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Não existe ideal

Em 2006, a “culpa” da derrota brasileira na Copa do Mundo foi a falta de vontade dos jogadores, o excesso de estrelismo e a falta de patriotismo. Quatro anos depois, o Brasil fez tudo diferente. Rigor a toda prova, reclusão, jogadores distantes do holofote, da badalação ou de qualquer coisa que o valha. E o resultado foi, simplesmente, o mesmo: derrota nas quartas-de-final da Copa do Mundo.

O que fica de lição depois de quatro anos e mais um fracasso acumulado em Mundiais? O mais evidente deles, para mim, é de que não existe um modelo ideal, fechado, para ser o campeão do mundo. Como bem disse Johann Cruyjff, após a dolorida derrota holandesa de 1974, a Copa do Mundo é uma competição que premia o melhor time após sete partidas.

Não é nada além disso. Não existe fórmula a ser seguida.

O maior problema com a seleção de Dunga foi não ter contado com os 23 melhores jogadores do país na atualidade. O treinador, agora ex, foi fiel a quem lhe foi imprescindível durante a escalada rumo à Copa do Mundo. Só que ele se esqueceu do básico: levar um time que fosse capaz não de ser fiel a qualquer princípio, mas que soubesse ganhar quando fosse necessário.

A Holanda, que derrotou o Brasil nas quartas, comportou-se até agora de forma muito distinta daquela exigida por Dunga. Os jogadores holandeses, volta e meia, passeiam pela cidade de Joanesburgo, tiram fotos com fãs, pensam em outra coisa além de Copa do Mundo e futebol.

Todo trabalho precisa de um descanso. Do contrário, a cabeça não aguenta tanta pressão e tanta exigência pela conquista de algumas metas. É assim no dia-a-dia de trabalho, tem de ser assim também numa equipe que almeja ser a campeã do mundo.

Se, em agosto de 2006, o maior debate era a falta de patriotismo da equipe brasileira, agora o problema parece ter sido o excesso de vontade e a falta de controle que minaram a atuação brasileira no clássico contra a Holanda.

O bode expiatório foi Felipe Mello, símbolo de resistência de Dunga contra a opinião pública. Poderia ser qualquer outro, que não resolveria o problema.

Enquanto o Brasil insistir em encontrar culpados no lugar de resolver o problema, será mais difícil evoluir. A CBF tem, por característica, radicalizar o comando técnico da seleção brasileira depois de um pífio resultado dentro de campo sem parar e pensar os motivos que levaram a um desempenho abaixo do que se esperava.

Não existe uma fórmula ideal. O que precisa existir é a formação de um grupo coeso, que represente o melhor do país dentro de campo. O resto é conversa mole para tentar tirar o foco de um dos maiores problemas do brasileiro: a falta de planejamento.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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A soma de todos os medos

Dizem que a ignorância é o que provoca o medo nas pessoas.

Portanto, muita ignorância pode proporcionar muito medo em muitas pessoas.

No filme A soma de todos os medos (2002), baseado em obra homônima do escritor Tom Clancy, Jack Ryan interpreta um analista de relações internacionais da CIA, a famosa central de inteligência dos EUA.

O protagonista é especialista na biografia e trajetória política do novo presidente da Rússia.

Nesse sentido, conhece todos os detalhes do político, que lhe permitem aconselhar o presidente americano e o Departamento de Defesa na condução do relacionamento bilateral.

Entretanto, uma conspiração política, provocada por espionagem e interesses de terceiros, ameaça essa estabilidade no pós-Guerra Fria.

Logo, essa intervenção, alheia ao conhecimento recíproco de cada um dos lados, dá lugar a uma escalada de ignorância, que só faz aumentar o medo de que retaliações já iniciadas se transformem numa guerra nuclear.

A certa altura, o medo é tão grande que já não importa mais racionalizar quem fez o que – ou quem começou o quê…

Afinal, o terror já se instalou nos tomadores de decisão dos dois países.


 

O medo da Fifa em que a África do Sul, país-sede da Copa do Mundo 2010, fosse cenário de carnificina, estupros, assaltos, sequestros, fez com que exigisse a instauração dos Fifa Court – tribunais especiais para julgar crimes ocorridos durante e vinculados ao evento.

Nas nove sedes, foram criados 54 tribunais especiais, em que os ritos processuais são sumários (cinco dias).

Poderia parecer um grande avanço diante de um sistema judiciário moroso, como costuma se afirmar no caso do próprio Brasil.

Entretanto, muitos direitos internacionalmente assegurados pela evolução do processo penal são turbados, como a ampla defesa, o contraditório e o devido processo legal, produção de provas, grau de recurso.

Obviamente que são julgados delitos menores. Mas há que se proteger os conceitos do devido processo legal e que não se jogue fora o conjunto de leis e direitos do país-sede – acima dos interesses da Fifa.

Em um dos tribunais, dois homens do Zimbábue, estavam sendo julgados por roubo. Mas o caso seguiria mais tarde pela falta de intérprete na instrução do processo.

Em 2014, o Brasil estará na pele da África do Sul.

O modelo do Fifa Court deverá se adaptar ao nosso sistema constitucional. Não o contrário.

Não se deve deixar prevalecer um ambiente kafkiano de perseguição e acusação baseado no desconhecimento, tanto de quem julga quanto de quem é julgado.

Porque a ignorância leva ao medo. E o medo leva ao terror.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Das faltas violentas no futebol

Caros amigos da Universidade do Futebol,

O que fazer com jogadores como Cheick Tiote, da Costa do Marfim, relativamente ao lance em que o brasileiro Elano sofreu a lesão que o afastou da Copa? É possível promover algum tipo de ação judicial para reparar o dano causado ao nosso meio-campista?

Essa discussão já é antiga, e não se limita apenas ao futebol. Para abordarmos esse assunto, temos que trazer mais uma vez à discussão o conceito da especificidade do esporte, o que reforça, mais uma vez, a sua grande importância.

Para ilustrar a discussão, vamos levantar outro exemplo. Poderia um lutador de boxe ingressar com uma ação de reparação de danos contra um adversário por despesas médicas decorrentes dos socos desferidos durante um combate?

Parece-nos evidente que, no caso hipotético, uma eventual ação de reparação de danos seria julgada improcedente. Da mesma forma, não haveria qualquer crime de lesão corporal. Eis a especificidade do esporte.

Por outro lado, caso o lutador tivesse mordido a orelha do oponente (qualquer semelhança a fatos pretéritos efetivamente ocorridos é mera coincidência…), entendemos que a ação teria admissibilidade.

Em princípio, deduzimos do exemplo acima, e das alternativas levantadas, que caso o atleta atue conforme as regras do jogo, não há qualquer irregularidade e, portanto, não haveria que se falar em reparação de eventuais danos causados nessas circunstâncias. Caso, entretanto, o atleta desrespeite as regras do jogo causando o dano, este poderia ser objeto de ação de reparação de danos.


 

Voltando ao caso do Elano, temos que estimular o debate de acordo com as regras do jogo do futebol. Prima face, como o juiz apontou a entrada como faltosa, teríamos de imediata a ocorrência de uma violação à regra do jogo.

Mas entendemos, nesse exemplo, tendo em vista que “carrinhos” são muito comuns no futebol, teríamos que analisar mais profundamente a conduta do agressor, para verificar se houve grave desproporcionalidade na conduta (o que neste caso específico nos parece que houve).

Isto para dizer que uma simples falta no futebol não ensejaria, a meu ver, uma ação de reparação de danos à “vítima”. Mais do que isso, é preciso analisar se a falta foi cometida mediante um comportamento repugnante e indesejado ao jogo. Vale dizer assim que faltas tidas como normais já fazem parte do jogo, e, portanto, não deveriam ser sempre vistas como a mordida na orelha do caso hipotético acima mencionado.

É assim que devemos (e nosso poder judiciário deveria) olhar para o futebol à luz da especificidade do esporte.

De todas as maneiras, é bom deixar claro que, a meu ver, a lesão sofrida pelo Elano foi causada por uma dessas condutas passíveis de reparação de danos (nesse caso, inclusive morais, por tirá-lo da Copa do Mundo). Assim como a entrada do Pepe no Felipe Melo.

Para nós brasileiros, seria melhor que o Elano tivesse sofrido a mordida na orelha, pois isso não o tiraria da Copa…

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A Jabulani e o marketing acidental

Apesar dos diversos exemplos de marketing de emboscada, da música da Coca-Cola, dos anúncios customizados da Inbev nas placas de LED, da Larissa Riquelme e o seu porta-telefone e dos sanduíches temáticos do McDonald’s, eu sinceramente acredito que o grande case de marketing dessa Copa do Mundo é a Jabulani.

A princípio, pode-se imaginar que tudo o que cercou a Jabulani nesta Copa criou um enorme desastre para a Adidas. Afinal, muitos jogadores, inclusive seus próprios patrocinados, reclamaram da qualidade da bola e, de certa forma, ficou a impressão que a Adidas fez um péssimo trabalho de concepção de produto.

Porém, logo que essas reclamações se tornaram públicas e alguns lances estranhos começaram a acontecer nos jogos da Copa, muita gente começou a procurar e a discutir detalhes sobre a bola. O fenômeno tomou tal proporção que matérias começaram a ser feitas sobre a Jabulani, levando a diversos programas esportivos nos mais variados canais a explorar o assunto. Chegou a um ponto tal de popularidade que a Globo não se importou em fazer aquela bizarrice com o Cid Moreira. Justo a Globo, mestre em coibir mensagens e imagens comerciais, colocou um de seus mais renomados apresentadores falando o nome de um produto durante uma transmissão ao vivo da Copa, sem que ninguém tivesse pago por isso. E, ao mesmo tempo que ela fazia isso, seus comentaristas tratavam de dizer que nem tudo que acontecia em campo era por culpa da bola, que ela não era tão ruim assim. Em paralelo, a Folha divulgava uma matéria dizendo que apesar dos jogadores reclamarem, os peladeiros aprovam a bola, afirmando que “maior polêmica do Mundial, ela abandonou seu lado patricinha –como foi definida pelo volante Felipe Melo– e foi aprovada pelos peladeiros da zona leste paulistana”. Quer propaganda melhor que essa, um atestado de qualidade do público que de fato vai se preocupar em comprar réplicas da bola?

Obviamente, tudo isso aconteceu por acaso. A Adidas certamente não esperava que a bola fosse causar tanta polêmica e é certo que ela não imaginava que a repercussão seria tão grande. Os resultados de venda é que vão dizer, ultimamente, se isso é positivo ou não. Mas é inegável que a marca ficou incrustada na cabeça do público que acompanha a Copa, e assim deve permanecer por anos a fio. E essa repercussão toda certamente não teria alcançado o mesmo tamanho se tudo isso tivesse sido planejado. Coisas programadas com tamanha complexidade raramente dão certo, uma vez que as variáveis que incidem no cenário são muito grandes. É muito, muito difícil criar um fenômeno de massa de acordo com aquilo que você quer. Basta ver o tcha-tcha da Hyundai.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Arbitragem não pratica Fair Play na Copa: erros e mais erros

Caros amigos,

mais uma vez! E como não falar, como não tocar no assunto novamente?

Será que a grande maioria das pessoas está equivocada em reivindicar a tecnologia no auxílio da arbitragem?

A Inglaterra, vítima de agora, foi beneficiada em 66. A Argentina tem o talismã Maradona (mas agora como técnico) também nesse segundo episódio que a beneficia, assim como o tão famoso gol com “La mano de Dios”, por curiosidade contra a mesma Inglaterra.

É curioso mesmo. O país que moldou (inventou) o futebol moderno, foi quem fundou a International Football Association Board (IAFB) que rege as regras do futebol. Fundada antes mesmo da própria Fifa, que surgiu 22 anos depois, a IFAB nasceu em 1882 por iniciativa dos países britânico. E não que é que ironicamente os grandes erros em Copa têm acontecido com a Inglaterra.

Perdi a conta de quantas vezes escrevemos a respeito desse tema; fizemos até um mini fórum com os colegas leitores abordando vantagens e desvantagens de se adotar a tecnologia no futebol, e eis que sempre surgem as polêmicas.

O que me incomoda, caro amigo, particularmente, é uma inconsistência da Fifa com seus próprios valores (ao menos aqueles que ela diz possuir). O tão famoso slogan do Fair Play, talvez para eles o jogo limpo, é sinônimo de ausência de tecnologia, limpo de qualquer recurso que interfira no jogo (ou nesses casos, nas decisões equivocadas dos árbitros).

Mas é Fair Play ganhar um jogo com um gol que não existiu, ou perder o jogo com outro que foi erroneamente não marcado? Isso é jogo limpo?

Se o Fair Play tão divulgado por essa entidade escorresse de verdade nas veias da instituição, eles tomariam atitudes, mesmo que pós-jogo, de cavalheiros, como os nobres cavalheiros que fundaram a IFAB poderiam imaginar. Viriam a público, na hipótese mais simples de se imaginar, e diriam que foi lamentável e que eles reconhecem o erro, mas que não podem alterar a decisão de um árbitro de campo, porém iriam estudar alternativas para que isso não voltasse a ocorrer.

Porém, cadê o Fair Play? Aliás, cadê o cavalheirismo? O porta-voz da Fifa, Nicolas Maingot, em entrevista coletiva*, reconheceu o erro. No entanto, para ele, o erro foi o lance ter sido exibido no replay do telão no estádio, uma falha humana de quem controlava o replay!

Sem comentários! Deixo o minuto de reflexão para o amigo que me acompanha.

Apenas para constar.

No lance da Inglaterra (veja o lance no vídeo a seguir) se estivéssemos um chip na bola ou uma indicação entre as traves, tal como o hóquei, o gol seria validado na hora sem reclamação de nenhuma das partes, dada a veracidade da tecnologia.

 

http://www.youtube.com/watch?v=2exC91gkh30

Caso o vídeo apareça com a mensagem: “este vídeo apresenta conteúdo de Fifa, que o bloqueou com base nos direitos autorais”, peço desculpas ao amigo, mas faz parte do ” Fair Play” da Fifa.

 

No lance do gol de Tevez, impedido, não precisaríamos de nada novo em termos de recursos, mas talvez de processos. O lance do momento em que ocorreu o gol até o reinicio da partida parou o jogo, se não errei em contas, por cerca de 2 minutos e 30 segundos, devido a reclamações. Se o quarto árbitro ou o próprio árbitro principal pudessem utilizar as imagens para validar o lance (assim como é feito no tênis hoje), o jogo teria sido reiniciado antes, com a certeza de um jogo limpo.

P.S. O árbitro deu apenas 2 minutos de acréscimos no 1º tempo

Fair Play, Fifa! Fair Play!

* Para acessar a matéria completa da Globo.com sobre a entrevista de Nicolas Maingot clique aqui.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Só muda o endereço

Entrevista coletiva para a imprensa em Johanesburgo, no estádio Soccer City. Danny Jordaan, presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo, e Jérôme Valcke, secretário geral da Fifa, eram as grandes estrelas do encontro.

Em pauta, um balanço do que foi a primeira fase da Copa. Nas perguntas dos jornalistas, porém, tudo muito diferente. Escândalo na seleção francesa, segurança para o jogo Alemanha x Inglaterra, Morumbi fora do Mundial de 2014, contratação do irmão de Jordaan para cuidar dos camarotes da cidade de Port Elizabeth, por “módicos” R$ 50 mil por mês…

Depois da entrevista, um enxame de repórteres fechou o cerco sobre Jordaan e Valcke, para massacrá-los ainda mais com as mesmas perguntas feitas anteriormente, mas na tentativa de se conseguir uma frase mais bombástica, um detalhe a mais, algo diferente.

Não adianta. Em qualquer lugar do mundo, jornalista é jornalista na essência. Por mais que a pauta seja uma, o interesse pela notícia é outro. Isso é algo que demorou, e muito, para que o técnico Dunga entendesse. Não é ele quem determina o assunto que será debatido, mas sim o jornalista que chega e faz a pergunta que melhor lhe cabe.

No final das contas, pouco ou quase nada do balanço apresentado pela Fifa foi debatido naquela coletiva para a imprensa. O que mostra, também, o quanto o expediente está ficando desgastado no dia-a-dia da produção de conteúdo.

O jornalismo vigiado e controlado pelos assessores tem dificultado ainda mais o acesso do jornalista à fonte da informação. Há um controle exacerbado sobre quem fala, o que fala, quando fala e como fala. E isso gera um atrito considerável entre as partes.

O estouro de Dunga na coletiva após o jogo contra Costa do Marfim, ou a maneira ríspida como Jordaan respondeu sobre os questionamentos a respeito de seu irmão mostram a que ponto chegou o relacionamento da fonte com o jornalista na era moderna.

E, para variar, as respostas passam a ser sempre as mesmas. Não há mais paciência na relação. Só muda o endereço de onde o atrito ocorre. Mas, no esporte, fonte e jornalista definitivamente não falam a mesma língua…

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Bafana Bafana

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Como estávamos prevendo, a África do Sul foi mesmo eliminada na primeira fase da Copa do Mundo em que são anfitriões. Temíamos (e continuando a temer) um possível enfraquecimento dos efeitos positivos que a Copa pode trazer ao país sul africano no pós-evento.

Em interessante entrevista concedida à revista oficial da Fifa, edição junho/julho de 2010, Alexander Koch, conselheiro das Nações Unidas, divisão de Sport for Development and Peace, comenta sobre os impactos da Copa na África do Sul, e em especial no caráter de união do país (nation-building). Comenta que esse efeito tem especial relevância para a África do Sul por conta de seu recente passado histórico e dos diversos grupos étnicos que hoje co-habitam o país.

Temos agora que observar não só o desenrolar da Copa, como também, e principalmente, o período do pós-Copa, para termos uma noção mais concreta de como a Copa influenciará o pais, mesmo tendo a seleção nacional sido eliminada logo na primeira fase.

O efeito psicológico dessa eliminação torna-se mais relevante quando a imprensa internacional noticia que esta foi a primeira vez que um país anfitrião abandona a festa logo na primeira fase.

De igual importância será observar esse impacto e trazê-lo para a percepção das autoridades do futebol no Brasil. Evidente está que dificilmente o Brasil seria eliminado na primeira fase em uma Copa disputada no nosso próprio país.

Alguns podem então pensar que essa questão não é relevante para a organização da Copa no Brasil. Porém, entendemos de forma diversa. Pressão similar que a África do Sul sofreu para ser classificada para a segunda fase sofrerá o Brasil caso não seja campeão.

Portanto, os conceitos de “fracasso” em um e outro caso são claramente distintos. Porém, o impacto desse fracasso no pós-Copa podem ser similares.

No nosso caso, esperamos que a forma de torcer no Brasil seja alterada. Que jogos de futebol sejam menos violentos. Que as torcidas sejam mais solidárias e que o futebol tenha um caráter maior de inclusão social.

Essas são as expectativas no plano psicológico dentro do futebol.

Essa é então a grande função social que nossa seleção canarinho terá: conseguir o caneco. E, para nós, mais um motivo para torcer pelo Brasil.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Sobre o Dunga e a imprensa

Os xingamentos murmurados do Dunga e a reação editorial da Globo são apenas as faces mais visíveis de um antigo confronto entre o técnico brasileiro e a imprensa. Confronto este que ganhou maiores contornos e colocou em pauta a discussão sobre a relação da Rede Globo com a seleção brasileira.

Existem duas maneiras de se analisar o caso e de extrair dele algo de produtivo, que – convenhamos, é algo bastante raro em discussões que permeiam o futebol. A primeira maneira é entender esse confronto sob a ótica da indústria do futebol, coisa que esta coluna tende a fazer sempre que possível.

Para a indústria do futebol, o jornalismo esportivo, em si, não existe. O que existe são veículos de mídia que reproduzem e se retroalimentam do conteúdo produzido por uma partida, um time ou um campeonato. Esse organismo é fundamental para a indústria, já que ele fomenta o interesse público para o jogo. Sem ele, a indústria do futebol certamente não teria o tamanho que ela tem hoje. Afinal, é apenas através desses meios que torcedores podem acompanhar as infinitas histórias que envolvem seus times, clubes, jogadores, técnicos, diretores e afins diariamente.

Normalmente, essa retroalimentação de conteúdo é de certa forma controlada pela disseminação da demanda por informação entre diversos clubes pertencentes ao mesmo sistema. Ou seja, por mais interessados que existam, eles direcionam seus esforços para diferentes clubes, o que ajuda a facilitar todo o processo. Em um sistema com cinco clubes, por exemplo, ao invés de 100 veículos focarem em um clube só, 20 veículos focam em cada time. Isso permite uma geração de informação bastante suficiente para alimentar os 100 veículos sem ter que precisar tomar medidas mais extremas em busca de conteúdo.

No caso da seleção, isso não acontece, já que esses 100 veículos se preocupam com informação provida apenas por uma fonte. Não apenas isso, o tempo de exploração do conteúdo nas plataformas se expande, já que em período de Copa o interesse do público pelo objeto em si também se multiplica. Mas não há informação suficiente para abastecer tamanha demanda. Então, para suprir a necessidade da retroalimentação de todo o processo, algumas informações são exageradas como forma de compensar a ausência de novos conteúdos. Ou então inventadas, o que não é raro acontecer.

Como a demanda por informação é enorme, a fonte da organização se coloca no direito de cobrar pela exploração midiática. Assumindo que essa operação é fundamentada em um caráter privado, isso é bastante justo. A quem paga, a fonte se abre e permite uma exploração mais profunda de seu conteúdo. É a lógica básica da venda de direitos de transmissão de qualquer evento, esportivo ou não. Daí, portanto, a percepção de privilégio exclusivo que a Globo possui, e que outros canais também deveriam ter. E daí também a sua revolta quando não os obtém ou então quando um de seus profissionais é xingado em público pelo técnico da seleção, que falha gravemente ao não se adaptar ou compreender o caráter de ampla exposição do seu cargo e do time que dirige, do qual ele mesmo já fez parte e sofreu com aquilo que pode ser considerada uma falha de oferta de informações. Como técnico, ele é pago pela CBF, que recebe dinheiro da FIFA, que, assim como a própria CBF, recebe dinheiro da Globo, direta e indiretamente.

Entretanto, a discussão foge da análise exclusivamente industrial uma vez que, no Brasil, existe muita confusão sobre o real caráter do futebol e da seleção brasileira, o que leva à segunda forma de análise do conflito entre Dunga e imprensa. Sob a análise privada, tudo isso que foi escrito acima é válido. Mas se o futebol e a seleção brasileira são considerados algo maior do que um produto gerador de conteúdo e possuem uma legitimidade de representação de todo Estado brasileiro, tudo isso acima precisa ser descartado. Afinal, se é um bem público, não pode haver privilégio. Se é um bem público, é preciso que exista o jornalismo, ainda que não obrigatoriamente caracterizado como esportivo. Se é um bem público, toda informação deve ser acessível a qualquer cidadão através de qualquer meio existente.

Um consenso a respeito do caráter público ou privado da seleção brasileira está muito longe de existir, se é que um dia existirá, e, enquanto isso não acontece, cada lado faz uso daquilo que melhor se concilia com seus próprios interesses. Com isso, o conflito continuará a existir, seja ele técnico x imprensa, técnico x Globo ou Globo x imprensa. E continuará, também, a fazer vítimas. Que, neste caso específico, são principalmente a polidez e a língua portuguesa.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br  

Leia mais:
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Torcida pela seleção

Essa sempre foi uma das maiores críticas de Dunga, enquanto comentarista do BandSports na Copa de 2006, para com o comportamento da mídia. Não se pode torcer contra a seleção brasileira quando começa a Copa do Mundo. O jornalista, na cabeça de Dunga, tem de apoiar e se apoiar no time nacional. Hoje, como treinador da seleção, sua cabeça é ainda mais firme nessa convicção.

Mas não é apenas Dunga quem tem esse tipo de racha com a mídia. Em quase todos os treinos de seleções, vimos treinadores e jornalistas duelando em torno do mesmo tema quase que o tempo todo. O desabafo de Maradona após conquistar a vaga para o Mundial é uma das sínteses desse fenômeno que acomete toda seleção que vai para a Copa.

Mas afinal, vale ou não torcer pelo time que representa o seu país?

A pergunta é emblemática e geralmente não está bem resolvida na cabeça do próprio jornalista. Em busca de justificativas para dizer o motivo de estar torcendo pela seleção brasileira, geralmente o primeiro argumento é de que “se não fosse o time nacional, a ida para o evento simplesmente não aconteceria”.

Balela pura.

O Brasil não tem tradição em Jogos Olímpicos, mas mesmo assim manda centenas de jornalistas para a cobertura do evento. Da mesma forma, na última edição dos Jogos de Inverno, tivemos cinco atletas na competição e mais de uma centena de jornalistas brasileiros na cobertura, in loco, do evento. Não é o Brasil que leva a mídia ao evento, mas o evento que justifica a atração da mídia para ele.

Só que o mais curioso é observar que, mundialmente, a história se repete. Dunga, Maradona, Marcelo Lippi, Carlos Queiroz… Não faz diferença quem é o treinador ou qual é a seleção. O jornalista, via de regra, acha que está faltando algo para a seleção de seu país.

Os maiores entreveros entre jornalista e entidades aqui na África do Sul aconteceram durante as entrevistas coletivas. De tanto controle que se tenta fazer para manipular a saída de informação, fica claro que isso só desgasta a relação jornalista-seleção.

Mas o engraçado mesmo é quando a bola começa a rolar. Aí parece que todo o discurso é abandonado, e o jornalista torna-se tão torcedor quanto quem está no país, torcendo pela vitória do time nacional.

Está claro de que torcer é o que o jornalista mais faz em terras sul-africanas. Independentemente de país e relacionamento com o treinador, o que importa é ver o time sair de campo com um trunfo.

No final das contas, os atritos entre treinadores e jornalistas se dão porque ambos não sabem quando é a hora de torcer e quando é o momento de trabalhar. Quando chegarmos a essa proporção, as notícias vão ter mais qualidade. E os eventos, certamente, serão muito mais tranquilos para se trabalhar… Tanto de um lado, quanto do outro.

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Ghost writer

Imagine você contratado por uma pessoa ou por uma editora para escrever uma biografia.

A biografia pode ser do próprio contratante.

O contratante pode ter tido uma vida tão rica e intrincada de relacionamentos e jogos de poder, na qual o peso da verdade – e das versões das histórias – é exponencialmente maior do que a sua vida de escritor medíocre.

E o resultado final – o livro – é desejado por muitos. Principalmente antes da publicação.

Logo, é a sua vida que está em jogo. Não a do biografado.

Esse é o enredo resumido do excelente filme de Roman Polanski, O Escritor Fantasma que, acredito, teria ficado mais apropriado se mantido no original – Ghost Writer – em cartaz nos cinemas.

O protagonista aceita fazer o trabalho de seu antecessor, morto em circunstâncias ainda imprecisas, para escrever a biografia do ex-Primeiro Ministro da Inglaterra, agora vivendo no auto-exílio nos EUA, cujos manuscritos já haviam sido esboçados.

O problema começa quando o atual escritor, revisando o texto, passa a investigar algumas informações, visando estar convencido se há identidade entre a verdade da obra e a realidade.

A Aristóteles foi atribuída a frase: “a única verdade é a realidade”.

No filme, a realidade começa a ficar vívida demais para o escritor. E ele, ao se declarar sabedor da verdade da biografia do político, passa a correr risco de vida e o pânico lhe atormenta.


 

Fiquei tentado a me imaginar sendo ghost writer de algumas figuras célebres e não menos polêmicas do futebol mundial.

João Havelange. Joseph Blatter. Platini. Pelé. Maradona. Romário. Ronaldo. George Best. Ricardo Teixeira. Beckenbauer. Mario Celso Petraglia. Fabio Koff. Roberto Marinho. Juan Figger.

Essas seriam figuras óbvias demais para todos nós, pois são oriundas do futebol.

A coisa iria esquentar com a biografia de outros tantos e sua conexão com futebol. Especialmente os líderes políticos.

Ou seja, o lado invisível disso.

Hitler. Churchill. Berlusconi. Lula. Orlando Silva, nosso ministro dos Esportes. Os ditadores e autocratas de Tanzânia e Zimbábue, que pagaram milhões de dólares para os amistosos do Brasil antes da Copa 2010.

Os donos de empresas como Adidas, Nike, Puma, Traffic e tantas outras.

Iria esquentar ainda mais quando esses dois caminhos se entrelaçassem.

Nessa altura dos interesses cruzados, se eu fosse o ghost writer, talvez não estaria mais aqui pra contar história alguma…

Em tempo: se pudesse, escolheria sê-lo do Juan Figger.

Pois, como diz um amigo meu, em brincadeira, se você começa a investigar as empresas, todas elas vão acabar no Silvio Santos, o homem mais rico do Brasil.

No futebol, sempre achei que todas elas acabam, ou pelo menos passam, pelo Juan Figger.

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