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O que o ambiente de treino deve favorecer

Influenciamos e somos influenciados pelo ambiente! Ao longo da minha trajetória profissional, posso afirmar que trabalhei em clubes e com pessoas preocupados com o desenvolvimento do futebol brasileiro. Estes ambientes sempre me tiraram da zona de conforto, direcionaram meus estudos e influenciaram minha prática, sustentada pelas reflexões e aprendizagens que as trocas permanentes de conhecimento proporcionaram. Quando paro e penso em que nível me encontraria se meus caminhos profissionais tivessem sido outros, em ambientes pouco críticos e/ou avessos ao conhecimento, agradeço as oportunidades que tive.
Em uma delas, numa das ações de capacitação de um dos clubes que trabalhei, participei de uma aula com o psicólogo do clube, presente na rotina mas não no dia a dia de treinamentos, sobre os elementos que as comissões técnicas devem desenvolver em seus jogadores, através do treino, para potencializar a aprendizagem.
Na ocasião, o psicólogo afirmou que é dever das comissões técnicas encontrar formas inovadoras de ensino/estímulos/treinamento, que possibilitem um maior desenvolvimento e aperfeiçoamento dos atletas. Neste contexto, foi abordado o conceito de neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de ser alterado, modificar suas funções e aprender novas tarefas e foi discutido também que o caminho para o maior desenvolvimento dos jogadores é o de um ambiente que proporcione uma “desacomodação” contínua.
Afirmou ainda que, num cenário em que a evolução da modalidade e dos métodos de treinamento são significativos, é indispensável uma prática profissional com visão sistêmica e transdisciplinar. Temas bastante debatidos na Universidade do Futebol.
A partir destes tópicos introdutórios, o profissional concentrou sua apresentação em três elementos que devem ser desenvolvidos no treinamento sob o ponto de vista psicológico. São eles:
* o foco atencional;
* o endurance psicológico;
* a intencionalidade e consciência corporal.
Resumidamente, sintetizando as explanações do próprio psicólogo, entende-se por foco atencional a capacidade de, diante de inúmeros estímulos, selecionar àqueles que voluntariamente serão dispensados atenção; endurance (ou resistência) psicológica como a capacidade de suportar emocionalmente tarefas que nos são impostas; e intencionalidade/consciência corporal, que significa agir com significado (intenção) em um determinado contexto.
Como a atuação deste profissional não se estendia às atividades de campo, mesmo que sob o viés observacional, aparentemente, faltavam exemplos reais que pudessem deixar mais tangíveis os conceitos discutidos.
Aparentemente, pois bastava estabelecer as relações de uma metodologia sistêmica, que tem o Jogo como essência do processo de ensino-aprendizagem para concluir o quanto os elementos supracitados são estimulados.
Se você trabalha com Jogos, seguramente, deve ter um exemplo de um treino em que o ambiente criado, desafiador, imprevisível e suspenso à realidade, potencializou o desenvolvimento destes três elementos, permitindo abordagens relevantes no processo de construção do modelo de jogo (que é tudo, logo, também psicológico).
Obrigado, dr. Gilberto por trazer ricos argumentos e contribuir significativamente com minha atuação profissional.
Deixo, leitor, uma reflexão: em sua opinião como desenvolver o foco atencional, endurance psicológico e intencionalidade específicos?
Abraços e bons treinos!

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Campeonato Gaúcho desrespeita Estatuto do Torcedor

Em 15 de maio de 2003 foi promulgada a Lei 10.671, denominada Estatuto do Torcedor, com o objetivo de regulamentar direitos e deveres de um consumidor específico, ou seja, aquele que acompanha eventos esportivos.
O capítulo “Da transparência na organização” cria a figura do Ouvidor da Competição (art. 6º), pessoa designada pela entidade responsável pela Organização da Competição, cuja função é de servir de contato entre torcedores e a entidade organizadora do evento, anotando sugestões dos torcedores.
Além disso, as entidades de prática devem promover a comunicação com o seu torcedor e esta poderá se dar por meio de uma ouvidoria estável. No que diz respeito à comunicação com os clubes, Internacional e Grêmio são grandes exemplos.
O Internacional possui Ouvidoria com Ouvidores nominalmente conhecidos (Ouvidor Geral: Fernando Baptista Bolzoni, Ouvidor Adjunto: Jasson Ayres Torres), cujo contato se dá pessoalmente na Av. Padre Cacique, entre os portões 5 e 6, ao lado da Central de Atendimento ao Sócio (CAS), de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, por telefone: (51.3230.46.00 opção 5) ou por e-mail ouvidoria@internacional.com.br .
O Grêmio, por sua vez, também possui ouvidoria e ouvidores nominalmente conhecidos (Ouvidor: Cesar Luis de Araújo Faccioli, Ouvidor adjunto: Guilherme Weber Luce, Ouvidor Adjunto: Luiz Felipe Barth), cujos contatos podem se dar pessoalmente no estádio, esplanada oeste, junto a Gremio Mania Megastore, segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 18h, por telefone (51.32182001) ou por e-mail ouvidoria@gremio.net. Além disso, nos dias de jogos há plantão de atendimento.
Ao contrário de Inter e Grêmio, a Federação Gaúcha de Futebol não faz qualquer menção, em sua página inicial, ao ouvidor e, consultando-se os regulamentos das competições, constata-se a inexistência de ouvidoria, o que viola o Estatuto do Torcedor.
No “link” contato (canto superior do site) há um formulário em que pode-se direcionar manifestações ao “departamento” denominado “Ouvidoria” sem, no entanto, haver informações acerca do ouvidor.
Assim, mesmo após quase 13 anos do Estatuto do Torcedor, seus dispositivos permanecem descumpridos e cabe ao torcedor e ao Ministério Público exigir seu cumprimento e a aplicação de penalidades que podem culminar, inclusive, com a destituição dos dirigentes.

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O futebol brasileiro e o ano que não tem mais 12 meses

Desde o início da década, quando a implosão do Clube dos 13 redundou na individualização de negociações de mídia no futebol brasileiro, pulularam previsões de que haveria uma “espanholização” no esporte mais popular do país. O termo remete à realidade da Espanha, que também não é adepta de acordos coletivos para cessão de direitos e que tem nesse modelo uma das explicações para concentração de renda nas mãos de Barcelona e Real Madrid. No entanto, os primeiros anos da prática no cenário nacional não foram suficientes para emular o panorama ibérico. Muito da imprevisibilidade tem a ver com idiossincrasias locais, como a duração da temporada.
O Campeonato Brasileiro, principal competição nacional, vai de abril a dezembro. Os times que fazem as melhores campanhas obtêm vagas na Copa Bridgestone Libertadores, cujo início varia entre janeiro e março. Contudo, o torneio sul-americano não oferece ganhos financeiros relevantes. Planejar-se para ele, portanto, tem mais a ver com uma expectativa esportiva.
Se um time não vai disputar a Copa Libertadores ou não possui uma expectativa realista de vencer a competição, não faz sentido investir grande parte do orçamento entre janeiro e abril. É possível montar um elenco com apostas durante o Estadual e concentrar despesas no período do Brasileirão.
A receita funcionou perfeitamente para o Sport na temporada passada. Grande surpresa positiva do Campeonato Brasileiro, o time pernambucano conseguiu montar um elenco forte para o certame nacional porque concentrou seu orçamento em oito meses. O time que disputou o Estadual era mais barato e serviu para testar opções para o restante da temporada (garotos egressos das categorias de base ou reforços cujo desempenho era menos conhecido, por exemplo).
É isso que o Botafogo tem feito no início de 2016. Recém-promovido à elite do futebol nacional, o time alvinegro não cedeu à tentação de desmontar o elenco da Série B e criar de cara um novo grupo para primeira divisão. Muitos jogadores saíram, é verdade, mas a diretoria preferiu ter no Estadual um grupo composto por jovens – o centroavante Luis Henrique, 17, é a principal aposta – e reforços como Joel Carli, Damián Lizio e Gervasio Nuñez.
A principal missão do Botafogo no Estadual é identificar quais jogadores poderão ser aproveitados no restante da temporada. A partir disso, buscar reforços que complementem e qualifiquem o elenco.
A proposta tem a ver com a diferença de receitas do futebol brasileiro. O Botafogo faturou R$ 163,4 milhões em 2014 (o balanço foi publicado em abril de 2015). Foram quase R$ 200 milhões a menos do que o Flamengo, líder de receitas do país na temporada (R$ 347 milhões).
Além disso, a dívida do Botafogo (R$ 845,5 milhões) é hoje a maior entre os clubes brasileiros. Esse déficit não é apenas alto, mas mal equacionado. A distância entre a equipe alvinegra e as outras integrantes da elite nacional não está apenas no faturamento.
A venda de direitos de mídia tem no futebol brasileiro um peso maior para o faturamento dos clubes do que ela exerce em outros países. Entretanto, peculiaridades como as altas dívidas e a possibilidade de planejar um calendário mais curto são fatores que equilibram forças no futebol nacional.
O Brasil trata o equilíbrio como um diferencial do futebol local, mas ele é apenas um dos frutos da desorganização e da falta de planejamento que assolam o esporte no país. A bagunça é tão grande que acaba criando distorções como a equiparação de forças.
Já passou da hora de o futebol brasileiro discutir os efeitos do atual formato de venda de mídia. A briga entre Globo e Esporte Interativo poderia servir como embrião disso, mas o desfecho mais provável é que os clubes locais ignorem usem o assédio apenas para barganha.
No fim, a discussão de venda de mídia serve apenas para os clubes verem que a Globo paga pouco por um produto que está extremamente maltratado. Inflacionar o mercado demandaria também uma mudança de visão sobre o que é comercializado, mas fazer isso dá trabalho…
Da mesma forma, a criação da Primeira Liga poderia servir como indutor de um ambiente de planejamento para o futebol nacional. Mais do que organizar um campeonato, a liga tem a ideia de dar aos clubes a chance de tomar rédeas e pensar no mercado como um produto.
O problema básico da Primeira Liga é que isso ainda é feito pelos próprios clubes, sem o discernimento ou o distanciamento necessário. É impossível ter esse tipo de discussão se não existir mediação.
A Primeira Liga é um avanço em relação aos Estaduais e a praticamente tudo que existe no futebol brasileiro atual. O exemplo positivo da Liga do Nordeste também mostra um caminho. Nos dois casos, porém, o avanço ainda é limitado por questões essenciais. A bagunça às vezes contribui para mascarar nossos defeitos.

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Grêmio e Atlético Mineiro fora da Libertadores?

O título do texto parece alarmante, mas o fato é que eventual sequência na Primeira Liga pode gerar punições pesadas aos participantes.
Os clubes filiados à CBF fazem parte do sistema federativo e, portanto, tem a obrigação de seguir as normas da Fifa, que no art. 18 de seu Estatuto proíbe a participação em competições não oficiais sem a devida autorização.
O descumprimento das normas da Fifa, nos termos do art. 12 de seu Estatuto é suscetível às seguintes penalidades (texto oficial em espanhol).
a) prohibición de efectuar transferencias;
b) jugar a puerta cerrada;
c) jugar en terreno neutral;
d) prohibición de jugar en un estadio determinado;
e) anulación del resultado de un partido;
f) exclusión de una competición;
g) derrota por retirada o renuncia;
h) deducción de puntos;
i) descenso a una categoría inferior.
O art. 28, por sua vez, dispõe que a exclusão de uma competição pode se referir à retirada do direito de participar de uma competição em curso ou futura.
Portanto, por mais que a Primeira Liga possa ser importante para o desenvolvimento do futebol brasileiro, a participação na competição, sem a autorização da CBF, pode trazer gravíssimos danos aos clubes, inclusive, a exclusão de Grêmio e Atlético da Libertadores da América.

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A relação dos métodos de treino e das ideias de jogo

Caro leitor,
É sabido que a evolução da metodologia de treinamento pode trazer contribuições significativas à preparação das equipes e, consequentemente, elevar/qualificar o nível de jogo no contexto competitivo. Ao se referir sobre a evolução dos métodos de treino, três conceitos-chave devem ser considerados. São eles: visão de mundo, paradigma-emergente e especificidade.
Com estes conceitos bem compreendidos, que trazem novas abordagens sobre a interpretação da realidade (leia-se pensamento sistêmico) e buscam aproximar as situações-problema oferecidas aos jogadores nos treinamentos àquelas que irão se deparar na competição, a interpretação dos diferentes métodos de treino fica mais completa e a serviço da comissão técnica para utilização ao longo de um microciclo.
Na coluna desta semana, uma das reflexões que será proposta sobre a evolução dos métodos de treino (do analítico, ao integrado e, por último, o sistêmico) questiona a autossuficiência da mesma para o aumento da qualidade do nosso jogo.
Uma vez que estão cada vez mais frequentes e acessíveis as discussões sobre metodologia é preciso atentar-se ao fato de que a mesma não garante, por relação direta, um jogo mais elaborado e/ou qualificado.
Imaginemos, numa situação hipotética, uma comissão técnica que trabalhe sob um viés sistêmico, logo, respeitando o princípio da especificidade subordinado ao Jogo. Esta mesma comissão, conceitualmente atualizada em relação aos métodos de treino, tem como ideias de jogo poucas trocas de passes, poucos dribles, grande número de chutões/bolas em disputa, referências exclusivamente individuais de marcação, grandes distâncias entre as linhas da equipe e baixa mobilidade. Este exemplo, de certa forma extremo, retrata uma clara situação de que a evolução na aplicação dos métodos não garantem um melhor e mais belo desempenho de jogo.
E dos inúmeros desafios que o futebol brasileiro tem pela frente nos próximos anos, o de desenvolver grandes ideias de jogo, sem dúvida, é um deles.
Aliada à evolução da metodologia de treinamento, precisamos de profissionais em todas as esferas e contextos que se praticam futebol (da iniciação à especialização, da base ao profissional, dos clubes pequenos aos grandes, do futebol social ao de alto rendimento), dispostos a desenvolverem boas, belas e revolucionárias ideias de jogo.
Precisamos de ideias aplicadas que respeitem nossa cultura, nossa identidade, nossa história e ao mesmo tempo tenham capacidade de se adaptar às exigências e a dinâmica do futebol moderno.
Precisamos de jogos e jogadores de elevado nível técnico, ofensivos, de jogadas imprevisíveis e criativas para que possamos vislumbrar o retorno a hegemonia do futebol mundial.
Precisamos de jogos e jogadores cada vez mais coletivos, organizados e inteligentes. A pressão pelo resultado não deve ser um argumento para a pobreza de ideias. Ao contrário, deve ser um grande motivo para fazermos diferente, mais e melhor.
Temos todos os recursos disponíveis para associar a evolução da metodologia de treinamento às ricas concepções de jogo.
No alto nível do nosso futebol, quem conseguir desenvolver este processo com o máximo de sua potencialidade, seguramente criará uma nova ordem. Num país continental como o Brasil, precisamos de ideais da “nova ordem” surgindo e sendo aplicados em todas as esferas supracitadas.
Ouso arriscar quem pode ser um dos precursores para o surgimento de uma nova ordem no futebol brasileiro. No entanto, a princípio, deixo registrado somente em meus pensamentos.
Abraços, até logo e vamos em frente… Em direção à nova ordem, preferencialmente!

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Primeira Liga sem CBF. E agora?

Programada para começar no dia 27 de janeiro, ainda pairam dúvidas sobre a ocorrência da Primeira Liga, e eis que a CBF informou que não a autoriza.
O futebol (e praticamente todos os esportes do mundo) organizam-se segundo um sistema federativo no qual uma federação internacional regulamenta a prática desportiva e recebe as filiações das federações nacionais que, por seu turno, recebem a filiação dos clubes.
Neste sistema, há um conjunto de normas e regulamentos aceitos pelos filiados e que devem ser cumpridos.
Dentre estas normativas federativas, há a previsão da Fifa de que quaisquer eventos desportivos envolvendo seus filiados devam ser autorizados.
Doutro giro, as ligas, nos termos do artigo 13 da Lei Pelé, fazem parte do Sistema Nacional do Desporto e, conforme o artigo 16 , são pessoas jurídicas de direito privado, com organização e funcionamento autônomo, podendo filiar-se ou vincular-se à CBF, que não pode exigir a filiação ou vinculação.
Ou seja, a Lei Pelé autoriza a criação de ligas independentes sem qualquer necessidade de autorização das entidades organizadoras.
Portanto, segundo a legislação brasileira, especialmente o artigo 20 da Lei Pelé, os clubes poderão organizar ligas regionais ou nacionais, simplesmente comunicando a sua criação às entidades nacionais de administração do desporto.
Tem-se, assim, um aparente conflito entre as normas federativas, de caráter privado, e as legislação brasileira, de caráter público.
O conflito é apenas aparente, pois os clubes não são obrigados a permanecerem no sistema federativo, ou seja, podem se desfiliar da CBF a qualquer momento e, assim, exercer o direito de criar ligas independentes.
A CBF, por sua vez, não é obrigada a aceitar a filiação de qualquer entidade, ou mantê-la em desacordo com as suas normas e as da Fifa, já que o artigo 5º da Constituição Brasileira estabelece que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, salvo em virtude de lei e a Lei Pelé ao mesmo tempo que autoriza a criação de ligas independentes, não obriga as Federações a aceitá-las.
Diante do exposto, caso os clubes sigam com a Primeira Liga em confronto com a CBF, estarão descumprindo as regras federativas que aderiram ao se filiar e estarão sujeitos a penas disciplinares da entidade nacional e da Fifa, que podem ir de uma simples multa até à desfiliação.

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O custo do ídolo

Não saíram de dentro das quatro linhas as notícias mais relevantes do São Paulo em 2015. Foi uma temporada conturbada, com renúncia de presidente, uma série de escândalos de gestão e a aposentadoria de um dos maiores ídolos da história tricolor. A saída encontrada pelos paulistas para amenizar o luto pela falta de resultados e pelo fim da carreira do goleiro Rogério Ceni foi repatriar o zagueiro uruguaio Diego Lugano, referência da equipe na década anterior, que estava no Cerro Porteño. Mas Lugano vale a aposta que o São Paulo fez?
Lugano não foi contratado (apenas) como uma adição técnica. O zagueiro teve passagem vitoriosa pelo São Paulo e foi capitão da seleção uruguaia em um período de alta da equipe nacional, mas os atributos que a diretoria brasileira buscou nele não foram esses. Lugano volta ao São Paulo por ser líder, por ser um exemplo para os atletas mais novos e por mexer com o tão abalado emocional dos torcedores.
A chegada do zagueiro ao Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, foi uma demonstração do apreço que a torcida do São Paulo tem por ele. O incremento de vendas das camisas com o número 5, o que será usado por Lugano, também.
O São Paulo queria fazer uma apresentação grandiosa para Lugano. A ideia era colocar o zagueiro num espaço de grande porte (o estádio ou algo similar) e atrair um enorme número de torcedores para ver o ídolo. Em um cenário normal, essa seria uma oportunidade incrível para vender produtos licenciados e criar oportunidades de ativação de patrocinadores.
No entanto, o São Paulo não vive um cenário normal. O início da temporada 2016 é uma reconstrução para o elenco, que não perdeu apenas Rogério Ceni – Alexandre Pato e Luis Fabiano, dois dos principais atacantes da equipe, também saíram. Há carências técnicas, e tudo isso está nas mãos de um novo treinador – Edgardo Bauza, dono de dois títulos da Copa Libertadores.
Além disso, existe uma pressão colocada pelos torcedores. A temporada sem títulos também foi marcada por derrotas acachapantes para rivais – a mais elástica delas, para o Corinthians, por 6 a 1. A soma é cruel para um clube do porte do São Paulo: é preciso reagir logo, mas é preciso fazer isso com um elenco que perdeu seus principais referenciais e que tem pouco dinheiro para ser reconstruído.
É nesse contexto que entra Lugano, um zagueiro que nunca foi um virtuose no ponto de vista técnico. No auge, o defensor se destacava por aspectos como liderança e vigor físico. Desde 2011, porém, ele não disputa mais de 20 partidas em uma só temporada.
Lugano hoje não é o defensor que passou pelo São Paulo ou que liderou a seleção uruguaia. Não apenas pela queda física, mas por não ter encontrado meios de reconstruir seu jogo. Para usá-lo bem, o time paulista terá de saber explorar o atual estado do defensor e proteger suas deficiências.
E vale a pena construir um time pensando em todas essas questões para um defensor? Vale a pena ter todos esses asteriscos ao moldar a equipe? Vale a pena ter de pensar em tantos condicionais?
Mais: vale a pena fazer tudo isso e colocar em risco o ídolo? Se Lugano tiver uma temporada ruim em 2016, o que isso fará com a imagem que ele construiu na década anterior? Será que o São Paulo considerou em algum momento o valor do que o atleta representa?
O São Paulo vê em Lugano uma solução de curto prazo, mas ignora os riscos de médio e longo prazo. Afinal, debelar a imagem de um ídolo é um risco também para o valor de marca do próprio clube.
Todo o plano de comunicação e marketing que o São Paulo tem desenvolvido em torno de Lugano só tem aumentado a pressão. Nessa lógica, a postura mais sensata partiu do próprio uruguaio, que vetou uma apresentação de grande porte e preferiu fazer um evento “comum”, aberto apenas para jornalistas.
O melhor que o São Paulo pode fazer agora é preservar Lugano. E isso não vale apenas para aspectos como tática e técnica, mas também (e principalmente) para comunicação e marketing.
No esporte, o resultado é um alicerce fundamental para qualquer estratégia de comunicação ou marketing. É possível adotar outras prioridades, mas é remota a chance de sucesso ao ignorar esse item.
Quer um exemplo recente? É só ver o que aconteceu com Ronaldinho Gaúcho no Fluminense. O ex-melhor do mundo foi contratado no ano passado, com grande alarde, como parte de uma campanha interna para alavancar o capital político do vice-presidente de futebol Mario Bittencourt, que deve disputar no fim deste ano a eleição presidencial do clube.
Ronaldinho chegou a um elenco jovem, barato, liderado por poucos jogadores experientes. O grupo havia sofrido muito no começo do ano, quando o Fluminense perdeu a Unimed, que era a principal patrocinadora do clube e atuava como mecenas no futebol.
Era um perfil diferente, que atraía todos os holofotes, num elenco que havia se fechado em meio às dificuldades e que havia se acostumado com a condição de menos badalado.
Aqui não cabe nem a discussão técnica, mas Ronaldinho não “casou” com o Fluminense em momento algum. A imagem do astro não tinha nada a ver com o que aquele elenco representava – mesmo os jogadores mais experientes daquele grupo, como o goleiro Diego Cavalieri e o atacante Fred, eram mais associados ao “time de guerreiros” e tinham trajetórias de menos estrelato.
Usar a comunicação ou o marketing para potencializar o alcance de um reforço é tática extremamente legítima. Dissociar isso do restante do elenco, contudo, é um erro de grande proporção.
O que casos assim ensinam é que o sucesso de uma personalidade do esporte depende de contexto, e não apenas de passado ou de presente. O desafio para Lugano no São Paulo é exatamente esse.

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Bem-vindo 2016 e Olimpíadas

Em outubro de 2009, o Rio de Janeiro venceu Madri, Tóquio e Chicago e conquistou o direito de organizar os Jogos Olímpicos de 2016. Desde então, esforços tem sido envidados para que tudo esteja pronto.
O Brasil é o quarto país a receber Copa do Mundo e Olímpiadas em sequência, já que México recebeu a Olimpíada de 1968 (Cidade do México) e a Copa de 1970, a Alemanha (Ocidental), Olimpíada 1972 (Munique) e a Copa de 1974, e os Estados Unidos, a Copa de 1994 e a Olimpíada de 1996.
Para receber os Jogos Olímpicos, o governo brasileiro preocupou-se em adequar-se normativamente com a criação da Lei n.12.035/2009 (Lei do Ato Olímpico), da Lei n. 12.462/2010 (Regime Diferenciado de Contratações Públicas aplicável exclusivamente às licitações e contratos necessários à realização dos Jogos), e da Lei n. 12.780/2013 (dispõe sobre medidas tributárias referentes à realização dos Jogos).
A julgar pelo sucesso da Copa do Mundo, seguramente o Rio de Janeiro será o palco de momentos que todos os brasileiros trarão para sempre em seus corações.
Os Jogos Olímpicos do Rio trarão um evento dentro do evento, eis que, após perder as Copas de 50 e 2014, a Seleção Brasileira tem a grande chance de conquistar o inédito ouro olímpico no gramado sagrado do Maracanã.,
Disputado por 16 seleções com atletas de até 23 anos (excetuando-se 3 sem limite de idade), a final está marcada para o dia 20 de agosto de 2016 e haverá partidas em Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre, Brasília, Salvador e Manaus. Um detalhe, a Seleção Alemã, carrasca em 2014, estará nos Jogos Olímpicos.
Os Jogos Olímpicos já seriam suficientes para tornar o ano de 2016 inesquecível. Entretanto, 2016 será o ano de estreia da “Primeira Liga”, disputada por 12 equipes do Sul, Minas e Rio de Janeiro e que tem como expectativa ser o embrião de uma Liga Nacional de Clubes.
Junto a tudo isso, o Senado Federal criou comissão de juristas para elaborar um anteprojeto de modernização da Lei Geral do Desporto, hoje conhecida como Lei Pelé.
No intuito de se promover debates qualificados em torno das possíveis mudanças na Lei e elaborar propostas, será realizado pelo Instituto Brasileiro de Direito Desportivo, com apoio da Academia Nacional de Direito Desportivo e do Instituto Mineiro de Direito Desportivo, no dia 25 de fevereiro workshop, cujo as inscrições poderão ser feitas pelo site do IBDD.
Portanto, 2016 já começou a todo vapor e nós somos parte dessa história.

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Por que o êxodo de jogadores brasileiros não é apenas questão de dinheiro

Dois dos principais alicerces do Cruzeiro que venceu o Campeonato Brasileiro em 2013 e 2014, Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart também simbolizaram o esfacelamento do elenco celeste no início do ano passado – foram para o Ah-Ahli, dos Emirados Árabes Unidos, e Guangzhou Evergrande, da China, respectivamente, e tomaram caminho que foi seguido por Egídio, Marcelo Moreno e Lucas Silva. Uma temporada mais tarde, o sucesso colocou outro clube na alça de mira de equipes do exterior. Semanas após ter vencido o Nacional de 2015, o Corinthians perdeu Jadson (Tianjin Songjiang), Ralf (Beijing Guoan), Renato Augusto (Beijing Guoan) e Vagner Love (Monaco). A desconstrução alvinegra ainda pode ter Gil, Elias e Malcom, assediados por times de outros países. Em dois anos, o mercado deu lições perfeitas sobre alguns dos problemas mais contundentes do futebol brasileiro.
O êxodo de jogadores nacionais existe há décadas e não cresceu de forma expressiva nos últimos anos. No entanto, o que chama atenção é o perfil. Primeiramente, todos os destaques do futebol brasileiro nas últimas temporadas foram negociados. Além disso, de toda a lista citada, apenas Lucas Silva (Real Madrid) foi para uma das principais equipes do planeta. Dos quatro últimos protagonistas do Campeonato Brasileiro, um está nos Emirados Árabes (Éverton Ribeiro) e três foram para a China (Ricardo Goulart, Jadson e Renato Augusto).
É claro que a alta do dólar torna o mercado brasileiro mais suscetível às negociações. O Fluminense recebeu 16 milhões de euros (R$ 60 milhões) da Roma pelo meia Gerson, por exemplo. Em uma transação, o time tricolor amealhou o dobro do que o Corinthians recebeu da Caixa Econômica Federal em 2015 pelo patrocínio máster (R$ 30 milhões). A variação cambial interfere diretamente no peso que a cessão de atletas tem para o faturamento das equipes – sobretudo as que têm maiores dívidas de curto prazo ou menor potencial de receita.
Também é claro que há uma onda causada pela ascensão da China como mercado comprador. O país asiático conviveu durante muito tempo com políticas restritivas a esportes coletivos, mas o atual presidente é entusiasta do futebol. Existe um plano de longo prazo para evolução na modalidade, e isso passa diretamente pela compra de mão de obra qualificada no curto prazo. Tudo isso num cenário em que os clubes têm situação econômica estável e são controlados por empresas ou empresários com enorme poder financeiro.
Contudo, é chocante notar a fragilidade dos clubes brasileiros, que não conseguem sequer endurecer negociações de seus principais jogadores – Roberto de Andrade, presidente do Corinthians, falou abertamente sobre isso em entrevista coletiva concedida na semana passada. Também é estranho ver que os protagonistas do futebol nacional não encontram espaço nas equipes mais fortes do planeta e acabam concentrados em mercados periféricos, sem alto nível de competitividade ou disputa técnica. A consequência direta disso é a queda de desempenho, o que afastou nomes como Diego Tardelli, Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart da seleção brasileira.
O cenário escancarado pela atual janela de transferências mostra algumas características relevantes dos jogadores que dominam o alto nível do futebol brasileiro atualmente. Os atletas que vivem auge técnico e físico estão longe do país, que tem predominância de jovens em estágio de formação ou atletas em curva decadente. Não é por acaso que Lucas Silva (22) e Gerson (18) são os únicos citados no texto que foram para mercados relevantes. As equipes de maior poder técnico do planeta não investem em atletas que tenham mais de 25 anos e que estejam longe da Europa.
Ao negociar jogadores que ainda estão em estágio de evolução, o Brasil se priva de viver a maturidade desses atletas. Neymar teve uma ascensão extremamente precoce, mas é inegável o quanto ele evoluiu – e está evoluindo – na Espanha. O auge do camisa 11 do Barcelona não aconteceu no Santos, time que o moldou e que aproveitou por pouco tempo um talento em quem investiu tanto – e que trouxe resultados nesse curto prazo, diga-se.
Principalmente em períodos de Real em baixa, é impossível para um clube brasileiro competir financeiramente com equipes de outros países. Também existe uma questão de característica do mercado local, que sempre tratou a negociação de atletas como fonte de receita relevante. O que todas essas cifras oferecem, entretanto, é uma chance para o Brasil olhar além do dinheiro e da distância econômica para outros centros.
O caso de Renato Augusto é exemplar. Há dois meses, o meia do Corinthians chorou ao fazer um gol pela seleção brasileira – não apenas pelo feito, mas por ter chegado à titularidade da equipe nacional após temporadas de irregularidade e lesões. Na última semana, trocou tudo isso por um salário de R$ 2 milhões (livre de impostos) na China.
Como qualquer profissional, Renato Augusto deve ter colocado as coisas na balança quando recebeu a proposta da China. De um lado, a chance de ter uma condição financeira estável por muito tempo e alguns ganhos pessoais – contato com uma cultura nova, por exemplo. De outro, perda técnica, distanciamento da seleção, nível de competitividade mais baixo e qualidade de vida inferior (Pequim é uma cidade com nível de poluição mais alto, e a China tem questões como um governo menos democrático).
A lista dos argumentos contra a transferência poderia ser bem mais eficiente se houvesse algo a pesar no Brasil além da seleção (que perdeu relevância em termos de carreira) e qualidade de vida. O que falta nessa equação é plano de carreira.
No Brasil, nos acostumamos a entender plano de carreira como um projeto para aposentadoria ou para o longo prazo. Na verdade, o que falta em casos como o de Renato Augusto é uma ideia de como ele pode ser aproveitado (e valorizado) no mercado nacional.
O meio-campista talvez não tenha um potencial para faturar com marketing ou venda de propriedades comerciais. Talvez não seja nem essa a ideia do Corinthians para ele. No entanto, é simplista entender a saída dele apenas como uma equação financeira. Nenhum profissional decide uma mudança tão drástica na carreira apenas por dinheiro, ainda que esse seja o fator mais relevante.
Existe uma discussão sobre antecipação de riscos no caso – a multa rescisória do contrato dele era baixa, fruto de uma política errada do Corinthians, e o clube precisava se desfazer de atletas para equacionar receitas. No entanto, a discussão mais pertinente no caso é o que o time tem a oferecer a seus principais atletas. Se não por dinheiro, por que Renato Augusto poderia ficar?
Enquanto não se preocupar com isso, o Brasil seguirá chorando por não poder concorrer com outros mercados. Caso contrário, talvez o país entenda que a NBA está longe de ser a única liga de basquete com dinheiro no planeta. Aliás, está longe de ser a liga com mais dinheiro no planeta. Contudo, não é apenas por dinheiro que todos os jogadores de basquete do mundo querem jogar nos Estados Unidos.
E sem contar o dinheiro, algum jogador ainda tem o futebol brasileiro como sonho de carreira?

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Banfield acionará Atlético na Fifa por Cazares; Entenda

Na segunda-feira, o Banfield divulgou em seu site e nas redes sociais nota oficial na qual informou que acionará na Fifa o atleta equatoriano Cazares, o Atlético Mineiro e o Independiente del Valle. A demanda teria como fundamento o art. 18 do Estatuto de Transferências da Entidade.
Segundo o clube argentino, o Atlético teria aliciado o atleta, o que é vedado pela Fifa.
Cazares pertence ao clube equatoriano Independiente del Valle e estava emprestado ao Banfield, da Argentina, até 31 de julho de 2015. O clube argentino possuía direito de preferência na aquisição do atleta.
Interessado no jogador, o Atlético, em atenção ao item 3, do art. 18 do Estatuto de Transferências, contatou dirigentes do Banfield e do Independiente del Valle.
Assim estabelece o dispositivo citado:
O clube que pretenda celebrar um contrato com um jogador profissional deve, em momento prévio às negociações e por escrito, informar o clube atual do jogador. Um jogador profissional só é livre para celebrar um contrato com outro clube se o contrato com o seu clube atual tiver caducado ou caducar no prazo de seis meses. A violação desta disposição está sujeita a sanções apropriada. (Tradução livre realizada pela Federação Portuguesa de Futebol)
Durante as negociações, o clube argentino informou ao Atlético que exerceria seu direito de preferência, razão pela qual o clube brasileiro cessou as tratativas.
Entretanto, com o fim do contrato de empréstimo, o time equatoriano informou ao Atlético que o Banfield não exercera seu direito de preferência.
Diante disso, o Atlético tratou e fechou o negócio com o clube equatoriano, detentor dos direitos sobre Cazares, e com o próprio atleta.
O aliciamento alegado pelo clube argentino teria como consequência a não renovação de contrato por parte do atleta por se sentir seduzido por uma proposta melhor.
No entanto, o atleta não permaneceu no Banfield por se sentir seduzido, mas por culpa exclusiva deste clube que não exerceu no prazo contratual o direito de preferência na compra do atleta, que retornou do empréstimo para o Independiente del Valle.
Assim, o Atlético tratou diretamente com o detentor dos direitos sobre o atleta que, mediante pagamento do valor combinado, liberou o atleta para negociar bases salariais e viabilizar a transferência.
Vale ressaltar que o Atlético em total atenção ao princípio da boa-fé contratual cessou as tratativas quando informado pelo Banfield de seu direito de preferência e somente as retomou mediante informação do Independiente de que o clube argentino não havia exercido sua prerrogativa.
Portanto, não teria havido a ruptura contratual alegada pelo Banfield, mas, a negociação direta entre Atlético, Independiente e Cazares, diante do fim do vínculo do atleta equatoriano com o clube argentino, razão pela qual, a expectativa é de que a Fifa rechace o pedido.