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A Fifa e a publicidade

Em 2009, a Fifa faturou um pouco mais de 300 milhões de dólares em patrocínios, o que dá mais ou menos uns 540 milhões de reais. Se você somar a receita de patrocínio de todos os clubes do Brasil, não chega perto disso. Se você somar todos os clubes da América do Sul, tampouco. Se você somar todos os clubes da Conmebol, Concacaf e da CAF, também não. Ou seja, é muito dinheiro em patrocínio.

Curiosamente, essa grana toda vem de poucos parceiros. Nesse ano são dezoito no total. Seis parceiros institucionais, seis da Copa do Mundo de 2010 e mais seis patrocinadores locais na África do Sul. No Brasil, se você somar todos os patrocinadores dos clubes da Série A, dá uns 200. Talvez mais. Para a Fifa, “less is more”, ou seja, ela trabalha com poucos patrocinadores e agrega valor no pacote, que normalmente inclui uma grande variedade de propriedades de exposição e de relacionamento.

No Brasil, “less is less” e “more is more”, ou seja, se você ficar de frescura e recusar cotas pequenas para agregar valor ao pacote principal, você vai perder dinheiro. Afinal, a demanda para patrocinar clubes no Brasil é muito pequena. Para patrocinar a Fifa, é gigante.

Como a entidade máxima do futebol cobra caro pelo seu pacote de patrocínio, é natural que ela faça o máximo para proteger os seus patrocinadores. Isso significa que quando a Copa se aproxima, ela fica de prontidão para coibir qualquer apropriação indevida do seu evento. Naturalmente, um monte de empresas tenta usar o período da Copa para promover seus produtos, principalmente através de sorteio de ingressos comprados independentemente e de comerciais que relacionam futebol com África do Sul e ‘2010’. Ou, no Brasil, futebol com camisa amarela, entre outras tantas coisas.

Logicamente, a Fifa não deixa barato. Vai atrás e processa, sem piedade. Afinal, não fosse por ela, não haveria Copa do Mundo. Logo, se você quer se promover com o evento, nada mais justo que você pague uma taxa a quem o organiza. Pelo menos, essa é a lógica da Fifa. Ninguém pode fingir ser patrocinador se não pagar pra isso.

Um exemplo clássico disso é o recente conflito entre o órgão e a Kulula, uma companhia aérea de baixo custo. A patrocinadora local da Fifa para a Copa do Mundo é a South African Airways, que está de olho nos torcedores que virão ao país acompanhar suas seleções e terão que viajar de um lado a outro do país de avião, já que de carro é bastante complicado. Obviamente, a Kulula também quer se aproveitar desses viajantes, e como seus voos são relativamente mais baratos que os da SAA, ela está aproveitando a empolgação da Copa para se promover. Para isso, lançou uma campanha em que se autointitula “a companhia aérea não oficial da ‘você-sabe-o-quê'”, que se sustentava em uma linha visual que remetia a diversos tipos de símbolos relacionados ao futebol. Obviamente, a Fifa esperneou. E conseguiu cancelar a campanha.

Logo em seguida, a Kulula lançou outra campanha, em que dizia, resumidamente, que “Não no próximo ano, não no ano passado, mas em algum momento entre eles, nós vamos fazer algo inesperado. Vamos manter os preços das passagens baixos porque existem muitas razões bacanas para viajar pelo país do que apenas por aquela coisa que nós não nos atrevemos a mencionar”. E mais um monte de imagens subliminares relacionadas ao futebol. A Fifa esperneou de novo, mas até agora nada aconteceu com a Kulula além de ficar mundialmente famosa e ganhar um monte de simpatizantes na própria África do Sul que aparentemente estão cada vez mais saturados da forte política protecionista da Fifa, a qual conseguiu parar na justiça até a venda de um pirulito que tinha estampado em sua embalagem algumas bolas de futebol, a bandeira da África do Sul e ‘2010’. Curiosamente, também, esse pirulito começou a vender mais depois de ter se envolvido em toda essa polêmica.

Assim que acabar a Copa de 2010 e o foco passar a ser 2014, a mesma coisa vai acontecer no Brasil. Não tenho nenhuma dúvida de que uma quantidade absurda de empresas vai tentar lançar produtos relacionados ao evento. Também não tenho dúvidas de que uma quantidade absurda de escritórios de advocacia vai se mobilizar para ganhar um troco em cima desses processos. A batalha será ferrenha. Mas a Fifa certamente acabará ganhando, ainda que empresas que se utilizem da prática da emboscada possivelmente acabem se beneficiando pela mídia espontânea que o confronto irá gerar. Só não sei se esse acréscimo de vendas valerá o preço da indenização que deverá ser paga.

Como essa será uma batalha jurídica, é de se imaginar que ela acabe se complicando, uma vez que a justiça brasileira não é necessariamente reconhecida pela sua agilidade e que a Copa do Mundo tem prazo para acabar, o que eventualmente permitiria alguma empresa manter uma campanha de emboscada sustentada por recursos e liminares até o final do evento.

Entretanto, os próprios sul-africanos comentam que jamais viram tanta eficiência do sistema legal quanto quando a Fifa está envolvida. Não há porque duvidar de que no Brasil será diferente. Se você tentar usar a combinação Copa do Mundo, Brasil, futebol e ‘2014’, ou pior, se resolver sortear ingressos para as partidas – o que é um pecado mortal -, é certo que você será envolvido num processo judicial rápido e ágil.

Bem que a justiça brasileira poderia se acostumar com essa ideia. No fim das contas, esse pode ser o grande legado que a Copa do Mundo pode deixar para o país.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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No ar, a Copa!

A cada quatro anos, o mundo do futebol observa pessoas que sequer sabem quem são os jogadores da seleção brasileira de futebol e que se envolvem de tal forma que chega parecer conto ou senso comum discutir.

E nesse momento mágico quadrienal se transformam e ganham um espírito forte, cheio de sabedoria, advindo dos campos.

Quem só conhece o Dunga das conversas dos amigos acostumou-se a ouvir críticas às suas escolhas, e passou também a criticá-lo, inconformado que o dito cujo não tenha chamado os “Meninos da Vila”! Eis uma simulação de um belo diálogo:

– Vila? Quê Vila?

– Não importa, os meninos deveriam estar lá. E esse anão da Branca de Neve, ah esse anão, eu sempre soube que ele era folgado mesmo.

– Mas que anão?

– Como assim, tá por fora meu amigo, é ano de Copa. Tô falando do Dunga!

– Dunga?

– Caramba, meu! Em que planeta você vive? Preciso soletrar Cóóóó-ppppáááá dooooooo Muuuunnndddoooo?

– Mas o que tem a Copa do Mundo com a Branca de Neve ? Ah, entendi, só podem jogar anões?

– Não, não é nada disso. Dunga é o nome do técnico da seleção brasileira de futebol

– Ah, tá, agora entendi. E ele é anão?

– Ai, meu santo… Não, é apelido dele.

– Ah tá… e qual era o problema mesmo?

– Ele não quer levar os Meninos da Vila

– Vila? Quê Vila?

– Peraí, de novo, não. São os Meninos da Vila Belmiro, estádio do Santos Futebol Clube. Eles jogam um bolão.

– Ah, tá. Esses meninos são anões e o técnico não quer levá-los?

– Não, esses meninos não são anões coisíssima nenhuma.

– São santos, tipo São João, Santo Antonio?

– Você tá louco? De onde tirou isso?

– Você disse alguma coisa sobre santos!

– É que esses meninos jogam num clube chamado Santos, entendeu?

– É, mais ou menos, mas tô começando a achar que esse Dunga não entende nada de futebol?

– Eu também. Desse jeito nem deveria ir à Copa?

– Por quê? Você esta com fome? Podemos passar na cozinha e bater um rango na copa.

– Você tá por fora mesmo, hein. Copa do Mundo!!!

Horas depois…

– Pô… até que enfim você entendeu que Dunga é o técnico da seleção, e quem são os Meninos da Vila.

– Agora sim! Até acho que o Dunga está certo.

– Certo? Como assim?

– Poxa, se são chamados de meninos, é porque são novos, deve ter gente mais experiente para jogar no lugar deles. Quem você tiraria do time para levar os meninos?

– Sei lá, só sei que eles têm de ir?

– Como assim? Alguém tem de sair para eles jogarem… quem você tiraria?

– Não sei, nem sei quem joga na seleção. Só sei que esses meninos têm de ir

– Poxa, depois eu não entendo de futebol… você nem sabe quem joga na seleção…

– Pode ser, mas sem esses meninos, vai ser difícil ganhar a Copa.

– Sei lá, mas para quê serve mesmo essa Copa?

– Não sei, também, mas é legal, deve ter coisa nova, afinal todo mundo “para pra ver”!

– Será que eles vão lançar um celular novo?

– Não sei, mas bem que eu posso testar minha TV de 80 polegadas ultra high definition máster.

– Massa! Dá para usar o joystick nela?

– Acho que sim. Eles vão lançar isso durante a Copa.

– Legal! Dai dá para gente colocar os Meninos da Vila e ganhar a Copa?

– Vila? Quê Vila?

Ainda que em tom de brincadeira, o diálogo nos mostra a capacidade de envolvimento que um evento desse porte adquire. Com tamanha visibilidade, inovações nas mais distintas dimensões do esporte podem surgir, desde aspectos técnicos do jogo até, sobretudo eles, os aspectos que envolvem os grandes públicos voltados ao consumo e ao espetáculo.

Assim, deixo uma pergunta para a próxima semana: que novidades poderemos esperar da Copa? O que ela nos trará de inovações na ciência do futebol?

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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As maravilhas do Atlântico

O Oceano Atlântico deve exercer uma enorme influência sobre o jogador brasileiro. Só isso pode explicar a diferença de comportamento do atleta que atua no próprio país daquele que se torna um expatriado e vai tentar a sorte no futebol da Europa.

Na segunda-feira passada, Ronaldo foi apresentado como novo garoto-propaganda da operadora de telefonia celular Claro. Em sua entrevista à imprensa, a cada resposta afirmativa, ele começava a frase com “É claro”. Além disso, o jogador do Corinthians procurou encaminhar todas as respostas para a mensagem que gostaria de transmitir, deixando o foco de sua entrevista no acordo comercial recém-assinado.

Há cerca de 20 dias, Neymar deu entrevista exclusiva para Sonia Racy, colunista de “O Estado de S. Paulo”. Uma matéria para traçar o perfil da jovem promessa do Santos. Em meio a diversas futilidades da entrevista, o atacante, quando questionado se já havia sido vítima de racismo, respondeu: “Nunca. Nem dentro e nem fora de campo. Até porque eu não sou preto, né?”.

O abismo entre Ronaldo e Neymar não está apenas na diferença de idade. Ele se revela pela transformação do atleta brasileiro quando vai jogar fora do país. Muito se critica a falta de preparo do jogador de futebol no Brasil para tratar com a imprensa. Respostas bisonhas, como a de Neymar, parecem ser a regra do atleta no país.

Mas por que o jogador brasileiro que está no exterior não costuma dar tanta bola fora assim?

Parece que as oito a dez horas de voo sobre o Atlântico exercem uma poderosa influência sobre o atleta… Ao desembarcar num continente estranho, hostil, o jogador toma mais cuidado, passa a escutar mais quem o acompanha, tenta não se expor. Com isso, ele se torna mais cauteloso e, assim, passa a estar mais apto a aprender com os outros.

Mas essa é apenas uma tese furada.

Claramente o preparo para tratar com a imprensa que é dado nos outros países é muito maior. O jogador, obviamente, se preocupa mais em entender o meio em que ele está antes de falar quando vai jogar no exterior. É natural. Mas é evidente que ele é muito mais bem preparado pelo gestor esportivo no estrangeiro.

Por aqui, ainda tem aquela de o cara ser o ídolo, de ter as benesses de um status estrelar. Lá, Kaká e Cristiano Ronaldo dividem os holofotes de um mesmo time que ainda tem Guti e Raúl, para ficar só em parte do time do Real Madrid. Ronaldinho Gaúcho tem outros atletas e outras histórias para dividir suas atenções no Milan.

Quando o jogador compreende o ambiente em que ele está inserido, passa a estar receptivo a entender como deve se comportar numa entrevista, por exemplo. Enquanto futebol for sinônimo de dribles e danças comemorativas apenas, o atleta não estará apto para representar não apenas a si mesmo, mas ao clube para o qual trabalha. Profissionalismo não significa caretice. Neymar tem mais é que dançar. Mas tem, também, de aprender a dançar no ritmo adequado quando o assunto é fora de campo.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Esquadrão Classe A

Dia desses, conversava com um parceiro de negócios da Argentina sobre formação e liderança de equipes de trabalho, suas dificuldades, desafios e a respectiva adrenalina vivenciada, particularmente em start up companies.

Para minha surpresa, afirmou que utiliza como mantra em boa parte do treinamento e composição dos integrantes das equipes o seriado Esquadrão Classe A, famoso nos EUA e no Brasil na década de 1980.

Eu mesmo era fã do seriado, que possuía uma linguagem leve, muitas vezes em tom de comédia farsesca e contava com personagens pitorescos, além de muita aventura.

Na abertura de cada um dos episódios, ouvíamos: “Há dez anos, uma equipe de comandos especiais foi mandada para a prisão por um tribunal militar por crime que não haviam cometido. Esses homens escaparam da prisão militar de segurança máxima passando a viver secretamente em Los Angeles. Ainda hoje são procurados pelo governo e sobrevivem como aventureiros. Soldados da Fortuna. Se você tem algum problema, se ninguém mais puder ajudá-lo e se conseguir encontrá-los, talvez consiga contratar o ESQUADRÃO CLASSE A”.

Missão por missão, cada membro do grupo tem sua função específica, que se articulam para realizar os planos malucos do Coronel Hannibal.


 

Murdock “Louco de Pedra” é um maluco interno do hospital psiquiátrico de veteranos de guerra, que em diversos momentos deixa todos intrigados se ele é realmente louco. Todas as vezes consegue dar um jeito de escapar do hospício para realizar as missões, voltando para lá no final. Suas habilidades no grupo são pilotar helicópteros e aviões, além de irritar o sargento B.A. Baracus com seu cão imaginário.

Templeton “Cara-de-pau” é o responsável por conseguir os recursos para cada missão, como carros, passagens aéreas, hotéis, suprimentos, equipamentos, informações e tudo o que for necessário. Consegue tudo o que precisa utilizando sua conversa fiada ou seu charme com as mulheres.

John “Hannibal” Smith, sempre fumando um charuto, ganha a vida como ator figurante, fazendo bicos e pequenas aparições (sempre disfarçado de monstros ou velhinhas). Seu papel no grupo é se passar por outras pessoas com seus disfarces realísticos, além de elaborar os planos mirabolantes, que sempre acabam dando certo. Mesmo quando os problemas são simples de serem resolvidos, ele “faz isso pelo Jazz” (uma forma de ele expressar que gosta de viver as emoções intensamente). Geralmente conclui as missões com sua imortal frase “adoro quando um plano dá certo”.

B. A. Baracus é o piloto do furgão, o mecânico, o especialista em construir engenhocas e o grandão que se envolve nas lutas físicas. Tem um carisma muito forte com as crianças, a quem protege e orienta. Morre de medo de voar, e precisa ser dopado pelos amigos para entrar em um avião ou helicóptero, principalmente se estes forem pilotados pelo maluco do Murdock, a quem geralmente tem um desejo explícito de agredir.

Amy Allen é uma jornalista, cuja especialidade é providenciar as pesquisas necessárias para que as missões possam começar, além de ser a responsável por uma rede de contatos que garante que nada falte ao Esquadrão Classe A. É ela também a responsável por tirar eles das encrencas quando isso exige um pouco mais do que emoção e força bruta.

Nas missões, geralmente quem contrata o Esquadrão tem o primeiro contato com um velhinho (Hannibal disfarçado) em uma lavanderia de Los Angeles, que marca o encontro com o restante do grupo, onde a missão é apresentada.

Daí em diante, eles apagam o B. A. para voarem, provocam os adversários, infiltram escutas, constroem veículos e equipamentos extraordinários, disfarçam-se e envolvem-se em grandes confusões.

Nossa discussão sobre o seriado voltou-se à importância de se ter uma equipe coesa, comprometida e com atitude, porém que respeita as diferenças de cada um dos membros, reconhecendo-lhes a relevância do papel que desempenham dentro da estratégia traçada por quem os lidera e, acima de tudo, chegando ao fim da missão proposta, ao conquistar o objetivo visionado.

Atingir esse grau de comprometimento e qualificação da equipe não é nada fácil.

A gestão esportiva no Brasil carece deste senso – e a inspiração para formar uma equipe de trabalho como a defendida acima também pode vir do próprio esporte, pois isso lhe é intrinsecamente presente.

Toda equipe de trabalho precisa de doses de liderança visionária, atitude, inteligência, estratégia, experiência, força, ousadia e loucura, sedução, informação, para transformar os riscos dos empreendimentos/projetos, em adrenalina positiva – esta, o verdadeiro combustível para que os meios sejam executados e os resultados alcançados.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br  

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Como correr menos, com um jogador a menos: lições do português

A Uefa Champions League 09/10 foi bem diferente das últimas, nas quais as equipes inglesas mostraram suas forças em todas as fases da competição.

Foram muitas novidades ao longo da jornada, com confrontos interessantes de equipes de diferentes países, e especialmente nas semifinais da competição, com times da França (com um treinador francês), Alemanha (com um treinador holandês), Itália (com um treinador português) e da Espanha (com um treinador espanhol).

Um dos jogos mais esperados e interessantes foi o confronto entre Barcelona e Internazionale de Milão, justamente na fase semifinal da competição. As equipes que já haviam se enfrentado na etapa de grupos; voltaram, no momento decisivo, a se encontrar, alimentando o imaginário de torcedores e imprensa, e promovendo mais uma vez o debate sobre como parar equipe espanhola.

Pois bem. No 1º jogo, em Milão, vitória da equipe italiana por 3 a 1. Com pressing alto, ataque a bola com muita intensidade no campo todo, e transições em altíssima velocidade, a Internazionale “amarrou” o Barcelona em uma armadilha bem desenhada.

O resultado, porém, não deixou apreensivo nem mesmo o mais descrente jornalista catalão, pois as duas equipes ainda teriam de jogar a 2ª partida em Barcelona, onde a equipe da Espanha “atropelaria” o time de José Mourinho.

Pois bem.

No 2º confronto, jogo até certo ponto equilibrado até os 28min do 1º tempo, quando Thiago Motta, da equipe italiana, foi expulso.

A partir daí… Bom, a partir daí, a Inter abriu mão totalmente de ficar com a posse da bola, de buscar o campo de ataque e fez o que parecia impossível. Mais uma vez “amarrou” a equipe do Barcelona, que apesar do grande volume de jogo, deu pouquíssimo trabalho ao goleiro Júlio César.

Algumas coisas interessantes podem ser destacadas nesse jogo.

Fazer frente ao Barcelona, em um jogo 11 contra 11, já não é tarefa muito fácil. Com um jogador a menos, alguns problemas habituais podem se tornar grandes problemas. Podemos destacar, por exemplo:

a) A equipe do Barcelona tem como característica predominante a manutenção e valorização da posse da bola, com jogo de ataque apoiado. Com um jogador a menos, como pressionar a bola, e como roubá-la?

b) Com um jogador a menos, maiores as dificuldades para se construir um jogo ofensivo rápido, ocupando espaços adequados para progredir ao campo adversário e terminar a jogada com finalização. Como conseguir atacar, liberando um número menor de jogadores para participar efetivamente da fase ofensiva da equipe?

c) A equipe do Barcelona, em dificuldades, investiria na velocidade das transições ofensivas; fase do jogo em que a equipe italiana teria maior vulnerabilidade e desequilíbrios. Como não correr riscos, com um jogador a menos, nas transições ataque –> defesa?

d) Com um jogador a menos desde os 28min do 1º tempo, como resistir “fisicamente” ao jogo nos mais de 60 minutos próximos?

Pois bem. A equipe italiana conseguiu resolver a maioria dos problemas que poderiam se tornar grandes com a perda de um jogador.

Como tinha conquistado uma vantagem no jogo na Itália, pôde abrir mão de resolver aquele que talvez fosse o maior de seus problemas, e que certamente dificultaria na administração dos outros: não precisava atacar.

Como não precisava atacar, logo, também não precisava se preocupar em ficar com a bola, nem tampouco progredir com ela e com a equipe para o campo de ataque.

O que fez, então, a equipe italiana?

Jogou dando uma aula de compactação, com um bloco defensivo bem baixo (na linha 5), flutuando de um lado ao outro no campo de jogo, exercendo pressão sobre a bola e abrindo mão, totalmente, de ficar com sua posse.

Para se ter uma ideia, a equipe do Barcelona, segundo a Uefa, realizou 627 passes (com 89% de aproveitamento), contra 160 passes (com 42% de aproveitamento) da equipe de Milão.

Abaixo, outros dados do jogo (retirado do site da entidade).


 

Apesar do grande volume de jogo, quase nenhum ataque espanhol configurou-se como perigo efetivo ao gol da Inter.

Outro fato que merece destaque é que mesmo com um jogador a menos, a equipe de José Mourinho, com sua ocupação zonal do espaço de jogo, conseguiu que seus jogadores percorressem, em média, distância similar a percorrida pelos jogadores do Barcelona. Foram 10,18 km da equipe espanhola contra 10,02 km da equipe italiana.

Ou seja, o problema de resistir por mais de 60 minutos ao jogo foi resolvido também com maestria.

Muitos disseram e continuarão dizendo que o que fez a Inter de Milão foi algo muito diferente de futebol; algo muito feio, lamentável.

O que eu acho?

“Que é por dentro das coisas que as coisas são como são”.

Por hoje é isso…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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O futebol contra a fome

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Sempre ressaltamos neste espaço a grande relevância do futebol para a sociedade moderna, principalmente com relação à sua responsabilidade social. O futebol, como sabemos, tem o poder de reinserir na sociedade as comunidades mais carentes do mundo, fazendo pessoas de classes diferentes se unirem tanto na prática do esporte, como na qualidade de torcedores para times e seleções nacionais. Mais do que isso, a força do futebol pode ajudar essa população carente a enfrentarem outros problemas que não estejam ligados diretamente ao esporte.

Aproveitando essa grande força do futebol, a FAO, agência para o alimento e a agricultura da ONU (Organizações das Nações Unidas), juntou forças este ano com a Federação Paulista de Futebol para o combate à fome em níveis nacional e internacional. Essa cooperação estabelecida entre ambas as organizações é reflexo de um movimento da FAO para mobilizar diversos setores da economia em torno da luta contra a fome.

Segundo dados da FAO, já passam de um bilhão de pessoas em todo o mundo que sofrem de fome e desnutrição. Além disso, a cada sete segundos uma criança morre de fome em algum lugar do nosso planeta. São números alarmantes que efetivamente não podemos tomar conhecimento sem tentarmos fazer algo para reduzir, e quiçá, eliminar o problema.

No último dia 11 de maio, a FAO lançou juntamente com a EPFL (Organização das Ligas de Futebol Profissionais da Europa) um vídeo envolvendo grandes nomes do futebol mundial para promover a assinatura de uma petição contra a fome e a desnutrição no mundo.


 

Ao longo do Campeonato Paulista de 2010, a FPF também promoveu a parceria no Brasil, que ficou denominada “Futebol Paulista contra a Fome”. No jogo inaugural da competição, disputado entre Corinthians e Monte Azul em Ribeirão Preto, as organizações firmaram o acordo e nos principais jogos houve divulgação da campanha através de material impresso (banners, etc.).

Neste segundo semestre, a FAO e a FPF deverão discutir as formas de implementação prática do acordo, com a utilização da imagem do futebol para arrecadação de recursos a serem destinados a projetos contra a fome promovidos pela FAO.

Todos nós podemos contribuir para ajudar a erradicar a fome deste planeta.

Comece assinando a petição da FAO. Convido todos os nossos leitores a reforçarem o plano, através do acesso ao website criado para a campanha: http://www.1billionhungry.org.

O futebol, com a ajuda de todos nós, pode e deve ajudar a virar esse jogo!

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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O negócio da Fifa

Com a divulgação da convocação final da seleção brasileira, foi, enfim, dada a largada para a Copa do Mundo. Agora ninguém segura. Daqui por diante, só um assunto impera. Copa! Haverá uma overdose de futebol em todos os lugares. Todo mundo falará apenas de um assunto. Copa!

Cabe aqui, porém, uma ressalva importante. Apesar da grande pira que o futebol vai gerar nos próximos dois a três meses, é fundamental que você se abstenha de tirar qualquer grande conclusão a respeito do futebol em si. Isso seria um grave erro metodológico. Agora ninguém fala de futebol, mas apenas de Copa. Copa! E Copa do Mundo não é futebol. Copa é Copa. Copa!

Seguindo essa premissa, essa coluna tentará esquecer do futebol e focar na Copa do Mundo. Confesso que não sei se conseguirei achar tanto assunto assim, mas enfim… Não custa tentar.

Para entender a Copa do Mundo, porém, é primeiro preciso entender como funciona a Fifa. E eu parto do princípio que para entender como funciona qualquer organização, é preciso entender como ela gera receita e como ela gera despesa.

A Fifa possui basicamente quatro grandes fontes de receita. A primeira, e mais importante, é a comercialização de direitos de transmissão de seus campeonatos, principalmente a Copa do Mundo, que é de longe o seu principal produto. Copa! Como muita gente quer ver a Copa, muita gente também quer transmití-la, logo a Fifa consegue trabalhar a demanda e ganhar uma boa grana com os direitos de transmissão do evento.

Atrelado a isso está a segunda grande fonte de receita da Fifa, que são as cotas de patrocínio, também principalmente vinculados à Copa do Mundo. Além disso, a Fifa levanta um trocado com ingressos das suas competições, licenciamentos e afins, e taxas diversas. Tudo isso somado dá uma boa grana, mais de um bilhão de dólares por ano.

O curioso, porém, é o jeito que a entidade máxima do futebol gasta esse dinheiro. A lógica sugere que se ela ganha tanto dinheiro assim com a Copa, então é normal que ela gaste muito também com o evento. Aí, porém, é que está a grande jogada. Apesar de ganhar muito dinheiro com a Copa, a Fifa gasta muito pouco com ela. Afinal, não é ela quem constrói estádios, que é o principal custo do evento. Aliado a isso, ela também não paga o salário dos jogadores que fazem parte do torneio. Na equação, a Fifa fica com o grosso da grana e o país sede e os clubes que empregam os jogadores, com o grosso dos custos.

Obviamente que, apesar do lucro com a Copa, a Fifa não guarda tudo no banco e deixa lá. Tampouco redistribui pra qualquer pessoa, uma vez que ela é uma entidade sem fins lucrativos, ainda que remunere seu presidente com uma quantia sigilosamente elevada. Na maior parte das vezes, a Fifa usa a grana para cobrir custos operacionais e, principalmente, fomentar o futebol em regiões menos desenvolvidas. Constrói um campinho aqui, uma arquibancada ali, dá um curso de arbitragem acolá, e assim vai.

O segredo do esquema, todavia, é que cada grana que a Fifa manda para alguma região subdesenvolvida futebolisticamente, representa um voto que ela ganha da federação em questão na eleição da Assembléia Geral. Como ela ganha bastante grana e gasta muito pouco com outras coisas, fica tudo na boa. E a coisa vai indo e se alongando. Sabe-se lá até quando.

Chamam de negócio da China. Deveriam mudar para negócio da Fifa.

Copa!

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Por que o futebol não sai da Globo? – parte II

Eu escrevo há uns quatro anos nesse espaço. A ideia sempre foi tentar responder algumas perguntas que nunca ninguém perguntou. Logo, a ideia sempre foi ser um pouco inútil.

Nesses quatro anos, devo ter efetivamente elucidado umas cinco questões não perguntadas, o que é uma capacidade de produção tão pífia que faz com que gregos pareçam chineses.

Na semana passada, eu tentei falar sobre a relação entre a Globo e o futebol. O que era para ser uma exposição particular, acabou tomando maiores proporções pela replicação daquele conteúdo pelo Nando Gross, jornalista gaúcho altamente renomado e coordenador do curso Kick-Off de jornalismo esportivo na escola Perestroika, em Porto Alegre.

Nando, que se fosse rechonchudinho e tivesse mais idade e cabelos brancos poderia muito bem ser considerado o John Madden do futebol brasileiro, republicou o texto em seu blog, que – dada a absurda quantidade de emails que eu passei a receber – é bastante popular. A ideia era gerar polêmica para um debate. E como gerou.

O esquema foi tão grande que eu resolvi abrir uma exceção e fazer uma sequência à última coluna. E olha que eu não sou nem um pouco simpático a sequências, muito por conta do trauma criado pela combinação entre Joel Schumacher, Batman, Arnold Schwarzenegger e George Clooney.

Não que isso aqui seja exatamente uma sequência. Está mais para um feedback público. Como eu recebi um monte de e-mails perguntando um monte de coisa, vou responder os questionamentos mais populares, que seguem abaixo conforme o número de repetições, ou seja, a pergunta – no caso, afirmação – mais repetida entre as mensagens vem em primeiro, a segunda em segundo e assim por diante.

1) Você é um imbecil.

Justo. Namorada, mãe, vizinho e por vezes acho que até meu cachorro concordam com isso. Empiricamente, portanto, a afirmação é correta.

2) O futebol é popular sim, seu imbecil.

Correto, também. Eu não disse que ele não é popular. Ele só não é tão popular assim. Ainda mais se for considerada sua popularidade mercadológica, ou seja, popularidade medida a partir do número de transações financeiras originadas por ele. Aí a coisa descamba. Para baixo.

3) A audiência só é baixa porque o jogo passa muito tarde.

Mais uma vez, muito bem. Perfeito. Se fosse mais cedo, talvez mais pessoas assistissem. Mas não tanto quanto a novela ou o jornal. Portanto, ele vai pra mais tarde. Além disso, como eu disse, outros programas no horário do futebol aumentam a audiência, ou seja, tem bastante gente que prefere não ver futebol. Fora que não é incomum o futebol de quarta à noite registrar menos audiência que “A Grande Família”.

4) Ninguém assiste por que só passa jogo do Corinthians e do Flamengo.

Beleza. Mas diversificar a transmissão encarece a operação. Mais fácil mandar um sinal aberto para todo mundo e deixar as opções fechadas para quem está disposto a pagar por elas. Coisa que, aparentemente, pouca gente está disposta ou tem condições para isso. Daí, então, a formatação do futebol como produto de TV aberta e não fechada, o que condiz com o que eu disse.

5) O Brasil não é Europa, então não dá pra comparar, seu imbecil.

Genial. Mais uma vez, na mosca. Eu disse que era? Estarei grooamente errado? Alguém mais lia Groo? Terei aprendido geografia em livros didáticos estadunidenses? Alguém mais fala estadunidense, fora um amigo meu cujo apelido é um tipo de queijo? Estará Sergio Aragonés ainda vivo? Sim, de acordo com o Wikipédia, ele ainda está vivo. Quanto às outras perguntas, não sei a resposta.

6) Seu imbecil, o vôlei nunca vai ser mais popular que o futebol.

Talvez não. Mas o vôlei era só um exemplo. Agora, se depender da Topper, o rugby vai.

7) Você trabalha na Globo, imbecil.

Certamente que não. O que é uma pena, porque se paga tanto para o futebol, também deve pagar bem para quem mexe com ele.

8) A Globo está no futebol por causa do dinheiro, seu imbecil. Só mesmo sendo um para achar que eles estão lá por caridade. Imbecil.

Talvez. Aí é que a coisa complica, porque existem indícios que sugerem que isso não é bem lá verdade. Mas, como eu disse, isso é assunto pra uma coluna futura. A qual eu espero não ter que escrever uma sequência. Mesmo que ela em si possa ser considerada um spin-off por natureza. Que, se você lembrar de Joey e Daria, talvez não seja lá muito mais recomendável.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br  

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Bola Camaleão: muda de cor ao ultrapassar a linha

Olá, amigos!

A ideia desta terça era diversificar o tema, já que nas últimas semanas tratamos de maneira aprofundada das questões relacionadas à tecnologia como ferramenta dos árbitros de futebol.

Pego carona na informação do colega Thiago Lavinas, e apresento a tecnologia desenvolvida por uma empresa mexicana, na qual a bola (CTRUS) é dotada de uma tecnologia baseada no GPS, para mudar de cor quando ultrapassa a linha de jogo.

Sem querer entrar na já debatida aceitação ou recusa por parte do futebol em relação às inovações, refletiremos.

Antes, segue o vídeo de divulgação:


 

Vejam que o tema da divulgação é o Fair Play e a transparência no futebol. Temas que são sempre defendidos por quem é favorável e recebe críticas, sobretudo no quesito de investimento necessário para aqueles que criticam.

Para quem gosta de ver mais detalhes, segue também o vídeo de desenvolvimento e designer da bola, divulgado também pela própria empresa:

Muito interessante e bem produzido, porém…

Sempre existem os tais “poréns”, não é verdade?

Por que uma empresa investe tanto num produto sendo que sua principal vitrine e consumidora, a Fifa, é uma entidade que caminha justamente no sentido oposto à adoção de novas tecnologias, inclusive posicionando abertamente desta forma, através de seus presidentes?

Não seria um investimento em um produto com prazo de validade certo, ou melhor, um produto que nem sequer pode ter seu prazo estipulado uma vez que nem entrará em “campo”?

Não posso responder pela empresa, apenas especular. Então vamos lá às hipóteses:

A empresa tem uma demanda vinculada a importantes órgãos do futebol que lhe garante o retorno de tal investimento;

A empresa aposta que não tem como o futebol não evoluir para esse caminho;

A empresa vê outros potenciais mercados independentemente da aceitação ou não da entidade máxima que controla o futebol;

A empresa utiliza um tema polêmico para se promover frente a um mercado amplo e competitivo que é o mercado tecnológico como um todo;

Os donos das empresas resolveram desenvolver porque acreditam nas ideias, independente de ter o retorno de investimento (embora eu ache difícil, mas vai saber né?).

E você, o que acha da CTRUS?

O que moveu a empresa a investir nesse projeto?

Fonte:
http://www.destroyafteruse.com/
http://colunas.globoesporte.com/primeiramao/

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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A dura missão de acabar com os Estaduais

Em São Paulo, Santos e Santo André fizeram um jogo épico, daqueles de ficar na memória do torcedor por vários e vários anos, especialmente o andreense. No Rio Grande do Sul, o Gre-Nal foi de arrepiar, com direito a briga de jogadores e o título gremista sempre com o gostoso sabor de ser sobre o maior rival. Em Minas Gerais, Diego Tardelli usou a “flanelinha” para lustrar a taça de mais uma conquista do Atlético.

Além dos detalhes que fizeram cada um desses jogos especial para os torcedores, está junto uma característica enraizada do brasileiro, desde sempre acostumado com a realização dos campeonatos estaduais.

Os estádios estavam cheios, a audiência na TV foi alta, as pessoas repercutiram os acontecimentos dentro do gramado pelos twitteres de todo o país.

Por mais sem sentido que seja, dentro de um calendário repleto de competições como o atual, o torneio estadual ainda está tão enraizado na cultura brasileira que é difícil de tirá-lo. E o motivo para isso não é nem tanto o sentimental, mas o financeiro.

Não é só a questão de poder soltar o grito de campeão que faz com que o Estadual permaneça no calendário brasileiro. Hoje, para os principais times do país, disputar a competição local representa uma efetiva chance de ganhar bastante dinheiro.

O campeão Santos, em São Paulo, tem a melhor premiação do país: pouco mais de R$ 7 milhões pela suada conquista sobre o Santo André. No Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, alguns milhões também foram para as contas de Botafogo e Grêmio.

Além disso, estádios cheios e audiência alta marcaram as decisões país adentro.

A CBF quer fazer com que o calendário do futebol brasileiro seja adequado ao europeu. A ideia é boa, e ajudaria bastante para melhorar ainda mais a organização do futebol nacional. Só que, nessa realidade, a pergunta que fica é simples. O que será dos Estaduais?

Depois da festa das torcidas, fica mais claro ainda que essa pergunta será muito difícil de calar…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br