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A leveza do futebol no banco dos réus

Na última rodada do Campeonato Brasileiro, Luis Fabiano e Carlos Alberto, protagonizaram uma cena que remonta aos tempos românticos do futebol, quando por brincadeira, trocaram tapas e “safanões” .

O fato ficaria marcado como um ato de amizade e leveza em um esporte tão competitivo como o futebol, não fosse a Procuradoria de Justiça Desportiva denunciá-los por conduta contrária à ética desportiva, prevista no artigo 258 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva.

Importante, neste momento, definir ética que corresponde à parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social.

Pois bem, as normas aplicáveis ao caso tratam de punições disciplinares, ou seja, a condutas que assegurem o bem estar dos envolvidos e o bom funcionamento da partida.

A conduta dos atletas, portanto, não viola o respeito à essência das normas, eis que não se ocorreu violência ou prejuízo ao andamento da partida, mas de meros afagos (pouco convencionais, mas afagos) entre os atletas.

O futebol e a vida precisam de mais leveza e de menos “politicamente correto”. Brincadeiras e atos de descontração como comemorações inusitadas e atitudes excêntricas, desde que não perturbem o bem estar e o andamento da partida devem ser toleradas e até incentivadas.

O futebol está na alma do povo brasileiro e sua importância extrapola as quatro linhas, eis que é o espelho da “molecagem” e da irreverência que tanto qualificam o atleta brasileiro.

O Brasil conquistou a alcunha de “país do futebol” graças ao seu jeito “moleque”, leve e bonito de jogar e não por possui 11 “robôs” disciplinados. A irreverência do futebol brasileiro encantou o mundo nas Copas de 1958, 1962, 1970 e 1982.

O 7 a 1 que tanto retunda nos nossos corações também é fruto da onda do “politicamente” correto que, como um tsunami, varre do futebol brasileiro sua alma, sua essência.

O que seria do futebol brasileiro sem os dribles moleques de Garrincha, sem a falta de compromisso tático de Zagalo, sem a Malandragem de Romário ou sem a ousadia de Pelé?

Enquanto o futebol brasileiro insistir na “chatice” do “politicamente correto” e do rigor disciplinar, inclusive com relação a atos lúdicos e românticos como os perpetrados por Luis Fabiano e Carlos Alberto, continuaremos amargando derrotas históricas. 

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O que há de novo no futebol?

Recentemente assisti uma reportagem recente sobre os alguns treinadores que estão fazendo reconhecidamente um bom trabalho no futebol este ano, o foco principal da reportagem abordava a questão da preparação do profissional para o exercício da profissão de treinador de futebol profissional.

Sabemos que seja para aqueles que tiveram uma carreira no futebol profissional, quanto para os que não tiveram uma carreira profissional e talvez tenham tido a oportunidade de praticar o esporte de maneira amadora, alguns pilares podem ser fundamentais no desenvolvimento de uma carreira de treinador.

Destaco os pilares que acredito terem contribuição efetiva para uma boa carreira de treinador.

• Estudo e formação – o estudo adequado e a formação de qualidade sobre o desporto e sobre a modalidade para qual se deseja trabalhar formam bases fundamentais para o profissional que atuará como treinador profissional de futebol.

• Realização de intercâmbios – os estágios, intercâmbios e ciclos de aprendizagem orientada são igualmente importantes para os futuros profissionais, uma vez que nesses momentos o treinador em desenvolvimento pode observar na prática a aplicação de muitos conceitos aprendidos durante seu desenvolvimento acadêmico sobre o tema. Vivenciar experiências distintas e poder compreender estilos de jogos e dinâmicas diferentes poderão ampliar a visão deste futuro profissional.

• Busca pelo desenvolvimento contínuo – a busca constante por aprimoramento dos seus conhecimentos pode contribuir para que este profissional possa desenvolver novas formas de pensamento, amplitude de conhecimento técnico e tático, além de aumento da capacidade de argumentação profissional no seu ramo de atuação.

• Conhecimento do ser humano – buscar conhecimentos sobre o funcionamento do ser humano e também do funcionamento da mente humana irá contribuir para o treinador compreender o universo complexo que somos cada um de nós, com isso ele poderá entender essencialmente as diferenças dos seres humanos, seus atletas, podendo ter consciência elevada de que cada um pode ser abordado de uma forma diferente, aumentando as chances de sucesso em sua capacidade de comunicação.

• Desenvolvimento da empatia e liderança – a empatia e a liderança desenvolvidas poderão contribuir e muito para que o treinador possa entrar no universo dos seus atletas, se colocando quando necessário no lugar deles para que possa interpretar cada vez melhor as situações cotidianas de seu elenco. Uma capacidade de liderança bem desenvolvida possibilitará ao futuro treinador promover coesão de suas equipes, atuando junto aos atletas e oferecendo suporte apoio adequado ao desenvolvimento de todos eles. Contribuirá igualmente para ampliar sua capacidade de resolução de conflitos e sua habilidade em conduzir o grupo aos melhores resultados coletivos e individuais.

Bem, essa é apenas uma reflexão a respeito de quais pilares poderiam fornecer melhor base para formação dos futuros treinadores de futebol profissional e podemos constatar que vão além do conteúdo mínimo e necessário de uma boa formação acadêmica.

Até a próxima! 

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Pela porta da frente

Por seguir Barcelona, Messi e Neymar no Instagram, minha manhã de segunda começou inundada de fotos do atacante Pedro, recém-contratado pelo Chelsea e que, inclusive, marcou gol na estreia pelo novo clube no Campeonato Inglês. Foi a despedida do atacante espanhol do clube catalão, realizada na própria segunda-feira, um dia após a sua estreia no clube londrino.

O que foi feito pelo Barcelona em relação a Pedro é uma forma comum de os clubes europeus tratarem seus ídolos, ou ex-ídolos. É para ser vista, pensada e aprendida pelos clubes brasileiros. Por aqui, tem-se um hábito muito ruim de tratar mal aqueles que trocam de clube ou que deixam o clube por ter acabado um ciclo esportivo. Pensa-se em “trairagem” ao invés de encarar com a naturalidade cíclica que um nível competitivo tão alto exige.

Em determinados momentos, o casamento entre interesses individuais já não combinam mais com os coletivos por uma série de circunstâncias, o que leva a um processo natural de ruptura. Nem por isso essa ruptura precisa virar “novela mexicana”. Ela pode terminar com algo bom para todos, mostrando que tudo faz parte de um processo – e realmente faz!

Foi o que o Barcelona fez com Pedro. Não foi o que o Palmeiras, recentemente, fez com Valdivia, por mais que não se possa comparar o comportamento dentro e fora de campo de ambos jogadores. Apenas para ficamos em dois exemplos com atitudes diametralmente opostas dos respectivos clubes.

Um tratamento elegante desmoraliza qualquer atitude de enfrentamento, choque ou oposição ao término de um ciclo, em que se poderia contar tão somente as coisas boas da relação. Perde-se a oportunidade de falar bem e escolhe-se a opção pelo ruim, o fracasso ou o que não deu certo.

O processo como o de Pedro+Barcelona acaba sendo bom para todos: (1) para as marcas do clube e do atleta, que são vistas sob o holofote de notícias positivas e não no caderno de fofocas, que poderia denegrir a imagem de todos os participantes; (2) para o clube, que passa uma mensagem positiva para os jogadores que estão no elenco naquele momento, de que poderão receber um tratamento respeitoso em eventual desejo de saída. Isso tranquiliza qualquer ambiente de trabalho e impacta sim na performance da equipe; e (3) para o jogador, que mantém as portas abertas e a admiração dos torcedores, sem a necessidade de se criar tumulto em eventual duelo futuro.

Este é só um exemplo de muitos que tem ocorrido de maneira similar em clubes europeus. Como disse no início, eis um trabalho que precisamos aprender, absorver e aplicar efetivamente aqui em nosso mercado, de modo a contribuir com a construção de um mercado mais sólido. A construção de ídolos/mitos é uma peça importantíssima neste processo! 

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O curioso caso do líder Corinthians

Atrasos em contas e salários. Dívida crescente e dificuldade para obter fluxo de caixa em curto prazo. Desmanche no meio da competição. Jogadores com muito tempo de casa e passado vencedor ficam perto do fim de seus contratos, mas não são procurados para negociar novos vínculos. Reforços rendem pouco, e a principal contratação da temporada acaba relegada ao banco de reservas. Ainda assim, a liderança de um torneio tão equilibrado quanto o Campeonato Brasileiro. O Corinthians de 2015 pode não ser um exemplo de gestão institucional ou de bom futebol, mas é definitivamente um case de gestão de pessoas.

Nos oito meses do ano, não foram poucos os assuntos que poderiam ter minado o desempenho alvinegro. Principalmente pela questão financeira – com dívida crescente e a necessidade de pagar custos referentes à construção de seu estádio, o Corinthians atrasou salários, premiações e valores referentes a compra de direitos de atletas. Além disso, deixou de renovar com Paolo Guerrero, perdeu nomes como Fabio Santos e Emerson Sheik e tentou empurrar para fora do clube outros titulares, como Gil e Elias.

Jogadores como Danilo e Ralf, campeões de tudo pelo Corinthians, ambos com cinco anos de casa, têm contrato até o fim do ano e ainda não chegaram a qualquer definição sobre futuro. Em meio a esse processo arrastado, os dois também perderam espaço na rotação montada por Tite: Ralf, que já foi capitão, hoje é reserva de Bruno Henrique; Danilo, outrora uma espécie de 12º jogador, perdeu minutos e tem sido menos acionado.

O que o Corinthians tem feito com os dois pode ser comparado com um caso do atual vice-líder do Campeonato Brasileiro. No Atlético-MG, o lateral direito Patric também tem vínculo apenas até o fim do ano e não chegou a um acordo para renovação. O jogador assinou pré-contrato com o Osmanlispor (Turquia), foi afastado pelo técnico Levir Culpi durante dez partidas, recebeu críticas públicas de dirigentes, desistiu de sair e agora tenta encontrar um meio legal para seguir na equipe brasileira.

E o caso de Vagner Love, então? Maior contratação da temporada, dono de um dos maiores salários do elenco, o jogador oriundo do Shandong Luneng perdeu espaço e deixou até de entrar em algumas partidas. Em outros clubes, esse roteiro seria suficiente para reclamações e insatisfação. No Corinthians, ele até chegou a se manifestar de forma negativa depois de uma substituição, mas logo contemporizou. A diferença de perfil dos atletas conta nesse caso, é evidente, mas o que chama atenção é a condução que o líder do Brasileirão teve em todas essas histórias.

Talvez seja justamente esse o maior mérito de Tite no atual Corinthians. De volta ao clube em que foi vitorioso, o técnico tem alguns aspectos que o transformam em para-raios: é respaldado pela torcida, sabe gerir pessoas e vive num contexto de paz política.

Tite e os responsáveis pelo departamento de futebol conseguiram blindar o Corinthians de todas as coisas erradas que aconteceram em 2015, e isso não é pouco. Até seleções brasileiras, como a que disputou a Copa do Mundo de 1990, já tiveram ambientes minados por questões administrativas.

Isso não faz do Corinthians um mundo perfeito. Sequer faz do clube um favorito ao título ou às primeiras posições do Campeonato Brasileiro. Independentemente do desfecho da história, porém, o grau de competitividade de uma equipe tão abalada por fatores externos é notável.

O Corinthians é exemplo do quanto o fator humano é importante no futebol. O futebol é um esporte, e nós costumamos avaliá-lo a partir de diferentes aspectos – tático, físico e técnico, por exemplo. Enquanto a lupa, os telões interativos e as imagens pausadas pululam em análises, o componente humano ainda é pouco abordado. E o esporte, afinal, é feito de gente.

Ou não foram componentes humanos que decidiram o triunfo do Flamengo sobre o São Paulo no último domingo (23)? O time paulista vencia por 1 a 0 no Maracanã, mas falhas assustadoras de Thiago Mendes e Auro deram base para a virada. Foram erros técnicos, de fundamentos, mas eles teriam acontecido se os atletas estivessem concentrados, tranquilos e convictos de suas ações?

O futebol é um trabalho como outros, e é comum que os profissionais tenham lapsos em qualquer ambiente. Erros podem ser potencializados por problemas pessoais ou questões simples – uma dor de dente, uma conta atrasada, um filho doente ou uma briga em casa, por exemplo. Em qualquer processo de gestão de pessoas, lidar com isso é um processo fundamental.

Em diferentes graus e de diferentes fontes, problemas vão existir sempre e vão afetar constantemente o rendimento dos profissionais de qualquer segmento. No caso do futebol, já passou da hora de entendermos que isso acontece e que os atletas não podem ser vistos apenas como máquinas. A blindagem feita pelo Corinthians é uma prova inequívoca do quanto isso é relevante.

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O encaixe de área para evitar gols!

Caro leitor,

Na última coluna, foi discutido um princípio defensivo que tem como objetivo minimizar as possibilidades de finalização do adversário, logo, de gols, a partir de jogadas com cruzamentos.

No texto, foi sugerida a realização de um encaixe de área, executado com marcação individual nos jogadores que estão em zonas potenciais de finalização, em situações imediatamente prévias aos cruzamentos.

Para ler a coluna na íntegra, basta clicar aqui

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A solução de demandas entre clubes e atletas estrangeiros

Anualmente, centenas de jogadores de futebol saem do Brasil para tentar a sorte no exterior.

Estamos acostumados a acompanhar as grandes Ligas como a Inglesa, espanhola ou alemã, no entanto, a grande maioria dos jogadores transfere-se para mercados periféricos como a América Central e até a Africa ou para mercados emergentes como EUA, China e Leste Europeu.

Invariavelmente, os clubes contratantes não cumprem suas obrigações e o atleta se vê obrigado a rescindir o contrato e/ou buscar meios para a garantia de seus direitos.

Ciente da dificuldade em se harmonizar ordenamentos jurídicos de países diferentes, a Fifa criou uma Câmara para julgar as questões que envolvam atletas e clubes de países diferentes.

A fim de reduzir os custos da demanda e viabilizar o acesso aos atletas, as ações envolvendo contrato de trabalho não há a cobrança de taxas ou custas.

Alem disso, os pedidos e toda a documentação pode ser enviada por fax ou pelos correios. As comunicações da Fifa se darão da mesma forma.

Independente do idioma dos envolvidos, as partes deverão apresentar seus pedidos e encaminhar a documentação em um dos idiomas oficiais da Fifa que são inglês, francês, espanhol ou alemão.

As regras procedimentais bem como os direitos e deveres dos atletas e clubes estão previstos nas normativas da Fifa.

A legitimidade desta Câmara para a solução dos conflitos é oriunda dos Estatutos da entidade que são aceitos quando pelos clubes no momento da filiação e pelos atletas quando tem seus contratos registrados.

Finalmente, havendo condenação, caso os clubes não façam os pagamentos, a Fifa poderá puni-los com perda de pontos, suspensão, eliminação e ate desfiliação. 

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E agora, onde está minha carreira?

Já escrevi algumas vezes aqui sobre as fases e as transições de uma carreira esportiva, inclusive o tema da minha palestra na edição deste ano do Fórum Nacional de Coaching foi sobre exatamente sobre este assunto.

Mas hoje não tenho a intenção de abordar o tema com uma visão sobre o que pode ser feito para contribuir com esse problema, e sim para estimular o debate sobre o que realmente tem sido feito no país sobre o assunto.

Me questiono se as confederações, federações, clubes e sindicatos possuem projetos estruturados para apoiar os atletas de futebol nos momentos de transição de carreira. Me questiono se realmente estamos interessados em apoiar o atleta nessa transição das mais difíceis de toda sua carreira, ou seja, o momento de deixar o futebol profissional e transitar para uma nova carreira, seja ela no esporte ou não.

Estamos tendo o cuidado necessário com os nossos atletas após o período de evidência e alta performance ou estamos deixando todos destinados a boa ou má sorte de escolhas aleatórias ou não refletidas sobe novos caminhos a seguir, após a carreira como atleta profissional?

A questão aqui não é ser repetitivo, mas sim estimular para estarmos cada vez mais sensíveis a esse assunto e discutirmos abertamente sobre alternativas para uma boa tratativa de apoio estruturado a estes seres humanos, que deixam de ser destaques e ídolos num país carente de heróis e que observa o desenvolvimento estruturado no esporte por espasmos e sem modelos definidos para execução deste desenvolvimento.

O espaço para a discussão existe e está aberto a todos nós, basta começarmos.

E aí, vamos conversar a respeito?

Até a próxima! 

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O relacionamento com o torcedor

Após aproximadamente 4 anos, finalmente, leio uma notícia que remete para um projeto a ser iniciado, gerido e implementado pelos clubes em prol do relacionamento com o seu torcedor.

Trata-se da inédita parceria entre Atlético Paranaense e Coritiba para a formatação de um clube de vantagens para os seus fãs. A informação está na Máquina do Esporte desta terça-feira (18-ago): http://maquinadoesporte.uol.com.br/artigo/sem-movimento-dupla-atletiba-repete-tatica-para-atrair-socios_28909.html

A “fórmula mágica” de se deixar na mão de terceiros a exploração de uma comunicação / gestão que deveria ser feita pelos clubes ou pela liga administrada pelos clubes parece dar os primeiros sinais de esgotamento em face do modelo adotado pela AMBEV.

Logicamente, para a AMBEV, o projeto é e continua sendo excelente. Para os clubes, além do comodismo e de alguns trocados, a iniciativa despertou para o potencial que há no relacionamento com os fãs. Isso impactou, naturalmente, os programas de sócio-torcedor – cujo modelo, venho alertando há algum tempo, não é sustentável no tempo, especialmente pelo formato como é conduzido pelos clubes brasileiros.

Um projeto de CRM, para se alcançar todo o seu potencial, necessariamente precisa ser implementado e gerido pelo detentor da marca com o suporte de empresas de tecnologia e/ou marketing para a sua alavancagem. As informações sobre os fãs, portanto, são de utilidade unicamente da marca e de seus parceiros estratégicos, que irão trabalhar em conjunto para atingir objetivos similares ou complementares ao dialogar com o público-alvo.

Que o “Clube de Vantagens ATLETIBA” seja o primeiro de muitos. Há muita coisa a se desenvolver no futebol brasileiro. A principal delas está na relação com os torcedores de cada clube. 

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O campeonato que se sabota

Encerrado no último fim de semana, o primeiro turno do Campeonato Brasileiro podia ter sido marcado pelo sucesso das rodadas matinais aos domingos – jogos às 11h tiveram a melhor média de público da competição, e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) aumentou a pedido das equipes a quantidade de partidas no horário. Também podia ter sido um período marcado pelas novidades (em campo, com a consolidação de jogadores jovens como Luan, Gabriel, Jorge, Jemerson, Renan, Otávio e Malcom, ou fora, com a ascensão de treinadores com boas propostas, casos de Eduardo Baptista e Roger Machado). Entre tantas histórias para contar, porém, a marca da principal competição do futebol nacional é mais uma vez o quanto ela se sabota.

A metade inicial do Campeonato Brasileiro de 2015 teve média de 2,2 gols por jogo e um nível técnico superior ao que foi apresentado em edições anteriores. A evolução em alguns aspectos é nítida, e um exemplo é o desenho dos gols anotados pelo Grêmio na vitória por 2 a 0 sobre o Atlético-MG na última quinta-feira (13). Ambos foram construídos a partir de troca de passes (22 toques seguidos até a conclusão de Douglas no primeiro caso). Não é otimismo exacerbado: ainda que esteja aquém de torneios internacionais e do potencial local, o nível técnico do principal certame nacional evoluiu neste ano.

O Campeonato Brasileiro de 2015 também tem sido extremamente competitivo, com alternância de posições em quase todos os trechos da tabela – a exceção é a zona de descenso, que tem sido mais constante. E nem a proximidade entre os times que ocupam as primeiras posições é assunto.

Horas depois do término do primeiro turno, falamos sobre arbitragem. Falamos sobre os erros que ajudaram o Corinthians, atual dono da primeira colocação, e sobre a falta de critério no apito – da escolha dos juízes e auxiliares à marcação de cada lance. Atlético-MG e Flamengo, dois times prejudicados no fim de semana, enviaram representações à CBF para reclamar.

A arbitragem também é o tema que domina os debates sobre futebol brasileiro na TV (e não apenas na TV aberta). Todos os canais têm especialistas para debater cada lance e mostrar no vídeo paralisado o quanto deveria ter sido simples a decisão que o árbitro tomou em segundos. Falar de polêmica acrescenta pouco, mas chama atenção. Nossa mídia tem se tornado especialista em analisar o esporte parado, sem todas as intercorrências do instante em que a decisão é tomada.

Também existe aí o componente da leviandade. Os debates sobre arbitragem têm aproximado muito a mídia brasileira do que acontece nos bares e distanciado do que é jornalismo. São opiniões irresponsáveis, rasas e desprovidas de qualquer apuração. Tudo assim, empilhado, simplesmente pela polêmica.

Pense então na pressão que isso gera para os árbitros. Formadores de opinião (jornalistas, jogadores, técnicos e dirigentes) passam horas discutindo cada lance em que eles erram ou acertam e sugerindo intenções ocultas em cada um, ainda que não apresentem provas. Torcedores ressoam isso e colocam em dúvida a lisura do trabalho de todos, de forma generalizada. A partir disso, toda decisão passa a ser questionada ou avaliada a partir de pré-conceitos.

Erros e acertos são inerentes a qualquer atuação humana, e a arbitragem não pode ser excluída disso. Entretanto, esse é um claro exemplo do quanto temos dificuldade para a crítica construtiva. Há anos convivemos com reclamações e acusações sobre arbitragem, mas quais foram as propostas no período, da CBF, dos clubes ou de qualquer outra parte interessada, para que isso fosse minimizado? Qual é a preparação que os donos do apito têm para lidar com um ambiente de tão grande pressão?

É sempre mais fácil sugerir. É sempre mais fácil gerar a polêmica pela polêmica. Mais uma vez, perdemos a chance de identificar um problema, discutir modelos viáveis e trabalhar para evoluir. O futebol brasileiro tem uma restrição inexplicável a qualquer processo.

O pior é que a arbitragem é apenas um dos tópicos em que o Campeonato Brasileiro perde espaço em qualquer discussão. O futebol do primeiro turno também foi suplantado, por exemplo, pelas mudanças causadas nos elencos. Com a desvalorização da moeda local e a perda de potencial econômico de curto prazo na maioria das equipes, o êxodo de atletas subiu de forma assustadora. Entre os 11 titulares do Flamengo contra o Palmeiras no último domingo (16), cinco sequer integravam o elenco profissional rubro-negro no início do torneio nacional.

O Campeonato Brasileiro de 2015 também foi (e vai continuar sendo) o torneio em que os times perderam peças relevantes em momentos nevrálgicos. Em setembro, por exemplo, convocações da seleção brasileira principal e do time nacional sub-23 vão tirar 16 atletas da Série A. Esses jogadores perderão duas ou três rodadas, o que pode ter peso decisivo numa competição tão equilibrada.

Arbitragem, êxodo de atletas e um calendário que compete com os jogos da seleção brasileira são apenas alguns exemplos do quanto o Campeonato Brasileiro é um produto que se sabota. É difícil falar de futebol quando os assuntos mais relevantes estão sempre à margem.

Havia uma lista de marcas possíveis para o primeiro turno do Campeonato Brasileiro. No fim, infelizmente, o torneio de 2015 vai ser visto como o que teve pouca ou nenhuma evolução nas questões que mais precisava discutir.

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Arbitragem e a credibilidade no futebol

Antes da partida decisiva contra o Corinthians, válida pela penúltima rodada do 1º turno do Campeonato Brasileiro, o Sport Recife protestou junto à Comissão Nacional de Arbitragem contra a escalação do árbitro Luiz Flávio de Oliveira, eis que pertence à Federação Paulista de Futebol.

O principal fundamento do clube alvinegro é de que árbitros de determinada Federação não deveriam apitar partidas de clubes filiados a ela.

A Comissão Nacional de Arbitragem manteve a escalação do árbitro paulista e a partida acabou sendo decidida em uma marcação de pênalti polêmica em favor do Corinthians, filiado à Federação Paulista de Futebol.

Vale dizer que na rodada anterior, a arbitragem deixou de marcar um pênalti contra o Corinthians em um lance muito parecido e que o mesmo árbitro não marcou uma penalidade em favor do Flamengo em partida contra o Cruzeiro em um lance praticamente idêntico.

O Estatuto do Torcedor estabelece em seu artigo 30 que é direito do torcedor que a arbitragem das competições desportivas seja independente, imparcial, previamente remunerada e isenta de pressões.

No caso em comento, era pública e notória a pressão sofrida pelo árbitro, uma que vez que pertence à mesma Federação de um dos clubes e que este clube que disputa o título já havia sido beneficiado por um erro de arbitragem na rodada anterior. A tudo isso se soma a suspeição apontada pelo clube adversário, o Sport Recife

Ora, em se tratando de esporte, não basta ser honesto, tem que parecer honesto. É justamente por isso, por exemplo, que o art.27-A da Lei Pelé proíbe que duas ou mais entidades de prática desportiva disputem a mesma competição quando uma mesma pessoa explore, controle ou administre direitos que integrem seus patrimônios.

Assim, para o desporto, não basta ser honesto, tem que parecer honesto, tal como está inserido na essência do art. 27-A da Lei Pelé. Tal medida é indispensável para a evolução do desporto de forma técnica e também de sua credibilidade como negócio.

Ademais, a arbitragem da partida estava eivada de pressão o que, como exposto, violação ao artigo 30 do Estatuto do Torcedor.

Por fim, urge acrescer que o futebol corresponde a um negócio que movimenta, além de paixão, altíssimos valores financeiros, bem como gera empregos e eventuais dúvidas quanto à sua imparcialidade acabam por desvalorizar o “produto”.