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A zona de conforto no futebol

Crédito imagem: Divulgação/Atlético MG

‘Mais difícil do que chegar ao topo é se manter nele’. Você já deve ter ouvido essa frase, que ao mesmo tempo que está batida se mostra extremamente verdadeira e contemporânea no futebol. 

A mobilização de um grupo de jogadores, de um staff técnico e até da parte diretiva de um clube é algo muito subliminar e que demanda inúmeros fatores para acontecer. Depois de um sucesso, então, se torna ainda mais refinado e de difícil obtenção. É da natureza humana entrar na zona de conforto depois de uma meta conquistada. A mesma meta, sendo no caso do futebol um mesmo campeonato, vencê-lo novamente, por exemplo, pode não motivar a todos. 

A maioria dos jogadores aqui no Brasil não aceitam as mesmas cobranças depois de um título. Os dirigentes acreditam que fazendo a mesma coisa que funcionou irão continuar sendo vencedores. Os próprios técnicos, em muitos casos, apostam no mesmo modelo e nas mesmas estratégias. E fazendo o que sempre foi feito não só é garantia de estagnação como o fracasso se torna uma natural consequência. Se você não está evoluindo, você está piorando!

Por isso defendo no Brasil a troca constante de uma parte do grupo de jogadores a cada temporada. Tanto após derrotas como após vitórias. Nossa cultura não permite ciclos muito longos. A simples troca de ambiente traz ao próprio jogador uma motivação diferente. São poucos aqueles que sustentam uma visão a médio prazo de refinamento do processo para continuar no topo. 

Repare que nos três clubes grandes da cidade de São Paulo em seus mais recentes ciclos vitoriosos isso aconteceu de maneira até natural. O São Paulo campeão mundial em 2005 era diferente do que concluiu o tricampeonato nacional em 2008. O Corinthians campeão brasileiro de 2017 passou por mudanças com relação ao time que conquistou o Mundial de 2012. O próprio Palmeiras atual foi se alterando paulatinamente desde o início dessas conquistas todas em 2015. A cultura vencedora por trás das vitórias é o que sustenta todo o processo. Por isso se faz necessária essa troca constante de personagens. Apego ao passado afasta, ao invés de aproximar, a conquista de novos troféus. 

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Rótulos no futebol: forma de jogar

Crédito Imagem: Kid Junior/SVM

Não há nem certo e nem errado no futebol. O objetivo do jogo é fazer mais gols do que o adversário. E a graça está nas inúmeras maneiras de se atingir isso. Convencionou-se, sobretudo no futebol brasileiro, de que o jogar bem e/ou bonito – coisas extremamente subjetivas e relativas – estão ligados intimamente a ter mais posse de bola do que o adversário. Aqui nem vou entrar na seara de pormenorizar a estatística fria da posse, relativizando em que parte do campo se encontra a maior porcentagem desse controle da bola. Porque o meu objetivo aqui é ponderar, por exemplo, de que é possível defender bem e de maneira elaborada fazendo da defesa a principal arma para cumprir a lógica do jogo e há, sim, muita beleza nisso. Nada de rótulos! Nada de pré-conceitos!

Até os termos proativo e reativo estão sendo usados para simplificar e até reduzir essa própria questão da posse de bola. Ser proativo no jogo de futebol não está necessariamente ligado a ficar mais tempo atacando. Uma equipe pode não ter a posse e mesmo assim ser extremamente proativa dominando o espaço de jogo e induzindo o adversário a atacar nas faixas do campo que lhe for mais conveniente.

Não podemos esquecer, também, a virtude que há em criar vantagens no jogo tirando o que cada jogador oferece de melhor. De nada adianta partir de uma ideia pré-concebida e desprezar a natureza de cada atleta. Até porque mesmo nos times mais endinheirados e também em seleções há algumas limitações e nunca haverá exatamente cem por cento de um grupo de mais de vinte jogadores programados para executar um suposto ideal de jogo do treinador em questão.

O caminho será sempre pensarmos em excelência e eficiência. Excelência em cumprir bem todas as fases do jogo. Eficiência para gastar a energia necessária (nem mais e nem menos) para resolver os problemas do jogo.  Ficarmos rotulando times ou de retranqueiros ou faceiros e coisas do gênero não enriquece a discussão. É mais ou menos como o famigerado “ganhou é bom, perdeu não serve”. A evolução do futebol brasileiro passa por avaliações mais criteriosas. Sem estereótipos. Sem falsas verdades absolutas.