartesiano) a unidade complexa (o todo, a equipe), tornando-a exclusivamente mais importante do que suas partes constituintes (os jogadores).

Ora, pensar na constituição de um “todo” que seja maior do que as “partes” que o compõe, não exclui a ideia de potencializar a ação e a interferência dessas partes sobre ele (o todo).

Em outras palavras, isso quer dizer, que é necessário que as potencialidades das partes, devam ser desenvolvidas ao máximo dentro das relações que elas estabelecem com as outras partes (os outros jogadores) e com a equipe.

Então ao invés de uma ideia geral de que a força do “todo”, superior à soma das “partes”, deva se estabelecer em detrimento das potencialidades dos indivíduos (das partes propriamente ditas), poderíamos pensar em algo como a maximização do indivíduo e do “todo” (a equipe) ao mesmo tempo!

Por isso, se a operacionalização das ações organizadas de uma equipe são a expressão de uma inteligência coletiva de jogo, e na solução dos problemas emergentes durante as partidas, essa inteligência é fruto das interações entre os jogadores que compõe essa equipe, é evidente que o “todo” é resultado final da composição dessa inteligência e dessas interações.

Ao mesmo tempo, se as ações coletivas se manifestam guiadas por referências que dão identidade ao todo coletivo, são e serão sempre resultado de leituras individuais que os jogadores fazem circunstancialmente ao longo do jogo.

E essas leituras individuais, por mais que sigam orientações coletivas, jamais perderão a particularidade e subjetividade, e deixarão de representar as habilidades e capacidades ímpares ao indivíduo/jogador.

Portanto não é a ideia de que o “todo” (equipe) precisa ser maior do que a soma de suas “partes” constituintes (jogadores), que deveria servir de referência para nossos olhares sobre o jogo, ou sobre a operacionalização dos treinos que vamos propor.

A ideia que deveria nos referenciar é a de que a unidade complexa (a equipe/o todo) deve maximizar as potencialidades das partes e ser ao máximo, maior do que a soma simples de cada uma delas.

Parece simples? Trivial? Ou polêmico?

Façamos uma reflexão a respeito disso… E vejamos se mesmo quando colocamos à frente premissas que envolvem o pensamento sistêmico, por vezes não acabamos por nos afastar dele…

Por hoje, é isso…

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A sobrevivência dos treinadores do futebol paulista em 2014

Duas semanas antes do início do Paulistão, da Série A2 e da série A3 fiz uma busca dos treinadores que estariam à frente de cada uma das 60 equipes que disputam as três competições. A pesquisa foi facilitada pela publicação previamente divulgada pelo site Futebol Interior e os resultados podem ser observados logo abaixo:


Semanas depois, com nove rodadas concluídas do Paulistão, oito da Série A2 e seis da Série A3, a classificação atual das equipes (com uma simulação de um grupo único na série A1) é a seguinte:

Das 60 equipes, 22 já mudaram de treinador. Algumas das mudanças aconteceram dias antes da estreia. Na sequência, destacadas em vermelho, as equipes que já trocaram de comando e o respectivo treinador atual:

Já foi divulgado neste portal, pelo ex-colunista Cavinato, que a troca de comando durante a competição, estatisticamente, não está relacionada com a melhoria de performance da equipe. Como isto já é sabido, o objetivo da coluna é propor outras reflexões aos treinadores de futebol.

Como você se vê neste cenário? Das 60 equipes, 36,6% passaram por mudanças no comando em cerca de 50 dias de trabalho.

Você está preparado para trabalhar num mercado em que a instabilidade e a pressão são constantes?

Você está disposto a trabalhar num ambiente e a tentar transformá-lo para o crescimento da modalidade ou você é favorável ao contexto atual?

Esta semana, Ricardo Drubscky, ex-técnico do Criciúma, deu um excelente exemplo sobre como podemos nos posicionar em relação a uma atitude empírica, muitas vezes mal planejada e que contribui para o atraso do nosso futebol.

Porém, se um dia almejamos a mudança deste cenário, é necessário que compreendamos a realidade e que nos adaptemos para nos mantermos no mercado.

Pois, como disse um grande treinador de futebol, só poderemos mudar o cenário se estivermos inseridos nele. Para isso, hoje e sempre, precisaremos de vitórias. Contamos com você!
 

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Endividamento dos clubes de futebol: o fantasma a ser combatido

Entra ano e sai ano os noticiários esportivos são invadidos com estudos e pareceres apontando o ranking das dívidas dos clubes. Além disso, invariavelmente, clubes tem rendas ou outros créditos bloqueados pela Justiça.

As razões deste descontrole financeiro são muitas, desde administrações amadoras, passando pelos riscos de qualquer negócio e desembocando no excesso de tributos no Brasil.

Independente do passado dos clubes, é imprescindível olhar para a frente criando gestões profissionais que relacionem tecnicamente questões financeiras e busca por resultado desportivo.

Na década de 90, Espanha e Portugal, por meio de lei, criaram as SADs (Sociedades Anônimas Desportivas) de forma que o passivo anterior fosse reestruturado e os clubes recomeçassem do zero.

A ideia seria “apagar” os erros do período pré profissional e permitir que os clubes fossem geridos como verdadeiras empresas sujeitas, inclusive à falência ou à proibição de disputar competições em virtude das dívidas.

Entretanto, cerca de vinte anos depois, muitos dos clubes voltaram a atrasar salários e se endividar e as entidades esportivas e Governo voltaram a debater soluções.

Tratar os clubes de futebol como meras empresas em um país como o Brasil, que respira futebol, não seria adequado, eis que envolve muita paixão.

Imagine as repercussões da falência de equipes como Flamengo, Corinthians, São Paulo, Atlético Mineiro, Palmeiras ou Vasco da Gama.

Dessa forma, Poder Público, clubes e CBF devem estabelecer um programa de recuperação financeira dos clubes priorizando os débitos trabalhistas e a pontualidade dos pagamentos futuros condicionando-se a participação nas competições ao adimplemento das obrigações.

Não há mais espaço para amadorismo no futebol e da forma que as dívidas caminham a insustentabilidade está próxima, o que pode trazer prejuízos inimagináveis, eis que o esporte é a força motriz para a geração de milhares de empregos diretos e indiretos, fora a sua função social e recreativa.

A tarefa de combater o “fantasma do endividamento” não é fácil, tanto é que Espanha e Portugal não tiveram o sucesso almejado.

Diante de tudo, medidas devem ser tomadas com celeridade antes que seja tarde.

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Racismo no futebol, discriminação racial ou social?

Nesta semana, minha coluna não falará sobre coaching, gestão ou desenvolvimento humano especificamente. Um dia quando Martin Luter King Jr discursou em Washington, disse a celebre frase “Eu tenho um sonho”, que acabou tornando-se um marco na luta contra o racismo no mundo.

Infelizmente, apesar da distância do ano de 1963, ano do citado discurso acima, presenciamos diversas manifestações de racismo no mundo, tanto no ano passado como recentemente ocorrido com o atleta profissional Tinga.

É vergonhoso nos depararmos com seres humanos que ainda demonstram tal atitude preconceituosa e desrespeitosa para com outro ser humano apenas pela cor de sua pele.

Mas amigo leitor, quero aproveitar o momento deste fato triste para falar de Brasil e do futebol, me permitindo ir um pouco mais além da questão racial.

Somos um país de culturas e raças misturadas, numa fórmula mágica que por sua essência nos daria uma base humana diferenciada para melhor, pois não somos humanos formados exclusivamente pela genética indígena, ou asiática, ou africana, ou americana, ou europeia, somos formados por todas elas juntas e muito bem entrelaçadas. Então, com estes episódios de racismo uma questão vem à minha mente: em nosso país e no esporte mais popular que temos há uma ponta de discriminação racial ou na verdade sofremos uma grande discriminação social?

Penso que esta questão no mínimo nos traz uma reflexão, como o futebol e as demais modalidades esportivas praticadas no Brasil poderiam ser uma forma de proporcionar mais igualdade social aos que aqui nascem e vivem?

Se não possuímos políticas públicas adequadas para o desenvolvimento social do nosso país, desenvolvimento verdadeiro eu digo aquele que se sustenta a longo prazo, talvez caiba ao esporte tentar algo mais em benefício dos socialmente excluídos.

No meu ponto de vista, o esporte como política de inclusão social, promoção da saúde e qualidade de vida deveria ser alvo de mais fomento e seriedade no seu trato. Não podemos pensar apenas em desenvolver atletas para Copas do Mundo e Olimpíadas, mas sim para desenvolver pessoas de bem na sociedade, igualmente capazes de tornarem-se produtivas economicamente e ativas socialmente, tornando-se partes de uma engrenagem na qual pudéssemos contribuir para que o Brasil fosse uma nação de respeito humano, livre de corrupção e impunidade.

Então, amigo leitor, e que também acredito ser apaixonado pelo futebol e o esporte de maneira geral, eu digo: Eu também tenho um sonho! O sonho de ver o esporte no Brasil como alavanca para o surgimento de uma nova nação, consciente e socialmente respeitosa pelo direito alheio e pela igualdade de direitos, independente de nossa cor, raça ou credo.

E você, também gostaria de sonhar?

Até a próxima e #FechadoComOTinga.

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Com atraso

 Há duas certezas em qualquer projeto de construção civil: 1 – o cronograma vai ser alterado; 2 – o responsável pelas obras vai ter dor de cabeça com isso. A preparação do Brasil para a Copa do Mundo de 2014, contudo, tem levado a outro nível a ideia de prazos estourados e falta de compromisso. O roteiro não chega a ser totalmente inesperado, mas reflete uma série de problemas que estão no cerne da realização do evento no país.

A abertura da Copa do Mundo de 2014 está marcada para o dia 12 de junho. Além de a maioria das obras das sedes ter sido alterada, postergada ou cancelada, apenas sete estádios foram inaugurados até o momento. Cuiabá, Curitiba, Manaus, Porto Alegre e São Paulo ainda têm arenas em obras.

Nessa lista, o caso mais complicado é o de Curitiba. A cidade escolheu como sede de jogos a Arena da Baixada, casa do Atlético-PR, mas ainda não conseguiu dar segurança à Fifa de que a obra ficará pronta a tempo. A entidade marcou uma entrevista coletiva para esta terça-feira para falar sobre o futuro do local na Copa do Mundo de 2014.

A reforma da Arena da Baixada tinha uma previsão inicial de custar R$ 185 milhões. O valor já ultrapassou R$ 330 milhões, e o Atlético-PR ainda precisa de R$ 65 milhões para fechar essa conta.

Também existe uma questão de prazo: o número de funcionários na obra será elevado de 1.250 para 1.500, mas apenas 35% dos 43 mil assentos haviam sido instalados até segunda-feira. A Fifa trabalha com o dia 26 de março como prazo final para o primeiro evento teste do estádio.

Os atrasos nas obras da Copa do Mundo interessam a muita gente. No caso de Curitiba, por exemplo, há um componente de pressão: com atrasos e ameaça de ficar fora da Copa do Mundo, a cidade conseguiu acelerar a obtenção de verba no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A negociação com o BNDES foi costurada pela senadora Gleisi Hoffman (PT-PR), que deixou o cargo de ministra-chefe da Casa Civil e será candidata ao governo do Paraná – oposição, portanto, ao atual mandatário do Estado, Beto Richa (PSDB).

As mudanças no cronograma têm fundo político, é claro. E também possuem relação direta com um jogo de poder nos bastidores – a pressão sobre o BNDES, por exemplo. Mas a questão do atraso, no caso do Brasil, é um problema muito mais denso.

O Brasil já havia sofrido com atrasos na preparação para a Copa do Mundo de 1950. Quando o sorteio dos grupos foi realizado, no dia 22 de maio do ano do evento, a lista de sedes ainda não havia sido fechada.

Recife foi escolhida a apenas 60 dias da abertura da Copa do Mundo de 1950, que aconteceu no dia 24 de junho. E o Governo de Minas Gerais chegou a anunciar no dia 6 do mesmo mês a exclusão de Belo Horizonte, posteriormente recolocada no programa.

As duas histórias têm mais do que 64 anos entre elas. O custo da Copa do Mundo de 1950 ficou na casa dos R$ 500 milhões. Para 2014, o Brasil já gastou mais de R$ 8 bilhões apenas com estádios. Naquela época, o caderno de encargos não tinha as 420 páginas do atual. O “padrão Fifa” era outro, muito mais ameno.

No entanto, os dois casos revelam um traço preocupante: ambos escancaram a dificuldade de planejamento dos brasileiros. É praticamente um traço cultural.

O Brasil ficou sabendo em 1946 que seria sede da Copa do Mundo de 1949, posteriormente adiada para 1950. Para 2014, o país foi candidato único. A ratificação do local aconteceu em 2007.

Com três, quatro ou sete anos de frente, o Brasil mostrou os mesmos problemas de gestão e de cronograma. Ainda que as razões sejam diferentes, o país desperdiçou as duas chances de se preparar adequadamente para um grande evento.

Mais do que isso: em 1950 e em 2014, o Brasil mostrou que não tinha um projeto para a Copa do Mundo; a Copa do Mundo era o projeto.

Afinal, dizer que a Copa do Mundo será um importante motor para o turismo é falacioso. O evento atrai estrangeiros, é verdade, mas não causa mudanças contundentes no fluxo de pessoas que visitam os países-sede.

Também é raso atrelar a Copa do Mundo ao desenvolvimento do país. O Brasil viveu nos últimos anos um excelente momento econômico, associado diretamente ao crescimento do poder de consumo da população, e nem assim conseguiu entregar obras fundamentais para planejar a evolução do país em médio e longo prazo.

O Brasil tampouco atrelou a Copa do Mundo a um plano de comunicação. A Alemanha usou o evento de 2006 para mostrar ao mundo o quanto havia evoluído em receptividade e como havia se tornado uma nação amigável para os turistas. E o torneio de 2014, vai servir exatamente para quê?

Até a disposição das sedes passa por isso. A Copa do Mundo começou a ser espalhada pelo país em 1994, quando os Estados Unidos entenderam que essa era uma forma de fazer com que os turistas do evento passeassem por diferentes regiões e conhecessem diferentes culturas.

O Brasil definiu as cidades que receberão jogos por razões exclusivamente políticas. Ainda que os locais sejam vinculados a alguns dos principais pontos turísticos do país, não há um plano consistente para levar o público a eles. O cara que passar um dia em Cuiabá para ver uma partida, por exemplo, não terá nenhum esquema especial para ser conduzido ao Pantanal.

O cerne dos atrasos da Copa do Mundo é esse, afinal: o Brasil não sabe por que está produzindo o evento. Enquanto a competição for apenas fim, as obras estarão sempre suscetíveis a pressões políticas e atrasos motivados até por razões pequenas.

Um dos grandes defeitos do Brasil na Copa de 2014 é a comunicação. O país simplesmente não colocou o evento em um plano maior.

Algumas grandes empresas têm departamentos de integração. São áreas dedicadas à comunicação interna, voltadas a fazer com que os funcionários entendam as políticas da companhia e saibam o porquê de cada decisão tomada pela marca.

No caso do Brasil-2014, faltou comunicação interna. Faltou disseminar objetivos e metas. E nesse caso, o atraso não é mais remediável.

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Com licença

Historicamente, o Brasil se acostumou a favorecer a cultura do privilégio.

Desde o Brasil Colônia, passando pelo Brasil Império, quem era “amigo do Rei” podia tudo e subjugava todo e qualquer direito de terceiros em benefício próprio.

Não era só simplesmente a criação de normas e leis favoráveis à manutenção dessa cultura.

O brasileiro também se especializou em burlar a legislação com o seu “jeitinho”.

Some-se a isso uma burocracia estatal infindável e temos, após nossos primeiros 500 anos, um quadro de ineficiência na gestão e no trato da coisa pública.

Esta cultura de privilégios pode ser bem entendida na expressão “com licença”.

Num sentido, percebemos que a burocracia e a regulamentação que o Estado impõe aos cidadãos, no Brasil, em muitos casos, é anacrônica e impede um ambiente saudável para que o empreendedorismo e o desenvolvimento social aconteçam.

São muitos órgãos públicos e estruturas que exigem documentação em excesso, não dialogam entre si, não há padronização ou simplificação e os resultados deixam o cidadão perdido no meio do caminho, com serviços de baixa qualidade e com custos cada vez mais crescentes para o contribuinte.

Licença, permissão, concessão, outorga, alvará… Noutro sentido, ou melhor, no outro lado do balcão, percebem-se algumas discrepâncias entre a realidade da maioria da população e aqueles que, como bem costuma dizer Elio Gaspari, estão no “andar de cima”.

Num país com grande déficit de cidadania, são inúmeras as licenças e os privilégios de que gozam algumas carreiras públicas.

Férias de 60 dias para juízes e promotores (sem contar os recessos anuais).

Auxílio-moradia e auxílio-alimentação (para pessoas que recebem salários “mínimos” de R$ 15.000).

E olha que tem juiz contestando no Poder Judiciário receber em caráter retroativo…

O mais bacana é a licença-prêmio. A cada tantos anos de trabalho, determinadas carreiras concedem vários meses de licença para o servidor público que, se não gozada, pode ser computada em dobro para efeitos de aposentadoria.

Não é de se surpreender que o universo de candidatos ao serviço público aumenta a cada ano, numa escala que não acompanha a qualidade prestada ao cidadão.

O cenário é prova contundente de que vivemos num país que favorece o privilégio, a zona de conforto, não o empreendedorismo, a inovação, o desenvolvimento socioeconômico.

O que se quer é ser alçado ao andar de cima. Fazer parte do seleto grupo.

Entrar no camarote, sem muitas responsabilidades.

Isso agrega valor ao indivíduo.

Infelizmente, não à sociedade.

No país do futebol e da Copa 2014, se houvesse uma devassa geral e se colocasse na ponta do lápis quanto custa a manutenção dos privilégios e a ineficiência estatal, tenho certeza de que custaria bem mais do que todos os estádios construídos para o evento.

A Copa do Mundo e a Fifa já viraram um Judas muito fácil e simples de malhar.

Tem mais coisa em nosso espelho, como brasileiros, pra enxergar.

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Marcação no futebol: a gestão do espaço defensivo na relação “eu-adversário”

Antes de iniciar o texto de hoje, quero destacar e agradecer aos leitores, pelo grande número de mensagens que me foram enviadas, comentando a coluna da semana anterior.

Bom, vamos lá.

No artigo passado, publicado aqui na Universidade do Futebol, propus um debate sobre regras de ação que podem orientar jogadores e equipes durante partidas de futebol, para que, de maneira organizada, possam tomar decisões e agir.

Essas regras de ação, como mencionei, podem surgir de princípios orientadores que são subordinados à Modelos de Jogo ou à Lógica do Jogo, dentre outras referências possíveis.

Ao serem subordinados a uma ideia de Modelo de Jogo, farão emergir um tipo de decisão circunscrita aos conteúdos do próprio Modelo.

Ao serem subordinados a Lógica do Jogo, farão emergir decisões circunstanciais ao jogo.

Como exemplo prático desse debate conceitual todo, utilizei a transição defensiva, e deixei a figura abaixo como pista para o debate de hoje.


 

 

Nela, temos uma ilustração geral sobre o conceito de “espaço efetivo” de jogo em três dimensões (como não vou explorar a fundo o tema, convido àqueles que quiserem, para lerem o artigo do treinador Leandro Zago, clique aqui.

Nas transições defensivas (vou continuar com elas), a relação criada entre o homem que está com a bola (dando início a transição ofensiva de sua equipe) e o(s) marcador(es) direto(s) para gestão defensiva dos corredores de movimentação da bola, é uma relação que deve levar em conta que o espaço efetivo de jogo possui volume.

E possuindo volume, é necessário que ele deva ser considerado na prática, na arquitetura geral da ação de jogadores e equipes para atuarem sobre a bola, tanto com a defesa em equilíbrio quanto nas transições defensivas.

Vejamos a figura que segue:

 

Quando a distância entre “homem da bola” e defensor é grande, ainda que aparentemente ele (o defensor) faça um gestão mais produtiva do espaço de profundidade, o volume efetivo marcado é reduzido.

O volume do espaço efetivo é construído a partir da relação entre largura, profundidade, e altura.

Se a ação de quem defende cria barreiras de grande altura, largura e profundidade, o volume do espaço efetivo marcado será grande.

Se a ação de quem defende cria barreiras de pequena altura, largura e profundidade, o volume de espaço efetivo marcado será também pequeno.

O que determina a magnitude do volume, a partir do controle de altura, largura e profundidade, é a distância estabelecida entre o homem que marca e o homem da bola.

Quanto menor a distância entre eles, maior altura, largura e profundidade geridos pelo defensor.

Em outras palavras, quanto mais encurtada for a distância entre o jogador que age defensivamente sobre a bola e o jogador que está de posse da bola, maior o ângulo em altura, largura e profundidade ele consegue proteger.

Isso define uma área coberta maior por parte do marcador, e por consequência aumenta as exigências para que o portador da bola consiga criar uma solução (passe, lançamento, drible, condução, etc.) eficiente para situação.

Vale destacar que uma grande distância entre marcador e homem da bola, só “aparentemente” (como já mencionei) gera melhor gestão da profundidade.

Quando falamos de gestão do volume do espaço efetivo de jogo não podemos nos esquecer de que estamos falando também da ação do marcador sobre a decisão/ação do portador da bola.

Claro, a maneira com que o marcador gerencia o volume do espaço interferirá diretamente nas opções, e portanto nas decisões/ações do atacante.

Isso quer dizer que uma distância aumentada entre defensor e homem da bola pode em certas circunstâncias cobrir melhor o espaço, por exemplo, das costas dos defensores, mas não dificulta necessariamente a ação propriamente dita do portador da bola para alçar a bola nesse espaço.

A mesma ideia vale para a largura do espaço efetivo marcado.

E ainda que de certa forma possamos entender a ideia de volume do espaço efetivo de jogo, e nesse caso o defensivo, como um conceito dentre tantos outros que parecem não ter aplicabilidade, sugiro atenção a ele!

Ele se define a partir de relações primárias do jogo: eu-adversário, eu-bola e eu-adversário-bola.

Então, queiramos ou não elas (as relações) estão presentes no jogo, de modo mais elaborado ou mais “anárquico”.

Então, olho no volume do espaço efetivo de jogo!