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Por que o futebol não fala sobre as manifestações?

Este texto não tem qualquer pretensão de ser um tratado social ou de teorizar sobre o contexto político do país. Entretanto, é impossível ignorar que existe uma movimentação crescente e que um número maior de pessoas tem sido incluído no debate político – frutos de uma conjuntura ampla, que abarca aspectos como o advento de redes sociais e a evolução econômica da sociedade.

O Brasil teve manifestações pró-governo (na sexta-feira, dia 13/03) e contra governo / corrupção / tudo que está aí (no domingo, dia 15/03), e esses movimentos dicotômicos atraíram muita gente (se não às ruas, ao menos para o Facebook). No futebol, porém, todo mundo ainda finge que isso não existe.

A exceção no último fim de semana foi o técnico Oswaldo de Oliveira. O jogo do Palmeiras contra o XV de Piracicaba, agendado previamente para começar às 16h de domingo (horário de Brasília), foi antecipado para 11h para não coincidir com o horário das manifestações em São Paulo. Questionado sobre isso, o comandante alviverde disse apenas que “o motivo é justo”. Mais uma vez: essa não é uma análise sobre ele ser contra ou a favor das manifestações.

O ponto é que a ebulição política no país não tem qualquer ressonância no futebol. Ninguém se posicionou abertamente sobre o tema, e quem falou minimamente apostou apenas em platitudes. A ideia de “pão e circo” nunca foi tão clara.

O que chama atenção é que o Brasil tem histórico de associação política no futebol. Foi sobre outro dia 15, o de novembro de 1982, quando São Paulo teve a primeira eleição direta para governador após o período nefasto de ditadura militar. O Corinthians, que vivia o auge da democracia corintiana, usou na camisa um “Dia 15 vote” para convocar o povo a participar dessa abertura política.

Talvez seja demais exigir do futebol brasileiro atual um nível de debate como o da democracia corintiana, movimento que reunia boas cabeças entre jogadores, dirigentes e até torcedores. Na atual conjuntura, boas práticas políticas – e o Bom Senso FC é o exemplo mais claro disso – são subjugadas e tratadas como “briga de classe”. O futebol brasileiro de hoje falha ao não ser abrangente e não criar canais de debate que incluam todos os setores envolvidos. Contudo, o que assusta é que ninguém tenha tomado partido.

Ronaldo fez isso – aliás, como tem feito há tempos – e esteve nas manifestações de domingo. O ex-jogador mostrou alinhamento a todo o cabedal político que ele tem defendido desde antes da aposentadoria – no ano passado, o “Fenômeno” havia sido um dos principais defensores da candidatura de Aécio Neves (PSDB-MG), derrotado nas eleições presidenciais. Não concordo com rigorosamente nenhuma decisão política do ex-atacante – nem no campo social, tampouco na política do esporte –, mas ao menos tenho base para saber o que ele pensa.

Na reta final das eleições presidenciais, Neymar acompanhou Ronaldo e também manifestou apoio a Aécio. Outros atletas declararam voto – alguns de forma mais incisiva, outros com postura mais contida. E nos últimos dias, quem falou abertamente?

O futebol brasileiro precisa deixar de ser tratado como uma entidade alheia à sociedade. Times, jogadores e funcionários (treinadores, auxiliares, roupeiros, massagistas e dirigentes) são entes fundamentais para qualquer debate.

O momento atual é significativo para a sociedade brasileira. É uma chance concreta de atrair um número maior de pessoas ao debate e criar discussões mais densas a partir disso. Temos pouca (ou nenhuma) cultura de vivência política, e os últimos dias têm oferecido uma demonstração clara de que muita gente quer participar mais. Para isso, é fundamental que esse contingente seja municiado com informações e que seja provocado. Essa é, afinal, uma função muito relevante para qualquer ídolo.

E qual jogador de futebol do Brasil tem se comportado como ídolo nas questões sociais? Não consegui encontrar um atleta sequer que tenha provocado seus fãs ou que tenha dado qualquer contribuição significativa ao debate – nem mesmo os líderes do Bom Senso FC, cuja pauta é bem distante dessa.

O distanciamento entre torcedor e futebol brasileiro não é uma questão apenas de qualidade do jogo ou de falta de grandes nomes no país. Trata-se de algo mais abrangente, que inclui também o descolamento entre o esporte e a vida das pessoas. Se as pessoas que fazem o futebol brasileiro seguirem tratando o segmento como algo que não tem relação com o contexto social, essas barreiras só tendem a crescer.

É claro que qualquer posicionamento envolve riscos, mas o fato é que o futebol brasileiro precisa desses riscos. Se quisermos que o esporte cresça, temos de formar porta-vozes mais preparados e dispostos a participar da vida como um todo.

O futebol, afinal, não é um oásis – ao contrário, talvez seja o exemplo mais perfeito de ambiente contaminado por práticas que motivaram manifestações de revolta. Fingir que não acontece nada é a forma mais covarde de agir agora.

O ativista social sul-africano Desmond Tutu tem um pensamento extremamente pertinente para esse momento: “Se você vir uma situação de injustiça e se mantiver neutro, você já escolheu o lado do opressor”. E no caso da polarização política brasileira, a citação vale independentemente do lado que você considere ser o opressor. 

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Transmissão pela TV e o mando de campo

Villa Nova e Cruzeiro se enfrentaram na última a quarta pelo campeonato mineiro na cidade de Sete Lagoas, local inusitado, eis que as equipes são de Nova Lima e Belo Horizonte, respectivamente. Como o Vila Nova é o mandante, o natural seria a partida ter acontecido no Estádio Castor Cifuentes, em Nova Lima.

Ocorre que a partida foi transmitida ao vivo pela Rede Globo de Televisão e o estádio não dispõe dos requisitos estruturais mínimos para a transmissão. Destaque-se que a partida do clube novalimense contra o Coritiba válida pela Copa do Brasil só foi transmitida pelo Sportv em virtude da tecnologia utilizada pelo canal pago ser diferente.

O artigo 63, do Regulamento Específico do Campeonato Mineiro estabelece que as transmissões dos jogos serão regidas pelos contratos firmados pelos Clubes, Federação e Rede Globo de Televisão, portanto, havendo previsão contratual, os jogos em locais que, ocasionalmente não atendam à infraestrutura de transmissão, poderão sofrer alteração de local, especialmente, em situações em que o clube mandante prefira exercer seu mando de campo fora de sua sede para assegurar a transmissão e seus respectivos ganhos financeiros.

Doutro giro, a partida não poderia ser realizada no Mineirão, sob pena de inversão de mando de campo, o que é vedado, conforme já se manifestou o TJD da FMF, em 2013 quando o mesmo Villa e Tombense pleitearem disputar partida de seu mando pelas semifinais do Campeonato Mineiro contra o Cruzeiro e Atlético, em Belo Horizonte, a fim de angariar renda.

Se eventualmente, a partida se realizasse no Mineirão, haveria inversão do mando de campo, o que traria como consequência a violação da paridade de competição, eis que poderia favorecer a equipe de Belo Horizonte que teria um mando a mais que os outros clubes, favorecendo-se o Cruzeiro em detrimento de outros clubes.

A medida é acertada porque tal prática poderia trazer uma imensa distorção desportiva, caso, fosse permitida, pois os clubes da capital, economicamente mais fortes, poderiam negociar com os clubes do interior para que pudessem disputar todas as partidas em Belo Horizonte.
 

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Cargos e especialidades

Resolvi ampliar um pouco mais a pesquisa que iniciei na última semana. Agora para ter um olhar um pouco mais amplo sobre as Ligas Esportivas, seus cargos, funções e profissionais envolvidos.

O misto é de curiosidade com o anseio de compreender porque, há quase duas décadas, discutimos as mesmas coisas e as soluções que são postas em prática são sempre as mesmas – naturalmente, o resultado pífio em termos organizacionais não muda.

Cargos como (1) “Desenvolvimento do Patrocínio nas Equipes” (uma função dentro da liga que se presta a se relacionar com as equipes e seus respectivos patrocinadores, de modo a potencializar o retorno), (2) “Gerente de Inovação e Crescimento da Plataforma” (que pensa as possibilidades e as oportunidades de mercado), (3) “Pesquisa e Estratégia de Mercado” (que alimenta com dados e informações as demais áreas estratégicas e operacionais da liga), (4) “Gerente de CRM” (cuida do relacionamento com os consumidores), e (5) “Diretor de Novos Negócios para a América Latina”, aparecem no rol de atividades desempenhadas por alguns dos profissionais ligados a NBA, a Liga Profissional de Basquetebol dos Estados Unidos.

Ao todo, em pesquisa simples realizada no LinkedIN, o resultado é de 923 pessoas que atuam no escritório americano da NBA (sem considerar os profissionais espalhados pelo mundo). Na jovem MLS, a Liga de Futebol (Soccer) dos EUA, são 391 profissionais, com cargos e funções similares a apresentadas acima, respeitando-se tão somente a proporção do tamanho de ambas as organizações. Ligados à FA, da Inglaterra, são 1.113 profissionais e, seguindo a mesma premissa, com uma gama enorme de ocupações.

Da CBF, somente 114 pessoas aparecem no resultado do LinkedIN. Naturalmente que o resultado da pesquisa não reflete necessariamente o todo em relação ao número total de colaboradores que a CBF emprega. Mesmo assim, é válido para compreender mais um pouco as funções exercidas. E a conclusão é que não há nenhum cargo sequer relacionado a Planejamento ou Estratégia dentro da entidade máxima do futebol brasileiro. As atividades operacionais e técnicas parecem, entretanto, relativamente bem preenchidas em quantidade quando comparado com o resultado total da pesquisa.

O mais grave é que, diferente dos exemplos americanos ou inglês, tem-se no Brasil um reflexo claro da inoperância de um sistema pela ausência evidente de profissionais no campo da gestão em suas diferentes vertentes.

A profissionalização do esporte no Brasil passa pela compreensão da importância sobre as diferentes especialidades necessárias para que uma organização evolua. E, infelizmente, quando se olha para o meio da pirâmide hierárquica das entidades esportivas do país, vê-se um déficit enorme em áreas que cuidam exatamente da construção sistemática do futuro organizacional. Não é por acaso que estamos parados no tempo! 

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Vale a pena discutir?

Há diversas formas de conduzir uma discussão sem sequer passar pelo assunto que é cerne do debate. Desviar o foco, por exemplo: funciona em shows de mágica, conversas sobre política ou gestão de esporte. O mesmo vale para abordagens superficiais e erradas: qualquer história de detetive ensina que uma visão sobre uma cena só funciona se for sistêmica. Em geral, deduções fantásticas e chamativas advêm de detalhes que uma análise superficial não consegue considerar. 

Nossa sociedade ainda tem pouca vivência de discussão (sim, aqui a generalização é pertinente). Somos uma democracia jovem e temos um enorme contingente que passou décadas alijado de qualquer conversa sobre o que acontece no país. E como as crianças ensinam, o instinto primitivo em um debate é um atacar o interlocutor em vez do conteúdo.

Some a esse cenário o surgimento de um mural que não existia até a década passada – e que, até por causa disso, ainda não tem funcionalidades totalmente compreendidas. As redes sociais são um amplificador capaz de transformar qualquer um em mídia, e isso também afeta drasticamente o debate.

Entender todo esse contexto é fundamental para balizar qualquer análise sobre o atual cenário do país, mas também é uma introdução relevante em discussões sobre o esporte. Antes de pensar em soluções ou em práticas que podem ser benéficas para toda a indústria, temos instintos que passam por egoísmo, determinação de culpa e combate a rivais.

Meu time perdeu? A culpa é do técnico que escalou mal, do zagueiro que perdeu uma bola ou do atacante que desperdiçou chance clara. Meu time faz temporada ruim? Culpa dessa diretoria incompetente, que montou um elenco incapaz. Meu time está afundado em dívidas? Culpa de gestões passadas, da Lei Pelé, da crise econômica internacional ou de tudo isso. Culpa de alguém, sempre.

Determinar culpados é importante, sim. É um passo fundamental para compreender processos e não repetir erros. O ponto aqui é que apontar o dedo é insuficiente – e mais uma vez, essa lógica serve para política, futebol ou outras searas.

É exatamente isso que os clubes brasileiros têm feito nos últimos meses ao discutir o formato de disputa do Campeonato Brasileiro. É um debate raso, quase sempre direcionado apenas por preferências pessoais ou clubísticas. Pior: é uma conversa influenciada por dados retirados de contexto, que servem mais para confundir do que para elucidar.

Funciona assim com a audiência. Os números do futebol na TV aberta têm despencado a ponto de a Globo discutir se vale a pena manter um espaço para a modalidade em todas as noites de quarta-feira. Trata-se de um processo longo, que não pode (de forma alguma!) ser reduzido a somente um ou dois motivos. As novelas também têm perdido espectadores, por exemplo. Existe novela por pontos corridos?

Em um caso tão complexo, qualquer reducionismo é prejudicial ao debate. O futebol brasileiro não consegue lotar estádios: culpa dos pontos corridos? Será que isso não é uma forma de desconsiderar fatores importantes, como preço, serviço oferecido e até a qualidade do espetáculo?

Por iniciativa de Romildo Bolzan Júnior, presidente do Grêmio, clubes brasileiros têm intensificado um debate sobre o modelo de disputa do Campeonato Brasileiro. A grita chegou à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que criou uma comissão para discutir o assunto. A Globo, principal mecenas da modalidade no país, é entusiasta da mudança.

Mas será que hoje, pouco mais de uma década depois da adoção dos pontos corridos, discutir o modelo de disputa ainda é pertinente? Isso faz algum sentido para a indústria do esporte no país?

Não interessa discutir o modelo de disputa se o futebol brasileiro não pensar num calendário mais evoluído, que tenha projeções claras de temporada para todas as equipes e garanta pagamento anual para todos os atletas. Não interessa discutir o modelo de disputa se não houver uma adequação de receitas e estruturas.

A revista “Placar” de março tem uma reportagem sobre os “escravos da bola”, jogadores de futebol que vivem por migalhas no Brasil. Há casos estarrecedores: jogadores que vivem amontoados em casas e não têm sequer colchões, por exemplo. Menos de 10% dos profissionais do futebol brasileiro recebem mais de um salário mínimo. A realidade dos milionários e perdulários é restrita, e mesmo essa casta está longe da estabilidade econômica – casos de atrasos e calotes não são tão raros entre os maiores clubes do país. Qualquer discussão sobre modelos no futebol brasileiro parece pequena diante de uma realidade tão desumana (ou será que a discussão sobre modelo é parte da realidade desumana?). 

Debater mata-mata ou pontos corridos, afinal, só pode ter duas finalidades: enxergar apenas parte do problema, o que não resolve nenhuma discussão, ou desviar o foco das questões que são verdadeiramente relevantes. De uma forma ou de outra, o futebol só perde com isso. 

O futebol brasileiro necessita urgentemente de um debate, e esse debate precisa ser feito de forma abrangente e cuidadosa. Perder tempo falando sobre como o Campeonato Brasileiro é disputado não é atacar o problema, mas fugir dele.

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A linha de defesa e as bolas cobertas e descobertas

Em outra oportunidade, meses atrás, foi discutida a importância dos adequados ajustes do posicionamento corporal do goleiro, zagueiros, laterais e volantes para potencializar as possibilidades de ação numa equipe que tem o jogo apoiado como princípio de construção em organização ofensiva.

O posicionamento corporal correto é um comportamento que cada jogador deve dominar em todos os momentos do jogo e de acordo com cada circunstância que o jogo o impõe.

Nesta semana, será abordado o posicionamento corporal da primeira linha de defesa (seja com três, quatro ou cinco defensores) de acordo com distintas situações. São elas: bola coberta ou bola descoberta.

No entanto, antes de discutirmos sobre o posicionamento corporal será introduzido brevemente os conceitos de bola coberta e descoberta. Tais conceitos, embora relativamente simples, pelo que tenho notado, geram poucas discussões e reflexões nos diferentes ambientes que se discute futebol.

O acesso a estes conceitos, com estas terminologias, deu-se em solo curitibano através de diferentes profissionais que já os adotavam em seu dia-a-dia de treinamentos.

Para ler a coluna na íntegra, basta clicar aqui

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O futebol brasileiro, a alienação da universidade e o naufrágio alertado por Paulo Calçade

Ao longo dos últimos pouco mais de 15 anos tenho estudado, trabalhado e pesquisado o jogo de futebol.

Sei que é pouco, perto do que muitos treinadores profissionais, especialistas e amigos envolvidos na área têm de prática e de pesquisa.

Mas é quase metade do que tenho de idade.

Posso dizer que de certa forma o futebol representa muito para minha vida, pois me propiciou coisas fantásticas, me levou a pessoas muito interessantes, me deu acesso a uma série de conhecimentos, me oportunizou aprendizados singulares… me possibilitou desenvolvimento pessoal, a saber mais sobre ele (o futebol) e a entender melhor a riqueza e diversidade das relações interpessoais.

Tecnicamente falando, uma das melhores coisas que tenho tido no futebol, é a possibilidade de expor e de ouvir, dentro e fora do Brasil (em fóruns específicos) pensamentos, achados, dúvidas e conclusões sobre o jogo.

Ao longo dos anos, tive contato, em diferentes oportunidades e fóruns, com o que tem sido feito em clubes como o Boca Juniors, o FC Barcelona, o Real Madrid, a Inter de Milão, a Juventus de Turim, o Manchester United, o Mamelodi (África do Sul), além de conhecer um pouco sobre o modelo de desenvolvimento de jogadores em equipes no Canadá e Bolívia.

E com um pé sempre dentro da Universidade, a grata possibilidade de que essas oportunidades se tornassem debates com muitos dos nossos melhores pensadores das “Ciências do Esporte”.

Interessante perceber que muitas das coisas que eram (e são) ditas e expostas em muitos dos fóruns internacionais (conceitualmente falando), eram (e são) de conhecimento, há muito, da nossa Academia (Universidade) – mas, de certa forma, distantes da prática do dia-a-dia do futebol brasileiro.

Quantas coisas por exemplo ditas por professores e amigos aqui, eu acabava escutando lá fora, como se fosse a maior novidade do mundo!?…

“No tempo em que as novidades demoravam a chegar por aqui, ninguém precisava se preocupar com o que o Real Madrid ou Milan faziam na Europa. (…) Nosso esporte sempre funcionou na banguela, movido pela força da gravidade e pela administração amadora dos cartolas. Era o suficiente para competir e sobreviver. Pouco importava se havia algum ponto de intersecção com o resto do planeta (…).” Paulo Calçade (trecho do texto “Os urubus do nosso quintal” (recomendo a leitura dele todo) – no Estadão – vide completo em http://esportes.estadao.com.br/noticias/geral,os-urubus-do-nosso-quintal-imp-,1642377).

Nós, brasileiros, de certa forma, sempre aceitamos indiscutivelmente a ideia de que nascemos no país do futebol.

Não sei se essa premissa é que alimentou, como escreveu Paulo Calçade, o “funcionamento na banguela do nosso futebol, movido pela força da gravidade”, ou se o contrário, foi alimentada por ele (pelo tipo de funcionamento inercial).

Preocupação zero com as “intersecções com o resto do planeta”.
O fato, é que enquanto outras culturas futebolísticas olhavam para frente, para trás, para os lados e para nós, nós só olhávamos para nós mesmos – e não víamos.

E o pior é que de certa forma, penso que ainda estamos olhando, hipnotizados e continuamos não vendo – é a hipnose dos focos errados.

A vitória consistente, com os porquês devidamente respondidos, é um processo; não é um evento isolado, descontextualizado e sem significado simbólico.

A derrota avassaladora não é fruto do acaso…

E se por um lado, a realidade factual nos mostra o quanto deixamos de olhar para o “resto do mundo”, por outro, de certa forma, poucas foram as contribuições internas e genuínas ao olharmos para nós mesmos (e claro, poucas, não significa nenhuma, é bom que se diga).

Tenho que concordar, por exemplo, que uma massa grande de conhecimento produzido pelas Universidades no Brasil (no passado e ainda no presente), exposta a partir das exigências de publicações científicas, tem pouca conexão com a realidade dos problemas de comissões técnicas, jogadores, equipes e clubes de futebol.

É polêmico, mas é real.

Por isso às vezes, o olhar para dentro não tem nos mostrado muitas opções.

Claro, existem muitas exceções (temos que separar o joio do trigo), e sim, a Ciência tem muito para contribuir com o futebol – assim como tem sido em países como Espanha, França, Alemanha, Inglaterra – e também Brasil.

Temos que entender o que está acontecendo lá fora… Sim!!!

Temos que olhar para trás, para frente, para os lados, mas também para NÓS MESMOS, com os óculos adequados e com o foco ajustado (afinal temos que entender o que está acontecendo aqui dentro).

A “hipnose dos focos errados”, para dentro (nosso ambiente) e/ou para fora (ambiente dos outros) é ruim.

Mas desconsiderar o que acontece aqui dentro e/ou lá fora também!!!

E se o “pedido de socorro com o naufrágio em curso” – como bem escreveu Paulo Calçade – não for ouvido ou for mal interpretado, o pior virá; porque apesar de tudo, o navio ainda não afundou!!!

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Perda de pontos no Brasileirão: entenda

O "fair play" financeiro tem por objetivo melhorar a saúde financeira dos clubes de futebol e começou a ser implementado na Europa em 2011 quando as equipes classificadas para as competições da UEFA passaram a ter que provar a inexistência de dívidas em atraso com outros clubes, jogadores, segurança social e autoridades fiscais para poder competir.

Para a temporada 2013/2014, a UEFA apertou o cerco e passou a exigir uma gestão equilibrada em "break-even", ou seja, os clubes não podem gastar mais do que ganham.

A fim de fiscalizar o “fair play” financeiro, a UEFA criou o Comité de Controle Financeiro dos Clubes da UEFA que analisa as contas das equipes.

Os clubes que não cumprirem o requisito do equilíbrio poderão sofrer penas de perda de pontos e até desclassificação.

Vale dizer, que o descumprimento dos regulamentos não implica em exclusão automática, eis que há vários tipos de sanções como advertência, repreensão, multa, perda de pontos, retenção de receitas; proibição de inscrição de novos jogadores; eliminação e/ou exclusão de competições.

Este ano o futebol brasileiro começa a ensaiar os primeiro passos na busca pelo “fair play” financeiro ao apontar indícios de que a CBF trará no Regulamento Geral da Competições a possibilidade de perda de pontos para os clubes que atrasarem o salário dos jogadores.

A punição só ocorreria se os jogadores denunciarem os clubes e seria julgado pelo STJD. Entretanto, não há consenso, ainda, por exemplo, sobre o tipo de atraso salarial, ou seja, se seria considerado somente o valor registrado na carteira de trabalho ou os direitos de imagem também.

Caso se consolide, a iniciativa da CBF configurará um avanço inestimável para o futebol brasileiro, pois criará a atmosfera de confiança necessária para que a renegociação das dívidas fiscais dos clubes seja aprovada e, consequentemente, viabilizará a sua recuperação financeira atraindo-se patrocinadores e valorizando o produto.

O grande desafio é conseguir mudar a mentalidade dos clubes brasileiros e conscientizá-los da necessidade de se manter as contas equilibradas. Ademais, as punições deverão ser efetivas e exemplares, sob pena de todo o esforço ser vão.

O estágio atual do futebol não dá espaço para amadorismo e os resultados em campo são fruto de uma gestão moderna, racional e profissional, cujo exemplo a Alemanha apresentou na Copa do Mundo. 

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Coaching para os tamanhos de projeto esportivo

Quem está começando a ouvir falar sobre Coaching no esporte já pôde perceber que os muitos casos práticos e trabalhos que vem sendo realizados estão em muitas situações ocorrendo em clubes de maior investimento, mais efetivamente aqueles presentes nas séries A e B do Campeonato Brasileiro.

Isso significa que só é possível aplicar um processo de Coaching em ambientes aonde o investimento financeiro se faz presente em grande escala?

Em minha opinião, a resposta a esta questão é não. No meu ponto de vista, o Coaching pode e deve ser aplicado em todos os portes ou tamanhos de projetos esportivos.

Imagine a situação de um clube de baixo investimento no cenário nacional, aquele que convive duramente com seu exercício diário de sua gestão do futebol, tanto em termos financeiros quanto em termos da própria prática esportiva. Será que não caberia neste ambiente um trabalho que pudesse contribuir para a construção de objetivos comuns para todos os envolvidos?

Eu penso que sim, caberia plenamente este tipo de trabalho e vou além, penso ser de fundamental importância uma vez que em muitos casos vale mais o atleta ter a capacidade mental e emocional para evoluir num ambiente onde ele possui objetivos claros e bem definidos e sabe exatamente aonde todos pretendem chegar. Isso por si só já gera uma enorme alavanca de desenvolvimento destes profissionais, pois quando temos uma meta comum e conhecida estamos inconscientemente estimulados ao desafio do aprendizado necessário e contínuo para superar este desafio, representado em forma de uma meta ou mais metas desejadas.

Pensando desta forma, podemos entender que o trabalho sério e bem aplicado de Coaching pode sim fazer parte de todos os projetos esportivos no futebol, sejam eles de grande volume de investimento financeiro ou não. O importante está em conseguir equilibrar e orquestrar o desenvolvimento do trabalho conforme as condições existentes e a clareza dos objetivos esperados por todos ao final do projeto.

E você, concorda?

Até a próxima! 

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Por que tantos problemas não resolvidos?

Vez por outra converso com meus pares, colegas que atuam também na área de gestão do esporte, alunos e ex-alunos e mesmo amigos de fora do meio esportivo e uma pergunta recorrente é: por que o esporte enfrenta tantos problemas e não consegue encontrar as soluções mais adequadas, se parecem tão óbvias?

Talvez parte da resposta esteja no quadro abaixo que montei para esta coluna, comparando o pessoal de uma grande empresa de entretenimento (que administra casas de espetáculo, realiza shows e até eventos esportivos, com sede no Brasil mas também operações na América do Sul) com três grandes clubes do futebol brasileiro (de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre). A empresa de entretenimento faturou pouco mais de R$ 500 milhões no último ano. Os clubes selecionados, somados, faturaram o equivalente a R$ 865 milhões (balanços de 2013), ou seja, média de R$ 288,3 milhões por clube.

* Do autor. Realizado com base em informações retiradas da Rede Social LinkedIN (pessoas que declaram trabalhar nas respectivas empresas selecionadas).
Amostra Total: 564 pessoas.

Não vou me ater aos números absolutos pois, do contrário, estaria tentando comparar “bananas com laranjas”. Vamos focar aos dados relativos que importam e saltam mais aos olhos nesta análise. Em destaque:

1) Atividades-fim: apresenta-se números muito parecidos entre os dois segmentos. Se no caso da Empresa de Entretenimento a atividade-fim pode ser resumida no pessoal de “Produção e Operação” (14,9% do total), no caso dos clubes de futebol são os profissionais de esporte que ocupam este lugar (23,2%). Nada mais natural e plenamente justificável. Aqui, entenda-se, incluem-se todos os profissionais que atuam na área de preparação física, treinamento desportivo, aulas de esporte etc. Poderíamos ainda somar os 12,1% de profissionais que atuam em áreas multidisciplinares (médicos, fisioterapeutas, fisiologistas, ortopedistas, assistentes sociais etc.) que, apesar de não pertencerem efetivamente ao grupo de profissionais em atividades-fim, mas dão suporte direto e muito próximo a estes. Daqui, percebe-se como a área técnica, apesar de muitas (e justas) críticas em alguns segmentos, é claramente o setor mais bem formatado dentro destas entidades. Desconsiderei nesta primeira análise tanto os artistas do mundo do entretenimento quanto os artistas do meio esportivo!

2) Atividades-meio: pelo gráfico, percebe-se como os clubes de futebol são formados por um ambiente extremamente operacional e burocrático, sem um espaço efetivo para áreas de inteligência, estratégia e planejamento. Por isso tem-se 18,7% do pessoal alocado em áreas de Secretariado e Administrativo Geral. Pode-se explicar tal relação pelo fato de os tomadores de decisão pertencerem ao quadro político (não-remunerados ou estatutários), necessitando precipuamente de pessoal que executem demandas e não que desenvolvem projetos efetivamente em prol do crescimento da organização. Em contrapartida, a Empresa de Entretenimento conta com quase 5% do pessoal alocados em áreas de planejamento e estratégia e outros 4,2% na parte administrativa geral. O setor de estratégia e inteligência competitiva é, por exemplo, o responsável pela constante identificação de oportunidades no mercado para a oferta de serviços específicos ao público consumidor.

3) Marketing e Comercial: aqui tem-se uma relação importante. Enquanto a Empresa de Entretenimento possui uma equipe de vendas que representa quase 1/5 do seu quadro de pessoal, os clubes de futebol não alcançam 1% do total. Na área de marketing o equilíbrio é um pouco mais próximo, embora a diversidade de cargos seja o grande diferencial. Na Empresa de Entretenimento os colaboradores atuam principalmente em áreas como o CRM, o Atendimento ao Cliente ou o Pós-Venda de Patrocínio. Nos Clubes, os cargos que mais se aproximam desta premissa são os de Relacionamento com o Sócio Torcedor.

A soma do Item 02 (atividades-meio) com o do Item 03 (marketing e comercial) é capaz de retratar a realidade dos clubes de futebol no Brasil: se não há equipe especializada em planejamento com vistas a inovação e a atenção ao mercado, tampouco força de vendas, preferencialmente subsidiada por informações qualificadas, como se espera vender e faturar mais?

As grandes oportunidades do mercado de entretenimento só serão alcançadas pelos clubes a partir do momento em que deixarem um pouco a arrogância de lado para se debruçarem verdadeiramente sobre construção e desenvolvimento de projetos em atenção a patrocinadores, mídia e consumidores.

E aqui não está-se a sugerir que deve-se diminuir ou minimizar as chamadas “áreas administrativas” ou “operacionais” dos clubes. Elas são fundamentais para que processos e tarefas sejam cumpridos e possam dar todo o suporte para que as atividades-fim sejam aplicadas com excelência.

A reflexão passa muito mais para ter-se a noção da necessidade de se criar núcleos mais robustos de planejamento e que deem suporte para setores de vendas, de modo a atingir o maior número de stakeholders possível.

Se olharmos para o Relatório Anual do Manchester United (2013), por exemplo, vê-se que a equipe de vendas do clube beira as 125 pessoas (não, eu não errei. São 125 colaboradores dedicados a área comercial dos diabos vermelhos). A área comercial, naturalmente, não se limita a venda de patrocínios, obviamente. Trata-se do conjunto de todas as atividades de venda, que vão desde a bilheteria até os naming rights do Centro de Treinamento. Muito por isso que a área de marketing fatura quase R$ 600 milhões (o patrocínio máster, de camisa, representa apenas 15% deste total).

A resposta à pergunta do título desta coluna pode ser tão simples quanto “pessoas”. Tanto em quantidade quanto em qualidade. Tanto na sobreposição de setores quanto na ausência de pessoal para áreas específicas.

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Desempenho financeiro do Flamengo em 2014

Desempenho financeiro do Flamengo

O Flamengo foi até o momento o clube brasileiro que mais chamou a atenção, em termos financeiros em 2014.

O clube da Gávea viu suas receitas crescerem ainda mais que em 2013 e manteve um controle efetivo dos custos com futebol.

Paralelamente resolveu o problema histórico do clube renegociando débitos fiscais, contribuições sociais e FGTS com o Governo Federal.

Todos esses pontos são realmente destaques extremamente positivos da gestão do atual presidente Eduardo Bandeira de Mello. 

Para ler a coluna na íntegra, basta clicar aqui