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Novos rumos no futebol e o segundo mandato da presidente Dilma

Em disputa acirrada, a atual Presidente de República, Dilma Rousseff, do PT, venceu o candidato tucano Aécio Neves e governará o Brasil pelos próximos quatro anos. Sua reeleição coincide com o momento em que o futebol brasileiro ainda se recupera do vexame sofrido na Copa do Mundo, quando foi eliminada pela seleção alemã e um estrondoso 7 a 1 e busca novos rumos.

No seu projeto de Governo, a Presidente eleita não apresentou propostas em que se possa vislumbrar melhoras. Doutro giro, há indícios de mudanças.

A Presidente tem se mostrado disposta a se reunir com o Bom Senso FC, movimento dos jogadores que visa melhorias no futebol brasileiro, eis que esteve com eles em junho e em julho, manifestou preocupação e prometeu ação.

Ademais, há três pontos de extrema relevância na pauta: a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, a regulamentação da participação dos atletas nas assembleias das entidades esportivas e a criação de um Plano Nacional de Desenvolvimento do Futebol.

São temas de extrema relevância e a Presidente poderá auxiliar com articulações políticas para que sejam colocadas em discussão nos órgãos e entidades competentes.

Importante destacar que a CBF apoiou o candidato Aécio Neves e que o Governo Federal, no pós-Copa, adotou postura bastante agressiva no que tange à gestão do futebol brasileiro.

Ademais, o atual Governo tem características intervencionistas, o que, em tese, viola o artigo 217, da Constituição que assegura a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, o que incomoda os dirigentes. A grande questão é se o Governo terá força política para exigir transparência para renegociação das dívidas dos clubes.

Nunca é demais ressaltar que o desporto brasileiro com um todo e, inclusive o futebol, recebem verbas, subsídios e benefícios públicos.

Além da necessidade de se buscar a renegociação das dívidas fiscais e maior transparência no uso de verbas e benefícios públicos, o futebol possui algumas peculiaridades que merecerão atenção especial do próximo mandato.

Ora, após a Copa do Mundo, fala-se muito no sistema alemão de gestão e formação dos atletas, entretanto, a legislação brasileira desestimula e, em alguns casos até impede, a formação de jogadores de futebol desde a sua infância.

Isso se dá porque a Constituição Brasileira proíbe o trabalho para menores de 14 anos e, em razão disso, a Lei Pelé somente permite o primeiro contrato na mesma idade. Tal situação inviabiliza grandes investimentos em atletas antes dessa idade, já que o clube formador não possuirá qualquer garantia.

Enfim, se a Presidente Dilma e o seu “novo” Governo quiserem mudar os rumos do futebol brasileiro terão muito trabalho e resistência pela frente, o que exigirá coragem e força política. Indícios destes rumos começarão a surgir na indicação do novo Ministro dos Esportes. Aguardemos.
 

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Melhorando a capacidade de adaptação do atleta

Nos dias atuais do futebol, com o grande volume de transferências dos atletas profissionais para diversos lugares do mundo, saber como promover de uma maneira mais fácil a sua adaptação à nova situação, torna-se algo muito importante na carreira de qualquer atleta profissional de futebol.

Seja numa transferência para um grande clube ou uma mudança de país, os atletas sofrem grandes impactos emocionais com este movimento e certamente em muitos casos isto pode afetar diretamente sua capacidade de atingir seu melhor desempenho, conforme expectativas que foram geradas em torno dele. Por isso decidi compartilhar nesta semana alguns pontos sobre a importância da adaptação do atleta nestes cenários.

As pessoas com alta capacidade de adaptação utilizam seu cérebro de uma maneira fundamental para o sucesso e Deepak Chopra esclarece muito bem este ponto em seu livro Super Cérebro. Ele nos apresenta que essa habilidade é necessária à sobrevivência humana e que de todos os seres vivos, apenas os humanos se adaptaram a todos os ambientes do planeta. Seja diante dos climas mais inóspitos, das dietas alimentares mais incomuns, das piores doenças ou das mais temíveis crises causadas pelas forças naturais, nós fomos capazes de nos adaptarmos.

Deepak cita o exemplo de Einstein e comenta sobre as forças desenvolvidas por ele, bem como também obstáculos que ele evitava para obter uma grande capacidade de adaptação.
As três forças de Einstein: deixar pra lá, ser flexível e manter a calma.

Os três obstáculos evitados por Einstein: apego a velhos hábitos, manutenção das mesmas condições e estagnação.

Segundo ele é possível medirmos a adaptabilidade de uma pessoa pela maneira como ela consegue deixar pra lá, ser flexível e manter a calma diante das dificuldades apresentadas. E mais, pode-se avaliar a dificuldade de adaptação de uma pessoa pela predominância de velhos hábitos e costumes que a mantêm paralisada.

Por exemplo, se uma pessoa pensar frequentemente em todas as lembranças dolorosas de abalos e derrotas, estas irão lhe dizer repetidamente o quanto ela é limitada, e notadamente isto se aplica a vida de qualquer atleta profissional.

Quando se enfrenta um novo problema ou situação, pode-se resolvê-la da maneira habitual ou de uma maneira nova. A primeira escolha é sem dúvida o caminho mais fácil, mas nem sempre é a melhor no ponto de vista do impacto no resultado que a pessoa deseja atingir para concretizar um objetivo traçado. Imagine que um atleta chegue a um novo clube e com uma baixa capacidade de adaptação, ele reproduz velhos hábitos que não se enquadram naquela situação?

Provavelmente ele não conseguirá ter um bom desempenho e uma sequência de enfraquecimento emocional fará com que ele deixe de acreditar no seu próprio potencial, passando eventualmente a preferir o retorno à situação imediatamente anterior ao invés de buscar a melhor adaptação ao novo contexto, gerando consequente paralisia na sua evolução profissional devido ao encarceramento mental em algo que já passou.

Porém, o atleta pode sim buscar uma melhor adaptabilidade e Deepak nos sugere algumas recomendações para que se use o cérebro com o objetivo de elevar esta capacidade.

Como ser adaptável

• Pare de repetir o que funcionou no passado, mas não está funcionando no momento.

• Recue um pouco e procure uma nova solução, refletindo sobre o quanto as suas ações atuais impactam seus objetivos.

• Quando as velhas tensões aparecerem, se afaste. Assim você poderá refletir melhor e analisar o contexto.

• Reconstrua os laços emocionais que foram perdidos.

• Deixe de brigar tanto para ter razão. No final das contas, ter razão não significa nada perto de ser feliz.

Ao seguir os passos acima, criamos espaço no cérebro para a mudança. Devemos compreender que repetir as ações fixa velhos hábitos no cérebro, alimentar uma emoção negativa é o caminho mais eficiente para bloquear emoções positivas.

Como dica, para saber se o atleta está se tornando mais adaptável, basta estar atendo e perceber se ele…

…consegue rir de si mesmo.

…entende que existe mais numa determinada situação do que você percebe.

…outras pessoas não lhe parecem mais antagonistas simplesmente porque discordam de você.

… a negociação começa a funcionar, e você participa dela sinceramente.

…“concessão” se torna uma palavra positiva.

…consegue relaxar mantendo-se alerta.

…vê as coisas de uma maneira que ainda não tinha visto, e isso o encanta.

Por isso, os atletas podem ter um pouco mais de atenção a este tema, afinal de contas o final do ano se aproxima e com ele uma possível transferência de clube pode estar prestes a acontecer, certo?

Até a próxima. 

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Patrocinador ativo x Ativação do patrocínio

Muito se fala no mercado sobre ativação de patrocínio, especialmente ligado a uma abordagem que é comumente considerada falha em boa parte dos grandes patrocínios realizados no Brasil, em que as marcas aplicam um valor significativa para a compra de uma propriedade e, depois, não realizam ações efetivas de comunicação para criação de sinergias do patrocinado com a própria marca.

Tal “desleixo” com as ferramentas de ativação por parte das empresas tende a conduzir para resultados pífios de visibilidade e percepção de marca. Consequência de um mercado que ainda precisa amadurecer muito, tanto do lado dos patrocinados quanto de quem aplica recursos para o patrocínio.

Indo um pouco mais além nesta relação, percebe-se também que ainda pouco se fala do “patrocinador ativo”, ou seja, as empresas participarem da construção de plataformas esportivas mais consistentes junto das organizações esportivas.

Eis um conceito que está em fase de desenvolvimento e aperfeiçoamento mundo afora mas que pouco se percebe no Brasil. Ou melhor, as marcas, ao notarem que enfrentam eventuais problemas na relação de patrocínio com as entidades esportivas, optam por construir seus próprios conteúdos, evitando assim qualquer desgaste de imagem que poderia ser provocado pela aproximação com o esporte formal.

Na Europa, o “patrocinador ativo” vem se tornando um player importante no desenvolvimento do esporte e na construção de plataformas mais sólidas para as modalidades. Em notícia do SPORTCAL do dia 17-nov, Heineken e Land Rover, patrocinadoras do Rugby, sinalizam com diretrizes que combinam os interesses de consolidação da modalidade em escala global com as expectativas das marcas (http://www.sportcal.com/News/news_free_article.aspx?articleID=102357&source=e&cid=83440). Um exemplo mais simples, é verdade, mas que já indica como as marcas atuam perante as entidades que recebem seus investimentos.

Na Alemanha, o S20 “The Sponsors Voice” (http://www.s20.eu/), reúne um grupo seleto de empresas que representam os maiores volumes de aplicação de recursos no esporte local a título de patrocínio. A associação apresenta diretrizes importantes nas áreas de legislação, ciência, inovação e responsabilidade social para que as marcas patrocinadoras tenham melhores resultados de comunicação. Para ficar em um único exemplo, o S20 publicou no ano passado um documento completo de orientações e parâmetros que devem ser seguidos em áreas de Hospitalidade Corporativa, ou seja, aspectos que as entidades esportivas deveriam ficar atentas para poder atender melhor clientes tão importantes quanto aqueles que financiam suas atividades.

Quando pensamos em um processo de ganha-ganha com o patrocínio esportivo, é preciso que as empresas caminhem além da simples impressão da marca em uma placa de publicidade. É verdade que as entidades esportivas precisam melhorar em muito suas entregas e, por tal razão, é que os patrocinadores no mundo adotam iniciativas mais proativas em relação a seus patrocinados.

Há um espaço ainda vasto para que, no Brasil, se façam ações mais relevantes de ativação de patrocínios e, mais ainda, para que as empresas atuem de maneira mais consistente e próxima de seus patrocinados, de modo a beneficiar não só suas estratégicas de comunicação como também o desenvolvimento pleno do esporte. 

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Nós, os clubes

Acompanhando, ontem à noite, o programa Linha de Passe na ESPN Brasil, deparei-me com a discussão dos jornalistas a respeito da lógica econômica que está por trás do desempenho dos clubes na corrida pelo título da Série A no Brasil.

Independentemente das razões que levam os clubes a aumentar suas receitas – cotas de TV, patrocínios, planos de sócios, licenciamento, venda de jogadores – chamou-me a atenção o comentário de Juca Kfouri, ao comparar a falta de união dos clubes de futebol no Brasil para lhes favorecerem boas negociações coletivas tal qual numa liga.

Aqui, ainda impera o individualismo dos interesses clubísticos, em que pese essa postura contribuir para a depreciação do futebol brasileiro, ao contrário dos Estados Unidos, onde se percebe o posicionamento de “nós, os clubes…”.

Imediatamente, associei o comentário ao comportamento histórico dos americanos e seus fundamentos de um Estado democrático, onde, não raro, conceitos e expressões coletivas são utilizados por agentes públicos, tais como “we, the people” (nós, o povo) ou “the people versus…” (o povo contra…), seja em discursos políticos ou em tribunais.

Lá, o todo é maior e diferente que a simples soma das partes, inclusive na MLS. E nem por isso as unidades que formam o todo – clubes ou franquias esportivas – são enfraquecidas ou ocorre homogeneização das competições e tudo fica absolutamente igual.

Não é igual. É equilibrado.

Com esse equilíbrio alcançado, cada clube vai procurar sua diferenciação e vantagens competitivas adicionais na relação – num sentido amplo – com a comunidade.

Nesse sentido, é possível criar um círculo virtuoso poderoso, que mantém a atratividade pela competição, gera sustentabilidade financeira e também faz com que a legitimidade social do futebol seja alcançada.

Na Inglaterra, a Premier League apoia sua estratégia no seguinte:


Esse posicionamento estratégico, associado à boa governança corporativa, fortalece a liga, que ganha mais dinheiro, distribui mais e melhor suas receitas – pois os clubes são ativos na gestão de seus interesses individuais também no processo decisório – e favorece a manutenção de políticas de responsabilidade social corporativa.

Pois bem, fechando o ciclo com o engajamento dos clubes na vida de suas comunidades, considerando a seguinte política:
“Clubes como “hubs” de suas comunidades”

– Para melhorar a vida dos jovens
– Atuar nas áreas mais necessitadas
– Apoiar escolas
– Trabalhar em parceria
– Engajar localmente, inspirar globalmente

É isso. Sem medo de pensar e agir como “we, the clubs” porque, lá atrás, “we, the people” ajudou a forjar e construir estas instituições.
 

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O engenheiro Fernando Santos: o ser e o tempo

Não, não vou ocupar-me do Ser e Tempo de Martin Heidegger (1889-1976). Nem, para tanto, reconheço em mim competência tamanha. Mas parece-me filosófica a questão: para saber de desporto (e portanto de futebol) o que é preciso saber? Qual o saber radical (ou o decisivo e fundamental) onde assenta o conhecimento do futebol? Uma pergunta ainda, com a mesma intenção: qual a essência do futebol? Sem o dizer, o engenheiro Fernando Santos, atual treinador da seleção portuguesa de futebol, ensinou-nos, com inflexível e austera firmeza: é o ser humano, é o “agente do futebol”, designadamente o praticante. E, por isso, foi a este nível que se centraram as suas preocupações, logo que o nomearam selecionador. E o Ricardo Carvalho e o Tiago e o Danny e o Cédric e o William Carvalho integraram o “onze” em que mostrou mais acreditar. O Ricardo Quaresma, um dos melhores jogadores portugueses, também foi convocado e também jogou. No próprio dia do Dinamarca-Portugal, Fernando Santos dizia ao jornal A Bola: “Quem decide no campo são os jogadores, eu estou cá fora”. De facto, para quem viu o jogo (eu vi pela televisão) ficou demonstrado que a tática quatro-quatro-dois-losango (que por vezes se transformou em quatro-três-três) resultou em plenitude, mas foi a classe de Ricardo Carvalho e de Ricardo Quaresma e o gênio de Cristiano Ronaldo (e a honestidade de todos eles) a “causa das causas” da vitória memorável, em Copenhague. Venho assinalando, há um bom par de anos já, que não há remates, há homens (e mulheres) que rematam; não há defesas, há homens (e mulheres) que defendem; não há fintas, há homens (e mulheres) que fintam – se eu não compreender antes os homens (e as mulheres) que rematam e defendem e fintam, não entenderei nunca nem os remates, nem as defesas, nem as fintas. O Cristiano Ronaldo, após o Dinamarca-Portugal, sem pormenores engenhosos, desassombradamente afirmou: “Já tinha saudades de jogar com o Ricardo Quaresma”. E sorridente acrescentou: “É que eu já sei como ele centra, eu sabia o percurso da bola e assim fiz o golo. Eu conheço-o bem”.

O desporto não é apenas uma teoria, nem tão-só uma doutrina – o desporto é uma vida! Uma equipa, como uma família, mostra-se nos mais pequenos trechos de fraterna amizade, entre os jogadores, e no respeito pelas ordens do treinador que se aceita como conselheiro ou guia. Uma equipa, ou se movimenta, estrutura, enobrece, como uma família, ou o 4x3x3, ou o 4x4x2, ou o 3x5x2, ou o 4x2x3x1, surgem acorrentados a erros e fragilidades sem conta. Juan Mata, jogador do Manchester United, ao El País, de 2014/10/20, assegurou com palavras solenes: “Van Gaal es honesto. Es más importante ser una buena persona que un buen técnico”. Ao Juan Mata apresentam-no os jornais como um rapaz rebelde e livre, pagando, com frequência, as consequências das suas atitudes, do seu desprezo pelas fórmulas feitas, da sua falta de respeito pelas consagrações indevidas. Mas, segundo o jornalista que o entrevistou, é um leitor habitual de bons livros. Talvez, por isso, e instruído pela lição diária dos factos, a sua plena crença na necessidade de o treinador ser pessoa de admirável lucidez e honestidade… antes do mais! O desporto de alta competição tende, hoje, a reduzir-se à racionalidade técnica e tática, à rentabilidade econômica (o futebol é um negócio) e a uma retórica de salivoso e anacrônico clubismo. Ora, e a dignidade incontornável do homem, como pessoa, presente em cada um dos elementos que constituem um departamento de futebol? E não é por aqui que deve começar o treino do futebolista de alta competição? Para que serve a ética no treino e na competição? Concorre ela a uma performance mais plena? O Juan Mata na mesma entrevista não esconde a admiração que sente pelo treinador Van Gaal: “ Gosta muito de falar connosco e perguntar-nos que opinião temos dos exercícios que fazemos nos treinos. Por vezes, fala de Guardiola e dos conselhos que lhe dava. Van Gaal tem prazer em ouvir os jogadores, principalmente quando eles procuram soluções que podem beneficiar o grupo”.

A reflexão filosófica acordou tarde para o Desporto, que era uma Atividade Física e quanto mais física mais desatinada. Após esta melancólica conclusão, a Filosofia não poderia ocupar-se do Desporto. Até que (e agora, desde os gregos, dou um salto de séculos) o Desporto passou a estudar-se de um modo unificado onde entravam dialeticamente, integrando a mesma totalidade, aspetos epistemológicos, éticos, estéticos, tecnocientíficos, sociais, políticos, culturais. E então a Filosofia descobriu que o Desporto era uma Atividade, mais do que Física, Humana e sentiu que não podia ficar indiferente à humanidade que o Desporto é. E temas como ciência, consciência, competição, motricidade, solidariedade, liberdade, utopia, desejo são problemas filosóficos porque são desportivos e são problemas desportivos porque são filosóficos. E na escola hegelo-marxista, na fenomenologia, em Nietzsche, em Ortega y Gasset, em Wittgenstein, em Huizinga, em Arnold Gehlen, em Adorno, em Marcuse, em Hannah Arendt, em Habermas encontramos juízos esclarecedores acerca do corpo, do jogo, do desporto, do espetáculo, da competição. E do discurso, da comunicação. N’A Condição Humana (Relógio d’Água, Lisboa, 2001), Hannah Arendt observa: “Nenhuma outra atividade humana precisa tanto do discurso como a ação” (p. 41). O ser do Desporto é o Homem! Numa competição ou num treino, quando se pergunta: o que aconteceu? É pelo Homem que se pergunta…

O que venho de escrever, nas suas linhas essenciais o engenheiro Fernando Santos conhece, assim como os que têm a paciência de ler-me. Entre as dezenas de jogadores profissionais de futebol, que já conheci, mesmo os de mais larga audiência, nenhum me mostrou desagrado, pelo seu atual (ou antigo) treinador, por razões de ordem tática. Os fatores decisivos da sua antipatia residiam na prepotência, na canhestra comunicação, na teimosia, na incapacidade de liderar e organizar. Numa grande equipa de futebol, hoje, liderança, ética e humanismo convergem. A crise, portanto, não é normalmente de ordem tática. Por isso, eu confio no engenheiro Fernando Santos, como treinador e líder da seleção portuguesa. No meu modesto entender deverá nascer, no futebol, uma perspetiva paradigmática nova, onde o que o define não tem apenas e só uma natureza científica. A transcendência (a superação) é o sentido da vida e portanto do desporto. E no ato da transcendência não há ciência tão-só, há vontade e esperança e fé – há a convicção profunda de que o Homem e o Desporto são tarefas a realizar! Só quando o Futebol for um modo de desfatalizar a História, o futebol poderá desenvolver-se, numa ordem imprevisível e nova. Por isso, repito, eu confio no
engenheiro Fernando Santos, como treinador e líder seleção portuguesa de futebol.  

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Conteúdo Udof>UdoF na Mídia

Profissionais da base do Internacional participam de qualificação na Universidade do Futebol

Trata-se do “Educar pelo Futebol: Meu Time é Nota 10”, curso que visa capacitar os gestores para conscientizar a garotada em relação aos riscos e oportunidades da profissão. 17/11/2014
Confira o texto na íntegra

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Qual o seu posicionamento estratégico em relação à evolução do jogo?

Para falar de futebol, muitas vezes, recorremos a alguns conteúdos teóricos que, sob um olhar superficial, não tem relação direta com a modalidade. Por exemplo, para quem não tem o hábito de analisar este esporte a partir de uma perspectiva sistêmica, durante uma leitura sobre a teoria dos sistemas dinâmicos, pode passar despercebida a sua relação e aplicabilidade com o confronto de sistemas que é o jogo de futebol.

Na coluna desta semana, o conceito teórico que embasa a reflexão proposta advém da área de gestão, mais precisamente da área de Tecnologia da Informação (TI), e do posicionamento estratégico das organizações quanto às inovações tecnológicas. Assim como no exemplo supracitado, o posicionamento estratégico das empresas, aparentemente, não possui nenhuma relação com os clubes e treinadores de futebol. Mas será que não mesmo?

De acordo com um modelo conceitual, uma determinada empresa pode assumir quatro diferentes posicionamentos estratégicos sobre sua postura de desenvolvimento de inovação tecnológica. São eles: líder, seguidor rápido, seguidor lento e não seguidor.

As empresas líderes são aquelas que sempre criam uma nova solução tecnológica para aquilo que vem sendo feito. A inovação é um diferencial competitivo e parte importante da missão da organização é quebrar paradigmas.

As seguidoras rápidas, estrategicamente, não investem a ponto de serem inovadoras, porém, estão sempre atentas ao que o mercado está fazendo e, principalmente, acompanhando os principais concorrentes. De olho nos melhores, é possível com menor risco e custo de investimento acompanhá-los no desenvolvimento de seus produtos.

Já as empresas seguidoras lentas acompanham as mudanças ao seu redor, porém, por algum motivo (financeiro, ideológico, estrutural, objetivos) não participam destas transformações num primeiro momento. Como o próprio nome sugere, o desenvolvimento tecnológico ocorre de maneira gradual.

E, por último, as organizações não seguidoras. Tem noção do que o meio quer, porém, estão tão especializadas numa fatia específica (cada vez menor) do mercado que preferem continuar fazendo como acham (ou aprenderam) que deve ser feito. Inovação “passa longe” destas empresas, porém, engana-se quem pensa que de uma hora para outra irão fechar as portas.

E qual a relação da inovação tecnológica das empresas com a evolução do jogo de futebol? Substitua a empresa pelas palavras clube ou treinador, inovação tecnológica por tendências do jogo e releia os cinco parágrafos anteriores!

A evolução do jogo é indiscutível. Quando observamos jogos de 40, 30, 20 ou 10 anos atrás e os comparamos com os grandes jogos do futebol mundial praticados na atualidade, parecem, inclusive, outra modalidade. Tal evolução global do jogo tem sido mensurada por analistas, estudiosos e empresas especializadas e traduzida em informações capazes de ilustrar detalhadamente cada um dos milhares de acontecimentos de uma partida.

Periodicamente, surgem novas tendências no futebol mundial de ponta: tiki-taka, contra-ataques cada vez mais velozes, goleiros mais adiantados, linhas defensivas de 5 jogadores, recuperações imediatas após a perda da posse de bola, saídas ofensivas com linha de 3, zonas pressionantes com ajustes individuais circunstanciais, bolas paradas curtas, etc.

Assim como no contexto empresarial, para cada um dos posicionamentos estratégicos, não existe melhor ou pior postura. Depende, exclusivamente, de cada empresa e do papel que ela pretende assumir no mercado. Obviamente, para cada papel assumido, uma consequência sistêmica será obtida.

Para concluir, voltando para o futebol: você sabe qual o posicionamento estratégico do seu clube? E o seu?

Aguardo sua resposta. 

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Cotas de ingressos

Nesta quarta, Atlético-MG e Cruzeiro protagonizaram a finalíssima da Copa do Brasil. Nos bastidores, presenciou-se acalorado debate entre as diretorias de Atlético e Cruzeiro sobre a divisão de ingressos para os clássicos que definirão o campeão da Copa do Brasil.

Essa divisão é prevista no artigo 86 do Regulamento Geral das Competições da CBF (texto normativo que rege todas as competições organizadas pela entidade) que confere ao clube visitante o direito de adquirir a quantidade máxima de ingressos correspondente a 10% da capacidade do estádio.

A norma fala em “quantidade máxima” e, possibilita a possibilidade de quantidade menor quando houver houver manifestação dos órgãos de segurança.

Dessa forma, no caso concreto, havendo entendimento por parte da Polícia Militar de que a segurança dos torcedores do Cruzeiro no Independência seria viável com sua alocação em setor com capacidade inferior aos 10%, não ocorre descumprimento legal.

Vale destacar que o parágrafo segundo, do artigo 86, RGC, prevê a possibilidade de haver acordo entre os clubes estabelecendo quantidade superior de ingressos, inclusive, na ocorrência de reciprocidade, ou seja, seria juridicamente possível haver as finais com torcidas iguais.

O Cruzeiro não exerceu o o seu direito de ter 10% de seus torcedores no Independência. Apesar disso, o Atlético não é obrigado a seguir o mesmo caminho e terá o direito à sua cota.

Na próxima semana, em reunião a ser realizada na federação Mineira de Futebol, os clubes definirão os detalhes logísticos para a finalíssima que tem tudo para ser ainda mais eletrizante que a primeira partida. 

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A música como recurso para performance e o controle emocional

Muitos atletas que buscam alta performance podem se utilizar de um recurso presente em todas as culturas do mundo: a música! Isso mesmo, a música!

Quantos de nós já não dissemos que não vivemos sem música ou que a música alegra nossa vida. E aquele ditado, “quem canta os males espanta”? Quem já não ouviu falar?

Pois bem, a música tem o poder de acalmar, estimular a memória, aliviar as dores e ajudar no exercício físico. Escutar uma determinada música pode trazer muitos benefícios para a saúde, corpo e mente dos atletas. E tem mais, sabiam que ela tem sido usada, inclusive, por médicos e terapeutas como tratamento?

Atualmente, tem sido abordada a capacidade de cura da música, funcionando como um verdadeiro remédio para vários problemas da vida cotidiana como apontam a pediatra Ana Escobar e a musicoterapeuta Marly Chagas.

A razão da tudo isso acontecer é devido a música ativar o centro de prazer do cérebro, assim como fazer sexo e ou comer um chocolate, por exemplo. Ela promove a liberação de dopamina e causa uma sensação de bem-estar.

Ainda conforme estes profissionais, os benefícios mais comuns da música para a saúde estão:

• Induz o ser humano ao movimento
• Melhora a comunicação, contribuindo para uma melhor organização das ideias
• Cria vínculos emocionais
• Ameniza a dor, pois contribui para a mudança de foco e distrai quanto a dor ou ao problema que se estabeleceu
• Acalma, ajudando a combater o estresse
• Fortalece a memória, criando novos caminhos no cérebro
• Promove o autoconhecimento, estimulando a imaginação das pessoas e com isso a descoberta de sensações e sentimentos

Para termos um exemplo relacionado entre a realização de exercícios físicos e a música, Costas Karageorghis, consultor de psicologia do esporte da Universidade de Brunel, na Inglaterra, aponta os efeitos da música quando se está praticando atividade física. Ela pode influenciar o humor, elevando potencialmente os seus aspectos positivos, como a energia, entusiasmo e felicidade, e reduzindo a depressão, tensão, fadiga, raiva e confusão. Além disso, a música pode ser usada para definir o ritmo do indivíduo, como ele cita no caso do etíope Haile Gebrselassie, que conquistou o ouro nos 10 mil metros dos Jogos Olímpicos de Sidney, em 2000. O último efeito, segundo Karageorghis, é o de que a musicalidade pode superar o cansaço e controlar a emoção durante uma competição.

Pelo comentado acima, já estamos mais do no momento de usar e abusar da música de maneira intencional e planejada para melhorar o desempenho geral de nossos atletas e um bom Coach Esportivo deve estar muito atento a utilização deste grande aliado ao alto rendimento na prática esportiva.

Até a próxima! 

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O raciocínio descontextualizado dos dirigentes do futebol

A época de eleições em clubes do futebol brasileiro é a melhor maneira de se analisar e de se compreender como pensam alguns dirigentes ou candidatos a cartolas. E o resultado é quase que invariavelmente assustador. Aliás, é um indicador claro de como distorcemos completamente a função dos clubes e a visão do esporte enquanto negócio, além de evidenciar temas totalmente anacrônicos.

Seja de forma explícita ou mesmo nas entrelinhas do discurso, vê-se com clareza que a forma e as temáticas abordadas servem para reforçar o viés antiprofissional das entidades de prática do esporte, apesar da tentativa de se defender o contrário.

Li recentemente, por exemplo, uma crítica de um candidato a presidente de um grande clube brasileiro aos atletas que ganhavam mais de R$ 100 mil por mês e estavam lutando para jogar menos partidas durante a semana. Ora, divagava ele, “trabalham apenas duas vezes por semana e ainda querem trabalhar menos?”.

Ao ler o referido comentário, fico tentando imaginar uma sala de reuniões para convencer o tal dirigente de que é importante ter uma equipe multidisciplinar de trabalho, como fisioterapeuta, fisiologista, analista de desempenho, preparador físico, médico etc. para melhorar a performance dos atletas. A resposta talvez seria algo como: “cada jogador que contrate um para si. Afinal, ganham o suficiente para poder investir em sua carreira”.

O fato é que premissas básicas, que são minimamente estudadas em qualquer faculdade de educação física, como a compreensão de que um atleta de futebol é como um artista e, portanto, ele não pode ser nunca visto apenas como um custo e sim como investimento e, por conseguinte, gerador de outras receitas futuras se bem escolhido e trabalhado dentro de um grupo de atletas, parece não fazer parte da agenda daqueles que se declaram “entendidos de futebol” e se julgam “verdadeiros revolucionários do mundo da bola”.

Aliás, falar que é empresário de qualquer ramo de negócio parece ser a porta de entrada para demonstrar que conhece de gestão e, portanto, o habilita a gerir um clube de futebol. No final das contas, não se compreende a atividade específica ligada a gestão do esporte e, por conseguinte, não se é possível perceber qualquer evolução positiva da indústria do futebol.

Ao contrário, parece que damos alguns passos atrás em cada processo eleitoral de clubes. Ao invés de se debater objetivamente o potencial de negócios que determinado clube pode ter e as nuances da gestão do esporte que se aplicam para cada caso, reiteramos uma visão claramente retrógrada e completamente incompatível com o momento. Resta sonhar com dias melhores…