Categorias
Colunas -

Caso Sunderland AFC e a má gestão no futebol

Você acha que a má gestão nos clubes de futebol é um problema exclusivo do futebol brasileiro? Times que acabam por ficar endividados, acumular problemas na justiça, sofrer com o rebaixamento e decepcionar a sua grande legião de fãs, também é uma realidade para grandes e tradicionais clubes do velho continente. Hoje, vou dar um exemplo bastante recente de como a má gestão e administração pode rapidamente arruinar um grande clube, que disputou por muitos anos a liga que é considerada por muitos como a melhor do mundo, a Premier League.

A série ‘’Sunderland Till I Die’’, disponível na plataforma Netflix, relata os bastidores da meteórica decadência deste tradicional clube do norte da Inglaterra. Fundado por professores  em 1879, o  Sunderland AFC é um dos clubes mais tradicionais e históricos do país – com 6 títulos ingleses a equipe dominou as competições nacionais entre o final dos anos 1890 e início dos anos 1900. No entanto, o futebol atual não mostra paciência ou respeito à história de qualquer clube, já não há como dizer que a instituição é “muito grande” e “tradicional demais” para cair no abismo. Arrisco a dizer, que a dramática série vai fazer o amante do futebol criar uma empatia quase que automática com os Black Cats e seus aficionados. Além dos bastidores internos, a série também dá uma voz especial aos torcedores e mostra as suas rotinas para acompanhar o clube que tanto veneram. Fica difícil não se colocar no lugar destes torcedores apaixonados, que seguem o Sunderland há décadas e estão vivenciando possivelmente o pior momento de sua história. O desânimo, a indignação e a esperança andam de mãos dadas com cada fanático alvirrubro.

A derrocada começa quando o milionário americano, Ellis Short, adquire o clube, ainda disputando a Premier League. Os problemas de falta de gestão profissional e má administração do clube logo começam a ficar nítidos, visto que o clube do norte inglês conta com um alto investimento financeiro mas não corresponde dentro de campo. Desta forma, acaba caindo de divisão e ingressa na disputa da segundona inglesa (Championship). O Sunderland é um dos grandes casos comprovados, de que apenas o alto investimento financeiro não resolve todos os problemas de um clube de futebol. Além do mais, se mal administrado, este investimento pode gerar ainda mais problemas, por vezes irreversíveis ao  clube – também atingindo diretamente patrocinadores, investidores, funcionários e os torcedores. A má administração no Sunderland fica ainda mais evidente quando o clube, que possui uma estrutura digna de um grande clube europeu, com um estádio e centro de treinamento de primeira linha, acaba por ser novamente rebaixado para disputar a terceira divisão inglesa (Football League I) – onde permanece até os dias de hoje. Foram 2 rebaixamentos em sequência e um corte profundo na alma de cada torcedor do Sunderland, que certamente irá demorar para cicatrizar.

Podemos elencar diversos fatores que podem ter contribuído para o fracasso recente dos Black Cats. Falta de planejamento estratégico, falta de organização dos núcleos, ausência de processos de trabalho, falta de profissionais devidamente qualificados, falta de filosofia de jogo do clube e de integração dessa filosofia com as categorias de base. Exemplos não faltam… Entre 2010 e 2018, o Sunderland contratou mais de 70 atletas, e conseguiu lucrar futuramente na transferência de apenas 3 deles. Fez investimentos milionários em equipamentos altamente tecnológicos para ter dentro de seu CT, os quais não tem utilidade nem mesmo para os funcionários responsáveis. Sem contar com os milhões de libras investidos em jogadores que acabaram atuando em menos de 10 partidas pelo clube, contratações e transferências claramente equivocadas e sem um planejamento adequado. Uma sucessão de erros graves, que poderiam ter sido evitados caso os gestores do clube tivessem uma visão sistêmica sobre a gestão, execução, liderança e avaliação de processos relacionados a um clube de futebol profissional – enxergando todos as áreas e suas interconexões com um olhar sistêmico. 

A Universidade do Futebol capacita profissionais para atuar no mundo do futebol com o fomento da visão sistêmica, da gestão profissional e organizada dentro dos clubes de futebol, buscando integrar de forma harmônica as dimensões política, administrativa e técnica presentes no ecossistema dos clubes de futebol. 

Você também acredita que se os gestores do Sunderland na época, houvessem se apossado de conhecimentos sobre a visão sistêmica, a qual o nosso curso de Gestão Técnica no Futebol aborda amplamente, os Black Cats estariam em uma situação menos caótica hoje? Fica a reflexão!

Categorias
Colunas -

A visão do torcedor no novo cenário de mídia do futebol brasileiro

Onde vai passar o jogo do meu time? Há alguns anos, esta pergunta não era necessária no futebol brasileiro. Os torcedores sabiam que poderiam ver a partida dos seu clube nos canais da Rede Globo, seja televisão aberta, fechada ou pay-per-view, de acordo com o horário e competição. Dependendo da importância do jogo, também era de conhecimento dos fãs que não haveria transmissão e a saída seria recorrer ao rádio.

Para 2021, o cenário está totalmente diferente e aqui mesmo no site da Universidade do Futebol, o Wilson Júnior destacou essa variedade de canais de transmissão, com a mais recente entrada do TikTok no caminho. A rede social de vídeos curtos transmitiu nos últimos meses partidas da Copa do Nordeste e do Campeonato Carioca. Mas como fica o torcedor nisso tudo?

Por parte dos clubes e dos campeonatos, esta grande quantidade de canais pode ser muito positiva. Cada meio de transmissão possui suas características próprias, que devem ser direcionadas para cada um dos diferentes públicos existentes em uma torcida. A Copa do Nordeste, por exemplo, oferecia transmissões focadas no torcedor mais apaixonado, em parceira com influenciadores digitais, direto da Twitch. Para quem preferisse uma opção mais neutra, os canais de televisão cumpriam bem este objetivo.

Para o torcedor, nem tudo são flores. Utilizando o exemplo da Libertadores e Copa Sul-Americana, vemos que quando existe exclusividade por parte dos canais de transmissão, acompanhar o jogo do seu time vira uma missão muito difícil de ser atingida. As competições da Conmebol são transmitidas, desde 2020, via  Conmebol TV, um canal de pay-per-view cujo valor de assinatura mensal é R$ 40,00, para acompanhar alguns jogos que passam única e exclusivamente na Conmebol TV.

O crescimento de plataformas piratas, mostra que este mercado ainda não está em seu nível ideal. O Campeonato Carioca de 2021, que também contou com seu sistema de ppv, passou por diversos problemas com canais ilegais, com diversos sites, perfis de redes sociais e canais no YouTube sendo derrubados por transmitirem as partidas sem autorização. Este fenômeno apenas confirma que os desejos dos torcedores ainda estão longe de serem atingidos quando o assunto são as transmissões das partidas.

A indústria da música passou por um problema semelhante. Foram diversas décadas de programas sendo utilizados para baixar as canções de maior sucesso nacional e internacional. Apenas nos últimos anos que soluções vem sendo encontradas para diminuir este número. A Federação Internacional da Indústria Fonográfica divulgou que em 2019, 27% das pessoas consumiam músicas de forma ilegal. Apesar do número ainda alto, foi a primeira vez que ele esteve abaixo dos 30%.

As plataformas de streaming esportivo ainda tem muito espaço para crescer. Entender a necessidade de consumo dos torcedores e quanto eles estão dispostos a pagar por isso são dois aspectos que precisam ser entendidos por quem trabalha com estas novas mídias. O DAZN, por exemplo, passou por isso em sua chegada ao Brasil, quando precisou diminuir o valor da mensalidade, que caiu de R$ 37,90 para R$ 19,90.

O Facebook foi mais uma rede a passar por mudanças. Seu acordo de transmissão da Copa Libertadores era de exclusividade no Brasil para as partidas de quinta-feira. Em 2021 isso teve de ser alterado, com uma parceria entre a rede social e a Fox Sports para transmissão de algumas partidas em ambas as plataformas. Isso já acontece na Liga dos Campeões com transmissões da TNT Sports e do próprio Facebook da mesma partida. Como o público é distinto, a rede social consegue apresentar boa audiência com as finais atingindo números na casa do milhão de espectadores.

Dificultar o torcedor de ver seu clube pode ser péssimo para o futuro, ainda mais com tantos concorrentes na disputa pela atenção. Abrir o YouTube é uma tarefa que as crianças aprendem cada vez mais cedo. Se o jogo de futebol estiver escondido em um canal de mensalidade alta, certamente o jogo vai perder alguns fãs. Sem contar todas as plataformas de streaming e vídeo games disponíveis.

Para finalizar o texto, gostaria de ter uma conclusão bem estruturada para passar aos leitores. No entanto, este mercado vive uma série de transformações que tendem a continuar por algum tempo. Aos gestores do esporte, cabe considerar alguns dos tópicos listados aqui no momento de negociar os direitos de transmissão dos próximos campeonatos. Que não pensem apenas nos valores do contrato, mas lembrem da importância de seu torcedor para o futuro do esporte.