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As vaias nos Estaduais: apenas pressa?

Disputado no último sábado (27), o clássico entre Flamengo e Vasco, válido pelo Estadual de futebol do Rio de Janeiro, não teve gols. Não chamou atenção por dribles, jogadas de efeito ou mesmo pela disposição. No entanto, há um motivo para o jogo ter sido extremamente emblemático: foi a partida em que uma parcela considerável da torcida rubro-negra demonstrou ter perdido totalmente a paciência com Éverton Ribeiro e Rômulo, dois dos reforços mais caros que desembarcaram na Gávea nas últimas temporadas. Ambos foram vaiados por torcedores que queriam mais espaço para atletas como Lucas Paquetá e Ronaldo, que atuam nas mesmas posições dos medalhões criticados.
Rômulo chegou ao Flamengo no início de 2017, e Éverton Ribeiro foi contratado meses depois. Ambos voltaram ao Brasil sob grande expectativa – eram postulantes a vagas na seleção quando foram negociados por Cruzeiro e Vasco, respectivamente. Pelo que fizeram anteriormente em suas carreiras e pelos valores que movimentaram na ida e na volta ao país, preencheram sonhos de muitos rubro-negros.
As duas negociações têm a ver com um momento positivo das finanças do Flamengo. A diretoria vigente conseguiu reduzir consideravelmente a dívida, aumentar o potencial de investimento do clube e reforçar o elenco com jogadores de um nível alto de custo.
Entretanto, a chance de ir ao mercado e brigar por nomes de peso fez com que o time carioca fechasse um pouco os olhos para seu próprio DNA. A reação dos torcedores ao rendimento claudicante dos reforços tem muito a ver com o time que eles gostariam de ver em campo: um perfil mais aguerrido, mais ligado às raízes. Em outras palavras, os rubro-negros podem até se empolgar com atletas que recebem salários milionários, mas ainda preferem jogadores forçados no próprio clube e que realmente os representem em campo.
Os torcedores não vaiaram Rômulo e Éverton Ribeiro apenas porque os reforços ainda não se encaixaram (e essa falta de encaixe pode ter inúmeras razões). Vaiaram porque o time que eles gostariam de ver em campo teria Ronaldo, Lucas Paquetá e outros garotos revelados pelo próprio Flamengo, identificados com o clube e com o Rio de Janeiro.
Os apupos também refletem um aspecto cruel do atual calendário do futebol brasileiro. Os torneios estaduais, do jeito que estão posicionados, funcionam apenas como usinas de pressão e de rótulos. O primeiro mês de 2018 ainda não acabou, mas já serviu para criar craques e determinar nomes desprezíveis.
No Santos, por exemplo, o menino Rodrygo, de 17 anos, precisou de poucos minutos em campo para se tornar o próximo raio da Vila. Montagens já começaram a circular entre torcedores com fotos que simbolizam passagens de bastão entre Pelé, Robinho, Neymar e o novo candidato a jogador.
Em contrapartida, Rodrigão precisou de apenas alguns jogos da temporada para ratificar a desconfiança que a torcida tinha com ele. O centroavante já foi eleito como vilão e ponto fraco de um elenco com tanto a se acertar na atual temporada.
Kazim (Corinthians) e Borja (Palmeiras) também já convivem com pressão a despeito de terem feito poucos jogos na temporada. E Felipe Melo, que até outro dia era uma incógnita na equipe alviverde, virou uma das grandes armas do meio-campo montado por Roger Machado.
A sensação de que o futebol brasileiro tem vivido de certezas inócuas e voláteis, por mais paradoxal que isso seja, tem sido ainda mais clara numa temporada em que os principais times do país não tiveram tempo para se preparar adequadamente. O futebol pode evoluir em diferentes aspectos, mas nunca vai atingir um patamar mais alto se não respeitar as necessidades básicas de aspectos físicos e técnicos.
Num calendário apertado pela Copa do Mundo e por estaduais que teimam em não diminuir, a primeira fase da temporada serve apenas para que os grandes times do país sejam testados em condições inadequadas e convivam com pressão que não faz nada bem ao trabalho.
Contudo, não se pode confundir a pressa que os estaduais geram com um descolamento entre o projeto dos clubes e o anseio de seus torcedores. O processo de comunicação deve lutar constantemente com esses exageros do Brasil no início do ano, mas também precisa considerar a importância de entender o que o público quer. Os flamenguistas são apenas um exemplo disso.

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Poluição visual

O cenário não é favorável, sem sombra de dúvidas. Qualquer patrocínio é bem-vindo e em nome destes recursos financeiros, as marcas aparecem nos lugares mais diversos: na frente, nas costas, nas mangas, nos ombros, na frente mais em cima…nas axilas! O escudo do clube fica imperceptível e às vezes até mesmo a cor do uniforme inidentificável, em função de dezenas de patrocinadores, apoiadores ou simples anunciantes.
Conseguir patrocínio não é tarefa das mais fáceis, sem dúvida. Décadas de má gestão fizeram com que a administração do futebol no Brasil gerasse desconfiança por parte da iniciativa privada. Isso somado a um cenário econômico nem sempre favorável, torna a conquista de uma empresa parceira ser celebrada sob o título de “salvadora da pátria”. Muitas vezes.
Não é este o caminho. Existem inúmeras opções de expor a marca de um patrocinador nas propriedades do clube (uniforme, placas de publicidade, estádio, redes sociais e conteúdo de mídia). E tudo isso é construído com base em um plano de comunicação dentro do planejamento estratégico cujas ações tem base na missão, visão e valores da instituição, tudo isso elaborado e executado por uma equipe de gestores do esporte.
Tudo isso em nome da preservação e valorização de dois dos elementos mais importantes para um clube: seu distintivo e uniforme. É o que o dinheiro não compra. Os elementos através dos quais a instituição será reconhecida Brasil adentro e mundo afora, facilmente de serem identificados. Simbolicamente, um escudo especialmente preservado na camisa e em escala maior que os patrocinadores, significa a instituição está acima dos interesses comerciais e financeiros. Sem falar que visualmente é bem mais agradável.

Camisa do Santos Laguna/MEX da temporada 2010/2011, repleta de patrocinadores. Imagem: Divulgação

 
Com tudo isso, é inegável que os patrocinadores são importantes e peças fundamentais para o sucesso de um clube de futebol. Para uma potencialização da exposição das suas marcas e valorização da instituição esportiva, é preciso planejamento de comunicação, haja vista as infindáveis formas de veiculação dos produtos do clube (jogos, treinos, plantel, estádio, história), para além da televisão.