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Previsões para 2010

Na primeira coluna do ano passado eu fiz cinco previsões. Acertei quatro. Quer dizer, três vírgula oito.

Um espetacular desempenho de 70%. Que, se fosse na Mega-Sena, não teria dado em nada.

Assim como não deu em nada aqui também.
Afinal, não foram previsões surpreendentes. Muito pelo contrário.

Disse que o São Paulo seria campeão e errei.
Disse que o Santos e o Grêmio iriam ter uma temporada minguada e acertei.
Disse que o Inter e o Cruzeiro seriam os clubes fora do eixo RJ-SP a se destacarem e acertei.
Disse que os times do RJ, especialmente o Botafogo, iriam sofrer. Meio que acertei. Disse que o Vasco seria campeão da Série B de maneira mais tortuosa que o Corinthians e acertei. Disse que o Vasco seria campeão estadual e errei.

Disse, por fim, que o mercado de transferências seria minguado e acertei. Disse que o haveria uma grande rotatividade de técnicos e meio que acertei.

Enfim. Nada de muito novo.
Mas gostei da brincadeira.
Tanto que vou dobrar o número de previsões.

Serão dez curtos chutes daquilo que acontecerá ao longo desse ano.

Vamos a eles:

1) O Flamengo não será campeão brasileiro. Aliás, o clube deverá enfrentar sérios problemas internos ao longo do ano, uma vez que é ano eleitoral e as coisas tendem a ficar meio conturbadas nesses períodos em clubes engajados politicamente, como é o caso do Flamengo. O Botafogo vai sofrer. O Vasco também. O Fluminense, eu não sei.

2) O campeão Brasileiro será algum time patrocinado pela Reebok.

3) O campeão da Libertadores também será algum time patrocinado pela Reebok.

4) O mercado de transferência de jogadores ficará aquecido no meio do ano, especialmente depois da Copa. A estabilização da economia global deve permitir que clubes voltem a investir, mas isso apenas se a próxima bolha não estourar antes da metade do ano. Caso isso aconteça, esqueça.

5) Os maiores clubes do Brasil começarão a ter problemas para vender jogadores, uma vez que o Real tem se mantido estável e jogadores talvez refutem a transferência por um ganho pequeno. Mas, como o item acima, se a próxima bolha estourar, esqueça.

6) A Copa será ganha por um time que nunca ganhou antes. Isso é puro chute. E meu chute é que será um país africano. Uma coisa é certa: o Brasil não será hexa. E a Argentina pode surpreender, por bem ou por mal.

7) O Barueri vai cair. O Atlético Goianiense também vai cair.

8) O Corinthians terá problemas ao longo do ano. O Palmeiras vai ser campeão paulista.

9) Um time rebaixado no campeonato estadual disputará a Série A do Campeonato Brasileiro.

10) Eu vou terminar, enfim, o meu doutorado.

As previsões são essas.
Eu acho que pelo menos duas eu acerto. Mas acho que vou errar um monte. Deveria ter pensado um pouco mais antes de escrever.

De qualquer maneira, torço para que a última se concretize.

Se não, já é hora de largar os bets.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Top 10 Brasileirão 2009: distribuição de bola

Olá, amigos!

Neste início de ano, reforço os votos de grande sucesso a todos e começo a temporada atual lembrando da anterior.

Nesta e nas próximas duas semanas divulgaremos o Top 10 de jogadores no Brasileirão de 2009.

Como primeiro critério, estabelecemos um mínimo de participação no campeonato de 25% dos jogos para evitarmos analisar jogadores em números muito reduzidos de atuações.

Dividimos os temas em três grandes grupos:

Distribuição de bola: relativo à circulação da bola: passes curtos, lançamentos, cruzamentos;

Aspectos defensivos: relativo a desarmes completos e incompletos, interceptações e bolas recuperadas;

Finalização: relativos às finalizações com cabeça ou pés, além das assistências.

Mais uma vez tivemos intenção de estimular a especulação dos dados como principal fonte de obtenção de informação – por isso, partimos dos dados numéricos. Afinal, como dito em outros textos, é pela especulação do que o dado aponta que vamos eliminando e direcionando a análise.

Os dados são oriundos dos dados da ScoutOnline e são apresentados em dois formatos:

média por jogo, dividindo o número de ocorrências pelos jogos;

média por minuto jogado, dividindo o número de ocorrências pelo minutos em campo de cada jogador.

Eis os dez melhores no quesito distribuição de bola:

Passes tentados

Passes certos

Passes errados

Lançamentos tentados

Lançamentos certos

Lançamentos errados

Cruzamentos tentados

Cruzamentos certos

Cruzamentos errados

Com certeza, algumas curiosidades, mas as deixemos para outro momento. Façam suas interpretações.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Desejos de Ano Novo

Já se vão quase quatro anos de participação na Cidade/Universidade do Futebol. Em outubro de 2010, completarei o quarto ano de colaboração a um dos melhores centros de profissionalização do futebol brasileiro.

E, como não poderia deixar de ser, deixo aqui a minha lista com os desejos para o novo ano que se adentra. Já me esquecendo da Copa São Paulo de Juniores, cada vez mais esvaziada pelo futebol profissional e muito mais dirigida à ânsia consumista de empresários e clubes, mas ainda assim um torneio que a mídia dá bola exatamente porque falta mais bola para rolar.

Bom, segue a lista com os meus dez desejos para o ano que entra:

1- Que a imprensa não olhe o futebol apenas tendo o resultado como objetivo.

2 – Que as entrevistas coletivas sejam mais objetivas e menos ranzinzas.

3 – Que as mesas-redondas privilegiem o conteúdo em detrimento da polêmica vazia.

4 – Que uma possível (e não provável) derrota brasileira na Copa seja apenas pelo fato de o Brasil não ter jogado o melhor futebol, e não por fatores extraterrenos.

5 – Que o futebol brasileiro consiga entender que é preciso valorizar o produto como um todo, e não um ou outro clube.

6 – Que a imprensa entenda que os negócios fazem parte do esporte, mas que não são a essência dele.

7 – Que a Copa do Mundo de 2014 finalmente seja uma realidade no país, e não uma mera justificativa para arranjos e conchavos políticos.

8 – Que a TV fechada seja mais analítica na exibição de seu conteúdo, trazendo reportagens e temas profundos que vão além da vitória ou da derrota.

9 – Que Dunga seja valorizado como treinador, mesmo tendo pouca experiência no cargo.

10 – Que o futebol brasileiro se preocupe em ser mais “brasileiro”, e não apenas mais vencedor.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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Como entrar no futebol

Algumas ideias, conceitos ou crenças estão muito enraizadas no nosso “futebol brasileiro”.

Mas não é só no futebol.

Eu, que milito no campo e na Universidade, que ainda não cheguei aos 40 (anos de idade) e que joguei futebol apenas nas categorias de base, sei bem que muitos paradigmas embrulham muitas distintas e aparentemente distantes esferas e dimensões da vida.

Em uma das faculdades em que lecionei, por exemplo, não era incomum que um dos seguranças viesse me avisar que eu não podia estacionar o carro na área reservada aos professores. Quando eu dizia que era um dos professores, o sujeito olhava desconfiado até se convencer.

Na universidade ainda, quando disse que o meu “problema científico” era o de “vencer partidas de futebol”, logo recebi um aviso de um colega acadêmico que eu estava sendo contaminado pela “prática”.

Na “prática” (no meu trabalho como treinador), antes dos parabéns pelo resultado do final de semana, costumava ouvir na “rádio pião (ou será que era peão – não sei, mas pelo tanto de voltas que algumas notícias davam até se transformarem em absoluta inverdade, acho que eu prefiro “pião”), “Levou sorte; acha; jogou onde?”, ou “Estudar marca gol? Então, deu sorte de novo”.

Eu acho isso tudo muito divertido. Muito engraçado. Considero folclórico.

Muitos obstáculos e barreiras (e paradigmas!) não são privilégio do futebol.

Às vezes recebo alguns e-mails pedindo conselhos e sugestões para sobreviver nesse mundo (o mundo do futebol) que nos parece tão ímpar. Ele realmente é diferente, tem suas particularidades…

Mas quando se quer fazer diferença, quando se quer trabalhar em alto nível (e leia-se aqui não somente “alto nível competitivo”, mas também, e principalmente, trabalhar buscando a excelência), quando qualquer detalhe pode mudar totalmente o resultado final e quando o peso de cada decisão pode interferir totalmente no rumo das coisas, não importa se estamos falando de futebol ou de uma gigantesca multinacional: sempre existirão muros para serem contornados, transpostos ou derrubados.

Se ficarmos presos e concentrados nas dificuldades, jamais alcançaremos o resultado desejado! E não tenham dúvida de uma coisa: o que incomoda e atrapalha demais algumas pessoas, serve de motivação, e/ou nem causa qualquer desequilíbrio em outras. Enquanto alguns choram e não se mexem, outros acreditam intensamente que não há tempo para esse tipo de coisa, por que senão a jornada fica atrasada.

Se você é “jovem demais” mostre a força da sua juventude, apresente novas ideias, transforme-as em resultados! Cada vez mais excelentes jovens profissionais têm se destacado em suas áreas (negócios, televisão, esporte, etc.) – o mundo do futebol está atento a isso! E lembre-se: um dia vão dizer que você está “velho demais”, e aí os problemas serão outros.

Se você é “inexperiente demais”, mostre e convença as pessoas, enquanto adquire experiência, o quanto seu investimento em conhecimento pode ser vantajoso para vencer. Aprenda com os mais experientes e corra muito, porque muitos outros já estão correndo há muito tempo tentando conquistar um espaço, assim como você.

Recentemente, o agora piloto de Fórmula 1, Bruno Senna, em entrevista à revista Veja, disse algo que me chamou a atenção, e que sintetiza em parte o que estou escrevendo hoje. É o trecho de uma resposta, para uma pergunta do veículo, que tentava saber se ele, Bruno Senna, achava lícito uma equipe de Fórmula 1 ordenar a um piloto dar passagem a seu companheiro de equipe durante uma corrida:

“A equipe tem o direito de ajudar o piloto que está em melhor posição. Se você está na frente no campeonato, com chance de ganhar, e o outro piloto da equipe está atrapalhando, acho natural que ele ceda. Quem não quer ficar nessa posição não se coloque nela. Se você está tomando pau, vai ficar para trás e a equipe vai priorizar o outro. É assim que funciona: quem tem melhor desempenho tem prioridade. Esporte é assim, é uma coisa predatória. O mundo é assim”. (Bruno Senna)

Quem não quer ficar nessa posição não se coloque nela!

Reparem, não há lamentações, discordâncias, ou foco no problema. É a resposta, a solução e a compreensão da realidade que importam.

Claro, isso não significa, e nem estou tentando dizer isso, que se o mundo é predatório, então os fins justificam os meios.

Claro que não.

E é aí que está o segredo das coisas, afinal, nunca é demais lembrar aos maquiavélicos de plantão e aos fãs da obra “O Príncipe”, que o próprio Nicolau Maquiavel morreu despojado de todos os seus cargos, pobre e chorado por poucos amigos…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

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O grande vencedor do ano

Tchau, 2009.
Ainda bem.
Eu realmente estou cansado do bordão ‘dois mil inove’.
Não aguento mais.
A palavra ‘inove’ deveria ser enterrada.
Ou ter sua grafia mudada para qualquer coisa que não envolva um algarismo.
Temo pelo dia que o mundo chegar a 2100.
Dois mil e cem por cento Jardim Irene.

Credo.

Enfim.
O ano acabou.
E eu até faria uma retrospectiva, se eu lembrasse o que aconteceu.
Mas não lembro muito.
Minha memória é patética.

Mas uma coisa salta aos olhos.
2009 teve um grande vencedor.
Ou melhor, vencedora.
E não é a Patrícia Amorim.
Que eu até acharia uma pessoa bacana, não fosse ela política.
Político e presidente de clube de futebol são duas coisas que historicamente não dão certo.
Ainda assim, tomara que dê certo.

E já que estamos falando em Flamengo, a vencedora do ano tem grande relação com o clube.
A grande vencedora de 2009 foi a Vulcabrás/Azaléia.

O motivo é simples: dos quatro primeiros colocados do Campeonato Brasileiro deste ano, todos são patrocinados pela empresa, que é dona das marcas Reebok e Olympikus.
Flamengo, Inter, São Paulo e Cruzeiro. Os únicos clubes patrocinados pela empresa são os quatro primeiros colocados.
É impressionante.

Estou com preguiça de conferir, mas acho que foi a primeira vez na história do futebol brasileiro que isso aconteceu, pelo menos a partir do momento que tinha mais do que duas ou três empresas no mercado.

É óbvio que tem sorte envolvida.
Não é por causa da Vulcabrás que os times acabaram no topo.
Mas é um indício que a empresa sabe escolher bem seus parceiros.
E isso já é muita coisa.

Além do mais, a empresa realmente apresenta, pelo menos aparentemente, um serviço diferenciado aos clubes. Muito do que se vê de ação de marketing desses clubes por aí é mais por conta da empresa do que por conta do próprio clube em si.
E relatos pessoais me passam a impressão que a empresa é realmente diferenciada, principalmente num dos maiores problemas sofridos pelos clubes de futebol: o fornecimento de material de jogo.

Parabéns, Vulcabrás.
2009 foi de grande sucesso.
Espero que o próximo ano seja super dez.

Entendeu?

Para interagir com o colunista: oliver@universidadedofutebol.com.br

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2010: o Ano do Kiwi

Chegamos ao momento do ano em que pessoas e empresas planejam.

No caso das pessoas, chama-se de resoluções de ano novo o ato de planejar, naquilo que nos cabe, o ano seguinte.

Nas empresas e instituições, chama-se planejamento estratégico, no mais das vezes, o período em que se discutem as ações vindouras da temporada de negócios.

Uns se socorrem dos seus oráculos: cartomantes, tarólogos, búzios, orixás, santos, videntes, astrólogos, na ânsia de iluminação para conduzir a vida que segue.

Outros se reúnem em intermináveis discussões, com gerentes e diretores dos diversos departamentos, debruçados em relatórios, números, projeções e análises, para tomar as melhores decisões sobre o rumo dos negócios.

De um jeito ou de outro, o planejamento está presente no dia-a-dia de ambos os grupos. Dos indivíduos ou das instituições. Queira-se ou não.

Planejamento é uma expressão que causa arrepio na maioria absoluta dos dirigentes esportivos do Brasil. Ou por não saber fazer, ou por não querer que ele aconteça. Pois dá muito trabalho e pode revelar coisas indigestas.

Tive acesso ao planejamento estratégico da Federação de Futebol da Nova Zelândia para o período 2006-2010.

Os neozelandeses são conhecidos como kiwi, dada a ave-símbolo do país, que também batizou a fruta que conhecemos bem.

Para quem já esteve em contato com a tradicional elaboração de um plano estratégico, não há nada de surpreendente no conteúdo do documento. A surpresa maior são os resultados obtidos – que é o que se espera de um planejamento bem feito…

Em resumo, contém: a visão do cenário e os objetivos gerais; seis desafios estratégicos a superar; o mapa da estratégia; orçamento; análise PEST e análise SWOT.

1. Alinhar o esporte e controlar o jogo. 2. Atingir sustentabilidade financeira. 3. Desenvolver o jogo. 4. Atingir sucesso internacional. 5. Melhorar a comunicação. 6. Otimizar a capacitação interna.

O primeiro desafio diz respeito à necessidade de unificar a gestão, governança e liderança, por parte da Federação, junto a um esporte de prática e controle fragmentados no país.

O segundo e o terceiro desafios são auto-explicativos.

Melhorar a comunicação refere-se ao incremento do nível de relacionamento com todos os stakeholders junto aos processos administrativos da Federação.

Otimizar a capacitação pressupõe a melhoria na formação dos profissionais de todos os setores envolvidos na indústria do futebol do país.

Voltemos ao quarto desafio. Atingir sucesso internacional. Os objetivos específicos, aqui, eram classificar-se para todas as principais competições da Fifa, tanto no masculino quanto no feminino, bem como melhorar a posição no ranking até 2010 (homens entre as 80 melhores seleções do mundo e mulheres entre as 15 maiores).

No masculino, vaga garantida para a Copa 2010. Em abril de 2007,já havia estado na posição 77 do ranking, e manteve até há pouco. Agora está em 82º.

No feminino, está em 23º lugar. A melhor posição foi a 20ª, em 2005.

Esse quadro, grosso modo, comprova o planejamento bem feito e com convicção de propósitos, alinhado às possibilidades de conclusão das metas. Sem segredos, porque o segredo está no trabalho enunciado no meio do planejamento.

Mas, por que planejar as coisas, uma vez que o Flamengo nem sonhava em ser o campeão brasileiro de 2009 e acabou conquistando o título?

De qualquer maneira, meu horóscopo aponta que 2010 será o ano do kiwi, porque, se não fizer minha parte, nenhum santo vai ajudar.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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O treinador nacional e o estrangeiro

Tratemos, hoje, de um tema que, sem dar ares de adivinho, parece manter alguma actualidade: qual o melhor treinador, para o futebol (ou o basquetebol, ou o andebol, ou o voleibol, etc.) de um país, o treinador nacional ou o estrangeiro?

Em Portugal, a concluirmos pelo enlevo que certas pessoas sentem por tudo o que chega da estranja e o pessimismo demolidor que lançam sobre os homens e as coisas de Portugal, os treinadores portugueses são muitas vezes minimizados, com enfatuada ironia.

A enriquecer esta tese, adianta-se, de fisionomia aberta e jubilosa, o facto incontroverso de, com Luiz Filipe Scolari, Otto Glória, Bella Guttman e Tomislav Ivic, o futebol português ter alcançado êxitos retumbantes (e o mesmo poderia dizer doutras modalidades, como, por exemplo, o voleibol). Eles instigaram-no a novos métodos que nele se repercutiram, durante anos. Mas por que se esquece repetidamente que é nosso o que, há bem pouco tempo, foi considerado o melhor treinador do mundo e ainda Fernando Vaz, José Maria Pedroto, Artur Jorge, Carlos Queirós, Jorge Jesus, Paulo Bento, Manuel José e outros?… Num país de velhas tradições e de longa caminhada histórica, até no futebol gostamos de ser colonizados! E, como veremos, não há razão para mais um complexo de inferioridade.

Mas a pergunta continua teimosamente de pé: qual o treinador que melhor serve o futebol de um país, o nacional ou o estrangeiro? Em igualdade de circunstâncias, o nacional, indubitavelmente! Ao treinador estrangeiro, em terra alheia, sem o domínio da língua nativa (e não é linguagem o desporto?) e desconhecendo o futebol como expressão de uma cultura que lhe é estranha – escasseiam-lhe, normalmente, ao nível do agir e do inteligir, uma larga soma de dados imprescindíveis ao exercício da sua profissão… longe do seu país!

É uma antiga questão esta da existência ou não-existência de características nacionais, no futebol. De facto, que realidade traduz a designação brasileiro, inglês, soviético, aposta ao vocábulo futebol? Há futebol brasileiro, ou futebol no Brasil? Há futebol inglês, ou futebol na Inglaterra? Há futebol coreano, ou futebol na Coreia?

Tentemos estabelecer a noção de futebol: ele é um desporto colectivo, com as regras por todos conhecidas e dependente do génio individual dos jogadores, da capacidade de liderança do treinador-principal e da organização global dos clubes. Mas os elementos raça, geografia, língua, tradições, cultura, etc. singularizam o futebol dos diversos países? Indubitavelmente! Por isso, existe o “futebol sambado” do Brasil, o “futebol atlético” dos ingleses, o “futebol racionalista e geométrico” de alguns Países da Europa Central.

O futebol também interpreta o real, à sua maneira; também ele é uma visão do mundo, existindo no plano do conhecimento não consciencializado; também ele resulta da sensibilidade peculiar de um povo. O futebol pode fazer suas as palavras de Ortega y Gasset: eu sou eu e a minha circunstância!

Tudo isto, para concluir que aposto nos treinadores nacionais, no cotejo com os estrangeiros, para dirigir e orientar as nossas equipas de futebol (ou de qualquer outra modalidade desportiva). Desde que sejam treinadores que aliem uma prática incessante (de treinadores, logicamente) a uma teorização rigorosa.

A grande mensagem que o José Mourinho, Manual Jesualdo Ferreira, o Carlos Queirós, o Nelo Vingada, o José Peseiro, o Mariano Barreto, o Manuel Machado, o Carlos Carvalhal, o Rui Dias e outros mais licenciados em Desporto pretendem transmitir ao futebol português (e não só) é esta: também é preciso estudar, para se obterem vitórias, no futebol. Também aqui a teoria e a prática deverão existir em função uma da outra, visando não só um saber, mas uma sabedoria.

Recordo a terminar Cândido de Oliveira, Fernando Vaz, Mário Wilson, Manuel Oliveira, José Maria Pedroto, Artur Jorge, Jorge Jesus, Manuel Cajuda que, sem um curso universitário de Desporto, anunciaram, à sua maneira, que a teorização é indispensável à prática de treinador de futebol – o que fazem os que tiveram, como professores, o Manuel Jesualdo Ferreira, o Mirandela da Costa, o Carlos Queirós e o Nelo Vingada, no ISEF de Lisboa, e o Vitor Frade, no ISEF do Porto!

No entanto, é de exigir aos licenciados que escutem, com humildade, os que levam anos e anos de futebol. É que também o futebol se teoriza, no quadro de uma inegável dimensão histórica, social e política. Ocorre-me o conceito de “prática-teórica” de Louis Althusser, ou mesmo a “teoria-prática” de Gyorgy Lukács.

Por mim, quero denunciar, tanto o idealismo da “teoria pura”, como o pragmatismo de uma prática a-céfala; tanto uma dialéctica unicamente de categorias e de conceitos, como a “consciência espontânea” (altamente tributária da tradição e do passado) dos que não estudam e abdicam do papel orientador da teoria.

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal.

Para interagir com o autor: manuelsergio@universidadedofutebol.com.br

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Base do sucesso

Na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2005, quando o Flamengo quase foi rebaixado, mas se recuperou e se salvou com Joel Santana no comando, terminando a competição apenas na 15ª colocação, Leonardo Moura era o lateral-direto rubro-negro, na goleada de 4 a 1 no Paysandu.

Na estreia do Brasileirão-06, derrota para o São Paulo por 1 a 0, no Morumbi, apenas Leo Moura já estava no time que parecia coadjuvante na competição. Foi o 11º. Mas ganhou a Copa do Brasil. Na última partida na temporada, 4 a 1 no São Caetano, Leo ganhou a companhia de Bruno, Ronaldo Angelim, Juan, Toró e Bruno Mezenga.

Na estreia do torneio nacional de 2007, derrota por 4 a 2 para o Palmeiras, no Rio de Janeiro, Bruno, Angelim, Juan e Mezenga atuaram. Na derrota para o Náutico por 1 a 0, Bruno, Leo Moura, Angelim, Juan e Toró estavam na última rodada, fechando espantosa recuperação que terminou no terceiro lugar do Brasileirão.

Na estreia do Campeonato Brasileiro de 2008, vitória sobre o Santos por 3 a 1: Bruno, Leo Moura, Angelim, Juan, Toró e Kleberson. Todos em campo. Na derrota para o Atlético-PR, no Paraná, por 5 a 3, na última rodada, todos eles (menos Kleberson), e mais Everton, Aírton e Maxi. O Flamengo acabou na quinta colocação. Com seis titulares que fariam a mais que merecida festa do hexa, contra o Grêmio, no Maracanã, na última rodada do Brasileirão-09.

O modelo de gestão do Flamengo é a exceção que confirma a regra, na análise do jornalista André Rocha. Não é para se repetir o que fez o Flamengo em 2009, e nos últimos campeonatos. São mais de R$ 300 milhões em dívidas, que não são compensadas pela receita triplicada nos últimos cinco anos. Mas, dentro de campo, sob o sereno comando de Andrade, as coisas se acertaram. E foram ainda mais certas pela camisa que veste Andrade. O Flamengo tem algumas coisas a mais quando chega para decidir. E teve algo a mais, como todo clube campeão, por começar a montar esse time de 2009 ainda em 2005. Acertando e errando, o final das contas é muito melhor que a encomenda. Justamente por manter uma base.

Um dos tantos segredos conhecidos do Flamengo foi esse. Um time que apostou em Petkovic para acertar uma dívida contábil risível em maio, e saiu em dezembro com o sorriso mais que escancarado pelo acerto histórico do investimento. Diferente de Adriano, que traz consigo um combo de problemas, mas um pacotaço de soluções, Pet era dúvida, era dívida, virou um mito impagável. Gratidão eterna. Dois dos nomes que fizeram o 4-2-3-1 de Andrade dar certo muito além da encomenda rubro-negra.


Andrade mudou o Flamengo de Cuca

Segredos

Um dos tantos méritos do jovem treinador velho de Gávea é que ele pôs o dedo em dogmas e não saiu chamuscado pelas mexidas ousadas. Saiu campeão. Hexacampeão: ao recuar os alas Leo Moura e Juan como laterais, com mais obrigações defensivas e menos liberdades ofensivas, não perdeu qualidade à frente, e ganhou consistência atrás. Muito pelas apostas pontuais nos experientes Álvaro, que fez ótima parceria com o sempre correto Angelim (mais que merecedor do gol do título), e de Maldonado, volante-zagueiro, zagueiro-volante, que tem a capacidade de arrumar um sistema defensivo.

Não apenas o ajuste na retaguarda foi notável. Andrade não tinha um bom parceiro à frente para o imperador depois da saída do sheik Emerson. Denis Marques não deu jogo. O que fez o treinador? Adiantou o volante Willians como meia aberto pela direita. Mais à frente, ele conseguiu ser o jogador que mais driblou e recuperou bolas. Um assombro. Adriano pôde ficar isolado à frente. Porque os três meias sempre chegaram.

Outra recuperação notável foi anímica, técnica e física de Zé Roberto. O jogador que flanava passou a flutuar entre o centro da armação e o lado esquerdo rubro-negro, trocando de função com Pet. Assim desmontaram o então líder Palmeiras, no Palestra, num jogo-chave. Assim partiram para o hexa incontestável.

Como? Jogando bola. Jogando simples. Usando uma base. Um dos tantos segredos do terceiro colocado São Paulo. Dos principais times do equilibradíssimo Brasileirão-09, foi o que menos mudou de 2008 para 2009. Em time que está ganhando se mexe, também. Mas não muito. Sete titulares eram os mesmos do tri. Mesmo com outro treinador, o 3-1-4-2 foi mantido. E deu em bela recuperação estancada pelo Flamengo. E pelo Inter. Um que teve dois treinadores. Variou de nível e regularidade. Perdeu a promessa de craque Giuliano para a Sub-20. E perdeu um título que parecia ganho. Quase sempre mantendo o 4-2-2-2 padrão, com variação para um 4-3-1-2. Foi outro que pouco mexeu a base: manteve quatro titulares de 2008 para ser vice-campeão nacional.

Belo exemplo é o Cruzeiro. Poderia terminar o ano disputando o Mundial contra o Barcelona. Caiu no Mineirão para o não mais que certinho Estudiantes de Verón. Caiu num bode de dar dó. Mas fez um baita returno, semelhante ao rubro-negro, ultrapassou o rival figadal, e na última rodada venceu o Palmeiras na luta pela vaga na Libertadores-10. Sempre baseado no 4-3-1-2 tão caro a Adilson. Mas quase sempre tão eficiente. Apesar da marcação um tanto frouxa, e da perda de gente de qualidade durante a campanha. Ah, sim: com cinco titulares de 2008 mantidos.

Mas se é para falar de perda, depois de 19 rodadas na ponta, perder o penta e até a Libertadores é demais. O Palmeiras demitiu Luxemburgo em quinto lugar, achou um ótimo interino como Jorginho que deixou para Muricy o clube em primeiro lugar. Até cair pelas tabelas e cair fora do sonho do bi sul-americano. Perdendo titulares, perdendo para os lanternas, perdendo a cabeça, se perdendo. Do 4-2-2-2 básico a um 3-4-1-2 nem sempre bem entendido, alguma coisa deu muito errado ao Palmeiras.

A começar por tantas mudanças. Entre os cinco primeiros do Campeonato Brasileiro de 09, nenhum time mudou tanto desde 2008. Apenas três titulares da boa campanha de então foram mantidos. Não é de um ano a outro que as coisas dão liga. E foi o que também não aconteceu no Palmeiras. Faltou paciência. O que sobrou a Andrade no Flamengo.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

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Fim de ano, tudo velho de novo

Fim de ano. Momento de retrospectivas, reflexões, muitas palavras, promessas bonitas, cheias de significados e valores. Período entediante para o aficionado pelo futebol, com poucas opções de jogos, apenas de falação. Período de especulações, negociações, renovações, contratações. Esse é o fim do ano.

Como praxe, a palavra em moda no futebol neste período é ”planejamento”. Novo planejamento, novas abordagens, gestão, profissionalismo, são termos que recheiam os jornais, entrevistas e todos os campus (utilizando aqui a noção de campus de Pierre Bourdieu.

Mas, infelizmente, é difícil ouvirmos falar em novas tecnologias ou, quando ouvimos, ficamos no plano ideológico e conceitual, como nos debates colocados aqui por nós, como no debate feito pelos portugueses disponibilizado na última semana.

O que fazer para que as palavras de fim de ano, em síntese, o dito planejamento, e, sobretudo, novas tecnologias, que nem são tão novas assim, possam chegar ao futebol de maneira objetiva e consistente, sem a batuta da desconfiança e do menosprezo, mas com a chancela de melhoria e inovações na prática do profissional? Eis a pergunta que me orienta para o próximo ano com intuito de discutir a tecnologia na prática.

Peço licença ao amigo para fazer as minhas breves reflexões a anseios de fim de ano. Confesso estar desapontado com o meio profissional do futebol, faço questão de não generalizar, que me desculpem os que se sentirem injustiçados.

Decepcionado por ver uma arrogância nos dirigentes que fecham os olhos para as inovações no futebol, que atinge também o meio acadêmico por rejeitar as “inovações “surgidas no futebol. Vide Dunga (ainda sob suspeita) ou Guardiola (que o tão famoso resultado do futebol o torna incontestável, simplesmente porque ganhou tudo o que disputou - vale a pena ler a coluna do amigo Rodrigo Leitão comentando sobre a estrutura e o planejamento do Barcelona como suporte extremamente importantes).

Decepcionado pelo descompromisso em fazer um futebol sério, e não precisamos ficar aqui na “utopia” (ainda que toda conquista tenha sido uma utopia de véspera) de fazer pensando no futebol como um todo, mas na “utopia” de fazer bem e de forma séria para a própria equipe.

Em síntese, faltam profissionais com visão do negócio e futuro do futebol, que saibam separar a paixão, ou melhor, canalizá-la nos “campus” específicos e pertinentes, para que não vejamos equívocos mil.

Eis meus sonhos para o próximo ano:

O futebol sem os erros absurdos da arbitragem;

Não ver mais os dirigentes, descontrolados com os resultados, tomarem ações ridículas;

Tribunais que desempenham seus papéis o ano inteiro não serem julgados (que ironia) pela pressão (da imprensa e clubes) popular apenas nas fases decisivas;

Que jogadores contratados e anunciados em janeiro como parte do planejamento a médio e longo prazo não sejam dispensados em abril;

Que os clubes comecem a investir em tecnologia e gastar menos com o “achismo” e possam, com base em dados e informações, qualificar, e ai sim, potencializar o feeling de seu profissional.

Enfim, poderíamos ficar até o final de 2009 enumerando algumas situações, ou de 2010, ou de 2011…ou sabe-se lá até quando.

O Papai Noel passou na última semana e disse-me que se eu for um bom menino no ano que vem, terei um grande presente. O problema é que para ser bom menino é preciso estudar, experimentar, vivenciar, planejar e executar…

Que venha 2010. Um grande ano a todos os amigos que me acompanham e que possamos, no próximo ano, debater ainda mais neste espaço.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Overbola

Desde 6 de dezembro que a bola, no Brasil, parou de rolar. Ou melhor. Pelo menos na teoria, o futebol brasileiro deveria se movimentar apenas nos bastidores nessas últimas semanas do ano. Mas, o que mais tem se visto país adentro nos dias que restam de dezembro é uma infinidade de “peladas” de final de ano.

Amigos do Cafu contra Amigos do Zezinho; Amigos do Zico contra Time das Galáxias; Amigos do Bairro contra Amigos da Rua e por aí vai.

Sim, é legal haver tanta festa assim na época do final do ano no Brasil. É algo que já começa a fazer parte do calendário até do investimento das empresas, interessadas em dar um retorno maior para clientes, amigos, funcionários. Eu patrocino o jogo que terá o Zico e faço uma ação de marketing envolvendo o Galinho. Ou, ainda, levo Ronaldinho Gaúcho para a cidade onde minha empresa tem atuação.

Até aí, nada de mal. Pelo contrário. Uma grande sacada e um novo mercado que se abre para o marketing no futebol. Mas o problema é quando começamos a ver quase todas essas “peladas oficiais” sendo transmitida na televisão. Aí é que a coisa começa a ficar um pouco fora do propósito.

Um dos maiores problemas para o desenvolvimento do esporte no Brasil é a preferência descarada da mídia em falar de futebol, subjugando as demais modalidades e colocando-as num estado de completo abandono.

Quando o privilégio ao futebol é justificado pela qualidade do produto e a relevância dos torneios em disputa, tudo bem. Mas como defender que os principais canais de esporte do país abram espaço em sua grade de programação para exibir partidas com ex-atletas de 40, 50 e até 60 anos de idade?

Sim, tudo bem, é muito legal poder rever Zico, Andrade e Adílio em ação. Além de Júnior, Edu Coimbra e mais um monte de craques por aí.

Mas a overbola começa a ser um problema para o próprio futebol. A overdose na transmissão de bola na telinha no Brasil pode começar a fazer mal para o fortalecimento dos clubes e dos campeonatos pelo país.

Qual a expectativa que se pode criar em torno dos campeonatos estaduais, por exemplo, se só deixaremos de ver futebol na televisão por nem ao menos uma semana (a Copa São Paulo de Juniores já começa logo após a chegada de 2010)?

As maiores audiências da televisão estão no futebol. Isso é inegável. Mas até mesmo o mais fanático consumidor de futebol na telinha precisa de pelo menos umas semanas de férias. É natural. Até para descansar um pouco os ouvidos dos mesmos narradores e comentaristas de sempre.

Mais uma vez a mídia, em busca da audiência, acaba prejudicando o esporte. Que neste 2010 que se aproxima possamos viver uma nova era para a transmissão do futebol na TV. O conteúdo, mais do que nunca, tem de ser valorizado. Pode ter certeza que ele se encarrega de elevar o índice de audiência.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br