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Não existe mais bobo no futebol? Será mesmo?

A eliminação dos quatro clubes brasileiros (Grêmio, Inter, Fluminense e Cruzeiro) da Copa Libertadores na última quarta-feira causou um tremendo frisson no meio esportivo. Nas rodas entre amigos, perguntei: “E aí, quais seriam os motivos?”

O bom e velho discurso reapareceu, como sempre, para não perder o hábito: “o futebol é uma caixinha de surpresa e não existe mais bobo no futebol”. Mas cá entre nós, amigo leitor, isso já não serve mais como resposta, já faz um bom tempo, concorda? Afinal, estando nós entre profissionais que estudam e atuam no futebol, alguma coisa dever ser mais contundente que o simples discurso, porém, tão famoso.

Os desesperados disseram que era um absurdo os clubes brasileiros tão tradicionais perderem para equipes de menor expressão. Pausa! Mas o que é ser tradicional?

Se o fato de ter vencido uma Libertadores, mesmo que tenha sido 30 anos atrás, faz de uma equipe brasileira tradicional, porque o mesmo não se aplica para um Once Caldas, por exemplo, que em 2004 foi campeão, e detalhe: ganhando na época de São Paulo, Santos e Boca Juniors?

Aí entram nas análises brasileiras os dois pesos e duas medidas. Dizem que o Once Caldas ganhou esse campeonato e mais nada. Daí eu retruco: o que o faz ter menos tradição, então, do que Palmeiras, Vélez, Flamengo e Vasco, que também têm um título, e o que o faz ter menos tradição do que um Fluminense, que não detém nenhum título da competição?

O discurso não pode ser enviesado. Se tradição representa conquista, não pode representar as conquistas apenas dos brasileiros. Se tradição tem de ser medida junto com desempenhos recentes, a conquista do Once Caldas é mais nova ainda do que títulos de Santos, River Plate, Grêmio e Cruzeiro.

Se por outro lado existe uma diferença técnica dos campeonatos nacionais, o que faz com que uma equipe como o Peñarol tenha muito mais facilidade de participar do torneio, como dizem alguns críticos? O que faz com que as 38 participações que o clube uruguaio tem, sagrando-se campeão em cinco oportunidades, e detenha aproveitamento de 54% dos pontos, seja tão menos importante que o aproveitamento de 57% que o Inter detém em suas oito participações com 2 títulos?

Enfim, os números podem simplesmente ilustrar o equívoco do discurso vazio de que a tradição brasileira foi surpreendida. Não existe sentido em falar de tradição, e usá-la unicamente a favor do futebol brasileiro. Devem ser observados os desempenhos atuais e se avaliar da mesma forma. Evitando o menosprezo e o despreparo sobre o qual já abordamos num outro texto referente às frequentes derrotas brasileiras para equipes africanas.

Isso também se vale para criticar a desculpa de que não tem mais bobo no futebol – tem, sim! Bobos somos nós, brasileiros, que menosprezamos o futebol dos adversários, sequer se dando ao trabalho de estudar e analisar seu comportamentos.

Bobos somos nós, clubes brasileiros, que mesmo com a transmissão de quase todos os jogos da Libertadores para o nosso território sequer nos damos o trabalho de ver um jogo de um desses ditos times não tradicionais.

Já passou da hora de o Brasil parar de dizer que não existem mais bobos no futebol e perceber que tem feito o papel de bobo ao acreditar que toda sua tradição e conquista serve como argumento de que as outras equipes devem se preocupar conosco e não a gente com eles.

Tudo isso é uma questão de processo, pois os CTs nacionais têm melhorado, os salários estão mais atrativos, a exposição das equipes e jogadores tem crescido e ganhado destaque, enfim, recursos e instrumentos para se consolidar como uma potência (em temos de clubes) o Brasil tem de sobra. Entretanto, lidar com essa falta de integração entre informação , pessoas, e recursos, tem dado muitos sustos ao nosso esporte bretão.

O futebol exige detalhes, exige ciência, exige estudo, exige improviso e talento. Só com os dois últimos tem ficado difícil.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br  

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Questão de poupança

Ganso não deve jogar durante um mês. A notícia serviu para os alertas de tsunami invadirem a Vila Belmiro nesta segunda-feira. A gritaria geral é com relação à presença não apenas do camisa 10, mas também de outros astros como Neymar e Elano, no primeiro jogo decisivo do Campeonato Paulista, neste último domingo.

Aconteceu com Ganso, como poderia ter sido com Pará, Liedson, Bruno César ou qualquer um dos 28 jogadores que estiveram em campo na primeira final do torneio. Mas tinha que acontecer justamente com um dos dois principais jogadores santistas, time que na quarta-feira tem duelo de quartas-de-final da Copa Libertadores.

É a Lei de Murphy, só pode ser!

Mas é, também, uma questão que vai muito além do que tentam supor a mídia e muitos torcedores. No final das contas, tudo é uma questão de poupança.

A presença do Santos na final do Paulista e nas quartas da Libertadores mostra que o time tem condições de, porque não, tentar os dois títulos. Mais do que isso, tem jogadores capacitados para tal função e, ainda além, tem motivos financeiros para buscar a vitória dupla.

O título estadual pode render, apenas com a premiação da Federação Paulista, mais de R$ 10 milhões para o Santos. Isso sem falar nos bônus dados pelos patrocinadores e na própria arrecadação com outras iniciativas de marketing relacionadas à conquista.

A conquista da Libertadores rende praticamente a metade desse valor em premiação, mas obviamente acrescenta ainda mais bônus de patrocinadores, a chance de iniciativas de marketing serem ainda mais lucrativas e uma receita maior ainda por conta da disputa do Mundial de Clubes ao final da temporada.

Ou seja, não existe decisão fácil que leve à priorização de um campeonato. Simplesmente não dá para um dirigente, um treinador e o próprio atleta abrir mão das premiações de uma competição para dar vazão unicamente a uma delas.

Curiosamente, no ano passado não se discutia a necessidade de o Santos priorizar a Copa do Brasil e abdicar da conquista paulista. No fundo, no fundo, tudo é uma questão de poupança. No caso, de milhões de reais a mais que entram para os cofres dos clubes.

E, pensando friamente, como torcedor, jogador, treinador ou diretor, você também acreditaria que é possível ganhar tudo, não é mesmo?

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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Facebook, Twitter e afins: Deus e o Diabo na terra virtual

Obama se elegeu, em boa parte, nos EUA, por meio da forte e inteligente presença e ativismo na internet, em especial nas redes sociais.

A Al Qaeda e outros grupos terroristas em todo mundo se articulam por meio delas. O 11 de Setembro foi facilmente arquitetado por mentes criminosas que se valeram da internet para compartilhar informação e estratégia.

O ditador do Egito, Mubarak, sofreu na pele e pagou com alto preço político o levante popular alavancado pela mobilização na internet que se transformou em manifestação em praça pública.

Antes disso, o Irã já havia sido cenário para uma demonstração de fé do seu povo, mas fé na liberdade de expressão, associação e opinião nas última eleições, quando o Twitter serviu de tribuna para exercitar esse direito.

No Palmeiras, membros da oposição à atual gestão e torcedores descontentes pressionam o presidente a firmar compromissos para a construção do novo estádio. Como? Redes sociais, emails e SMS dirigidos ao mandatário.

Ainda, jogadores de futebol de São Paulo e Palmeiras protagonizam bate-boca virtual via Twitter, gerando grande repercussão. Até parece que a animosidade é maior do que no próprio campo.

Adidas patrocina campanha do Messi no Facebook, para chegar a 10 milhões de fãs. E a empresa também apoiou o Olympique Marseille para que, ao romper a barreira de um milhão de fãs na rede social, a torcida conquistaria o direito de sugerir e votar no modelo de camisa oficial da temporada 2011-2012.

Pegando – pela segunda semana consecutiva – o “gancho” do Erich Beting, em seu blog, percebemos que a atuação nas redes sociais será, cada vez mais, um medidor importante de audiência e alcance dos clubes de futebol, tanto em âmbito nacional quanto internacional, além da disputa pelo interesse do consumidor:

“A força dos clubes de futebol tem assustado o mercado americano. Há uma semana, o “Sport Business Journal”, principal veículo sobre negócios do esporte dos EUA, publicou uma reportagem sobre a presença dos clubes de futebol nas redes sociais. O resultado, segundo a publicação, é alarmante: das cinco marcas ligadas a esporte e que tem o maior número de seguidores, quatro são clubes de futebol. O levantamento tinha como universo a soma de seguidores dos clubes no Facebook e no Twitter.

Na lista apresentada pelo “SBJ”, os cinco primeiros clubes mais populares nas redes sociais são os seguintes:

1. Barcelona (13,5 milhões de seguidores)
2. Real Madrid (13,2 milhões de seguidores)
3. Manchester United (12,1 milhões de seguidores)
4. Los Angeles Lakers (9,5 milhões de seguidores)
5. Arsenal (5,9 milhões de seguidores)

O resultado, na visão americana, mostra uma preocupação para o negócio dos outros esportes. O futebol, segundo eles, tem tomado conta do mercado mundial, ao passo que os times americanos, independentemente de qual esporte represente, continuam com atuação restrita aos Estados Unidos”.

Erich ainda fala sobre a internacionalização dos clubes e sua marca, muito além de disputar Mundial de Clubes da Fifa.

O melhor brasileiro neste ranking, o Corinthians, tem menos de 600.000 fãs no Facebook. Para uma torcida estimada em 30 milhões, tem alguma coisa faltando no processo de diálogo entre as duas partes.

E, sem dúvida, a maneira mais barata e, talvez, eficiente, de expansão da marca dos clubes, seja por meio das redes sociais.

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Uefa Champions League: o Manchester United conseguirá parar o Barcelona?

Esta semana, os holofotes da Uefa Champions League estavam voltados ao clássico Barça x Real. Na outra semifinal, após uma vitória por 2 a 0 fora de casa, Alex Ferguson poupava a maioria dos titulares (para a “decisão” do Campeonato Inglês) e, ainda assim, assistia seus comandados confirmarem a vaga para a final com uma goleada inquestionável frente ao Schalke 04.

Em quatro temporadas, o Manchester United chega à terceira final da Champions. Na temporada 2007/2008 foi campeão diante do Chelsea, vencendo nos pênaltis por 6 a 5, após empatar por 1 a 1 em tempo normal e prorrogação; na 2008/2009, foi vice-campeão ao perder para o Barcelona por 2 a 0; e no final deste mês, será o momento da revanche em mais um confronto contra a equipe espanhola.

Dos 18 atletas que participaram da decisão em 2009, 15 podem estar presentes na grande final em que a equipe inglesa terá a difícil missão de parar as ações ofensivas de Xavi-Iniesta-Messi e Cia. De acordo com os últimos jogos dos Red Devils, o que esperar dos jogadores, da organização coletiva da equipe e do treinador na decisão da Champions?

No gol, Van der Sar é presença garantida. Segundo declarações do próprio, realiza sua última temporada como atleta. Foi vencido somente três vezes ao longo de toda competição (no último jogo da fase de grupos contra o Valencia, que terminou 1 a 1, Van der Sar não jogou). Na proteção do alvo, por vezes, parece intransponível. Sempre bem colocado, faz defesas com quedas somente em finalizações muito bem executadas. Participa sempre do jogo ofensivo da equipe inglesa, realizando apoios (fora da linha do alvo), em situações de progressões impedidas e, principalmente, com o placar favorável. Em tiros de meta, sai jogando predominantemente.

Ferdinand-Vidic – Provavelmente serão os centrais. A proteção zonal da área de risco, eficiência no 1×1 e também no jogo aéreo, marcam a dupla preferida do coach escocês. Vidic tem sido o capitão e Ferdinand orienta o posicionamento da equipe a todo o momento. São eles quem alternam o ritmo do jogo, acelerando com passes para os volantes ou cadenciando com passes horizontais ou para trás. As opções para substituí-los são Smalling ou Evans.

Evra-Oshea-Fábio-Rafael – Com obrigações ofensivas mais distantes das zonas de risco, destes quatro laterais, Evra, pela esquerda, e O’Shea ou Rafael, pela direita, são as opções mais prováveis. Evra está mais “maduro” taticamente e terá oportunidade de se redimir do erro, em 2009, que propiciou a penetração de Eto’o e o 1 a 0 no placar. Com subidas constantes (até a linha 2 aproximadamente) tenta criar superioridade numérica com o meia aberto e o volante do seu lado. Se o meia busca diagonais (vai jogar por dentro), é ele quem dá amplitude à equipe. Na decisão entre O’Shea e Rafael, a marcação zonal e a bola aérea (pouco utilizada pelo jogo apoiado do Barcelona) favorece o irlandês, porém, a qualidade do passe é maior do brasileiro.

Carrick e Scholes-Fletcher-Giggs-Anderson-Gibson. Um dos volantes será Carrick. Cabeça erguida, ótimo passe curto e longo (aquele que busca o meia aberto oposto) com as duas pernas, rápida recomposição e muito bom em fechar linhas de passe. Seu companheiro traduzirá as intenções do Manchester para a final. Scholes-Fletcher mais defensivos, Giggs (deslocado para volante por não competir fisicamente com Nani e Park) com menor poder de combate, porém, inteligência para ocupação de espaço defensivo zonal e surgimento “surpresa” como meia aberto, ou então, Anderson-Gibson, mais ofensivos, com jogo vertical e poder de finalização.

Valencia-Park-Nani – Valencia é opção como meia pela direita. Recuperado recentemente de lesão, tem sido presença constante entre os titulares. Velocidade, objetividade e disciplina tática são algumas das características do equatoriano. Tem dificuldade de pensar o jogo ao fazer diagonais a partir das subidas do lateral-direito, no entanto, nas inversões dos volantes, é certeza de ação perigosa pela faixa lateral. Park, com aplicação tática semelhante, e Nani, a melhor relação com a bola, são as opções para a meia esquerda. Se Valencia iniciar o jogo como suplente, Park pode atuar pelo lado direito, setor em que demonstra melhor ocupação de espaço ofensivo.

Rooney – À frente da linha de quatro do meio-campo, é o primeiro atacante da equipe inglesa. Acha “buracos” entre linhas, ocupa espaços nas faixas laterais quando os meio-campistas não estão neste setor, muda o centro do jogo para faixas opostas do campo, combina passes curtos com o outro atacante, meias e volantes e possui ótima finalização. “Gosta de ter a bola” e poderá jogar sozinho no ataque se Alex Ferguson optar por uma estratégia mais defensiva.

Chicharito Hernandez-Berbatov – A função da referência e a de “prender” os centrais para Rooney é a mesma, porém, como a aplicam, é bem diferente. O mexicano, com desmarcações constantes, velocidade e diagonais, imprime maior mobilidade ao jogo que Berbatov. Surge livre na pequena área para, após a construção ofensiva, dar o passe (chute) final para o gol. Berbatov é mais habilidoso (e segura mais a posse), tem ótima penetração, é exímio finalizador e bom no jogo aéreo. É, todavia, mais estático. Alex Ferguson terá uma difícil escolha!

Como destaques da organização coletiva defensiva são a compactação, o equilíbrio e a proteção do alvo dos jogadores distantes do centro do jogo. Nas transições ofensivas, “faz o campo ficar grande”, ocupando as faixas laterais. A velocidade em que a bola chega aos meias depende do placar do jogo.

A organização ofensiva com estruturas fixas tem amplitude e diagonais dos meias, coberturas ofensivas para circulação da posse, passes curtos e inversões dos volantes, a movimentação há pouco descrita de Rooney e a presença na zona de risco de Berbatov ou Chicharito.

Na transição defensiva, em poucos segundos, dois “muros” de quatro jogadores formam-se à frente de Van der Sar. Em alguns jogos, um dos atacantes também recua atrás da linha da bola, fecha linhas de passe para o volante adversário e o combate se é portador da posse de bola.

O jogo de domingo (08/05) pela Premier League é imperdível para quem quiser acompanhar o desempenho coletivo e individual atual do Manchester United. Sir Alex Ferguson terá que se decidir sobre o 11 inicial e começar a mostrar o que pretende para a finalíssima da Champions. A plataforma 1-4-4-1-1 predominante será aplicada contra o Chelsea e Barcelona? Ou a variação, esboçada contra o Schalke 04, em um 1-4-1-4-1 para defender, será utilizada?

O comportamento ofensivo com utilização constante do goleiro para manutenção da posse de bola será observado com o jogo empatado? É válido lembrar que uma vitória diante do Chelsea praticamente define o título inglês. O 11 inicial terá jogadores com características mais ofensivas ou defensivas?

Certamente estas perguntas já estão sendo respondidas pelo Head Coach e por seu corpo técnico. Após as decisões e com os atletas no campo de jogo, uma certeza: Ferguson, sentado, observará o espetáculo e não abrirá a boca (a não ser para mascar seu chiclete)!

Veja, abaixo, um pouco do Manchester United:
 


 


 

PS: Em referência à coluna de 16/04/2011, pena que não pudemos observar espetáculos das equipes brasileiras na Copa Libertadores da América. Avante, Santos!

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Ambiente de trabalho

O leitor do Portal Universidade do Futebol, Anderson Mateus Viriato, me encaminha e-mail sugerindo redigir texto sobre a gestão dos centros de treinamento do futebol brasileiro, bem como demais infraestruturas e centros de excelência existentes no país. Acatando e agradecendo o contato, vamos procurar traçar um panorama daquilo que se pensa sobre o aspecto “ambiente de trabalho” para clubes de futebol.

O Anderson mesmo refere no e-mail que, antigamente, os clubes desenvolviam suas atividades de treinamento nos respectivos estádios e sedes sociais, mas que, com a evolução dos processos de gestão, as entidades passaram a efetuar investimentos abrangendo o desenvolvimento e a qualificação da sua infraestrutura.

A evolução nos últimos anos é de fato evidente, dando melhores condições de trabalho para atletas e comissão técnica nos grandes clubes do futebol brasileiro.

Em 15 de setembro de 2010 escrevi nesta coluna sobre criatividade e a relação com o Cirque Du Soleil, referido no livro de Bacon (2006) – e de como o ambiente de trabalho interfere no processo criativo. Se tratamos atletas como artistas, nada mais natural do que oportunizar espaços adequados de trabalho para que os mesmos possam maximizar esse senso e aplicá-lo posteriormente dentro de campo.

Brunoro e Afif, em 1997, já comentavam sobre a premissa básica de os clubes possuírem centros de treinamento próprios com a finalidade de qualificar as condições de treino e suporte ao atleta.

Como esse conceito parece estar bem sedimentado, salvo algumas exceções em grandes clubes e, em várias exceções em médios e pequenos (que justificam a falta de recursos para não tê-lo), os centros de treinamento precisam evoluir agora sobre outras plataformas.

Visitei alguns pelo Brasil e, em um primeiro momento, sempre procuro observar a sua funcionalidade. As questões que vem à mente passam por perceber a real integração entre as várias áreas e departamentos do clube, o ambiente e a existência de áreas de lazer (especialmente se nele está alocado o departamento de futebol de formação de atletas), as facilidades de deslocamento entre um setor e outro, dentre outras.

E percebi também uma lacuna para ser implementada nos próximos anos, que são princípios básicos de gestão e controle amplamente reconhecidos no ambiente corporativo:

· Normativos como a ISO 9001 (qualidade) e ISO 14000 (meio-ambiente) ou a metodologia dos 5S, com a finalidade de mensurar e controlar índices por meio de parâmetros fidedignos, facilitando a gestão do espaço em um âmbito geral.

· Possibilidades de rentabilizar o espaço para outras atividades – ora, se falamos em estádios multiuso, por que não pensar em CTs multiuso?

Obviamente que a prioridade é o atendimento ao atleta e à comissão técnica, mas é plenamente possível planejar uma instalação com viés de lazer que possa atender a população e/ou torcedores durante a semana em horários alternativos, que não existam trabalho do futebol profissional ou das categorias de base. Exemplos:

– Escolas de futebol e futsal para a comunidade;
– Realização de torneios de futsal e futebol;
– Realização de eventos técnico-científicos;
– Realização de festas de aniversários ou outros encontros com o tema do “futebol” para crianças e adolescentes;
– Formalização de parcerias com entidades públicas para o desenvolvimento de ações sociais;
– Colônia de férias;
– Locação de campo em grama sintética ou ginásio de esportes.

Enfim, exemplos esses que precisam de uma avaliação de localização e adaptação às atividades oficiais do clube, que em hipótese alguma devem ser atrapalhadas em razão disso.

Para finalizar, basta ver as tendências que se postulam na área de recursos humanos do ambiente corporativo, em que se preza em muito pelo ambiente de trabalho como um ambiente colaborativo e agradável, que facilite a integração das pessoas que circundam a empresa. Essa noção tem sido vista como fundamental para que todos os colaboradores se sintam bem para desempenhar o seu máximo para a organização.

Bibliografia

Bacon, J. U. Cirque Du Soleil: a reinvenção do espetáculo. 8. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Rivalidade, civilidade e respeito

Muita gente se alimenta de polêmicas em torno do futebol.

Quanto mais problemas existirem, mais holofotes estarão prontos para aumentar sua dimensão.

Até se diz que coisa boa não vira notícia, porque não desperta a atenção.

Prefere-se jogar luz na reclamação de José Mourinho contra a arbitragem, assim como o que Guardiola devolveria por ouvir falar do treinador do Real Madrid.

Ainda, destacar a discussão virtual entre Neto e Tiago Leifert.

Com isso, a imprensa dá uma dimensão e importância muito maiores aos personagens do que ao acontecimento.

Como diz Tostão sobre os treinadores, que ganharam um poder quase divino e sobrenatural, pelas mãos da crônica esportiva, que lhes reputa determinantes nas vitórias e derrotas.

Pego o “gancho” do que escreveu Erich Beting, em seu blog, sobre a chamada publicitária que o Internacional fez, oficialmente, em um jornal do Uruguai, antes do jogo contra o Peñarol, pela Libertadores da América, nesta semana.

“Colorados de un lado. Carboneros de outro. Respeto y amistad por todas partes”, dizia o texto, que visava também dizer que o clube será bem recebido no jogo de volta no Brasil.

Outro episódio de relevância na semana tem como destaque o programa Painel RBS, veiculado ontem pela TVCom, canal do Grupo RBS.

Nele, encontraram-se Falcão e Renato Gaúcho, como treinadores de Inter e Grêmio. 

Brilhantemente mediado e conduzido pelos jornalistas, abordou histórias pitorescas dos dois grandes ídolos do futebol gaúcho: jogos inesquecíveis, amigos, carreira e o que representava o rival.

E como mensagem comum ficou o pedido de paz no Gre-Nal deste domingo, além do reconhecimento que um clube só se fez grande pela existência do outro.

A violência costuma acontecer a partir de uma escalada de incompreensão, intolerância e ignorância.

Um excelente exemplo de inteligência na mídia esportiva, aliado ao respeito e civilidade, sem excluir o tempero apimentado que a rivalidade deve movimentar o dínamo do futebol.

Isso funciona melhor do que simples pedidos retóricos de paz nos estádios ou de repressão policial.

Violência se desarma com inteligência. Não com mais violência.

Parabéns à iniciativa do Grupo RBS e da equipe do programa.

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A leitura do jogo de futebol

Caros leitores,

quatro meses do ano de 2011 se passaram e o futebol, como sempre, já proporcionou aos atletas, profissionais, torcedores e mídia esportiva, inúmeras emoções. Nesse período, equipes foram rebaixadas, técnicos demitidos, jogadores afastados, torcedores trocaram agressões e escândalos foram revelados.

É fato que situações positivas também ocorreram, como negociações milionárias, revelações de novos talentos (no campo e fora dele) e acessos conquistados.

Com as fases finais dos Estaduais, dos principais campeonatos europeus, confrontos de Copa do Brasil, Libertadores da América e Champions League, as próximas semanas “prometem”. Jogos importantes ocorrerão na disputa do primeiro lugar, tanto no futebol brasileiro, como no mundial.

Equipes que estão em busca do título obviamente tiveram melhor desempenho comparado aos seus adversários. Desempenho que, em cada jogo, de cada equipe, em cada país, é absolutamente mensurável. Conhecê-lo, para todos profissionais envolvidos com o trabalho técnico do futebol, é importante para observação de tendências, compreensão de comportamentos de jogo que podem levar à vitória e para atualização profissional (sobre atletas, equipes e treinadores) em seu mercado de trabalho.

Posto isso, o que considerar e como analisar qualitativamente o desempenho de uma equipe utilizando poucos recursos tecnológicos?

Dos milhares de profissionais do futebol existentes no Brasil, é certo que a grande maioria não dispõe ou não tem acesso a ferramentas sofisticadas de análise de jogo. Infraestrutura, softwares modernos (com ótima relação custo x benefício para os clubes) de análises quantitativas, ilhas de edição de imagens ou então departamentos de dados digitalizados, são realidades de poucos e privilegiados profissionais. No entanto, com conhecimentos específicos, um computador, uma cópia digital simples de um jogo, papel e caneta, a possibilidade de análise de comportamentos de uma equipe é significativa.

O ponto de partida (que para muitos “especialistas” já é o ponto final) compreende a plataforma de jogo utilizada. Observando-a, entende-se em quantas linhas (zagueiros, volantes, meias, atacantes) uma determinada equipe distribui seus jogadores no espaço de jogo e também se ocorrem alterações posicionais entre os momentos do jogo e, até mesmo, ao longo da partida.

O passo seguinte compreende a observação das regras de ação de cada jogador. Analisar as características táticas, técnicas, físicas e emocionais, ofensivas e defensivas, perceber a área de atuação predominante, além de tentar observar a repetição de comportamentos nos diferentes momentos do jogo, evidenciam questões importantes de uma equipe para cada função exercida. Aliada a uma observação individual, é fundamental o entendimento da organização coletiva da equipe.

Na fase defensiva, é importante compreender como ela age em relação aos princípios operacionais defensivos, analisando setores do campo e atitudes predominantes de recuperação da posse de bola, além dos mecanismos coletivos de impedir progressão e de proteção do alvo. Também defensivamente, é possível perceber em qual linha imaginária do campo (1, 2, 3, 4 ou 5) se inicia a marcação e qual sua forma adotada: zonal, individual, mista, ou então, individual na zona.

Ainda na análise da organização defensiva, é possível identificar a quantidade de jogadores atrás da linha da bola em cada região do campo, a distância entre linhas da equipe, a velocidade da flutuação entre a bola e o alvo, a realização de pressing ou pressões zonais e até a eficiência das coberturas defensivas.

Na transição ofensiva, o comportamento coletivo predominante da equipe pode ser interpretado. Para cada setor do campo em que ocorrer a recuperação pode-se diferenciar a manutenção da bola neste setor, a retirada horizontal, ou então, a retirada vertical da zona de recuperação. Por mais que todas as imagens do jogo não identifiquem a posição exata dos responsáveis pelo balanço ofensivo, a quantidade de jogadores e uma posição aproximada são perfeitamente possíveis de serem identificadas.

Já no momento ofensivo, a tarefa é a interpretação dos comportamentos em relação à posse de bola, progressão e ataque ao alvo, que refletem as aplicações dos princípios operacionais de ataque. Analisar o tipo de ataque predominante (contra-ataque, ataque rápido ou ataque posicionado), e também se ele ocorre com utilização de estruturas fixas, móveis, ou então, sem referências posicionais, é necessário.

Finalizando a organização ofensiva, há a quantificação das linhas de passe abertas para cada jogador, a criação e ocupação de espaços entre linhas do adversário, a análise da amplitude e profundidade empregadas, a quantidade de jogadores à frente da linha da bola, os mecanismos de movimentação capazes de gerar superioridade numérica, além da criatividade no 1×1.

Na transição defensiva, observar se o comportamento da equipe está voltado para a recuperação imediata da posse de bola, ocupação de setores específicos do campo para posterior recuperação, ou então, se alguns jogadores atacam a bola e os demais realizam recomposição. Assim como no balanço ofensivo, que impossibilita análise integral pela filmagem, é permitida uma visão parcial da quantidade de jogadores e forma geométrica do balanço defensivo.

Em uma análise de jogo, não pode faltar atenção para as situações de bola parada. Nestas ações (mais “fáceis” de se aproximar do cumprimento da lógica do jogo), ofensivamente podem-se observar: jogadas ensaiadas, batedores oficiais, quantidade de jogadores e distribuição do espaço na grande-área.

Defensivamente, as análises permitem enxergar se a referência de marcação é zonal, mista ou individual.

Diante do que foi apresentado, fica claro que sem o conhecimento tático do jogo de futebol, quaisquer análises de jogo (principalmente aquelas que se limitam às questões técnicas e ao resumo dos gols) serão superficiais. Quanto mais jogos você assistir, mais aperfeiçoada ficará sua leitura de jogo. Quanto mais jogos de uma mesma equipe você assistir, maiores as possibilidades de compreensão de seu modelo de jogo.

Não se esqueça de considerar a situação na competição, o tipo de confronto, o placar do jogo, o placar do jogo anterior, a expectativa criada pela imprensa, a pressão da torcida, o estado do campo, as condições climáticas, os conflitos entre treinadores, a relação treinador-atleta, entre outros fatores que podem modificar o “jogo da cabeça de cada jogador”.

Muitas equipes do futebol brasileiro já possuem analistas de desempenho. Tal função é primordial em uma comissão técnica, pois é quem registra o cumprimento do modelo de jogo pela equipe, além do desempenho e comportamento dos adversários – informações imprescindíveis para o estabelecimento de uma contra-estratégia. É bom saber que cresce o número de analistas voltados às questões tática-estratégica-organizacionais do jogo. As próximas semanas “prometem”!

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Escalada dos emergentes

Estamos assistindo a uma dinâmica econômica mundial de crescimento de pequenas economias (ou os chamados países emergentes) que, com algum esforço, têm operado bem seu mercado interno, ampliando divisas e fazendo com que a economia mundial cresça efetivamente. Se dependesse das grandes potências mundiais, o planeta cairia em uma lógica de estagnação, já que boa parte do mercado de consumo e desenvolvimento está centrado nestes famigerados emergentes.

No Brasil, o que tem impulsionado o seu crescimento econômico são as classes sociais da base da pirâmide, contribuindo sobremaneira para a diminuição do abismo social e aumento do consumo por todas essas classes sociais. Tais princípios são igualmente praticados na Índica, Rússia e China que, juntamente com o Brasil, formam os BRIC, conjunto de países emergentes que estão liderando as esperanças de um crescimento global sustentável.

E por uma reflexão bem incipiente, provoco: “não seria esse um caminho a trilhar pela indústria do esporte?”. A lógica de equilibrar a balança entre pequenos e grandes não deveria fazer parte da pauta de discussões de dirigentes esportivos, cultivando sobretudo o crescimento da indústria do esporte e até potencializando as receitas dos grandes?

Muito se fala que mais de 90% dos jogadores de futebol no Brasil ganham menos do que dois salários mínimos como forma de justificar e evidenciar esse abismo entre grandes e pequenos, tratando o fato como um problema de governança por parte das entidades de administração e prática do esporte. Por isso, pergunto, traçando um paralelo: a negociação dos direitos de transmissão, privilegiando o pensamento individual em detrimento do coletivo, não estaria na contramão da lógica econômica mundial, conforme comentado anteriormente?

Em um raciocínio bem simplório, a ascensão de pequenos e médios clubes, tornando-se economicamente mais equilibrados, poderia resultar em:

a) Melhor qualificação dos recursos humanos, como os jogadores;

b) Haver material humano melhor e mais acessível para os grandes clubes;

c) Relações comerciais mais confiáveis entre grandes e pequenos – na permuta de jogadores, por exemplo, com menos riscos para ambas as partes;

d) Ampliação do faturamento de toda a indústria de maneira equilibrada e em escala conjunta, inclusive para os grandes clubes, já que estes dificilmente perderão seu status de players do mercado por terem grandes marcas – e grandes marcas não se constroem do dia para a noite. Pequenos e médios clubes poderiam se aproximar a um patamar aceitável, que só faria bem para a indústria como um todo;

e) Segmentação por interesses e acesso ao lazer, uma vez que temos um país de dimensões continentais – seria a lógica do supermercado: as grandes redes se sobressaem em relação aos pequenos mercados por competitividade, lastro para oferecer melhores preços, melhor localização, marca etc., mas os pequenos vivem muito bem pois as pessoas continuam a comprar lá eventualmente ou com uma frequência aceitável, por suas particularidades e outras facilidades regionais que explicam seu consumo.

Enfim, a exposição da ideia tem mais um interesse provocativo, uma vez que parece utópica no universo de clubes, ligas, federações e confederação em que vivemos.

O fato é que não podemos negar a força dos grandes – e não é isso que pretende o texto. Mas privilegiá-los de forma quase que canibalesca em relação aos demais me parece um tiro no pé. Ninguém joga um campeonato sozinho. A competitividade (equilíbrio competitivo), juntamente com a figura dos ídolos do esporte, tem se mostrado o melhor produto desta indústria.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Copa 2014: o Brasil esquece da infraestrutura humana

Olá, amigos!

O Brasil vive a discussão sobre os projetos da Copa de 2014. Ainda bem incipientes, é verdade. Acredito que a cobrança deveria se maior para que a transparência pudesse ser um direito de todos nós brasileiros.

Não sou contra a realização da Copa no Brasil, mas muito me preocupa a questão da infraestrutura que se planeja – ou que não se planeja para ela. Sabemos que um evento dessa magnitude exige processos e recursos tecnológicos de ultima geração para comportar e atender bem a demanda oriunda tanto do turismo interno, como do turismo externo.

O Brasil tem se consolidado no mundo como um importante pólo de tecnologia, seja com os profissionais brasileiros tomando destaque nas empresas estrangeiras ou mesmo algumas pesquisas e inovações nacionais se projetando internacionalmente. Mas e em relação ao futebol e à infraestrutura para atender a Copa do Mundo?

De nada adianta termos recursos magníficos aplicado no Brasil se não tivermos uma cultura voltada para a sua utilização. Nesse ponto a crítica vem tanto para os brasileiros enquanto população, que aceita as condições e não busca se opor , se posicionar e reivindicar seus direitos, quiçá reivindicar melhorias que vão para além dos simples direitos de cidadão, como também à instituição Brasil, como aquela que herda ou que foi construída com base na população que sempre dá um jeitinho.

Sabemos o quanto é infantil o pensamento “no fim tudo dá certo… se não deu certo é porque não chegou o fim ainda… basta esperar”. E esse me parece o cenário.

Estamos praticamente no meio de 2011. Uma mudança de infraestrutura do ponto de vista de cimento e construção civil já está atrasada, mas sabemos que o dinheiro, seja ele público ou disfarçadamente privado, vai conseguir dar o seu jeitinho, porém, o que me preocupa são as pessoas. Como fazer uma mudança cultural para que o Brasil esteja apto a receber tal evento com os recursos tecnológicos que exigem, sem uma capacitação e investimento em educação da população nacional, se já não é praxe no nosso país investir em educação?

Será que conseguiremos em tão pouco espaço de tempo mudar? Engano daqueles que acham que sim, que de uma hora para outro o Brasil mudará a cultura de seu povo, e esses saberão operar recursos novos, falar diferentes línguas, ter ciência de suas responsabilidades moral e ética para, por exemplo, não precisarmos de catracas e vigilâncias nos metros, como hoje são, e fazer algo como em Atenas, onde o próprio cidadão valida seu ticket, sem catracas e sem fiscalização direta.

Engano maior aqueles que acham que o tempo é suficiente, pois até 2014 dá para se fazer um “intensivão”. Opa! Aí está o grande erro. A Copa de 2014 já começou. Quem planeja vir para esse evento já esta de olho no Brasil. Já buscam informações e já começam a pensar no evento e nas sedes. Porém, nem o Brasil sabe ao certo isso. E quando digo Brasil me refiro à população como um todo, e nesse aspecto, a população estando alheia e cada vez mais incerta sobre o evento, como pode se preparar para receber a magnitude do evento seja enquanto mão de obra especializada, seja enquanto serviços indiretos que pode prestar?

Saberemos operar sistemas modernos de transportes públicos como dizem que serão os projetos de aeroportos, trem bala e metros? Ou será que não teremos essas novas estruturas e os “gringos” que se acostumem ao nosso jeito de ser?

Se o Brasil quiser passar uma imagem de país bem consolidado no setor tecnológico, reconhecimento que alguns profissionais canarinhos já o têm enquanto pessoas físicas, temos que pensar não só na infraestrutura de concreto, tijolo e cimento, mas sim na infraestrutura humana. Caso contrário, a Copa passará e o Brasil continuará sendo samba e futebol (no campo), porque na organização…

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br  

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O fim do Pacaembu

Não tem como o paulistano não gostar dele. Localizado numa região central, em meio a árvores, com uma grande área para circulação a pé em seu redor, uma distância ótima do gramado para a arquibancada, uma grande região para poder passear na parte inferior, um palco de decisões memoráveis do futebol…

O estádio do Pacaembu é um dos mais charmosos do mundo, e sem dúvida é a síntese do futebol na cidade de São Paulo. Talvez sejam os ares da refinada vizinhança que deixam tudo no Paulo Machado de Carvalho mais glamouroso.

Sempre achei que o Pacaembu é o estádio do tamanho perfeito. Nem tão grande para ser frio como o Morumbi, nem tão acanhado para ser palco só de jogos menores. Não há provavelmente um paulistano que goste de futebol que não tenha tido uma lembrança maravilhosa do estádio da capital.

A idade não me permitiu assistir aos grandes clássicos pré-Morumbi lá no Pacaembu, mas vivi boa parte dos grandes jogos da infância por lá. Inclusive o primeiro deles, ainda com sete anos, numa partida de masters entre Brasil e Itália, uma reedição da final da Copa de 1970. Foi o jeito de poder dizer que vi Pelé em campo, mesmo mais velho, com direito a programa para ir a família toda, da avó Itália Roma aos primos que torciam para outros times.

Depois, nos anos 90, a reforma do Morumbi carcomido pelo tempo permitiu que alguns grandes jogos fossem para o Pacaembu. O mais divertido deles, sem dúvida, a decisão do Campeonato Brasileiro de 1994, num show palmeirense sobre o Corinthians. Semanas antes, pude acompanhar um embate dos dois alviverdes, numa bela vitória do Palmeiras sobre o Guarani de Amoroso em partida que praticamente definiu o título nacional.

Consegui ver Casagrande do “outro lado” num Corinthians e Flamengo de arrepiar em 1993, também acompanhei Romário acabar com Amaral num outro encontro entre as duas maiores torcidas do país. Isso sem falar em diversas noites de casamento perfeito entre os times do Corinthians e sua torcida, talvez a melhor combinação para o Pacaembu em sua história.

Ou, ainda, como não lembrar do memorável Santos 5×2 Fluminense do Campeonato Brasileiro de 1995, quando time e torcida não pararam nem no intervalo de uma das mais vibrantes e lindas atuações do Peixe em sua história recente?

Nesta última semana, Santos, Palmeiras e Corinthians fizeram do Pacaembu a sua casa. Força das circunstâncias, mas que parece ser cada vez mais uma volta no tempo. Em quatro jogos (sendo dois do time alviverde), eles reuniram mais de 100 mil pessoas para torcer, cantar, sofrer e vibrar com suas paixões.

Foram jogos que lembraram o quanto o Pacaembu é importante para a história do futebol em São Paulo. O estádio do tamanho ideal para ficar sempre cheio, aquecido, vibrante, apaixonante. O charme de sua entrada com a praça simbolizando um “ponto de encontro” para os torcedores, o eco do grito da torcida sufocado pelos morros que o cercam, o torcedor que sobe a ladeira e se arruma onde é possível só para não perder um pouco da festa.

Parece que, sem querer, os times de São Paulo (o Santos incluído nessa conta, por tudo o que representou na época de ouro de sua história e do estádio com Pelé e Cia. bela desfilando em seu gramado) decidiram prestar, nesses últimos tempos, sua homenagem ao Pacaembu.

O único estádio paulistano que é tombado pelo patrimônio histórico deverá ficar sem “dono” depois que a Copa do Mundo passar. Palmeiras e Corinthians teoricamente estarão com novas casas a partir do cada vez mais próximo 2014.

Uma pena. Não pela modernização e melhoria no serviço prestado ao torcedor, que só tem a ganhar com estádios mais modernos e com tudo o que eles apresentam de melhor. Mas por tudo o que representa o Pacaembu, seu destino deveria, sem dúvida, ser outro.

É inaceitável que um estádio para 40 mil pessoas, em ponto central da cidade, próximo de metrô, com fácil acesso via transporte público e também privado, seja simplesmente abandonado de uma hora para a outra.

O Pacaembu tem espaço e estrutura suficientes para ser modernizado para o torcedor conservando todo o charme de sua fachada dos anos 40/50. É o palco mais centralizado possível para aguentar o tranco de uma Copa do Mundo e, mais do que isso, para continuar a ser o estádio de tamanho perfeito para a cidade de São Paulo.

Que pelo menos a gente aproveite os próximos dois anos de muito futebol no Pacaembu. Porque o sentimento de vazio depois que a Copa chegar vai ser grande.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br