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Machismo no futebol?

A apresentação das novas camisas do Clube Atlético Mineiro gerou imensa polêmica. Primeiro pelo fato das modelos exibirem “moda praia”, incompatível com a apresentação de uniforme esportivo. Segundo, pelo fato de as camisas promocionais distribuídas constarem, acima das instruções de lavagem, a frase “dê para sua mulher lavar” (tradução livre).
Não há dúvidas que o futebol seja um campo predominantemente masculino e que as mulheres encontrem barreiras para adentrarem neste universo.
Aliás, infelizmente, a sociedade em geral ainda é bastante machista. As mulheres acabam sendo pior remuneradas que os homens e são vítimas de sexismo, ou seja, são vítimas de exclusão ou rebaixamento.
Segundo Karin Ellen Von Smigay, as culturas, chamadas “falocráticas”, trazem “um vasto conjunto de representações socialmente partilhadas, de opiniões e de tendência a práticas que desprezam, desqualificam, desautorizam e violentam as mulheres, tomadas como seres de menor prestígio social”( SMIGAY, Karin Ellen von (2002). “Sexismo, homofobia e outras expressões correlatas de violência: desafios para a psicologia política”. Psicologia em Revista. Belo Horizonte. p. 34. Consultado em 02 de setembro de 2013.)
Ao contrário do futebol, o universo dos desfiles de moda é predominantemente feminino e a beleza e exuberância das mulheres são comumente utilizadas nos grandes eventos e nas capas de revista. Modelos femininas se tornam celebridades mundiais.
O evento de lançamento de uniformes suplanta o mundo futebolístico e busca o glamour do mundo da moda. Nos desfiles da nova camisa do Atlético viu-se claramente a intenção de “copiar” os grandes eventos de moda que são difundidos pelo mundo afora.
O que houve ali não foi uma violência ou uma desqualificação da imagem da mulher, pelo contrário, aconteceu a exaltação das mulheres, protagonistas do mundo “fashion”.
No que tange à mensagem “give it to wife”, não se trata de fato novo.
A empresa Salvo Sports que fornece material esportivo para clubes da SuperLiga da Indonésia foi alvo de polêmica no início de 2015 por trazer em seu material a frase “give it to your woman”.
Na Inglaterra, a empresa Flagship Store vendeu camisas que informavam “Give It To Your Woman, It’s Her Job” (dê para a sua mulher, isso é trabalho dela) e foi alvo de críticas nas redes sociais.
No mundo atual em que as mulheres cada vez mais dominam espaços que antes eram predominantemente masculinos, a frase estampada na camisa só pode ser encarada como uma brincadeira. De mau gosto sim, mas uma brincadeira.
Uma brincadeira que, aliás, faz escárnio do próprio ambiente masculinizado que o futebol remete.
O fato é que essas “brincadeiras” tendem a perder cada vez mais o sentido no momento em que as mulheres, os homossexuais, os negros, dentre outros, forem inseridos no contexto da igualdade social e sentirem-se seguros e aptos para rirem das próprias piadas que também são desferidas contra gordinhos ou carecas que não se sentem ofendidos, uma vez que não são alvo de restrição de direitos e violência.
Os homens brincam com naturalidade sobre o fato da “mulher mandar neles”, justamente porque se sentem seguros ao ponto de fazer piada.
O fim do machismo e de todo preconceito não está na extinção de “piadas” ou de manifestações ásperas em redes sociais, mas em ações efetivas, inclusive das próprias mulheres que, muitas vezes, presenteiam suas filhas com “panelinhas” e “tanquinhos” e já criam, na infância, a ideia de que a mulher tenha a função de cozinhar, lavar e passar.
As atitudes dizem mais do que qualquer palavra.
O mundo precisa de atitudes positivas no intuito de exaltar o papel de protagonista das mulheres não só no cenário esportivo, mas em todo o cenário social e profissional.
As mulheres são a fonte da vida e do equilíbrio do mundo. Não se vê mulheres envolvidas em guerras e em grandes atos de violência. As mulheres são dotadas de uma capacidade infinita de lidar com obstáculos e várias atividades ao mesmo tempo se perder a ternura e a humanidade.
O Brasil é governado por uma mulher. A Alemanha também. Os Estados Unidos podem ter uma mulher na presidência em breve.
Não é uma brincadeira de mau gosto que retirará das mulheres o seu papel de personagem principal no teatro da vida.
Que o futebol e todos, nos curvemos às mulheres!!!!