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O cérebro e o planejamento de carreira no futebol

Hoje, eu resolvi comentar sobre uma questão que eventualmente pode ser um complicador na vida dos atletas de futebol: o planejamento da carreira e o cérebro do atleta.

Muitos acabam por ter uma grande dificuldade em vislumbrar a carreira que podem ter pela frente, pois é quase natural que todos apenas consigam ver o que acontece em um curto prazo. Não é comum existir uma abordagem das pessoas envolvidas no futebol, no que tange a amplitude da carreira esportiva.

Isso pode acontecer, não por falta de percepção de todos ao redor do atleta, mas eventualmente pela falta de utilizar algumas ferramentas que possam contribuir para que o atleta possa realmente pensar, refletir e sentir o desdobramento da sua carreira.

Eu acredito que isso é possível de se fazer e de uma maneira totalmente fácil e intuitiva. Sabe como? Utilizando o velho e bom mapa mental!

Mas aqui, você se questiona, como o mapa mental, o planejamento de carreira e o cérebro estão interligados? E como isso pode tornar intuitiva a reflexão de carreira do jogador de futebol?

Para podermos compreender esse cenário, vale a pena lembrar alguns fatores que nos fazem entender o poder de se elaborar um mapa mental. Por exemplo, é importante sabermos que os mapas mentais ajudam a planejar e gerenciar nossos desafios cotidianos com extrema eficiência e seu uso é percebido como um fator de aumento da confiança na busca pela concretização das metas, para quem o utiliza. O uso de mapas mentais é muito útil, inclusive em situações em que os objetivos não parecem totalmente claros ou fáceis de serem compreendidos.

Agora, por qual motivo isso pode ser tão valioso para todos nós, atletas ou não? A resposta está na forma como nosso cérebro é constituído. Ele, por ser multidimensional, é capaz de absorver, interpretar e recuperar informações por meio de recursos, que são em sua grande maioria, sensitivos, criativos e instantâneos, mais do que por meio de palavras. Complementando, o cérebro é capaz de criar uma infinidade de ideias, imagens e conceitos e, um mapa mental é projetado justamente para trabalhar do mesmo modo que este órgão.

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Bom, até aqui tudo bem! Mas, e aí? Onde está a relação com o planejamento de carreira?

Então amigo leitor, em uma eventual situação em que seja difícil elevar a consciência do atleta de futebol, para o longo prazo, a respeito de suas responsabilidades da profissão e suas escolhas, que podem levá-lo a um resultado de carreira melhor ou pior, o mapa mental pode ser uma ótima alternativa para fazê-lo raciocinar sobre quais escolhas são realmente alavancas para uma carreira promissora.

Uma dica, comece o mapa com a ideia central de uma carreira bem-sucedida no ponto de vista do atleta e deste ponto, ramifique temas que sejam de valor no ponto de vista dele e no seu, caso você seja um responsável pela carreira desse atleta. Daí em diante, o trabalho é desenvolver esse mapa e a cada ramificação criada, conforme os anseios, procure explorar com o atleta o quanto cada um dos itens vão ajuda-lo, ou não, a chegar onde deseja. Vale lembrar o lema: cada escolha, uma renúncia!

Ah, para concluir, caso tenha o interesse, existe um bom livro a respeito que posso te indicar: Mapas Mentais, de Tony Buzan. Vale conferir.

Até a próxima.

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Treino é tudo

É importante criar dificuldades para os que têm talento. As facilidades os limitam. (Bernardinho)

O jogo cria o treino, que por sua vez cria o jogo. Um ciclo recursivo, onde o início e fim tem o mesmo lugar. Podemos enxergar no treino um processo de ensino-treino (repetição), um lugar especial onde a prática se torna mais “construtivista” que as palavras. Onde o fazer diz muito mais que muitas palavras. Onde o subconsciente precisa ser exercitado. Julio Garganta relata que o treinador precisa acreditar no treino, no processo de aquisição, na repetição de ideias, nos comportamentos, etc.

O treino pode ser caracterizado como um período temporal que foi criado para construir uma forma de jogar, o que deve ser estruturado/criado com base nas ideias de cada treinador. Este processo de ensino-treino tem como objetivo aperfeiçoar as diferentes capacidades e competências dos atletas e da equipe. Porém, ainda algumas práticas vêm limitando e polindo o desenvolvimento individual e coletivo.

Um treino desajustado que, com frequência, os jogadores são enquadrados num processo de treino onde dificilmente podem expressar as suas aptidões criativas através do gesto ou ação. O que infelizmente reflete em uma característica constantemente observada no nosso futebol, uma inoperância da criatividade decisiva nas soluções de algumas dificuldades que o jogo apresenta.

Aprender futebol à base de repetições debilita as possibilidades criativas dos jogadores. Este tipo de treino, onde se propõe ou impõe o mesmo, um treino analítico, tarefas fechadas e práticas físicas, dirigidas todas elas ao único aspecto que se tem por relevante. Daqui resulta em jogadores que passam anos se exercitando, a sua técnica melhora, mas eles não jogam necessariamente melhor (o que podemos observar atualmente). Isto porque as tarefas que estimulam a repetição mecanizada e cega das ações são nefastas para o desenvolvimento dos jogadores, hipotecando a sua inteligência, criatividade e adaptabilidade.

Como já referi em outras colunas, existem concepções diferentes sobre a mesma realidade. Porém, faço aqui algumas justificativas para a minha. Sabe-se que na literatura já é consensual em considerar que, o desempenho dos jogadores e das equipes, está vinculado diretamente à interação (individual e coletiva) de competências cognitivas, perceptivas e motoras.

Considerando que os grandes jogadores se distinguem dos demais em virtude do seu maior conhecimento especifico, ou seja, da interação de suas competências cognitivas e motoras, sou da crença que o processo de ensino-treino deve ter como preocupação central promover a aquisição, desenvolvimento e interação dessas habilidades (tomada de decisão e cognição de jogo). Nesta perspectiva, o treino, embora seja um espaço para exercitar-se, é principalmente um contexto de aprendizagem com o objetivo de criar um repertório de proficiências que permitam que os jogadores e as equipes consigam resolver eficaz e eficientemente os múltiplos e variados problemas que surgem quando se joga.

Há que devolver qualidade técnica/cognitiva ao jogo pois a alma do futebol reside essencialmente em: ter a bola e saber o que fazer com ela; fazer com que o adversário falhe na sua tentativa de ter a bola e saber o que fazer com ela. E não na vertigem de fazer tudo rápido, roubar rápido e atacar rápido (“vertigem da pressa”). Segundo Cruyff, a única solução para este deficit técnico, está na formação dos futebolistas, daí o importante papel da “formação”, para um futuro “como” queremos jogar.

Até porque, qualquer decisão tendo em conta o contexto e teoria de jogo, só se torna válida se puder ser transformada de uma forma eficiente em ação, o que implica que o jogador tenha ao seu dispor o leque de respostas correspondentes (técnicas individuais ou coletivas). Torna-se também importante para a evolução futura do jogador, não só saber como executar uma determinada técnica, mas fundamentalmente saber quando, onde e porquê executá-la (um tal “saber sobre o saber fazer”). Daí que na aprendizagem do jogo, o ensino da “técnica” e da “tática” deverão ser articulados e não apontar para a simples aquisição mecânica de automatismos técnicos. Porque, ou se faz um ditado (geralmente grita-se na beira do campo de treino ou de jogo) ou se dão as ferramentas conceituais aos jogadores para que estes saibam ler um desafio e se deem ao trabalho de pensar.

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Domingo sem futebol

A paralisação da Série A em datas Fifa foi uma das principais novidades da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para o Campeonato Brasileiro em 2016. A coincidência não atrapalhava apenas o nível competitivo do principal torneio nacional, que tinha rodadas esvaziadas por jogos das seleções, mas criava pesadelos logísticos e de promoção para os clubes. Sem o conflito, contudo, o último fim de semana expôs um problema grave da realidade local: não há qualquer planejamento para preencher essa lacuna.

Sim, o fim de jogos do Campeonato Brasileiro em datas Fifa é uma evolução. Sim, é preciso ter um calendário que canibalize menos o talento e que ofereça espaços maiores. Sim, hiatos mais longos podem ser benéficos para a promoção de um evento. A questão toda é que o Campeonato Brasileiro não se preparou para isso.

Se houvesse uma preparação adequada, a CBF teria criado conteúdo para ocupar o noticiário no último fim de semana. Teria preparado compactos, produtos ou reempacotamentos que pudessem ser consumidos pela população que foi doutrinada durante anos a entender que essa é a data para ver futebol.

A audiência do futebol em TV aberta nas tardes de domingo, por exemplo, representa média superior a 20 pontos no Ibope. Cada ponto significa 69,4 mil residências sintonizadas na Grande São Paulo, região que é referência para o mercado publicitário, o que compõe um total de 1388000 de casas com a televisão ligada num jogo apenas naquela área. O interesse decaiu e a audiência do futebol foi reduzida nos últimos anos, é verdade, mas o produto não deixou de ser relevante.

Quer mais uma demonstração de que existe um público interessado em futebol? Os canais esportivos de rede fechada no Brasil passaram por uma transformação e por uma consequente pasteurização nos últimos anos. Em busca de um número cada vez maior de assinantes, todos encheram a grade de programas de debate sobre futebol, análises sobre futebol, reportagens sobre futebol e jogos de futebol.

O modelo adotado pelos canais fechados é questionável, mas apenas reforça a ideia de que existe um público ávido por consumir futebol. Há pessoas interessadas e há espaço no mercado para a consolidação de um grupo de consumidores. Quando simplesmente fecha as portas em datas Fifa, porém, a CBF deixa de explorar todo esse potencial.

Porque fechar as portas foi praticamente o que a CBF fez no último fim de semana. Houve duas partidas da Série A e rodada cheia da segunda divisão, é verdade, mas a entidade não aproveitou a lacuna criada na data Fifa. Em vez disso, permitiu um fim de semana de pasmaceira e sem conteúdo.

Se houvesse um plano de comunicação adequado, a CBF teria criado produtos ou conteúdos que poderiam ocupar a mídia nos espaços criados pela data Fifa. Além disso, teria planejado essa exposição para valorizar parceiros que têm pouco espaço no restante do ano.

A seleção brasileira jogou na quinta-feira e voltará a campo na terça. Esse hiato poderia servir para as pessoas conhecerem mais sobre o Campeonato Brasileiro ou para a CBF aproveitar para comunicar de forma estratégica algum assunto negligenciado no restante da temporada.

Espaços servem para isso, afinal. Hiatos servem para isso. Comunicação também é pensar em como aproveitar períodos sem jogos e não apoiar suas apostas apenas no evento. O que a CBF faz é usar apenas o potencial das partidas, que não depende de qualquer esforço de promoção.

Parar o Campeonato Brasileiro em datas Fifa foi uma medida importante para criar um futebol brasileiro melhor. Se esse espaço não for bem aproveitado, no entanto, o ganho proporcionado pela medida será sempre subdimensionado.

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Estados emocionais em campo

Observando o futebol em geral, percebo que em muitas situações em campo as equipes podem apresentar diferentes estados emocionais. Isso vai desde as reações mais positivas de empolgação até as mais negativas como a percepção de incapacidade em realizar as mais básicas atividades em campo.

Hoje, em pleno Domingo e no meio de mais uma rodada do campeonato brasileiro de futebol, nós poderemos perceber um fato que acontece em muitas partidas, quando uma equipe é pressionada logo no início e durante uma grande parte da partida. Isso pode refletir não só na estratégia preparada para a partida, mas também no lado emocional dos atletas. Ser pressionado pode representar um estímulo a insegurança de alguns, o que em linhas gerais pode ocasionar um bloqueio parcial das atividades cognitivas dos atletas. Ou seja, alguns atletas podem ter dificuldade em tomar as melhores decisões em campo ou até para lembrar das jogadas amplamente treinadas com sua equipe.

A insegurança pode ter diversas fontes e mesmo que não percebamos, ela pode e invariavelmente deve estar presente na vida do atleta de futebol profissional. Ainda, os gatilhos que podem disparar a insegurança podem ir desde a citada pressão do adversário, passando pela cobrança da torcida ou até por uma má interpretação do juiz em uma jogada.

Tornar-se inseguro em campo, pode representar a diferença entre se conseguir ou não reagir a uma situação adversa numa partida. Já percebeu que em algumas situações, uma equipe sofre um ou dois gols logo no começo de uma partida e depois não consegue, de maneira organizada, se posicionar e atuar de forma segura no restante da partida? Imagine um jogador precisando arriscar um passe ou uma jogada mais elaborada, sem a devida crença de que é capaz de reproduzir tal desempenho? Isso é mais complicado do que pensamos.

Agora, o que não imaginamos é justamente de onde podem vir as origens da insegurança na vida de cada um de nós, inclusive dos atletas. Vou compartilhar com vocês, algumas fontes simples de insegurança e talvez com isso possamos despertar para esta reflexão a respeito do acompanhamento necessário que todo atleta de futebol deve possuir, para exercer na sua plenitude a sua atividade, seja nas divisões de base ou no profissional.

Como comentei, as fontes são diversas e Bernardo Stamateas, em sua publicação “Resultados Extraordinários”, cita alguns que acho importante conhecermos.

  • Pessoas com imaginação acima da média podem apresentar insegurança, isso porque elas potencializam fatos, que podem ou não serem do tamanho que realmente eles são.
  • Pessoas que foram criadas em famílias inseguras, elas são contagiadas por pessoas inseguras e tudo passa a ser perigoso ou imprudente quando envolvem correr riscos aparentes.
  • Pessoas que por alguns motivos foram magoadas, são mais suscetíveis a ativarem automaticamente a insegurança em sua maneira de agir por sua fragilidade sentimental momentânea. A dificuldade em acreditar novamente em outra pessoa, pode dificultar para que ela se sinta segura novamente e isso reflete em sua atividade profissional.

O melhor a fazer nesse sentido é lançar mão de técnicas que possam ajudar o atleta a renunciar toda sua insegurança, pois sabemos que ela poderá bloquear o que ele possui de melhor e tudo que ele treinou e se planejou a fazer em campo.

Recuperar a confiança é fundamental para que se possa atuar em alta performance no futebol, pois além da necessidade de confiar em si mesmo, existe a necessária e imprescindível prerrogativa de acreditar no outro, para que todos tenham o sucesso desejado e alcancem os melhores resultados.

E você amigo leitor, também acredita que seja necessário debelar a insegurança para uma carreira bem-sucedida no futebol?

Até a próxima.

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Tomar decisões: algo simples e complexo

Por que em situações semelhantes, alguns jogadores conseguem tomar decisões melhores e de forma mais rápida do que outros?

É notória a revolução causada pelos smartphones na vida das pessoas, a comunicação virtual ficou mais ágil e diversificada, é possível ter acesso a um número muito grande de informações em pouco tempo, e muitas outras possibilidades. Quero, entretanto, que se atentem à seguinte situação: quantas vezes você já viu uma pessoa (ou você mesmo) caminhando enquanto direciona seu olhar e atenção ao seu celular? Fazemos isso sem perdermos o caminho, trombar com outra pessoa ou um poste. Eu mesmo, no caminho de casa ao trabalho que faço a pé e em cerca de dez minutos, por diversas vezes vou lendo ou conversando com amigos no celular, sem me atentar ao trajeto. É uma tarefa complexa (manter-se no caminho certo, desviar do que obstrui passagem e, ainda, concentrar-se no que vê na tela do celular) que, de início, não se executa com tanta maestria, porém, após realizar tantas vezes e sempre com alguns elementos diferentes, nosso cérebro conduz nossas ações de forma cada vez mais eficaz. Somos capazes de usar o celular e percorrer o trajeto sem maiores problemas. Nosso cérebro é capaz de avaliar uma grande quantidade de informações e oferecer resposta a elas de forma praticamente instantânea.

Convido agora para que leiam os dois quadros abaixo:

                                                       abc       numeros

Provavelmente você leu o primeiro quadro como “A, B, C” e o segundo como “12, 13, 14”, porém se deu conta de que a letra “B” e o número “13” tem exatamente a mesma grafia? A grande maioria das pessoas não consegue notar isso, o que é natural, pois nosso cérebro traz uma resposta rápida aos problemas que somos expostos, a partir das informações que já possui e do ambiente em que nos encontramos. No primeiro quadro existe uma maioria de letras, enquanto, no segundo, de números. A nossa experiência de enxergar letras no contexto de letras, e números no contexto de números, nos conduz a ler os quadros desta forma. Este exemplo foi retirado do livro “Rápido e Devagar: duas formas de pensar” de Daniel Kahneman, que, a partir de anos de estudos, mostra a forma como nosso cérebro trabalha para tomar decisões.

Olhando para a capacidade de tomar boas decisões de alguns jogadores e refletindo a partir da nossa habilidade de identificar e responder a problemas, a partir do conhecimento adquirido por experiências prévias, podemos conceber que em uma partida de futebol os jogadores, prioritariamente, tomam as decisões baseados na leitura que conseguem fazer do ambiente no momento, consultando em seu cérebro todas as informações que possui armazenadas. Se ele não detém determinada informação, as chances de tomar uma decisão ruim, ou menos adequada, são extremamente consideráveis.

Os jogadores precisam, além de ser capazes de tomar boas decisões, responder motoramente de forma eficaz e, na maioria das vezes, fazer tudo isso em uma fração de segundos. Tomar a decisão e executá-la é simples, fazer isso de forma correta é complexo. Sabendo que os atletas precisam ter o máximo possível de informações armazenadas em seu cérebro e serem capazes de as executar de forma rápida e correta, não adianta cobrar determinadas ações deles nos jogos, se isso anteriormente não lhes foi oferecido nas sessões de treino. O atleta só vai ser capaz de responder de forma efetiva, para determinados momentos do jogo em que se encontra, se já tiver vivenciado alguma situação semelhante. Portanto, quanto mais se expor o atleta a situações que exijam identificar, discernir e executar de forma correta, ou seja, tomar e executar as boas decisões, maior será a quantidade de informações que ele terá armazenada para consultar.

Todos aqueles que acompanham o futebol e, principalmente, aqueles que trabalham diariamente com treinamento, já devem ter se deparado com situações bem discrepantes de tomada de decisão e execução dos jogadores, sejam eles de alta ou baixa capacidade técnica, tática, física ou psicológica (vertentes que são exigidas de forma indivisível em um jogo). Isso não é acaso, cada um responderá a uma determinada situação a partir da informação que detém. Caberá, então, à comissão identificar, dentro das ideias de jogo a que se propõem construir, que características os treinos deverão ter a fim de preparar seus jogadores para responder da forma mais correta possível a cada decisão que precisam tomar durante um jogo.

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Futebol também tem seus "Lochtes"

Durante a Olimpíada, os noticiários foram tomados pela notícia de que quatro nadadores dos Estados Unidos teriam sido abordados por criminosos que se identificaram como policiais aos saírem de uma festa na zona sul do Rio. Dentre os atletas estava o medalhista olímpico Ryan Lochte.

Entretanto, ao investigar o caso, a polícia carioca encontrou contradições que levaram à conclusão de que os nadadores poderiam não ter falado a verdade.

Situação semelhante já se deu no futebol. Em 2011, o atacante Somália do Botafogo forjou sequestro relâmpago para justificar atraso para o treino.

No mesmo ano, o atacante peruano Reimond Manco, do Atlante-México, foi expulso da equipe mexicana após chegar alcoolizado a um treino e inventar um sequestro. O atleta foi demitido.

Nesses casos, configura-se crime de falsa comunicação, previsto no art. 340 do Código Penal que assim dispõe: “provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado” e cuja pena é de detenção de um a seis meses ou multa.

Além disso, eventuais danos e violência também podem configurar crime.

Vale destacar que os crimes de detenção são aqueles que as penas iniciam nos regimes aberto ou semiaberto.

As autoridades devem atuar com agilidade, presteza e eficiência em todos os casos semelhantes a fim de que, não fique a sensação, que as investigações e punições se deram por se tratarem de atletas conhecidos.

Independentemente de classe social, nacionalidade e fama todo e qualquer crime deve ser investigado e os culpados punidos. Tais medidas são indispensáveis para que a sensação de segurança impere.

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A fim de atacar melhor

É de conhecimento de todos que existem diferenças muito significativas entre a marcação/defesa zonal e a marcação/defesa individual. Se na primeira temos como grande referência-alvo de marcação os espaços considerados valiosos, na segunda temos a movimentação dos adversários. Porém, sem muito embasamento teórico para isso, tem-se uma “impressão geral” que defesa zonal é uma forma passiva de marcação, o que não concordo. Além de não ser, este tipo de marcação te dá a possibilidade de atacar melhor. Estar em permanente equilíbrio posicional te traduz na ocupação cuidada e inteligente dos espaços no ataque, no sentido de permitir uma reação rápida e eficaz à perda ou ganho da posse de bola. Trata-se de assegurar a permanente gestão coletiva do espaço e do tempo no jogo, com vista ao domínio dos momentos de transição ofensiva.

De acordo com isso, levanto uma questão: se na defesa individual a movimentação do opositor é a grande referência defensiva de posicionamento e marcação, como fechar os espaços quando os adversários estão em constante movimentação, principalmente abrindo no campo para receber a bola no espaço ou para abrir a defesa (procuram ocupar os corredores e dar profundidade e amplitude ao jogo)?

Na resposta, estão as ideias basilares da “marcação/defesa zonal”, uma vez que a grande preocupação é “fechar como equipe” os espaços de jogo mais valiosos, o mesmo não podemos dizer da “defesa individual”, pois as referências defensivas são individuais e os espaços são subvalorizados. Ou seja, caracterizando-se essa forma de organização defensiva por uma soma de ações individuais com referências à movimentação dos oponentes (o tal “jogo dos pares” onde a equipe procura “encaixar” no adversário).

Alguns autores citam que joga-se melhor ofensivamente contra equipes que façam “marcação individual”, na medida em que isso nos permite levar os jogadores rivais para zonas que nos interessam e assim criar espaços livres. Afirmam também que, com essa forma de organização defensiva, estamos a dar uma vantagem à equipe adversária, pois em vez de sermos nós a oferecermos e bloquearmos os espaços, é o adversário que usa o espaço da forma que quiser, ou pelo menos tem a sua disposição essa possibilidade.

Neste aspecto uma excelente vantagem da defesa a zona, é a manipulação defensiva do oponente (aqui algumas pessoas falam sobre “jogar no erro do adversário”, ou pelo menos se explicam assim). Neste tipo de marcação a preocupação é o espaço a ser ocupado e não a movimentação dos atletas adversários. Espaço que podemos controlar sem a bola, ou seja, podemos influenciar aquele que está com ela e aquele que irá recebê-la, assim o é, pois temos o controle do espaço, do território a ser ocupado, ou pelo menos podemos tê-lo.

Quando estamos a defender, temos que, quem tem a bola, mais quer o espaço para progredir. E quem defende deve gerir/reduzir/tirar esse espaço. Porém, ás vezes, é melhor dar determinado espaço para que possamos atrair o adversário, para que ele vá aonde queremos que ele vá. O que pretendo exemplificar com o exemplo abaixo (percebe-se claramente que o adversário oferece a linha de passe e induz o portador a passar a bola. Com isso intercepta-se o passe e retoma a posse de bola):

Manipular é a palavra-chave de defender bem, e todas as equipes de alto nível sabem e o fazem constantemente. O atleta que está fazendo a cobertura defensiva daquele que está realizando a pressão ao adversário com a posse; ou uma cobertura ofensiva sobre aquele que está fazendo cobertura defensiva daquele que está fazendo a pressão, pode oferecer uma linha de passe ao adversário, mas uma linha de passe que ele sabe que tem a total condição de interceptar a trajetória da bola, e obtê-la com o menor “custo energético”.

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Sinceridade

Há duas imagens especialmente emblemáticas de Neymar na decisão do torneio de futebol masculino dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. O dono da camisa 10 e da faixa de capitão da seleção brasileira anotou um gol de falta no empate por 1 a 1 com a Alemanha e executou com perfeição a cobrança que definiu a vitória de seu time por 5 a 4 nas cobranças de pênaltis, mas não são essas as cenas mais relevantes que ele protagonizou no Maracanã. Os feitos do jogador em campo podem dizer muito sobre seu repertório técnico, mas a faixa usada na comemoração e uma discussão com um torcedor revelam traços de personalidade muito mais densos.

Neymar tem 24 anos. É pai, é jogador de seleção há pelo menos seis temporadas e já esteve entre os três melhores do mundo em eleição realizada pela Fifa. Defende o Barcelona, clube que está entre os maiores faturamentos do planeta, e representa marcas que igualmente se encaixam entre as mais poderosas do mundo. É um dos rostos de empresas como Nike, Ambev, Procter & Gamble, Panasonic e Unilever. O comportamento dele representa muito mais do que atitudes individuais.

Por tudo isso, é injusto avaliar as ações de Neymar como se ele fosse qualquer outra pessoa de 24 anos. Neymar não é apenas um moleque ou apenas um homem imaturo. É alguém que carrega enorme responsabilidade – e que é muito bem pago por isso, diga-se. Muitas apostas de empresas e instituições estão alicerçadas na imagem do atacante.

Quando foi comemorar o maior título que ele já conquistou com a seleção brasileira, contudo, Neymar ignorou todo esse repertório. Colocou na cabeça uma faixa com a inscrição “100% Jesus” e ficou com o adereço durante toda a festa no Maracanã. Toda personalidade – e toda pessoa, aliás – tem direito de ter suas crenças e professá-las como achar mais conveniente. A discussão aqui não é sobre liberdade religiosa, mas sobre representatividade: quando está ali, Neymar não é apenas um indivíduo; representa os ideais e os valores de marcas e instituições que apostaram nele. E nem todas essas marcas são 100% Jesus.

A religião, porém, foi apenas uma das facetas de Neymar após o ouro olímpico. A outra foi uma discussão acalorada com um torcedor na saída de campo. Exaltado, o atacante ofendeu e ameaçou alguém que estava na arquibancada do Maracanã. Ao contrário dos palavrões ditos pelo camisa 10, os motivos para isso não ficaram claros.

Neymar não é obrigado a ser uma personalidade laica. Tampouco assumiu compromisso de ouvir calado os impropérios de todo mundo e de reagir com sorrisos a todo tipo de provocação. Neymar é humano, e como humano ele pode ter reações individualistas e desconectadas do contexto.

Nesse aspecto, o grande problema é a falta de sinceridade. Não é por acaso que uma série de bad boys do esporte “vende” melhor do que o principal jogador da seleção brasileira. A questão aqui é que a blindagem de clubes, instituições e marcas em torno do jogador cria uma imagem de que ele está evoluindo ou de que existe da parte dele um compromisso com os fãs.

Neymar é hoje o principal garoto-propaganda do esporte brasileiro. Ainda assim, também tem um nível de rejeição assustador para alguém com tantas conquistas em tão pouco tempo de carreira. E essas restrições à imagem do atacante têm relação direta com a falta de sinceridade na comunicação.

Ninguém é obrigado a ser uma personalidade modelo ou cumprir todos os pontos da cartilha de um porta-voz ideal. Ninguém é obrigado a pensar em contexto, pesar cada atitude e fazer as coisas de acordo com valores das marcas que representa. O problema, no caso de Neymar, é passar uma falsa impressão disso.

Seria muito mais genuíno se Neymar assumisse os problemas de personalidade e se comportasse como alguém moldado por esses aspectos. Se lidasse melhor com a imagem de alguém falível e evitasse a falsa ideia de que pode ser o líder que tantos cobram dele. Depois dos Jogos Olímpicos, o camisa 10 da seleção deu um importante passo nessa direção ao abdicar da faixa de capitão.

É possível comunicar qualquer tipo de personagem ou marca. É possível obter sucesso com perfis absolutamente dicotômicos, desde que exista sinceridade na transmissão dessas mensagens. Neymar tem uma série de virtudes, mas ainda precisa de maturidade para admitir esses traços de personalidade. As frustrações sobre Neymar são quase sempre resultantes de expectativas que não são condizentes com o que ele realmente apresenta.

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"Seja mais político"

Esta é uma expressão/conselho que provavelmente você já ouviu (direcionada ou não a você) no ambiente do futebol. Para dar sequência ao texto solicito, primeiramente, um breve exercício:
Registre, como e onde quiser, 10 palavras ou expressões associadas à política e/ou aos políticos brasileiros.
Peço, em seguida, uma reflexão:
Como você se sentiria se a imagem que o mercado do futebol tem sobre você fosse composta por todas essas palavras/expressões ou, ao menos, por boa parte delas?
O mesmo exercício proposto a você foi feito também com alguns companheiros de profissão. Corrupção, injustiça, desonestidade e malandragem foram termos comuns mencionados por eles.
A coluna desta semana pretende trazer alguns apontamentos sobre a conduta e a convivência no complexo ambiente do futebol, repletas de relações e interações humanas em todos os seus níveis.
Da comunicação com a comissão técnica e jogadores, ao posicionamento perante à diretoria, o profissional do futebol está sujeito à situações que deve expor sua opinião e/ou tomar decisões que evidenciam sua personalidade e a forma com que lida com os problemas do cotidiano.
Para tentar deixar mais tangíveis as reflexões, proponho, agora, mais um exercício. Peço que imagine, de acordo com a sua função (exercida ou almejada) qual seria sua conduta em cada um dos problemas hipotéticos listados a seguir:

  • Um dos principais jogadores do time, vinculado a um grande empresário, tem apresentado um comportamento individualista e egoísta
  • A diretoria quer intervir no seu programa de treinamento
  • Um membro da sua comissão técnica tem se dedicado menos do que o ideal em sua opinião
  • No clube, tem surgido algumas fofocas/conversas em relação a sua pessoa e as suas atitudes
  • Você discorda de um posicionamento da diretoria
  • Lhe oferecem uma boa quantia em dinheiro para a aprovação de um jogador no elenco
  • Você quer se manter no cargo e percebe que para isso precisa bajular algumas pessoas

Para quem está no dia-a-dia do futebol, seguramente, já deve ter vivenciado situações semelhantes ou, inclusive, mais complexas que as supracitadas. Também seguramente, suas respostas a estes problemas devem ter seguido seus princípios e valores. É momento, então, para outra reflexão: sua conduta segue o ritmo/status quo das pessoas e do ambiente que você está inserido ou você tenta, de alguma forma, transformá-los?
A transformação (propósito da Universidade do Futebol) é uma palavra com imenso significado para os contextos político e futebolístico atuais. Ela não vem, no entanto, sem estar somada às altas doses de debates, divergências, conflitos, trocas de conhecimento e opiniões.
Por isso, mais do que direcionarmos o foco das mudanças nas coisas (nos métodos, nas estruturas, nas competições ou nas instituições), deveríamos direcioná-lo às pessoas, principais responsáveis pela transformação da política, do futebol ou de qualquer outro produto da sociedade.
E quando a imagem predominante da política brasileira for marcada por expressões como transparência, revolução, oportunidade, competência, honestidade, crescimento, desenvolvimento, coragem, igualdade e justiça, indubitavelmente será prudente, para sua conduta no futebol (e na vida), seguir o conselho como o do título do texto.
Abraços e até a próxima!

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Rogério Micale

Há uma década, mais ou menos, um pensar novo começou a atuar efetivamente no futebol brasileiro. A porta de entrada das boas ideais foram principalmente as Categorias de Base dos nossos clubes.

Frequentada por uma geração de profissionais curiosos e pesquisadores, uma avalanche de conhecimentos invadiu a formação de talentos e a ciência da construção do jogo no futebol brasileiro. Há pelo menos vinte anos o mundo respira novas formas de conceber o treinamento e as táticas no futebol. No Brasil, foi principalmente a “meninada da Base” quem correu atrás!

Como os setores de formação dos clubes brasileiros são sempre mal falados, o futebol dos adultos ficou meio distante deste novo pensar. Não raro, achamos aqui no Brasil que o talento nasce pronto e os formadores são quem os “estragam”. Por isso também os departamentos de Base e Profissional ficam de costas um para o outro em seu modo de gerir o projeto futebol nos clubes. Infelizmente, ainda continua assim em grande parte deles. São raríssimas as exceções!

Só se fala em Categorias de Base no Brasil quando mais um jovem craque desponta em nossa vitrine. Mesmo assim, valorizando somente o talento e não considerando a bagagem de trabalho realizada para que o craque chegasse àquele ponto.

E o Rogério Micale? Onde ele se encontra nesta reflexão? Afinal de contas é o personagem principal do nosso post.

Pois bem, o professor Micale se mostra ao Brasil e ao mundo como grande representante da nova, já bem experiente, geração de treinadores e formadores do talento nacional brasileiro. Rogério Micale com seus dez a quinze anos de treinador de categorias de base, saiu do seu “humilde espaço” para contribuir nobremente com a conquista brasileira do ouro Olímpico do futebol. Eu sempre digo, que quando quero aprender algo diferente e moderno no futebol me recorro à “garotada da Base”, treinadores e outros profissionais. Não me arrependo nunca!

Para mim, Rogério Micale é a prova inequívoca que o futebol de Base brasileiro é competente e uma grande escola formadora de profissionais. Nem pareceu que ele nunca tinha sido treinador de equipes adultas. Conduziu com sabedoria a grande missão que lhe foi atribuída. Seu perfil de treinador faz parte da nova geração que poderá representar a virada em campo dos “7X1” que nos incomoda!

Não serei injusto com os “coroas”, treinadores brasileiros mais experientes, que também abraçaram essa linha de pensamento e trabalho que concebe o futebol moderno.

Tite talvez seja o mais destacado representante desse grupo seleto de treinadores do nosso mercado. Não parou no tempo e não se conteve a uma visitinha ao território europeu como “estágio profissional”. Fez um ano de profundos estudos para argumentar seu inovador método de trabalho. Além disso, ele sabe, assim como os profissionais da base, que a literatura moderna está ao alcance de todos, e pelo que percebemos, mostra ser um assíduo degustador desse saber.

Rodrigo Leitão disse certa vez: não é preciso atravessar o Atlântico para saber como o Barcelona joga e/ou constrói a sua forma de jogar. Jorge Sampaoli construiu um Chile rico em conceitos táticos modernos, praticamente sem sair da América do Sul.

As ideias e a fala do professor Tite são sempre compatíveis à qualidade de jogo das suas equipes. Para o bem do futebol brasileiro, tomara que o novo treinador da Seleção Canarinho consiga bons resultados para fazer valer a importância desses pensamentos que povoam a nossa escola.

Outros nomes importantes da nova geração, além de Micale e Tite, merecem ser citados: Róger Machado, João Burse, Eduardo Baptista, Enderson Moreira, Osmar Loss, Adilson Batista, Fernando Diniz, José Ricardo, Paulo de Castro, Sandro Fórner, Lucas Macorin, Leo Condé, Rodrigo Leitão, Felipe Surian, Gustavo Silva, Diogo Giacomini, Max Sandro, Maurício Barbieri, Carlos Amadeu, Paulo Autuori, Jorginho, Doriva, Marquinho Santos, Ney Franco, Dado Cavalcanti, Bruno Pivetti, Ricardo Gomes…, dentre outros.

A maioria deles com passagens pela Base em seus currículos. Estes profissionais, acompanhados de todas as necessidades subjacentes à construção do jogo moderno, são e/ou serão grandes protagonistas do alavancar do futebol brasileiro nos próximos anos. Me desculpem outros nomes que fazem parte desse grupo especial e que não deixam de ser tão importantes por não terem sido citados neste espaço.

Aos leitores que não conhecem o passado dos treinadores que mencionei, não há distinção entre eles quanto à formação que tiveram. Temos ex-atletas e acadêmicos, todos com ótimos perfis para o mercado do futebol moderno. A competência é que deve regular a trajetória destes profissionais, assim como acontece em todas as profissões. Uma coisa é certa: a maioria deles, senão todos, passaram ou estão passando pelos cursos de formação de treinadores da CBF. Será que o Brasil está se encontrando em uma nova fórmula de reimplantar Escola Brasileira de Futebol?

Parabéns aos amigos da comissão técnica que participaram competentemente da conquista do ouro Olímpico, especialmente ao Rogério Micale, um grande comandante! Parabéns aos jogadores que neste torneio já jogaram um jogo brasileiro parecido às necessidades do futebol moderno! E isso sem perder traços importantes da escola brasileira. Estamos no caminho!

Forte abraço e até breve…