Categorias
Sem categoria

Gerindo a energia dos atletas

Você sabia que é possível gerir a energia do atleta de futebol? Aliás, é possível para qualquer pessoa. Isso mesmo, podemos gerir nossa própria energia e com isso melhorar nosso desempenho profissional e pessoal.

Mas para isso precisamos antes compreender uma questão chamada de envolvimento total, a qual se trata de todo poder que se pode ter para desenvolver o melhor de seu desempenho esportivo ou em qualquer outra atividade profissional. Isto se refere a adotarmos um novo paradigma de engajamento e envolvimento, conforme nos instrumenta Jim Loher e Tony Schwartz, autores do livro Envolvimento total gerenciando energia e não o tempo.

Percebemos que temos um envolvimento total em nossa vida quando se é capaz de mergulhar na missão na qual se está investindo, o que implica numa mudança decisiva na forma de se viver a vida. Este envolvimento exige o equilíbrio de quatro dimensões da energia:

• Energia física
• Energia emocional
• Energia mental
• Energia espiritual.

Todas as quatro dinâmicas são críticas, nenhuma delas basta por si mesma e cada uma têm o poder de influenciar as outras.

Mas quero compartilhar aqui de maneira geral, conforme os autores acima citados, a dinâmica da energia, que na prática gera vários impactos em todo ser humano, conforme a seguinte matriz composta pelos quadrantes de Energia Alta e Negativa, Energia Baixa e Negativa, Energia Alta e Positiva e Energia Baixa e Positiva.

Para se movimentar de um quadrante de baixa energia negativa para chegar e se manter no quadrante da alta energia positiva, o atleta necessita passar por um processo de mudança duradoura e este consiste em três etapas sugeridas que podemos identificar como Propósito – Verdade – Ação.

Na prática, para se efetuar esta mudança deve-se então:

• Definir claramente um propósito;
• Encarar a realidade, reconhecendo exatamente seu estado atual;
• Entrar em ação.

Podemos supor que o atleta para atingir o alto desempenho necessita estar com energia alta e positiva, mas no fundo podemos arriscar que para que este seja inspirado a chegar neste quadrante ele precisará ter um enorme prazer no que está fazendo, ou seja, todo esforço e energia envolvidos devem fazer sentido para ele. Podemos pensar que para atletas que ainda buscam realizar conquistas em sua carreira talvez seja mais fácil encontrar um propósito que o inspire a chegar lá, mas e para aqueles que já realizaram grandes conquistas no futebol, como inspirá-los após concretizarem várias conquistas em alto nível?

A resposta para estes casos pode estar em leva-los a um nível tão alto de desempenho no qual ele perceba que toda sua energia investida está gerando grande satisfação profissional e pessoal, pois tem total relação com suas maiores expectativas e sonhos, ainda, que estejam relacionadas a conquistas acima de qualquer media estabelecida pelos padrões atuais de resultados e que deixarão legados valiosos para sua carreira e para o clube em que estejam atuando profissionalmente.

Com isso fica valiosa dica sobre a gestão de energia, que pode ser muito importante para todo e qualquer atleta de futebol, dos mais jovens até os mais vitoriosos. Que tal pensar nisso para a próxima temporada que se aproxima?

Até a próxima.

Categorias
Conteúdo Udof>Colunas|Sem categoria

Quem gerencia a reputação dos clubes?

Aquela velha máxima “falem mal mas falem de mim” parece não servir mais para as organizações do mundo contemporâneo. Anos atrás era possível controlar minimamente eventuais ruídos negativos sobre as marcas, uma vez que a capacidade de proliferação e acesso a uma gama enorme de pessoas era pequena. Atualmente, em função do amplo acesso a informações por muitas pessoas, o cuidado com a reputação criada por terceiros vem ganhando atenção cada vez maior.

Em palestra recente na Fundação Getúlio Vargas, a Profa. Raquel Goulart falou sobre Place Branding e da necessidade de que “lugares devem gerenciar sua reputação, seus recursos e sua imagem” para melhor se posicionar perante a sociedade.

Nas empresas a premissa é evidente em muitos casos. Esse sinal já é visto também em alguns movimentos de patrocinadores esportivos, que antes preferiam ignorar alguns desmandos da indústria do esporte, pois, acreditavam que fatos pontuais não afetavam diretamente sua imagem corporativa. Agora, todo o cuidado é pouco, uma vez que estar associado a questões negativas de parceiros comerciais tende a gerar reações de igual dimensão contra todos os envolvidos.

Se o termo “reputação” conquistou uma grande quantidade de atenção por parte de cidades, países, lugares e empresas, o mesmo parece não acontecer, pelo menos em proporção, com os clubes de futebol no Brasil.

É, a bem da verdade, assustadora a forma como se negligencia o controle sobre a comunicação nos clubes. A falta de um trabalho mais eficiente neste campo é o que gera, principalmente, a enxurrada de comentários e de atributos negativos sobre as entidades esportivas todos os dias, nos principais meios de comunicação.

O controle do conteúdo também passa por isso. Como alguém irá falar da minha marca, é sempre preferível que este “alguém” seja a própria marca e não terceiros.

Projetos de comunicação e de formação de reputação de marcas passam por inúmeros processos, que vão desde a compreensão do que é a marca até um trabalho estruturado de branding, que poderá se dedicar a narrativa mais coerente para cada caso.

Este tipo de trabalho leva tempo para ser construído até a sua plena consolidação. Que os clubes percebam esta lacuna e possam eles passar a contar suas próprias histórias em um futuro breve!!! 

Categorias
Sem categoria

Nunca ex. Sempre Alex

Não vamos perder Alex neste primeiro domingo de dezembro quando ele encerra no Alto da Glórias os 19 anos de futebol, com 400 gols em 1000 jogos. No Coxa do coração, o Cabeção vai pendurar as chuteiras como todo ano penduramos meias para Papai Noel pedindo um presente.

Eu adoraria pedir de Natal o passado sempre atual de Alex.

Craque que merecia a Copa de 2002 no currículo. Caráter que a vida brasileira precisa ter em todos os campos. Campeão de quase tudo por muitos.

Mais dele já escrevi em outro texto, nesta sexta-feira exibido no Fox Sports. E ainda é nada. Ainda mais se comparado ao livro que vem aí, biografia escrita por um Alex das letras – Marcos Eduardo Neves.

Aqui só quero contar mais uma historinha de família. Aquilo que tanto preza Alex.

Foi em de março de 2002. Morumbi. Meu caçula Gabriel não tinha seis meses. O Luca tinha três. O São Paulo era favorito naquela noite de quarta. Vinha de vitórias de quatro pelo Rio-São Paulo. O Palmeiras não vinha mal. Mas não jogava tanto até fazer dois gols em menos de meia hora.

Até fazer o gol de todas as horas.

Eu iria tentar aqui descrever o gol. Eu poderia transcrever o que falou o José Silvério na Bandeirantes na narração que rendeu placa ao autor do gol e ao locutor que, como craque que é, viu e relatou antes da conclusão a obra prima palestrina.

Quando Alex chapelou primeiro o zagueiro Emerson, já era demais.

Quando Alex chapelou o número 1 Rogério Ceni, foi além de tudo.

Quando ele teve a humildade de encher o pé de sem pulo para não encher o saco de ninguém, meus olhos já eram água.

Liguei pro Luca. Pedi para a mãe dele chamá-lo. Falei que era gol do Palmeiras e ele fez aquele “eeee” infantil.

Mas criança era eu na cabine da TV Record.

Eu não estava comentando o jogo. Ainda bem. Não havia o que falar. Ainda não há o que descrever. Reveja no YouTube. Ou nem precisa. Está na memória de muita gente. Verde ou não. Não precisa esperar cinco segundos para pular o comercial. Não deu isso de tempo para Alex fazer um gol para todos os tempos.

Foi 4 a 2. Desde então o Palmeiras não venceu o Tricolor no Morumbi. Cairia no final do ano de 2002. Pode cair de novo este ano.

Isso não é Palmeiras. Aquele gol de Alex vale por 100 anos de clube.

Esse é o Alex: o abraço que ele me deu no dia do Amém final a São Marcos em dezembro de 2012 valeu por meus 46 anos.

O Palmeiras tinha acabado de cair no BR-12. Meu pai tinha morrido duas semanas antes. Alex chegou na concentração da festa, me abraçou e falou algumas palavras.

Assim como não consigo descrever o que foi aquele gol de 2002 que me fez chorar, não consigo repetir o que ele me disse.

Fiquei tão emocionado com o carinho e respeito pelo meu Babbo que também chorei logo depois. Não na hora, que a gente fica sem palavras. E todas as minhas palavras, naquela hora, eram para que Alex pudesse voltar ao Palmeiras e ser o camisa 10 no centenário.

Homem de palavra e de família, Alex já era do Coritiba. Sempre foi.

Como sempre será dos times que honrou. Como sempre será dos torcedores que sabem o quanto ele jogou.

Cabeção com inteligência e caráter do tamanho do coração, Alex me fez chorar ao telefone com meu filho em 2002. Me fez chorar no banheiro de um hotel pelo meu pai em 2012.

Neste domingo ele se despede.

Em todos os dias eu me despeço e jamais dispenso um cara como ele.

Alex, obrigado pelos 4 a 2 em São Januário, pelo 4 a 2 na Copa do Brasil em 1999, pelos 3 a 0 no River, pelas quartas da Libertadores de 1999 e pela semifinal de 2000.

Pelos chapéus de 2002, pelo abraço em 2012.

Se puder, claro, também por uma ajudinha que estamos precisando em 2014, contra o Bahia.

Mas mesmo se não tivesse tudo isso, mesmo se você não jogasse tudo isso, obrigado só por ter Bom Senso e coragem.

Por ser o cara que você é.
O craque que você é.

Nunca ex. Sempre Alex.
 

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

Categorias
Sem categoria

A última rodada

Ainda falta uma rodada para o término do Campeonato Brasileiro de 2014, mas os dez jogos do próximo fim de semana servirão apenas para definir os dois últimos rebaixados (Botafogo e Criciúma já caíram). Com muito drama e pouca coisa a ser resolvida, a principal questão do fim de semana derradeiro da principal competição do futebol nacional é como distribuir emoção entre partidas que valem pouco ou nada.

A questão é inerente ao formato do campeonato, que é disputado em sistema de pontos corridos. Existe a possibilidade de esse tipo de certame ser decidido com antecedência, e isso escancara o maior desafio do modelo: contar histórias que não sejam limitadas às conquistas.

O Cruzeiro assegurou o título com duas rodadas de antecedência. No último fim de semana, a um jogo do término, o São Paulo garantiu o segundo posto. Além disso, Internacional e Corinthians preencheram as vagas brasileiras para a próxima edição da Copa Libertadores. Os únicos times realmente interessados na última rodada são Bahia, Palmeiras e Vitória – entre eles, apenas um vai evitar o descenso.

Bahia, Palmeiras e Vitória são as histórias óbvias da última rodada. Mas será que só os três farão jogos interessantes? Aliás, o Bahia fará uma partida com outro elemento relevante: será a despedida do meia Alex, do Coritiba, que vai encerrar a carreira após o término do Brasileirão.

Em menor escala, há uma briga interessante entre Internacional e Corinthians. Os dois times estão empatados em pontos e ainda postulam o terceiro lugar. A diferença entre isso e a quarta posição é a classificação direta para a fase de grupos da Libertadores – entre os dois, um será obrigado a disputar a etapa preliminar do torneio sul-americano.

A questão é: como promover os outros jogos? Por exemplo: como atribuir interesse ao duelo entre o rebaixado Botafogo e o Atlético-MG, campeão da Copa do Brasil e atual sexto colocado? Como valorizar o confronto entre Grêmio e Flamengo, dois clubes relegados ao meio da tabela?

Cada time que disputa a liga profissional de basquete dos Estados Unidos (NBA) faz mais de 80 partidas antes dos playoffs. Na segunda metade da temporada, muitos desses jogos são absolutamente desinteressantes para classificação. Ainda assim, os ginásios seguem cheios e barulhentos.

O primeiro ponto aqui é o formato de venda. Times da NBA vendem carnês para toda a temporada, coisa que ainda é pouco comum no Brasil, a despeito do crescimento dos planos de sócios.

A grande vantagem de vender carnês é assegurar renda de bilheteria por um longo período. O desafio, em contrapartida, é que o longo prazo não faz parte da cultura padrão de nenhum torcedor. Desenvolver esse tipo de coisa demanda um trabalho de convencimento – as pessoas precisam entender por que é importante que elas comprem ingressos para todas as partidas da temporada. Esse convencimento pode ser feito com comunicação incisiva ou com benefícios.

No Brasil, o que acontece é o contrário. O exemplo mais recente aconteceu na decisão da Copa do Brasil – Atlético-MG e Cruzeiro praticaram preços exorbitantes para os dois jogos do duelo vencido pela equipe alvinegra. A principal vantagem de vender ingressos pensando apenas no curto prazo é sobretaxar essas entradas nos momentos mais relevantes da temporada. Em vez de uma receita equilibrada durante todo o ano, as partidas mais importantes acabam pagando pelas que dão menos dinheiro.

Parece besteira, mas o modelo de venda praticado no Brasil é parte de um enorme problema. O país tem um campeonato de futebol disputado em pontos corridos, mas não pensa nas implicações disso ao se comunicar com o torcedor. Nós ainda falamos sobre “a chance de o time ser campeão” ou “a luta para evitar o rebaixamento” como se essas decisões fossem as únicas coisas relevantes na competição.

Falta no Brasil uma comunicação adequada ao formato de temporada do futebol. Falta algo que seja mais focado nas histórias e menos nas conquistas. A última rodada de um campeonato com quase tudo definido podia ser uma excelente oportunidade para isso.

Categorias
Sem categoria

Transformações para o futebol brasileiro

Estamos próximos do encerramento de mais uma temporada. Já conhecemos, antecipadamente, o campeão da Série A, dias atrás foi conhecido o campeão da Copa do Brasil e, neste ano, assim como na Copa Libertadores, não teremos nenhum representante brasileiro na final da Copa Sul-americana.

Na perspectiva dos resultados, valorizado e priorizado a qualquer custo em nossa cultura, os alcançados este ano nos torneios internacionais (considerando também a Copa do Mundo) deveriam, no mínimo, proporcionar reflexões profundas na maneira como pensamos e gerimos o nosso futebol.

Sustentabilidade, categorias de base, calendário, evolução sistêmica do jogo, planejamentos de curto, médio e longo prazo, torcida, iniciação esportiva e fair-play financeiro são apenas alguns dos temas que precisaremos avançar nos próximos anos se um dia pretendemos retomar a hegemonia do futebol mundial.

Porém, como o momento da temporada é, para muitos profissionais, de recesso, ou então, de início de pré-temporada dos estaduais 2015, deixaremos estas discussões mais amplas para outra oportunidade. Será proposta, então, uma reflexão no âmbito da nossa atuação profissional e o quanto ela impacta positiva ou negativamente no todo em que estamos inseridos e, é claro, em nós mesmos.

Abaixo, alguns questionamentos:

Você foi proativo ao longo da temporada?

Você defendeu os interesses da instituição em que você trabalha?

Você agiu com ética profissional?

Você contribuiu na construção de um ambiente de trabalho enriquecedor?

Você aprendeu com os profissionais que estão ao seu redor?

Você ouviu os profissionais que estão inseridos no seu contexto profissional?

Você assumiu as responsabilidades que lhe são devidas ou você é adepto da máxima: “Eu venci, nós empatamos e vocês perderam”?

E, por fim, você compartilhou conhecimento ou preferiu “esconder” informações importantes para o desenvolvimento do trabalho de modo a utilizá-las num momento mais favorável a você?

Muitas pessoas podem classificar estas perguntas como de cunho pessoal, logo, impertinentes no contexto de atuação profissional. É preciso ter ciência, no entanto, que o relacionamento humano é a chave de processos essenciais de um clube de futebol.

Alguns exemplos podem evidenciar como os itens supracitados refletem com grande magnitude no dia-a-dia dos clubes. Na sequência, serão apresentados cenários hipotéticos:

Um preparador físico com baixa pró-atividade pode desperdiçar minutos importantes da sessão de treino ao deixar de explorar diversos conceitos de jogo desde o aquecimento.

Um treinador de resultados pode buscar a vitória a qualquer custo e ir na contramão dos objetivos de um clube-formador.

Um auxiliar técnico sem ética, pode denegrir a imagem do treinador “queimando-o” perante outros profissionais.

Os grupos de estudos podem alavancar o alinhamento conceitual dos profissionais do clube.

Um técnico de uma categoria pode se reunir formalmente com o técnico de outra e “dissecarem” o Modelo de Jogo de suas equipes e onde estão as suas principais dificuldades.

Num momento de derrota, um treinador traz a responsabilidade para si, “protege” o grupo e cria uma reflexão coletiva sobre os motivos do fracasso.

E, para terminar, aquele auxiliar que, com um olhar de fora, mais privilegiado e menos pressionado, “esconde” informações que seriam muito úteis para o sucesso do trabalho, pois, na verdade, o que ele quer ver é o fracasso.

Ao longo de minha ainda curta trajetória profissional tem ficado cada vez mais evidente que se pretendemos mudar o futebol brasileiro, precisamos, primeiramente, mudar a nós mesmos. Muitas vezes, agimos a partir de nossos interesses, sem preocupações com o todo e com transcendência de nossos objetivos pessoais.

Quem sabe um dia, com o predomínio de atuações profissionais éticas, sérias, proativas, conscientes, ouvintes e coletivas, invariavelmente, transformaremos o nosso futebol?

Certa vez, ouvi de um professor que somos permanentemente avaliados. Com o tempo aprendi, no entanto, que mais importante do que a avaliação dos outros é a minha própria. Então, a partir do que foi discutido hoje, como você se avalia?

Abraços e até a próxima coluna. 

Categorias
Sem categoria

O bloqueio da renda do 1º jogo da final da Copa do Brasil

Um dos problemas que assola os clubes brasileiros é a crescente dívida com impostos federais. Inclusive, está em tramitação Projeto de Lei de Responsabilidade Fiscal que tem por objetivo promover uma reestruturação nos passivos fiscais dos clubes, permitindo que sejam efetivamente pagos.

Enquanto esta lei não é aprovada, os clubes têm a opção de entrar em programas de refinanciamento das dívidas fiscais, que são conhecidos como Programa de Refinanciamento de Dívidas Fiscais (Refis).

Assim, em meados de outubro foi publicada no Diário Oficial a aceitação, por parte da União, da inclusão das dívidas do Atlético Mineiro no Refis.

Apesar disso, dias antes do primeiro jogo da final da Copa do Brasil, o clube alvinegro foi surpreendido com a ordem judicial de bloqueio (arresto) dos valores arrecadados com a venda de ingressos.

De um lado há, a autorização do credor (União) para a realização de acordo judicial, e de outro, o pedido realizado pelo próprio credor de bloqueio da renda dentro do processo de execução.

No caso em questão, o juiz da causa entendeu que, diante da existência de outras demandas e da ausência de bens penhoráveis, deveria prevalecer o pedido de bloqueio da renda.

Doutro giro, o Atlético entende que, tendo sido publicado no Diário Oficial ato da União aceitando a realização de acordo (Refis), qualquer medida judicial de bloqueio de bens não teria objeto, já que as partes voluntariamente realizaram acordo, e que seria ônus da Fazenda Nacional (responsável pela cobrança) informar aos juízes das execuções.

Sob o ponto de vista legal, o Atlético tem razão, pois, segundo o artigo 151 do Código Tributário Nacional, o parcelamento suspende a exigibilidade do crédito tributário.

Apesar disso, contra o clube há o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de que a suspensão da exigibilidade do crédito tributário superior a quinhentos mil reais para opção pelo Refis pressupõe a homologação expressa do comitê gestor e a constituição de garantia por meio do arrolamento de bens.

Diante de todo o exposto, percebe-se a clara e urgente necessidade de se resolver legislativamente, de forma clara a precisa, a questão do endividamento tributário dos clubes, a fim de que a União possa receber seus créditos e que o clube possa ter garantida sua manutenção e não esteja sujeito às medidas que restrinjam o acesso ao seu patrimônio. 

Categorias
Conteúdo Udof>Colunas|Sem categoria

Clubes de visão ou clubes em desespero?

Neste ano uma novidade pôde ser notada no cenário do futebol brasileiro: a adoção frequente de algumas estratégias utilizadas nas empresas.

Conforme matéria do UOL, no mês passado, alguns clubes iniciaram a utilização de algumas estratégias utilizadas no mundo corporativo, para alcançar suas metas. Dentre elas podemos citar o coaching profissional, a hipnose, as palestras de psicólogos e de outros tipos de profissionais. Ainda, de acordo com a citada matéria, compartilho exemplos do que foi adotado em alguns clubes dentro do futebol.

• O Campeão da temporada, o Cruzeiro, contou com a visita frequente de ex-jogadores como Piazza, Dirceu Lopes e Raul Plassmann, ao centro de treinamento e aos jogos, com objetivo de realizarem conversas com os jogadores.

• O seu rival mineiro Atlético-MG, também contratou palestras do ex-oficial do Bope Paulo Storani.

• O Flamengo, o assunto fica a cargo do próprio técnico Vanderlei Luxemburgo, que já dividiu as tarefas do tipo com uma psicóloga.

• O Fluminense lança mão da psicologia aplicada ao futebol, da base ao profissional, com constante estimulação.

• No Botafogo, a comissão técnica divide a função de gestão com o psicólogo Eduardo Cillo.

• O Palmeiras, na luta contra o descenso, contratou Lulinha Tavares como coach. O trabalho de motivação é feito a partir de metas, produtividade e tem como objetivo aumentar a performance de cada jogador em um trabalho individualizado.

• Já a Portuguesa contratou o hipnólogo Olimar Tesser para trabalhar com o técnico Vagner Benazzi.

• O pernambucano Sport, contratou as palestras do ex-oficial do BOPE Paulo Storani.

Olhando os clubes que foram citados na matéria refleti e te convido a fazer o mesmo, se repararmos o desempenho dos clubes que adotaram as ferramentas do universo corporativo podemos perceber que temos alguns com performance de campo muito baixa, outros com performance mediana e um outro grupo de clubes com performance elevadíssima. O que os diferencia? Será que foram os métodos de desenvolvimento humano o ponto de desequilíbrio desses grupos de clubes?

Amigo leitor, na minha opinião a resposta é não! Acredito que de nada vale lançar mão de estratégias do mundo corporativo para promover o desenvolvimento humano, se a mentalidade dos nossos gestores ainda for antiquada. Estas ações mencionadas nada possuem de magia ou recurso milagroso que solucione todo e qualquer problema de imediato! Para mim é muito claro que o melhor dos ensinamentos que as grandes organizações podem oferecer, nossos gestores esportivos ainda não assimilaram, pois como coloquei,todas as estratégias acima citadas são formas de promover o desenvolvimento humano e mudar comportamentos, que é um trabalho de médio e longo prazo, uma vez que não se muda atitude de maneira sustentável da noite para o dia.

Sendo assim penso ser mais do que fundamental que os clubes tenham um ótimo planejamento estratégico, bem como uma excelente gestão da execução deste planejamento. Isto pensando sempre nas próximas temporadas e no longo prazo e não apenas para uma próxima temporada ou para a própria temporada que já esteja em andamento. Saber exatamente aonde se deseja chegar, alcançando diversos objetivos esportivos intermediários ao longo de alguns anos é o caminho; caso contrário o clube pode amargar alternâncias de temporadas boas e outras ruins, levando inclusive ao rebaixamento ocasional como decorrência de uma temporada ruim.

Planejando e executando um plano sólido e viável, de médio e longo prazo, o clube poderá crescer naturalmente e aí sim terá maturidade para adotar as estratégias muito valiosas para o desenvolvimento do seu material humano, que somado auma estratégia viável possa sustentar seu crescimento, contribuindo para se criar um novo patamar de gestão esportiva e consequentemente obter resultados acima da média.

Resumindo, para aqueles clubes possuem, acreditam e executam um plano viável e sustentável, a adoção de estratégias de desenvolvimento humano podem representar uma visão madura e apropriada do benefício que estas podem promover no seu material humano, mas em contrapartida para aqueles que não possuem este plano viável e sustentável, a adoção destas mesmas estratégias transmite muito mais a sensação de desespero e não de crença que elas realmente os ajudarão a obterem seus melhores resultados dentro de campo.

Até a próxima. 

Categorias
Sem categoria

Intervenções e suas perigosas armadilhas

A resistência sobre a criação de modelos de negócios voltados para a construção e o desenvolvimento do futebol brasileiro não aparecem somente nos sistemas políticos de clubes e de entidades de administração do esporte, tal e qual costumamos abordar ou debater em ambientes qualificados.

É cada vez mais preocupante a forma como os diferentes meios tratam qualquer tentativa de se trabalhar a indústria do futebol dentro de uma plataforma de negócios. No episódio mais recente, a intervenção do Estado do Ceará sobre a operação da Arena Castelão é um flagrante desvirtuamento sobre os ciclos de aprendizagem que um equipamento esportivo novo e moderno precisa passar – estamos falando de pouco menos de 1 ano de operação, com rupturas evidentes (Copa das Confederações 2013 e Copa do Mundo 2014). Ou seja, o primeiro ano efetivo de operação ainda não existiu.

Não são raros os casos de entes públicos tentando assumir um papel que não deveria ser dele. Desvirtuou-se completamente a relação de investimentos e regulação do mercado, que seria o ambiente mais adequado para os organismos públicos atuarem.

A angústia por resultados rápidos ou a tentativa de dar respostas políticas a demandas que deveriam ser de competência esportiva ou de mercado é o que mais assusta. O impacto negativo sobre o desenvolvimento de projetos sustentáveis no ambiente do futebol brasileiro é enorme. Coloca em dúvida a livre iniciativa e a expectativa por melhores investimentos privados no presente e no futuro.

O que o mundo do esporte precisa aprender é que é preciso desenvolver novas e diferentes especialidades para atuar efetivamente sobre atividades complexas que se desenham nesta indústria. Fazendo uma analogia, é mais ou menos o que a ótima (e recente) propaganda do HSBC quis dizer neste vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=k0zFJUpHO8s&list=UU6Nq_TluKxyQemTmYXFIW9Q

“Tudo mundo acha que tem uma solução para tudo mas, na verdade, só quem conhece da realidade do mercado são os especialistas em (…)” 

Categorias
Sem categoria

Um 6 a 1 que mudou tudo. Ou não.

E se o Galo tivesse rebaixado o Cruzeiro no último jogo do BR-11?

Na Arena do Jacaré, a Raposa dirigida por Vagner Mancini precisava vencer para não ser rebaixada. O Galo de Cuca (que dirigira o rival nos primeiros cinco jogos sem vitórias no BR-11) tinha a faca e o pão de queijo nos pés para rebaixar o Cruzeiro pela primeira vez para a Segunda Divisão, no último jogo dos 19 anos de Zezé Perrella no comando do clube.

Era para entrar mordendo o Galo, ainda que sem Neto Berola. Era para o Cruzeiro ter sentido a ausência dos suspensos Montillo e Fábio, os melhores celestes, e o tático Marquinhos Paraná.

Era para ter sido o jogo para o Atlético mandar o Cruzeiro para o inferno que purgara em 2006.

Não foi.

Acabou sendo a maior goleada do Cruzeiro no clássico mineiro que, então, estava empatado na estatística do Brasileirão. Eram 18 vitórias para cada lado.

Mas só um time a buscou em 4 de dezembro de 2011.

Com 8 minutos, as supersticiosas camisas brancas do Cruzeiro abriram o placar. Anselmo Ramon fez inusitada bela jogada pela direita e deu no pé de Roger Flores.

Sete minutos depois, o Bahia abriu o placar contra o Ceará, outro resultado ótimo para o time azul. Diferente da derrota no clássico para o Galo, que perdia assim um lugar até na Copa Sul-Americana. Um excelente preparativo para a Libertadores…

Mas o Galo fazia feio. Teve duas chances, se tanto, até levar o segundo gol, aos 28. Roger bateu no segundo pau, Serginho não subiu, e Leandro Guerreiro fez de cabeça.

Guerreiro que na véspera perdera um filho abortado pela mulher. Guerreiro que foi o espírito do Cruzeiro contra um Galo amuado.

Batia cabeça o Atletico e ninguém batia legal o coração alvinegro. Cuca colocou Magno Alves como homem para encostar em André. Carlos César passou para a lateral, aos 32.

Não deu 42 segundos e o Cruzeiro ampliou. Réver bobeou e foi ultrapassado fácil por Welington Paulista, que armou o lance para Anselmo Ramon virar como quis sobre Leo Silva e fazer fácil o terceiro gol, enfiando a bola entre as pernas de Renan Ribeiro.

Lance juvenil de Réver e Leo Silva. Dois colossos campeões da América um ano e meio depois da goleada em Sete Lagoas.

O 3 a 0 celeste rebaixava Ceará, Atlético Paranaense, América Mineiro e Avaí.

O Galo até tentava. Agora pela direita, o promissor Bernard fazia fumaça. Mas foi no contragolpe pela esquerda que Fabrício partiu, foi levando, passou como quis por Richarlyson, e bateu de fora da área a bola que bateu em Carlos César e tirou o goleiro.

Quatro a zero aos 45 minutos. Nem deu a saída. Acabou ali o primeiro tempo. E o sofrimento azul.

Quando reiniciou a partida, com menos de 25 segundos, a China Azul, dona daquele mando de jogo com torcida única (sempre um absurdo) começou a gritar olé. Merecido pela bola que o Cruzeiro estava jogando e há muito não jogava, e por tudo aquilo que o Galo deixou jogar. De modo deplorável.

Aos 11, o lance que melhor representa o que se viu em campo. Roger passou duas vezes por dois. Ou quatro vezes. Arrancada sensacional pela direita que terminou no toquinho para a cabeçada de Wellington. A bola nem precisou bater na rede.

5 a 0. Roger, que acabou com o jogo, deu o gol ao artilheiro, que fez sinal de que tudo teria acabado.

Show celeste. Xô, Galo!

O jogo para rebaixar o rival. E o Atlético se rebaixou.

Ainda diminuiu, em lance de Leo Silva para Rever. 1 x 5. 15 minutos. De zagueiro para zagueiro como se fossem atacantes. Como seriam também isso em 2013.

Mas ainda era pouco. Tanto que a torcida celeste gritou o nome de “Cuca”, agradecendo a goleada sofrida. Mas, também, no fundo, o ótimo trabalho que havia feito na Libertadores daquele ano.

O jogo seguiu morno. Mesmo com os vermelhos dados a Werley e Wellington Paulista. Mas do banco vinha o crédito. Ortigoza foi ao fundo e deu o sexto gol a Everton. A bola entrou e, como no primeiro tempo, o jogo nem recomeçou.

6 a 1.

O Cruzeiro que só tinha um ponto de diferença contra os rivais na luta pelo rebaixamento abriu cinco gols de vantagem contra o maior rival. Galo que tinha o mesmo patrocinador do Cruzeiro. E não teve mais nada em comum além do BMG no peito.

“A vitória do milênio” para o Galo virou uma goleada eterna.

– isso não é perder um jogo. É pisar no nosso coração.

Falou e disse Alexandre Kalil, presidente do Galo.

Mas…

E se o Cruzeiro tivesse perdido?

Teria sido campeão brasileiro em 2013 depois de ter vindo da série B em 2012?

Nunca aconteceu.

O Galo teria conquistado tudo que venceu desde 2013?

Certamente. Mas aquela derrota serviu para muita gente saber na Cidade do Galo que é preciso estar atento até os últimos lances. Como time e torcida tanto acreditaram na Libertadores-13 e, agora, na Copa do Brasil-14.

Mas…

E se fosse diferente?

Responde Leonardo Bertozzi, que comigo e com Mario Marra escreveu “Nós Acreditamos”, o livro campeão da Libertadores de 2013, editado pela BB.

Bertozzi, e se o Galo tivesse vencido em 4 de dezembro de 2011? Ele responde como se fosse fato consumado:

– Aqueles jogadores do Galo viraram heróis para a torcida, que nunca mais precisaria ouvir gozações sobre segunda divisão. Parecia um título. E acabou sendo a coisa mais próxima de um titulo desde então. Acomodação tomou conta do Galo em 2012, e o melhor resultado desde então foi um sétimo lugar no Brasileiro. Contratações desesperadas, trocas de técnico e as frustrações de sempre. O Cruzeiro subiu sem sustos e voltou a montar times competitivos, mas os 11 anos sem um título de expressão incomodam cada vez mais”

É a projeção de Bertozzi.

Anderson Olivieri, autor de “20 Jogos Eternos do Cruzeiro” (Maquinária Editora), conjectura o que seria se a Raposa tivesse perdido em Sete Lagoas o jogo que encerra o seu livro.

– Virou lugar-comum dizer que o 6 a 1 de 2011 foi bom para os dois clubes. Ao Cruzeiro, óbvio, porque não caiu e ainda aplicou a maior goleada da história no rival. Ao Atlético, pois teria sido um divisor de águas na gestão do clube. Não vejo assim. Acho que as duas equipes despontaram porque foram eficientes no trabalho pelos anos seguintes. Ainda que o Atlético tivesse rebaixado o Cruzeiro naquela oportunidade, acredito que haveria bonança aos mineiros, como houve, em 2013 e 14. Mas deixemos o “se” de lado. A história, como escrita, está suficientemente heroica e imortal.

É isso.

O Cruzeiro teria tudo para fazer mais história, sendo “tri” nacional, com o título da B em 2012 e o bi-tetra da A.

O Atlético teria tudo para ter feito o que de lindo conquistou em 2013.

E, agora, pode fazer mais uma história inédita em 2014.

 

*Texto publicado originalmen
te no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

Categorias
Sem categoria

A hora da festa

Foi bonita a festa, pá. O Cruzeiro conquistou no último domingo (23), com duas rodadas de antecedência, um justo e merecido bicampeonato brasileiro. Foi um dia especial para a porção azul de Minas Gerais. No entanto, também foi uma demonstração inequívoca de um problema recorrente de comunicação no esporte nacional. O Brasil, esse povo tão acostumado a fazer festa por qualquer coisa, ainda precisa aprender a comemorar.

Ah, mas é difícil imaginar uma comemoração efusiva em um campeonato disputado no sistema de pontos corridos. Ainda mais numa temporada em que a conquista do Cruzeiro já era dada como certa havia muitas rodadas. Ainda mais três dias antes da decisão da Copa do Brasil contra o Atlético-MG, maior rival celeste, que venceu o primeiro duelo por 2 a 0. Sim, há vários atenuantes. E nem assim a festa do bicampeonato brasileiro foi adequada.

Qual é o momento marcante da festa do Cruzeiro? Que imagem foi artisticamente planejada para as emissoras que exibiram a comemoração? Aliás, que contrato exigiu que as parceiras de transmissão do Campeonato Brasileiro mostrassem o pós-título?

Comemoração adequada não é necessariamente um sinônimo de comemoração por longas horas, prejudicando o descanso e o planejamento da sequência da temporada. Tampouco é necessariamente um sinônimo de comemoração visceral, tipo mais comum em conquistas mais emocionantes ou inesperadas. Festa também pode (e deve) ser planejada.

Pense agora nas festas mais marcantes da sua vida. Seu casamento, seu aniversário de 15 anos, sua formatura ou algo do gênero. Tente lembrar quanta preparação ou quanto esforço elas demandaram. Independentemente do dinheiro despendido, o ponto aqui é: momentos assim são feitos para que pessoas compartilhem emoções. E isso não é possível sem apreço por detalhes – o local, a música, a iluminação e tantos outras coisas que podem mudar radicalmente a experiência de quem vai a um evento desses.

Esforço e apreço por detalhes não são características apenas de festas com alto preço ou longa duração. É possível criar momentos especiais em diferentes formatos. O presente mais legal nem sempre é o mais caro.

Emissoras de TV que transmitem o Campeonato Alemão pelo mundo recebem antes de cada rodada uma programação sobre os jogos. Não apenas com as partidas que serão exibidas na rodada, mas com todos os detalhes sobre os eventos.

Em rodadas que podem definir o campeão, a programação enviada às emissoras de TV inclui detalhes como tempo para montagem do palco, tempo para distribuição de medalhas, tempo para o show pós-título (e o nome do artista que vai se apresentar) e tempo para premiações individuais. Tudo é planejado com antecedência (e com redundância, se houver mais de um time brigando pela taça).

Aliás, a taça é outro aspecto relevante. Se houver mais de um time com chance de ficar com o título, a federação alemã de futebol (DFB, na sigla em alemão) envia réplicas do troféu para os estádios em que os candidatos forem jogar. O campeão brasileiro só recebe a taça na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em cerimônia fechada e sem graça.

Já citei esse exemplo anteriormente, mas o New York Giants, time que disputa a liga profissional de futebol americano (NFL), fez um planejamento especial para a disputa do título em 2011. Instantes depois da vitória no Super Bowl XLV, as lojas do estádio em Arlington (Texas) tinham mais de 200 produtos alusivos ao feito. Eram lembranças com diferentes estilos e diferentes preços, e todas as pessoas que saíam passavam necessariamente pelas vitrines.

Que torcedor, segundos depois de acompanhar in loco a conquista de um título, passa por uma loja com 200 opções de produtos alusivos ao feito e não compra pelo menos uma recordação? Planejar a festa também é cuidar das lembrancinhas e pensar em maneiras para eternizar a emoção daquele momento.

No Brasil, houve na década passada uma moda de camisetas comemorativas. A cada título, times vestiam modelos que eram lançados instantaneamente em pré-venda. O momento da premiação era usado para divulgar esses produtos. E aí, no momento mais nobre, na foto que se transformava em pôster e ia parar no baú de memórias do torcedor, os patrocinadores das equipes ficavam totalmente escondidos.

Lançar produtos alusivos a uma conquista é um acerto indiscutível. Contudo, também é necessário planejar para saber como fazer isso. É lícito aproveitar a emoção da festa, mas é fundamental pensar também em quem paga as contas.

Aí entra uma questão cultural: no Brasil, planejamento muitas vezes é sinônimo de arrogância ou de certeza. Não estamos acostumados a pensar em todas as hipóteses (coisas boas e coisas ruins podem acontecer em qualquer evento). Isso vale para qualquer segmento.

Se um time brasileiro compra bebidas ou contrata um show para uma festa de título, a leitura que muitos fazem é de menosprezo ao adversário ou de certeza de conquista. Já passou da hora de superarmos clichês do tipo.

Planejar não é vergonha e não atrapalha. Aliás, ao contrário. Não é por acaso que todos estão tão ansiosos pela decisão do goleiro Rogério Ceni, maior ídolo da história recente do São Paulo. Ele tem contrato com o clube até o fim do ano e deve se aposentar depois disso, mas reluta em confirmar o término da carreira.

Na semana passada, a Penalty, fornecedora de material esportivo do São Paulo, enviou e-mail a jornalistas convidando para uma entrevista coletiva de lançamento da “última camisa” de Rogério Ceni. No evento, segundo a empresa, o goleiro oficializaria a aposentadoria.

O convite dizia que a entrevista seria nesta terça-feira (25), mas o São Paulo desmentiu. Rogério Ceni foi ainda mais enfático e criticou a Penalty. “Ninguém pode dizer quando eu vou parar”, disse o goleiro.

O São Paulo já marcou um jogo comemorativo para fevereiro de 2015 (contra o Liverpool, time que os paulistas bateram na decisão do Mundial da Fifa de 2005). Além disso, o clube começou a preparar a festa do adeus de Ceni. Para a Penalty, porém, esse não é apenas o ocaso de um ídolo. Trata-se de uma chance contundente de turbinar o faturamento de Natal, e isso não é pouco para uma fabricante de material esportivo.

O principal erro nesse caso foi a falta de ajuste de expectativas. É natural que a empresa tenha interesse de divulgar um produto e é natural que o clube tenha interesse de preservar seu principal ídolo – Rogério pode postergar a aposentadoria ou simplesmente adiar o anúncio para depois do término da temporada. Tudo isso tinha de ser esclarecido para evitar ruídos &
ndash; a Penalty responsabilizou a empresa que fazia assessoria de imprensa para a marca, que foi dispensada.

Fazer festa dá trabalho, e o exemplo de Ceni mostra que o trabalho já começa no convite.