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Entre o acerto e o erro: o futebol através da intencionalidade

Ao ver uma partida de futebol nos deparamos com uma constelação ampla de significados. Significados estabelecidos pela nossa cultura, pela nossa forma de compreender e enxergar o mundo. Quando nos propusemos a olhar para um determinado fenômeno agimos constantemente de forma dialógica. Ou seja, ao definirmos algo como é também dizemos que algo não é. E no futebol não é diferente. A escolha em interpretar um jogo de futebol por meio de erros e acertos elucida bem a afirmação anterior. Desde o inicio da manifestação cultural do jogo, julgamos as ações com os erros e acertos que identificamos. Um processo linear de causa e efeito.
As atribuições que fazemos por meio dessa maneira de contemplar os processos da manifestação cultural do futebol não nos permite em muitos momentos refletir a cerca do que estamos dizendo que ele não é. Um bom exemplo seria a afirmação: O futebol não existe! Uma afirmação que em um primeiro momento pode parecer infame, mas, que nos permite ao mesmo tempo adentrar em uma reflexão mais profunda sobre uma perspectiva diferentealternativa sobre a relação homem, sociedade e natureza. E é a partir desse ponto então que pretendo por luz ao que me interessa. Ir de encontro à essência das coisas, o caminho entre os vales do acerto e do erro no futebol.
Caindo entre esses dois extremos é possível perceber que já não encontramos mais como respostas as coisas mesmas, o acerto ou o erro. Ao olhar adiante e ao redor não é lúcido compreender as ações escolhidas pelos protagonistas por meio de uma ótica racional. A lógica já não carrega com tanta certeza as descrições de experiências vivenciadas nesse ponto. Mas afinal, o que é possível encontrar em um caminho limpo de erros e acertos. Ou melhor, dizendo, o que é que enxergamos ao olhar uma partida de futebol sem tomar como epistemologia as variantes lineares da causa e do efeito.
Posso afirmar nesse momento que partimos então de uma perspectiva ontológica. Um ponto de vista que não busca DEFINIR a forma como é SER praticante de um jogo de futebol. Isso pelo fato de compreender que ao contrário de tentarmos definir o que algo (alguém) é, devemos perceber COMO algo (alguém) é. Constantemente e inevitavelmente em situação. Definimo-nos com a situação. Até mesmo achando que não estaríamos nos definindo, nos definimos ao escolher não definir. Sendo no mundo. Ser-no-mundo. Implicações que ao primeiro contato espantam e confundem. Implicações que abrem uma nova janela. A janela da intencionalidade, que permite a quem olha, o desnude de um mundo (jogo) fascinante!
Uma manifestação coletiva de pessoas que por meio de suas intencionalidades (movimentos humanos) transcendem as possibilidades de atuação no mundo da técnica. Respondem de formas variadas as relações: sujeito-sujeito, sujeito-ambiente, sujeito-objeto, tudo complexamente em ritmo, harmonia. Ouso até afirmar que o futebol é a corporeidade em plena existência. É no futebol e com o futebol que materializasse a corporeidade. As teias que permeiam todas as relações saltam de tal modo que podemos comparar o invisível de uma obra de arte ao mesmo sentido. Ao jogar futebol, construímos a arte do que não existe, pois, o futebol não existe.
Agora, pare, respire e enxergue o futebol, única e exclusivamente pelo canal da intencionalidade. Pergunte a si mesmo se as intenções de todos os envolvidos poderiam ser coletadas e explicitadas através de acertos e erros. Questione o que está por de trás da cortina do gesto técnico. Olhe atentamente. Perceba o que está por de trás de sua manifestação. O futebol não existe. Ah, o futebol não existe. Vejo um quadro. Um campo verde. Pessoas. Uma bola. Movimento humano. Linhas brancas de formas retangulares. Um círculo no meio do quadro. Conseguiu imaginar? Isso é a consciência. A consciência é sempre de algo (alguém). Consciência e intencionalidade, o que podem falar sobre o futebol?
O futebol não existe. Experimente descrevê-lo assim. Atreva-se a pensar os gestos como intencionais e inevitavelmente entrelaçados a uma consciência de algo ou alguém. Estabeleça antes de qualquer pré-conceito um fundamento sobre essa relação. E lá está! Um sujeito. Sujeitos. Sujeitos que se movimentam por através das mais diversas intencionalidades. Ah! O FUTEBOL NÃO EXISTE! Agora eu percebi! Existem humanos! Humanos juntos! Humanos, movimento, intencionalidade e consciência….ai, sim! O futebol existiu.
 

 

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A importância do goleiro na transição ofensiva e defensiva

O futebol é um jogo desportivo coletivo no qual a sua dinâmica resulta da competição entre duas equipes pela conquista da posse da bola, com o objetivo de introduzir a bola o maior número de vezes possível na baliza adversária e evitar que esta entre na sua própria baliza (Castelo,2009).
Transição é sinônimo de passagem, transferência. Quando o goleiro recupera a posse da bola, sendo ela vinda de um cruzamento, finalização ou cobertura defensiva. O atleta inicia a construção ofensiva da equipe, o goleiro será responsável por esse momento no jogo, seja com uma saída rápida, média ou lenta.
O momento da equipe dentro do jogo será fundamental para que o atleta tome essa decisão dentro da partida. A leitura de jogo e a tomada de decisão são fatores importantes nesse momento do jogo, uma leitura bem feita, juntamente com uma tomada de decisão rápida na transição podem acarretar em um gol importante dentro da partida.
Geralmente é acionado o “ contra-ataque”, posição rápida, seja ela com os pés ou mãos, para que a sua equipe possa surpreender a falta de organização defensiva da equipe adversária, ou criar uma superioridade numérica para contra atacar a equipe adversária e finalizar com mais facilidade.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

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Rondos são jogos reduzidos?

Introdução
Rondos e jogos reduzidos por muito tempo vêm sendo tratados de forma igual, muitos falam sobre um querendo falar sobre o outro. O principal motivo é lógico: a falta de conhecimento e a reprodução desenfreada de tudo que vem de fora.
O rondo vem do “bobinho” que é uma prática livre e deliberada, na verdade, são brincadeiras que surgiram na pedagogia não-formal (pedagogia da “rua”) e foram desenvolvidas e utilizadas na pedagogia do esporte.
Muitos dos estudos que lemos de fora, treinos que vemos na internet e televisão falam e dão ênfase na redução do jogo em partes, de forma a exigir comportamentos individuais, setoriais, intersetoriais e coletivos, além de tudo que vem a reboque desse processo afim de melhor as partes para que possamos melhorar o todo. O que seria uma evolução tremenda olhando pra trás e vendo que essas fragmentações antes eram por muitos e até hoje feita de forma a descontextualizar o jogo.
Por isso que julgo de forma positiva a tentativa de redução do jogo em partes menores, porém sem confundir alhos com bugalhos.
É verdade que muitas caraterísticas podemos ver entre RONDOS e JOGOS REDUZIDOS, o maior contato com a bola tende a levar a uma melhora da técnica, ao mesmo tempo esse mesmo contato exige mais tomadas de decisões. Aumenta a importância do trabalho em equipe, pois em mais momentos precisamos do suporte e das relações mais bem estabelecidas, a busca pela bola ou a não perda dela gera bastante competitividade, e por último podemos dizer que estimula a criatividade e solução de problemas.
Outro fator comum e fácil de identificar são as relações que os 2 tipos de exercícios têm em relação aos constrangimentos às regras, aumento de campo, pontuações, número de jogadores, onde podemos dizer que qualquer mudança influencia diretamente o objetivo pretendido na prescrição do exercício.
 
O que diferencia um do outro então?
Definição de Rondo:
O rondo é um exercício onde um grupo que está em superioridade tenta manter a posse contra um de inferioridade que tenta rouba-la. O rondo é diferente de outras rotinas de posse porque os jogadores ocupam um espaço pré-definido e geralmente em um círculo (força de expressão) em vez de se movimentar pelo campo.
Xavi sobre os “Rondos” : O Rondo não é um capricho: perna esquerda, perna direita, olhar, espaços livres, sair da pressão, pensar que quando alguém te pressiona, há de se jogar com o jogador que o rival deixou livre… O rondo é sensacional(…) Começa o treino feliz.”
“O rondo lhe dá toque e sensibilidade, você mede espaço, tempo e velocidade, na verdade, tudo depende do seu toque para dar uma vantagem ao seu parceiro”(Guillermo Amor , jogador do Dream Team do Barcelona)
Bakero: No final, é sobre mobilidade e competição. Requer, claro, técnica, posicionamento, concentração … Você aprende ou não aprende.
 
Características dos Rondos

Uma característica bem marcante na minha opinião está relacionado com o alvo, objetivo, o fato de não ter balizas para o ataque, e o desafio. Portanto, não é fazer gol. Isso não torna o jogo inespecífico ou fora de lógica, apenas fragmenta momentaneamente aquele momento, exigindo comportamentos adequados para cada objetivo. Não ter gol, não significava que não podemos ter outros objetivos!
O rondo pode ser tão pequeno quanto um 3 para 1 até 10 contra 2.
Os rondos podem apresentar-se como preparatório (mais comum) ou parte principal de uma sessão de treino.
Os rondos podem ter caráter grupal (mais comum) ou setorial e até intersetorial.
Os rondos tendem a induzir feedbacks individuais, sejam relacionados a técnica ou a tática, apesar da relação coletiva que pode ser bem explorada.
Os rondos podem privilegiar tendências relacionadas as adaptações fisiológicas, força, resistência e velocidade.

 
Rondo e “dia de tensão”

Obs.: Em vermelho parâmetros de força do exercício comparado ao de um jogo e é corrigido pelo tempo. Em preto os parâmetros de resistência (metabólicos).

 
É muito comum vermos os rondos como forma de preparatório para dias relacionados a alta tensão, máxima intensidade e maior descontinuidade, características diretamente relacionadas a melhora dos níveis de força.
Realmente muitos rondos proporcionam sim uma tensão muito grande, por 2 principais motivos: espaços reduzidos, aumentando as acelerações e desacelerações, mudanças de direções, e a descontinuidade que ocorre geralmente quando se tem a posse de bola. Descontinuidade que na minha opinião diminui a densidade desse tipo de exercício atendendo de forma fidedigna as características do dia de tensão/força. Essa descontinuidade não representa uma falta de competitividade de quem está com a posse, porém o fato de estar em maior número torna a vida de que tem a posse mais tranquila de quem a busca.
Esse fator torna o rondo por muitas vezes parte principal nesses dias, atingindo o objetivo de tensão sem gerar um desgaste metabólico central muito grande, o que seria mais verdadeiro dizer quantos aos jogos reduzidos.
 
Rondo e as linhas de passe.
Passe fácil– passe a bola para a pessoa ao seu lado. Não requer uma ampla visão.
Passe médio– Este passe evitará a pessoa ao seu lado, mas não passará entre os defensores. Esse passe requer uma visão ligeiramente mais ampla. É um pouco mais difícil que o primeiro passe.
Passe de jogo, entre linhas– Este é o passe realmente importante, aquele que passa entre os defensores. Este passe requer muita habilidade, criatividade, visão e senso de tempo para acertar.
 
 
 
 
 
 
Pontos chaves de um rondo.

  1. Sempre saltitando dando opção a receber a bola, não estar com pés cravados no chão facilita o redirecionamento da bola que recebe
  2. Concentração total: maior concentração, melhor desempenho
  3. Pense sempre antes de receber a bola. Ter velocidade ao pensar gera velocidade para jogar
  4. Forneça energia ao grupo. Divertir-se não é ruim se estamos concentrados e performando
  5. Feedbacks constantes aos colegas e atletas, quanto mais eles souberem o que acertam e o que erram, maior reforço nos acertos e correções nos erros terão
  6. Velocidade para jogar, criatividade, trabalho em equipe, técnica e resolução de problemas são virtudes muito importante
  7. O objetivo principal, no nível individual e de grupo, é manter a posse, mas não pare de tirar proveito de oportunidades de fazer um terceiro passe de linha Os passes verticais são os que realmente conseguem objetivos, e quando essas oportunidades são apresentadas, elas devem ser tomadas
  8. Imprima o ritmo dos passes

 
Rondo e o treino integrado
Para atingir objetivos físicos vemos também a associação de rondo com estímulos físicos preestabelecidos. Geralmente são preparatórios com ênfase física.
Comum de se ver para melhora de velocidade cíclica, o fato de ter o rondo escondendo o caráter analítico das ações lineares de velocidade, motivando o atleta na execução, fato amplamente discutível quanto a especificidade da ação, mas não entro no mérito e nem seria o momento para a tal.
Rondos de duração curta seguidos de estímulos de 5, 10, 15, 20 e até 30 metros. Trocas de espaços simulam situações de transição após perda da bola, ou recuperação da mesma.

 
Rondo e a relação setorial e intersetorial
Para muitos os exercícios preparatórios têm que ter uma relação pedagógica com o todo, sessão de treino. Isso parece meio lógico, mas por muitas vezes não acontece. O rondo simplesmente acontece de maneira estanque, também não vou julgar, porém identifico como ideal que essa relação exista, para isso vejo uma relação ótima para dias de duração que os rondos possam ter já aspectos que te levem a uma forma mais coletiva de jogar, seja ela setorial ou intersetorial. A maior duração e maior número de jogadores, espaços maiores, já aumenta a complexidade da atividade assim como as relações dos atletas na mesma atividade.

 
Limites entre o Rondo e Jogos Reduzidos.
Apesar de várias explicações sobre rondos e jogos reduzidos, concordo que a linha entre eles é tênue e muitas vezes conceitual.
Pode estar no olhar de quem aplica, no que ela pretende, ou simplesmente na complexidade do exercício. O que quero dizer com isso?
Muitos autores defendem o rondo como aquisição de técnica e tática individual, muito pelo feedback gerado pelo treinador e pela fragmentação momentânea irreal que o rondo pode causar, tornando-o fora da lógica de um modelo X ou Y, exemplo seria num 6×2 nos mandarmos agredir a posse de bola, o que não faríamos em situação normal de jogo (retardaríamos fechando os espaços). Esses comportamentos seriam subprincípios defensivos e ofensivos, como por exemplo quem está sem a bola, abordagem, pé na bola, indução e quem está com a bola, passe certo, leitura das linhas de passe, apoio e etc.
Quanto a complexidade das relações do jogo e também relacionando com argumento acima, treinadores defendem que exercícios com caráter mais setorial e intersetorial não fujam da lógica central do modelo estabelecido, sendo assim o rondo perde sentido nesse contexto.
Outro ponto também discutido é o desgaste gerado pelo rondo comparado ao jogo reduzido, como já dito em tópicos anteriores. Os jogos reduzidos assim como rondo geram bastante tensão, porém com desgaste metabólico maior, podendo variar quanto aos constrangimentos e objetivos, porém invariavelmente maior, fato que pode nos ajudar na hora do planejamento da sessão e da semana de treino.
O rondo tende a gerar um desgaste periférico muscular acima do exigido no jogo se corrigido ao tempo do exercício. Se juntarmos, por exemplo, 3 ou 4 rondos em um dia de treino teremos com certeza uma aquisição relacionada a aspectos neuromusculares e sem acúmulo de fadiga central.

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Contra ataque e transição não são sinônimos

Ao longo do tempo tudo na vida se ajusta e adapta, novas ideias aparecem e o que já existe é melhorado, atualizado.
No futebol esses ajustes também acontecem ao florescer de novas ideias, conceitos aparecem contagiando o meio para buscar novos caminhos para a melhora do esporte.
Dificilmente se cria algo novo no futebol, o que já existe é adaptado, analisado e estudado para que se ganhe em dinamismo e velocidade buscando um jogo envolvente e criativo.
Pelo contexto do esporte, que caminha em uma linha tênue entre o tradicional e o contemporâneo, muitas vezes nos deparamos com uma resistência ao novo, ou pior ainda, presenciamos pessoas que não tem a vontade em buscar a informação integral em estudar de verdade, mas criam opiniões com o mínimo que leram, escutaram ou ouviram falar.
O passo seguinte é sair propagando as ideias sem buscar a informação correta e precisa.

Uma mentira contada muitas vezes, se torna verdade em grande escala.

Dentre as grandes falsas informações propagadas nos meios de comunicação e por consequência de forma massificada, é que os contra ataques são transições.

Quantas vezes ouvimos que um time só joga em transição, que tal time defende para poder atuar em transição, que a transição está muito rápida, e assim em diante.

Antes de entrarmos no mérito de transição/contra ataque, vamos discutir as fases do jogo.

Fases do jogo
Já é bem difundido que o jogo é feito em quatro fases:

  1. Organização defensiva
  2. Transição ofensiva
  3. Organização ofensiva
  4. Transição defensiva.

Não temos o objetivo em entrar nos detalhes de cada uma das fases do jogo nesse texto.
Contudo, para fácil entendimento podemos ilustrar da seguinte forma:
A equipe sem bola precisa se organizar para poder recuperar essa bola (organização defensiva), ao recuperar a bola ela busca estratégias para poder se organizar ofensivamente (transição ofensiva), ao se organizar a equipe precisa criar mecanismos para poder chegar ao gol adversário (organização ofensiva) e no momento em que perder a bola os jogadores devem saber como abordar o adversário até se reorganizar defensivamente (transição defensiva).
Esse ciclo não acaba nunca, ele é constante ao longo de todas as disputas da partida.
A união dessas quatro fases de forma equilibrada tende a fazer uma equipe vencedora.
Ao privilegiar uma em detrimento da outra, é o inicio de problemas para a equipe técnica e para os jogadores.
Modelo de jogo
Ao falarmos em modelo de jogo, pensamos que ele representa a ideia do treinador e por muitas vezes da instituição, do histórico da equipe.
O modelo de jogo será o norte de cada momento, de cada fase do jogo. Nele que se definirá como a equipe deverá atuar em cada momento com e sem a bola.
Quando se define bem o modelo de jogo, se modula os treinos, sessão por sessão e introduz, posteriormente se fixa os conceitos da ideia de jogo do treinador na equipe.
Assim como todas as fases do jogo, a transição ofensiva deve ser treinada através da forma que o treinador definiu para seus jogadores. Ela precisa estar enquadrada dentro de todo o contexto da equipe e relacionada de forma sincrônica e equilibrada aos demais momentos do jogo.
Transição ofensiva 
Podemos entender transição ofensiva como o momento em que se recupera a posse de bola, e definimos como se deve atacar o adversário. Também pode ser entendida da seguinte forma:
Transição Ofensiva é (didaticamente) a transição como um momento, um instante, que se inicia antes mesmo da conquista da posse de bola.
Para a Transição Ofensiva devemos treinar a equipe para as seguintes situações:

  • Como a equipe prepara-se para a transição ofensiva?
  • O que a equipe tenta fazer (de forma intencional e coletiva) no exato momento em que recupera a posse da bola?
  • O que a equipe tenta fazer (de forma intencional e coletiva) na sequência se isso não for eficaz?

Imediatamente ao recuperar a posse de bola, em relação à atitude, a equipe tem três ações que devem ser analisadas:
1- manter a bola na zona de recuperação, -não se preocupa em retirar a bola da zona de pressão-, com passes curtos e/ou condução, inicia-se o ataque.
2- retirada imediata vertical da zona de recuperação, -ao recuperar a bola, a equipe executa passes verticais na direção do gol do adversário-, aproveitando possíveis desequilíbrios e iniciando o contra ataque/ataque rápido (contra ataque).
3- retirada imediata horizontal da zona de recuperação, -ao recuperar a posse de bola-, a equipe executa passes horizontais ou para trás para retirar da zona de recuperação. Muito utilizado em ataques posicionais em um jogo equilibrado.
Essas três caraterísticas da transição ofensiva estão relacionadas ao momento do jogo, quanto mais equilibrado entre as três a equipe estiver, mais preparada estará para conseguir êxito no início de suas ações ofensivas.
A equipe deve treinar as três situações, pois dentro do caos do jogo, todas são importantes em algum momento para buscarmos atacar o adversário de acordo com seu desequilíbrio e desorganização ofensiva.
Evidentemente uma será sempre a prioritária de acordo com o modelo de jogo da equipe, definida pelo treinador.
Como visto acima, o contra ataque está dentro do processo de transição ofensiva, mas ele não é nem pode ser entendido como sinônimo, pois essa fase é muito mais ampla e complexa do que se difunde por ai.
Reduzir a transição ofensiva a apenas contra ataque é sintetizar e abrir mão de muitas informações que agregam a essa fase do jogo.
Com esse calendário tão cheio, denso e disputado, definir e entender quais são as fases do jogo e como será colocada cada uma na equipe de acordo com o modelo de jogo do treinador, é essencial para aperfeiçoar o tempo de treino e com ele atingir os objetivos traçados para o time.

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Analítico e Situacional – serve como treinamos?

Olá a todos, neste artigo iremos refletir sobre uma questão que está na base de qualquer microciclo do treinamento de futebol. Que são os treinos de técnica analítica e situacional. Utilizaremos a condução como exemplo de gesto técnico para analisar o modo e o porque treinamos (ou não) nestes dois modos.
Para se treinar o futebol se pensa que descompor o jogo possa enfatizar um determinado princípio, conceito ou gesto técnico podendo chegar até o máximo da previsibilidade de um exercício que é o de técnica analítica.
Dentre os modelos de aprendizagem do futebol é muito comum dividir por faixa etária os gestos técnicos, que devem ser “ensinados” aos garotos até sua fase adulta com a crença que realizando o gesto técnico isso “automaticamente” possa ser reconhecido e realizado em uma situação de jogo.
Tendo como exemplo a condução como gesto técnico, vamos analisar o treinamento analítico como instrumento para apreendê-lo ou aperfeiçoa-lo. A ideia é que se possa isolar as demais variáveis do jogo como: companheiro, adversário, posição no campo, fase de jogo, gestão emotiva, capacidade de escolha, entre outros, para se ter o foco quantitativo nos componentes técnicos para realizar uma boa condução; com diferentes partes do pé, em diferentes velocidades, número de toques, mudanças de direção, etc.
A reflexão que devemos fazer é se estamos seguros que isolando qualquer tipo de gesto técnico no futebol, o próprio jogador conseguirá transferi-lo em partida. Um jogador que sabe realizar a condução com boa técnica, saberá reconhecer quando e o porque realmente serve durante a partida?! Exemplos: para conquistar espaço, para atrair adversários ou para realizar um dribbling. Como diz Julio Velasco: “Nós devemos partir do jogo com a ideia de ensinar a jogar. Muitas vezes não ensinamos a jogar, mas ensinamos a fazer um exercício. Não se usam exercícios como instrumento para jogar, senão treinamos jogadores a fazerem bem um exercício, pensando que o “tranfert” ao jogo seja algo simples e não é, por nada! (Julio Velasco – ex treinador de vôlei da seleção italiana).
Quando realizamos o treinamento situacional esperamos rever os gestos técnicos treinados de forma analítica sendo aplicada. Ao analisarmos os gestos técnicos estamos observando na perspectiva de tempo e espaço?! Quando se faz treinamentos de jogos reduzidos serve ter regras de número máximo de toques? Como o jogador pode reconhecer a importância da condução como resolução de problemas? Quantas vezes um jogador tem espaço para conduzir a bola e quase que automaticamente procura um companheiro a quem passar?! Como a questão é sobre quando conduzir, não podemos limitar os toques em exercícios situacionais e sim corrigi-los durante sobre o porque e quando realiza-los.
Podemos ver neste vídeo o jogador Frenkie de Jong (20 anos) do Ajax, da Holanda, que parece ter bem claro os princípios e a importância da condução.


Estes pontos de reflexão têm como base entender que o jogador, assim como o jogo, é uma unidade. Tudo o que o jogador precisa para melhorar em qualquer aspecto (também físico) já está dentro do jogo.
Temos a ideia de se treinar tudo aquilo que é necessário para jogar futebol tirando do próprio jogo para depois “recoloca-lo” dentro. Quando se realiza a condução (como qualquer outro gesto técnico) em um determinado momento da partida, temos de compreender mais o “porque” que o “como”. Esta perspectiva pode mudar o modo na qual analisamos o todo e, principalmente, o modo que pensamos à um exercício seja analítico que situacional. O exercício não deve ser simplificador, mas facilitador da compreensão do jogo. Como diz Oscar Cano: “O primeiro erro é chamar treinamento no momento que pressupõe que devemos jogar. Treinar é reproduzir e o futebol não se presta, pela sua natureza, a ser reproduzido as ações específicas. Se deve ir a jogar, não a treinar”. (Oscar Cano – Treinador de futebol; especialista em jogos posicionais).
Abraço a todos!

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Treinar pra que?

Começo esse artigo aproveitando a famosa frase do artilheiro genial Romário: “treinar pra que, se eu já sei o que fazer?”.

Por mais que pareça engraçada essa frase e em especial a forma como ele a citava, podemos nós profissionais do futebol, abrirmos espaço para uma análise desde conceitual até metodológica.

Cada vez mais o futebol moderno com sua alta demanda de competitividade e o pouco tempo de treinamentos e preparação para jogos e campeonatos, necessita de treinos pontuais relacionados à forma da equipe atuar.

Se treina para resolver um problema. Essa solução de problemas vem desde os aspectos individuais, tanto coletivos. O treino descontextualizado com o modelo de jogo caracteriza apenas desgaste para os jogadores e uma perda de tempo para a equipe e o ambiente que a cerca.

Até ai nada de novo, todos nós já lemos e estudamos isso há algum tempo…

O desafio é como detectar quais são os problemas que a equipe técnica quer resolver, e dai em diante modular as sessões de treino pautadas nessa diretriz.

Definição de modelo de jogo

O primeiro passo para pensar em elaborar as sessões de treinamento é definir como a equipe irá atuar, quais são os princípios estruturais e operacionais e com eles definir os aspectos metodológicos da sua equipe.

Como pretendo atacar o adversário?

Qual será minha postura defensiva?

Como irei transitar do ataque para a defesa no momento em que perder a bola? 

Como farei a transição defesa/ataque no momento em que minha equipe recuperar a bola do adversário?

Essas questões devem ser respondidas pelo treinador e sua equipe técnica antes de se pensar em elaborar sessões de treinamento. Definir a postura do time nas quatro fases do jogo é o primeiro passo quando se imagina alinhar o modelo de jogo a ser adotado.

Para entender melhor…

Se a definição do modelo de jogo, dentro da fase ofensiva da sua equipe for um time que procura o gol utilizando passes verticais, no corredor, com ataques rápidos em velocidade, treino de posse de bola, com passe apoiado e troca de corredores buscando a superioridade numérica para infiltração e finalização, terão pouca transferência com o modelo de jogo escolhido.

Com isso, se o treinador buscar nos treinos atividades que priorizam a posse de bola e circulação através de passe apoiado, no momento do jogo, dificilmente a equipe conseguirá atuar com passes rápidos, verticais como foi definido e certamente solicitado aos jogadores.

A forma da equipe atuar será um reflexo dos treinos aplicados pelo treinador e sua equipe técnica.

O mesmo exemplo vale na organização defensiva.

Se pretender que minha equipe marque pressão, em bloco alto, buscando recuperar a bola do adversário o mais rápido possível, meus treinos devem estar voltados para essa característica.

Treinar a marcação zonal em bloco baixo com o balanço defensivo e suas respectivas coberturas e ocupação de espaço, não irá gerar uma adaptação individual e coletiva para a marcação pressão que havíamos definido anteriormente.

A montagem dos treinos é a ferramenta mais importante na criação e transformação de sua equipe.

Conceitos de jogo.

Além das fases do jogo, um detalhe é fundamental para estarmos atentos na elaboração dos treinos: os conceitos que se pretende trabalhar na equipe.

Os conceitos são a base de sustentação do jogo e também devem estar relacionados com a forma como os jogadores e a equipe reagem durante as partidas.

Se quiser que minha equipe marque em bloco alto, dependo de uma série de conceitos que devem ser treinados para que os jogadores consigam de forma sincrônica atuar dessa maneira.

Ao definir e aplicar os conceitos que seus jogadores e equipe pretendem atuar, isso estará vinculado à forma que os mesmos se comportarão no treino e por consequência no jogo.

Se pretendo que minha equipe circule a bola de forma dinâmica e agrida o adversário com infiltrações, triangulações (através de superioridade numérica) e finalizações de fora da grande área, os conceitos no treino devem estar modulados a essa forma de atuar.

Essa sintonia fina entre ideia de jogo e metodologia é a base para elaboração e aplicação dos treinamentos.

Efetividade no treinamento

Um erro muito comum é pensar em elaboração de treino visando apenas o dinamismo da atividade e alta complexidade de regras e pormenores.

O treino deve ter um porque, uma tarefa a ser cumprida.

Por vezes, a alta criatividade e a busca por atividades cada dia mais complexas, geram um grande problema a sua equipe, pois se não treinar da forma como pretende atuar, não existirá transferência para o modelo de jogo, e possivelmente não gerará assimilação àquilo que propõe o treinador.

Primeira pergunta que o treinador deve fazer antes de elaborar o treino: Qual o objetivo da sessão do treino?

Após entender esse objetivo, os exercícios devem estar relacionados para essa pergunta pois, treinar sem objetivo é apenas desgastar sua equipe sem atingir os resultados esperados.

O treino é a principal arma que o treinador tem para modular sua equipe, quanto mais ele for aproveitado e otimizado, maior será a chance dos jogadores e da equipe evoluírem e se adaptarem ao modelo de jogo pretendido.

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A diferença entre tática e estratégia

Ao longo dos anos, cada vez mais, os meios de análise e estudo do comportamento dos jogadores perante o jogo coletivo está se massificando e amplificando as inúmeras formas de se treinar e por consequência enxergar as muitas variações propostas pelos treinadores e equipe técnica.

O que sempre ganhou destaque no nosso futebol foram os jogadores, através das suas atuações individuais. Sempre enxergamos o jogo do individual para o coletivo, acreditando que o simples fato de colocarmos os melhores jogadores em campo, possibilitaria com o tempo “o encaixe” e o time jogaria naturalmente.

Com a globalização, a troca mais rápida de informações, e por consequência a diminuição do espaço em campo, a velocidade das ações aumentaram muito, pois cada dia mais o futebol se tornou um jogo dinâmico e rápido, onde o individuo é muito importante quando ele age perante o jogo coletivo.

A constante ocupação de espaço e a perda da posse de bola, estimula cada vez mais a organização das equipes dentro das quatro fases do jogo (organizações e transições).

Na sua essência, o futebol é um esporte aberto onde os jogadores têm pouco domínio sobre a bola, dificultando sua organização. Outro detalhe que contribui muito para a desorganização do conjunto é o enorme espaço que o jogo é disputado com muitos indivíduos em campo.

Ao compararmos o futebol com esportes como o futsal, handebol, vôlei, basquete, entre outros sempre observamos poucos jogadores em quadra, dentro de um espaço pequeno (facilita a comunicação entre os membros da equipe) e com um esporte jogado com as mãos (onde se tem um controle motor muito maior quando comparado com os pés).

Em virtude desse caos relacionado ao jogo, formas, meios e métodos de se treinar para buscar a constante organização coletiva apareceram, e com o tempo vem ganhando cada dia mais espaço e relevância perante o futebol brasileiro.

Cada vez mais conseguimos evoluir dentro das diversas escolas de treinamento e certamente com o tempo teremos nossa identidade de treino, nossa assinatura do jeito brasileiro de se treinar futebol sem perder a individualidade do talento, mas associar essa característica dentro de um jogo coletivo e eficiente.

Em virtude disso, passos importantes têm que dar e sempre estarmos atentos para os acertos, mas em especial nos equívocos para que possamos nos moldar e progredir no processo de atualização e ganho de identidade de jogo.

Tático: o que seria?

Muito ainda se confunde distribuição espacial dos jogadores em campo com a tática do time.

Isso é uma confusão pontual de nomenclatura, pois está mais relacionada a estratégia de jogo do que os aspectos táticos.

Os aspectos táticos de uma equipe estão relacionados a ideia de jogo do seu treinador.

Tudo que se relaciona ao treino, ao comportamento, tomada de decisões, atitude, metodologia de trabalho, entre outros está relacionado aos aspectos táticos da equipe.

Um exemplo bem simples:

Se a ideia de jogo do treinador é marcar sob pressão após a perda da posse de bola tendo uma transição defensiva dificultando ou impedindo o passe do adversário, os treinos devem estar associados a essa ideia, a esse conceito. Isso faz parte da tática da equipe, do jogo coletivo.

Se o treinador espera que a sua equipe jogue em contra ataques, esperando o adversário para uma transição ofensiva rápida e vertical, pouco importa aplicar treinamentos de manutenção da posse de bola e troca de corredores, pois estará ferindo a identidade do time, os aspectos e conceitos táticos definidos pela equipe técnica.

Veja que em nenhum momento citei números e distribuição dos jogadores em campo, por um motivo bem simples, os componentes táticos da equipe estão relacionados com o comportamento como a forma que eu aplico treino, para que minha equipe tenha uma ideia de jogo bem definida.

 Desde os exercícios mais simples até os mais complexos, todas as atividades devem contemplar as ideias do treinador. A tática é o norte da metodologia de trabalho, é onde a equipe técnica e os jogadores devem se basear para treinar e render.

Distribuição numérica

A distribuição numérica dos jogadores em campo, está relacionado com a estratégia escolhida pelo treinador para aquele jogo ou campeonato.

Não devemos confundir distribuição dos jogadores em campo com tática. A ocupação espacial é estratégia de jogo que apenas está relacionada dentro do plano tático.

A colocação dos números (1-4-4-2, 1-4-3-3, 1-4-2-3-1, 1-3-4-3, entre tantos) deve estar relacionada a diversos fatores, desde a característica do adversário, a forma como seu time vai atuar naquele dia, o objetivo do resultado perante a classificação, e diversos outros fatores.

É importante entender que essa distribuição numérica é apenas um dos componentes da tática escolhida pelo treinador.

A tática é o espelho do que seu treinador espera da equipe e vai desde as ideias até a metodologia de treino.

Com quantos defensores ou com quantos meias e atacantes a equipe vai atuar, configura apenas o plano de jogo para uma partida, não a tática escolhida.

As equipes mais modernas e bem treinadas, têm uma distribuição numérica sem a bola (organização defensiva) e uma diferente com a bola (organização ofensiva), mas sobre isso falaremos em outra oportunidade.

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Identidade de jogo: você realmente joga como treina? – Parte 2

Olá a todos! No primeiro artigo demos uma introdução do que significa ter uma identidade de jogo a partir das duas únicas fases do futebol, ou seja, posse ou não posse de bola. Uma de suas características principais é conseguir manter os mesmos conceitos de jogo independente das variáveis já citadas no artigo anterior.

Identidade de jogo: você realmente joga como treina? – Parte 1

Neste artigo vamos definir uma identidade de jogo e a partir dela refletir sobre o planejamento do que seria necessário para conseguir em partida realmente jogar como se treina.

O primeiro passo para ter uma identidade é crer fielmente que desta maneira você e seus jogadores terão maior probabilidade de vencer os jogos, a coisa mais importante é convicção sua e de todos do staff técnico na sua proposta de jogo pois a comunicação e a linguagem comum entre todos os membros é fundamental.

Hipotizamos que o staff técnico tem como ideia comum o comando de jogo a partir da posse de bola e vamos começar a pensar como devemos treinar nossos jogadores a partir desta ideia de jogo.

Para um comando de jogo, pressupõe-se uma equipe que durante as partidas tenham como percentual no mínimo 51% de posse de bola. A partir deste pequeno e óbvio dado, temos que pensar em nossos treinamentos semanais. Se a equipe quer ter a posse de bola pelo maior tempo possível, o primeiro passo nos treinamentos será aumentar o volume de treinos no qual a equipe tenha sua posse, ou seja, cerca de 65% – 70% dos treinamentos devem ter como objetivo reconhecer os espaços (principalmente determinado pelos adversários), distância de relação entre os jogadores e superioridade numérica, posicional e qualitativa em posse de bola. Isto não significa ter a posse para sua manutenção mas para a preparação coletiva de chegar ao gol adversário. A posse de bola para a manutenção do resultado por exemplo, não entra na ideia de identidade de jogo pois ela seria uma variável sem um resultado vigente.

Durante um microciclo de treinamento, o trabalho no reconhecimento destes conceitos nas três zonas do campo (Construção, Gestão/Preparação, Finalização) são fundamentais para o comando do jogo. Os outros 30%-35% do tempo se deve aos mesmos conceitos citados mas na fase de não posse de bola e fase defensiva em posse (*marcação preventiva, por exemplo).

Segundo a relação técnica da Champions League 2015/2016, TODAS as equipes participantes independente de sua identidade de jogo apresentaram uma média de 63% de passes médios (10mt – 30 mt) já para passes considerados longos cerca de 17% (acima de 30 mt), e para passes considerados curtos foram cerca de 20% (até 10 mt). Apenas com este dado nos dá uma ideia de como programar exercícios técnicos com as distâncias de relação, reconhecimento racional dos espaços para encontrar as três superioridades (numérica, posicional e qualitativa) para sua equipe em fase de posse.

Segundo os dados da mesma relação técnica da Champions League 2015/2016, as situações mais frequentes que terminaram em gol foram:

– Reenvio da bola que permitiram imediatamente a posse de bola ao adversário (10,95%)

-Passe ou domínio errado da parte do adversário (10,66%).

Com este segundo dado fica evidente como as habilidades técnicas de base (domínio, condução, e passe) e capacidade de escolha se tornam pilares para este tipo de identidade. O domínio em todas suas formas (aberto, de proteção, em velocidade, com finta, orientado), os diferentes tipos de passe (vertical, diagonal, horizontal, curto, médio e longo), a condução (em velocidade; para conquista campo, para atrair adversários, para realizar superioridade numérica com 1vs1) devem ser trabalhados de maneira exaustiva.

O primeiro objetivo e um dos principais da equipe independente do sistema tático (1-4-3-3, 1- 4-3-1-2, 1-3-5-2…), é superar a primeira linha de marcação adversária, uma vez realizado este objetivo, as outras linhas e jogadores adversários terão que sair de suas posições para cobrir os espaços e a possibilidade de encontrar as superioridades numéricas e posicionais se tornam maiores. Para que este primeiro objetivo possa ter maior probabilidade de acontecer, o goleiro será umas das peças fundamentais na manobra pois, ele será o jogador que dará a superioridade numérica para a ação na zona 1 do campo, ou seja, o tempo de trabalho de um goleiro com os pés para que reconheça todos os conceitos já citados, deverá ser maior, o que exige um planejamento diferenciado.

Uma vez que a equipe e seus jogadores conseguirem entender e interiorizar a identidade de jogo proposta, os treinamentos e exercícios propostos terão maior compreensão para todos que o realizam pois os objetivos serão claros e respeitam as reais dificuldades e objetivos que encontrarão dentro de uma partida.

Implantar uma identidade de jogo (com posse ou não posse de bola) requer planejamento, treinamento e tempo para que os jogadores consigam aprender, realizar e principalmente interiorizar seus conceitos. O apoio por parte do clube como entidade em um projeto de identidade de jogo deve ser incondicional para que o objetivo possa ser alcançado independente de quem o realiza, mantendo um perfil definido mesmo com troca de treinadores.

Abraço a todos!
 
*Marcação preventiva: nome dado a disposição tática dos defensores enquanto a equipe está em zona de finalização.
Referências Bibliográficas:
https://it.uefa.com/MultimediaFiles/Download/uefaorg/General/02/40/05/19/2400519_DOWNL OAD.pdf

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O que realmente fará a diferença no futebol?

Olá a todos! Neste artigo iremos refletir sobre o que realmente pode fazer diferença no futebol ao conseguir aumentar o máximo possível a probabilidade de vitórias e, consequentemente, diminuir as derrotas. Segundo estudos (ANDERSON & SALLY 2013), o futebol é o esporte com menos probabilidade de que os favoritos consigam vencer (52%) em relação aos demais esportes coletivos – basquete 66%, beisebol 60%, futebol americano 65%, handebol 71%.

Nos dias de hoje, devido a tecnologia e o vasto conhecimento em diversas áreas dos aspectos humanos, tivemos uma evolução de forma exponencial, nos últimos 20 anos, na performance dos atletas chegando quase ao seu limite no que diz respeito as suas capacidades específicas para a modalidade (físicas, técnicas e táticas). A seguir vamos analisar alguns aspectos:

Para as capacidades físicas, hoje através de sistemas GPS e treking das partidas podemos entender exatamente como se movem os jogadores com distâncias, acelerações, desacelerações, diferentes velocidades de corrida, mudança de direção, dentre outros dados durante os treinamentos. Isso permitiu o estudo detalhado e programações específicas de treinamentos para cada atleta em suas equipes nas diferentes posições no campo.

Nos aspectos tático-técnicos (tática vem primeiro do técnico pois a capacidade de escolha é a tática individual vindo antes do gesto técnico a ser realizado) através de scout numéricos, observação livre e análises vídeo, é possível entender os comportamentos de uma equipe em diferentes fases do jogo para detectar pontos fortes e vulneráveis do time, setor ou jogadores adversários. Este conhecimento permite treinamentos estratégicos (individuais e coletivos) para que sua equipe reconheça o mais breve possível os movimentos do adversário e tenha um determinado comportamento pré-estabelecido para combater e/ou aproveitar a situação enfrentada.

Devido a tantos estudos, conhecimento e especificidade dos aspectos humanos ligados ao futebol, em qual área poderíamos e devemos nos aprofundar cada vez mais? De acordo com as novas tendências do futuro do esporte, esta área seria a do aspecto mental-emotivo dos jogadores. Como diz Pep Guardiola, em sua entrevista a Aspire Academy: “ O jogador hoje é capaz de chegar cem vezes ao fundo do campo para cruzar uma bola, mas a questão é: quando ele vai chegar? Um segundo antes? Um segundo depois? Ele tem que saber chegar no timing certo nem antes e nem depois, e isso define a inteligência no futebol”.

O fator mental, apesar de ser considerado muito importante, sempre foi menos trabalhado dentre os outros aspectos e capacidades devido a sua difícil compreensão e aplicação durante os treinamentos. A visão de um psicólogo em um staff técnico, já é muito conhecido geralmente cobrindo um papel de interlocutor e motivador mas pouco voltado para a atuação do atleta durante uma partida. O desempenho de um jogador durante uma partida pode-se resumir de acordo com a equação (GALLWAY 2013): “Desempenho Real = Desempenho Potencial – Interferências internas e externas”. Ou seja, o real trabalho de um psicólogo esportivo é compreender e exercitar aspectos mentais de cada atleta, como exemplo: a concentração, velocidade de pensamento e capacidade de escolha junto ao aspecto (talvez o mais importante), a gestão das emoções de acordo com os diferentes momentos do jogo, como: resultado vigente, importância do jogo, tempo de jogo, força do adversário, torcida, objetivos e problemas pessoais, entre outros.

De uma forma ainda não muito difundida, os chamados psicólogos esportivos começam a ter mais espaços nas equipes tendo como fundamental objetivo o entendimento dos comportamentos mental-emotivos da equipe e jogadores propondo exercícios para que, através de uma melhor gestão emocional durante toda a partida, isto possa ajudar a melhorar ou a manter o maior tempo possível a sua velocidade de pensamento e capacidade de escolha que vão influenciar diretamente no resultado de uma partida.

Em tempo de equivalência física, tático e técnica, o “famoso” jogador inteligente é aquele capaz de resolver problemas criando imprevisibilidade através de seu pensamento criativo. Este jogador pode ser goleiro com ótima capacidade de leitura da trajetória da bola, um zagueiro com perfeita antecipação ao lance ou com coragem de comandar o jogo com uma condução dentro das linhas adversárias; um meio campo que através de um passe é capaz de quebrar linhas em uma perfeita leitura tática; um atacante que se move no momento certo para receber um passe ou simplesmente criando superioridade numérica através de 1 vs 1 criando a instabilidade defensiva procurada em cada ação de ataque.

O futebol é somente e exclusivamente dos jogadores então, o investimento em um trabalho direcionando o reconhecimento e a gestão das emoções durante a partida, será a real diferença no futebol.

Segundo vocês, como podemos trabalhar o aspecto mental-emotivo com especificidade na performance do jogador durante as partidas?

Um abraço!

 
Referência Bibliográfica:
ANDERSON C.; SALLY D.; Os números do jogo: Por que tudo o que você sabe sobre futebol esta errado. São Paulo: Schwarcz, 2013
GALLWAY T.; The Inner Game: A essência do jogo anterior. São Paulo: NEWBOOK, 2013

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Performance no futebol: melhorar ou manter? Treinando ou jogando?

Na teoria todos os profissionais que estão ou pretendem atuar no futebol imaginam que uma sequência bem elaborada de treinamentos pode melhorar o desempenho individual e coletivo de seus atletas e, respectivamente, de sua equipe.

Os mais otimistas vislumbram que dentro das mais modernas tendências atuais de treinamento estão todos os segredos e soluções do futebol, e que as simples aplicações desses métodos resolvem de forma efetiva e imediata todos os enigmas físicos, táticos, técnicos, cognitivos e comportamentais do futebol brasileiro e, porque não, mundial.

Muito antes de discutir esse mérito temos que entender o conceito de performance e entender até que ponto é possível melhorar de forma tão efetiva, ao longo de toda a temporada, o rendimento de todos os seus jogadores.

O futebol é um esporte aberto que abrange diversas demandas motoras onde inúmeros componentes interferem no rendimento físico, técnico e por consequência tático dos jogadores e da equipe.

É muito difícil mensurar o que é performance no futebol e o desafio fica ainda maior quando tentamos analisar se melhoramos (ou perdemos) rendimento com o treino, já que boa parte do desempenho dos atletas estão relacionados com a individualidade biológica, com o “pacote biológico” de cada ser humano.

Por vezes me parece que se treina muito por treinar sem de fato saber aonde se quer chegar nem pouco o que se quer fazer para buscar o rendimento.

Um grupo de trinta indivíduos completamente diferente geneticamente (fenótipo e genótipo) realizando os mesmos exercícios, com a mesma carga ao longo do mesmo ano com o intuito de melhorar a performance de forma unificada. Parece correto para você?

Pois é desse jeito que muitos times treinam e acreditam que melhoram o desempenho de seus atletas. Mesmo muitos desses times contando com departamento de fisiologia, que poderia assegurar uma individualização no treino de cada jogador, pouco ou quase nada se modifica na maior parte dos clubes.

O que percebemos é que por vezes clubes que reclamam do calendário, às vezes deveriam agradecer pois quando tem uma boa logística de recuperação entre jogos (nutrição, fisiologista, descanso)  o próprio jogo por si só já cumpre a função de melhorar a performance de forma específica dos seus jogadores.

Penso que a ideia de melhorar a performance deve ser antes de mais nada modificada pela manutenção de rendimento específico dos jogadores ao longo da temporada.

E durante essa temporada a equipe de trabalho poderia ter a condição de detectar qual a real necessidade de cada atleta e treiná-lo, quando possível de forma individualizada e não todos de forma generalizada.

O ganho de performance de um jogador de futebol é evidente e possível quando se respeita alguns princípios do treinamento desportivo, tais como sobrecarga, individualidade biológica, reversibilidade e especificidade, mas sem dúvida nenhuma o princípio da continuidade nesse caso, quando respeitado será o determinante para conseguir aumentar o rendimento de cada atleta a longo prazo.