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O jogo de futebol, a saída jogando e a posição do corpo

O jogo de futebol moderno exige, cada vez mais, qualidade nas decisões e ações sob pressão espaço-temporal. É tendência no jogar das equipes de alto nível o adiantamento coletivo das linhas de marcação e a indução do adversário ao erro na tentativa de recuperação da posse de bola mais próxima da meta oponente.

Em resposta ao pressing do adversário, equipes que priorizam o jogo construído, e não a ligação direta, necessitam de mecanismos individuais e coletivos devidamente ajustados às circunstâncias do jogo para retirar a bola do setor de pressão e dar sequência ao momento ofensivo na tentativa de concluir a jogada com finalização.

Tais mecanismos individuais e coletivos, como abertura de linhas de passe, desmarcações, ampliação do espaço efetivo de jogo, formação de triângulos e qualidade técnica de passes curtos e longos, são competências que, se aplicadas, minimizam a ocorrência de perda da posse de bola e, estatisticamente, aproximam a equipe da vitória (se aliadas às demais ações relativas ao cumprimento da Lógica do Jogo).

O treinamento de todas estas ações em especificidade, como habilidade aberta, imprevisível, logo semelhante às situações-problema que acontecem no jogo, pode potencializar os acertos no ambiente competitivo. Uma tarefa complicada tanto na formação quanto no profissional se inserirmos no contexto a pressão por resultados (e o consequente detrimento do espetáculo), o risco de perder a posse de bola em regiões do campo próximas à própria meta e a qualidade técnica contextualizada especialmente de zagueiros e goleiro que, em linhas gerais, são pouco estimulados em fases sensíveis de aprendizado das competências essenciais (relação com a bola, estruturação do espaço e comunicação na ação).

Os treinadores que mesmo cientes do referido contexto e, respaldados ou não, optam pela saída jogando com qualidade precisam atentar-se a todos os detalhes que darão efetividade a esta ação ofensiva.

Um detalhe que, recorrentemente, necessita de ajustes refere-se ao posicionamento corporal dos jogadores responsáveis pelas ações iniciais de construção.

O goleiro tende a ficar com o tronco de frente para a bola, semelhante ao posicionamento para defender. Desta forma minimiza a participação na saída jogando, pois reduzem o campo de visão e, consequentemente, as possibilidades de ação caso receba um passe.

Bolas recuadas para goleiros, geralmente, exigem dos zagueiros um posicionamento corporal que deixem suas costas voltadas para a linha de fundo ou para a linha lateral. Caso estejam próximos à linha da bola a primeira opção é a mais recomendada, caso estejam à frente da linha da bola, a segunda opção tende a ser mais efetiva. Em ambos os casos o posicionamento ideal busca um maior alcance da visão para o processo de decisão-ação. É muito comum observar em bolas recuadas para o goleiro, os zagueiros correrem de costas para o gol adversário, esta ação restringe sistemicamente as opções de passe do goleiro que acaba forçado ao chutão.

Laterais e volantes também necessitam de ajustes constantes no posicionamento corporal. Laterais que recebem a bola de costas para a faixa lateral do campo tendem a perder boas opções de progressão vertical no campo de jogo por condução ou passe. Se optarem por voltarem o corpo para a meta adversária após receberem o passe, perdem segundos preciosos na busca por desequilíbrio na organização defensiva adversária.

Do mesmo modo, volantes que recebem a bola de costas para a meta adversária têm como opção predominante o passe para trás, que distancia a equipe da meta adversária. Logo, movimentar-se para receber em diagonal pode facilitar a percepção da chegada de adversário e se é possível girar o corpo (para ficar de frente para a meta adversária) para dar sequência à ação ofensiva.

Como sabemos, a equipe é um organismo vivo em que suas ações influenciam e são influenciadas por todos os elementos do sistema, inclusive os adversários. Posicionar bem o corpo para sair jogando é apenas mais um dos milhares de ajustes que devem ser feitos em uma equipe para a boa prática do jogo de futebol.

Já cansamos de ouvir que futebol é um jogo de detalhes. Então, é melhor não duvidarmos e treinarmos todos eles.

Abraços e até a próxima semana.

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Minha casa, minha vida em Itaquera

Guerrero, autor do gol mais internacional da história corintiana, deu o primeiro toque na bola da mais corintiana casa.

Assim começou o primeiro jogo alvinegro no estádio de todo o povo (para os muitos que não aceitam dinheiro público em sua construção, e para os que jamais imaginaram que um dia “eles” teriam estádio).

E que belo estádio. A casa do Corinthians começou a ser usada segundos antes de uma chuva de granizo derrubar troncos na região do Morumbi – onde tantas vezes o Corinthians foi Timão, como em 13 de outubro de 1977, como na conquista do primeiro Brasileiro, em 1990, como no início da campanha do primeiro Mundial, em 2000.

No Pacaembu, 16h33 do domingo de estreia em Itaquera, chovia como havia dias não chovia tanto e tão feio.

É a hora desta foto que mostra as torres de iluminação que ficam atrás da arquibancada central do velho Paca. De onde saíram os fogos de artifício em 4 de julho de 2012, na celebração da Libertadores que, como a casa do tamanho da torcida alvinegra, parecia que nunca aconteceria. Nunca existiria.

“Nunca serão”?

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Em Itaquera, quando esta foto foi tirada, eram 31 minutos de jogo ruim. Corinthians estreando em sua casa, sua vida, contra o Figueirense.

Chuva fortíssima nos estádios onde mais jogou o Corinthians em São Paulo. Tarde feia, fria. Sem vida como ficou o estádio de todos os paulistanos, e ainda mais dos corintianos. Não tinha nada além de água no Paulo Machado de Carvalho numa tarde de futebol (por mais que não tenha jogado futebol o Corinthians em 90 minutos inaugurais em Itaquera).

Só sei que tudo que não se via no Pacaembu era saudade.

Só sei que aquela água toda pela cidade não era comum.

Não vou tentar explicar. Não sei. Como também não sei como o Corinthians jogou tão mal contra um rival tão frágil. Vai ver que a Fifa pediu para poupar o gramado, as traves, sei lá.

Só sei que não importa tanto a derrota feia para o Figueirense na festa tão bonita. O que vale, depois de décadas de tentativas frustradas, de gozações alheias, de dinheiro mal empregado, de negociações bizarras, e de um estádio erguido a toque de caixa (e que caixa, e que toques), o corintiano tem sua casa, sua vida.

Onde, depois do primeiro toque de Guerrero, ele verá outros batalhadores em português guerreando, lutando, brigando, corintianando.

Para o bem dos corintianos, para o mal dos adversários, Itaquera não é logo ali. É bem longe daqui.

Mas vai ficar cada vez mais perto. Não vai ter em campo tanta gente ótima de Neco e Neto, de Luizinho a Rivellino, de Marcelinho a Tevez, de Rincón a cada canto do novo campo. Mas surgirão novos nomes próprios e muito comuns de uma paixão inominável. De um estádio que não gostam que chamem de Itaquerão e nem de Arena de São Paulo. De uma praça multiuso que é Arena do Corinthians enquanto não se vende o nome de direito.

Mas que é de cada José, Maria, João, Pedro, Mariana, Wallyson, Shirley. Nomes que vão contar muita coisa no novo lar. Nomes que ainda não sabemos como serão, quando serão, quantos tantos serão.

Só sabemos que tantos serão como nunca. Ou como sempre.

Bem-vindo à casa, Corinthians. 

 

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

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Experiência

Um evento-teste. Menos de 30 dias. Muita coisa a ser feita. Inaugurado oficialmente no último domingo, o novo estádio do Corinthians, situado na Zona Leste de São Paulo, passou pela maior prova antes de 12 de junho, quando receberá a abertura da Copa de 2014. A partida contra o Figueirense, válida pela quinta rodada do Campeonato Brasileiro, escancarou muitos aspectos que precisam ser ajustados até o início do Mundial. Mas a operação do evento também mostrou que a casa não será suficiente para ter depois da competição um novo patamar de evento.

O jogo entre Corinthians e Figueirense teve 36.123 pagantes, com uma renda de R$ 3,02 milhões. O time paulista amealhou R$ 2,3 milhões em receita líquida (valor que considera os descontos em impostos, taxas e despesas do evento), maior lucro do futebol brasileiro em 2014.

Houve muitos pontos positivos – o transporte público mostrou-se alternativa viável para o estádio, os orientadores funcionaram e o gramado foi elogiado por atletas e técnicos, por exemplo. Mas o primeiro jogo oficial também escancarou falhas da arena: goteiras, sinal intermitente de telefonia, falhas na conexão com a internet, elevadores que deixaram de funcionar e longas filas nos poucos bares que estavam em funcionamento.

O torcedor que foi ao estádio também saiu frustrado com o que aconteceu em campo. O Corinthians mostrou futebol pobre de ideias, com poucas alternativas ofensivas, e perdeu por 1 a 0 para o Figueirense, que ocupava a lanterna do Campeonato Brasileiro e ainda não havia anotado um gol sequer na competição.

Entre o que não funcionou, é possível que muito seja acertado até a Copa do Mundo. O estádio teve muitos problemas decorrentes de uma operação incipiente, e isso pode ser revisto antes de 12 de junho. Elevadores deixaram de funcionar por quedas de energia e manutenção, por exemplo. Sinais de telefonia e internet terão reforços até 12 de junho.

Mas um estádio é apenas uma casca, e o jogo é apenas um trecho do produto que ela envolve. O torcedor não compra uma partida de futebol, mas uma experiência. E isso é o que os organizadores precisam entender sobre a nova casa do Corinthians.

O torcedor precisa ser visto como um consumidor comum. E a experiência de um consumidor comum não se limita ao tempo em que ele está dentro do estádio. A avaliação sobre o aparato está intrinsecamente ligada ao que acontece antes e depois.

A preocupação com o torcedor, portanto, deve começar com um exercício de promoção dos eventos. Quem sabia, afinal, qual seria o jogo em Itaquera no último domingo e em quais condições o Corinthians enfrentaria o Figueirense? Onde estava a comunicação visual no bairro e nas zonas em que o público-alvo mais circula?

Depois disso, é importante convencer as pessoas a comprarem o evento. Isso envolve oferecer condições, prover serviços e entregar a elas os ingressos. Também é fundamental planejar deslocamentos e a experiência que os torcedores terão no interior da arena.

Tudo isso faz parte do tal “padrão Fifa”. A entidade estabelece uma série de parâmetros para assegurar prestação de serviço e uma parte da experiência do público – é por isso que o posicionamento de cadeiras no interior dos estádios de Copa é sempre similar.

A questão é: e o intangível? Em que pontos o torcedor foi surpreendido e recebeu mais do que o pacote padrão? O que ele teve, do momento da compra até a hora em que voltou para casa, que fez o jogo ser um evento inesquecível?

É isso que os organizadores de jogos no Brasil precisam considerar. Planejar a experiência do torcedor não pode ser apenas zelar pela excelência de serviços, mas criar realmente um ambiente que transforme o significado do evento.

Essa é a lógica que os parques da Walt Disney ensinam para o mundo há anos. Os brinquedos de lá também têm filas, mas aproveitam o momento de espera para bombardear os usuários de vídeos, atividades e informações. Até o posicionamento de lixeiras é pensado para balizar a experiência de quem frequenta as atrações.

A Fifa segue algumas dessas premissas ao criar padrões para a Copa do Mundo, mas o futebol ainda está longe da realidade que os parques vivem há décadas. E se o futebol de Copa sofre, o esporte do cotidiano tem uma necessidade ainda maior de assimilar esse tipo de conceito.

O novo estádio do Corinthians pode ter um público orgânico nos primeiros jogos, formado por curiosos e carentes por outros tipos de espetáculo. Depois, porém, a sobrevivência do aparato dependerá muito do que for proporcionado ao espectador.

Nesse caso, vale para o estádio a lógica de um bar ou restaurante: a inauguração pode ser um sucesso e atrair muita gente. Depois, alguns curiosos podem querer conhecer e ver as atrações locais. O desafio é segurar esse fluxo.

E fluxo, em qualquer empreendimento comercial, só se constrói com experiências. É isso que o futebol precisa aprender a vender. 

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Machismo também é preconceito

Realmente muito bonita, a assistente de arbitragem Fernanda Colombo Uliana, de 23 anos, iniciou o clássico entre Atlético e Cruzeiro recebendo todos os holofotes da imprensa.

Após a partida os holofotes novamente se voltaram para a assistente, mas, desta vez pelos erros cometidos, especialmente, por um impedimento inexistente em um contra-ataque, onde o meia-atacante Alisson sairia de frente para o goleiro do Atlético.

O diretor de futebol do Cruzeiro manifestou publicamente sua insatisfação com os erros, e, mais precisamente teceu comentários polêmicos acerca da bandeirinha Fernanda Colombo Uliana. Segundo o dirigente, ela deveria posar na “Playboy”.

Logo o Cruzeiro que, meses antes, ficara marcado pela luta contra o racismo no futebol em razão das manifestações da torcida peruana contra o volante Tinga na partida contra o Real Garcilaso pela Libertadores da América, acabou por protagonizar atos de preconceito contra uma mulher.

Ora, machismo é tão preconceito quanto racismo.

Segundo o artigo 243-G, do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, constitui infração disciplinar praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.

Assim, as declarações do dirigente mineiro são passíveis de suspensão de pelo prazo de cento e vinte a trezentos e sessenta dias, além de multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Infelizmente, o machismo é uma constante em nossa sociedade, sobretudo no futebol e a reação do dirigente celeste corrobora isso. O machismo deve ser combatido tanto quanto o racismo, a homofobia e a intolerância religiosa.

Em nome do machismo homens agridem suas mulheres física e psicologicamente e isso precisa acabar.

Na sociedade atual não há mais espaço para atitudes machistas. Lugar de mulher bonita não é na “Playboy” e lugar das “mães de família” não é na cozinha.

As mulheres, após décadas de repressão, já provaram que podem ser melhores e mais competentes que os homens em áreas antes predominantemente masculinas e o medo de perder espaço tem reacendido perigosamente a chama machista.

Se houve erro, que a assistente catarinense receba a punição aplicável e não seja achincalhada pela sua beleza física e que a Justiça Desportiva aplique punições severas contra atos de discriminação no futebol e em qualquer modalidade esportiva. 

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A importância de escutar

Ano de Copa do Mundo de Futebol no Brasil, com campeonato Brasileiro das séries A e B e Copa do Brasil em andamento, muitos desafios tanto para os treinadores das seleções quanto para os treinadores dos clubes do Brasil.

Muitos esperam brilhar na competição mundial e outros anseiam por bons resultados nos campeonatos nacionais, porém todos estão conseguindo escutar de maneira eficaz seus atletas?

Todo treinador pode desenvolver sua capacidade de escutar ativamente seus atletas e com isso colher ótimos benefícios para o seu trabalho. Mas não pensemos que escutar de maneira adequada e estruturada é tarefa fácil, afinal de contas o ser humano gosta muito mais de falar do que escutar. Ainda mais em tempos de tecnologia cada vez mais presente em nossas vidas.

Escutar ativamente o atleta pode contribuir para solucionar pequenos problemas que ao serem deixados de lado, podem causar enormes impactos no rendimento do atleta e também das equipes.

No livro Ferramentas de Coaching encontramos uma boa referência sobre a escuta estruturada, na qual podemos compreender que a escuta estruturada parte do pressuposto que todo treinador passa a ser um bom ouvinte quando ele consegue:

Encorajar ou outro a falar – Ao se transmitir sinais verbais e não verbais ao atleta, o treinador demonstra que está envolvido na conversa e com o que o atleta deseja falar. Os sinais como pequenos acenos de cabeça, sorriso leve e a sua postura corporal são capazes de demonstrar seu interesse. Tudo aquilo que seja genuíno como sinal de encorajamento pode ser aplicado pelo treinador, para que sua escuta seja favorecida.

Clarificar aquilo que se houve – O treinador enquanto bom ouvinte pode mostrar com frequência que está compreendendo o que o atleta está falando. Ao solicitar regularmente que o atleta esclareça alguns pontos da conversa, o treinador está demonstrando que está realmente escutando interessadamente o que está sendo dito.

Sintetizar – O treinador pode desenvolver a percepção de saber encontrar os momentos certos na conversa para solicitar ao atleta que resuma ou sintetize o que ele disse, evitando com isso que o atleta se perca em detalhes menos importantes para o contexto da conversa e perca o foco.

Refletir sobre o que foi falado – Este é o momento no qual o treinador e o atleta podem compartilhar o que cada um percebeu de mais importante na conversa, é um momento muito importante para o treinador, pois aqui ele demonstra que escutou efetivamente seu atleta.

Cabe a cada treinador procurar desenvolver sua capacidade de ouvir seus atletas, pois esta competência é muito importante para o seu trabalho diário e pode fazer uma enorme diferença nos relacionamentos e na gestão do ambiente de sua equipe.

Até a próxima! 

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O problema é…

Vejo muita gente criticar setores específicos dentro de clubes e entidades esportivas, como o “Departamento de Marketing”, a “Comissão Técnica” ou o “Departamento de Base”, para ficarmos em três exemplos. Nestas críticas, os questionamentos passam pela inoperância do setor ou mesmo incompetência dos profissionais que atuam naquela área.

Mas poucos vão a fundo nestas análise, indicando até uma visão míope sobre o modus operandis destas organizações. Poucas vezes vi uma crítica clara sobre a gestão (ou inexistência de) que, mais das vezes contribui para que não haja qualquer pensamento criativo ou inovador.

Em processos de consultoria que participei recentemente, na grande maioria dos casos, boa parte das soluções estava “dentro de casa”. Profissionais desmotivados ou sistema político turbulento impediam qualquer avanço organizacional, apesar da competência de muitos colaboradores que estavam ali dentro.

O que estou querendo dizer é que, ao criticarmos determinados setores dentro de organizações esportivas, não se é possível olhar com uma visão minimalista e simplista sobre uma única área. Às vezes o problema pode estar ali sim, mas tenho certeza que na grande maioria dos casos o problema é muito maior e tem a ver com uma gestão que não dialoga com o todo.

Pensar mais na gestão como facilitadora para o crescimento organizacional talvez seja o primeiro passo para o desenvolvimento das entidades esportivas. 

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A união faz a força?

Estabelecer padrões para discursos é uma das tarefas mais complicadas de qualquer organização. É fundamental que os porta-vozes reflitam não apenas unidade entre si, mas adequação com valores e metas da marca que eles representam. E tudo isso sem que eles pareçam pasteurizados ou falsos.

Nos últimos dias, o jogador Paulo Henrique Ganso e o técnico Muricy Ramalho têm oferecido vários exemplos disso. Eles não chegaram a discutir, mas mostraram que falta unidade ao discurso do São Paulo.

Por exemplo: em tom de brincadeira, Muricy cobrou Ganso publicamente no fim de fevereiro. O técnico comparou o time atual com o da época em que ele era jogador e disse que era melhor do que todas as opções de hoje.

“Neste time eu pegava [a camisa] oito e jogava o resto pra cima. Era uma distância enorme para o Ganso, e vocês não precisam ter dúvida disso”, disse o técnico do São Paulo em entrevista coletiva.

Questionado sobre as declarações, Ganso tergiversou e tentou contemporizar. Mas esse foi apenas o primeiro episódio de desacordo entre o meia e o treinador.

Ganso foi sacado do time titular que empatou por 2 a 2 com o Coritiba em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro. E respondeu com a seguinte autoanálise: “Não tem no Brasil hoje um jogador que faça a mesma função que eu. Eu sei que eu sou um dos melhores armadores que nós temos”.

Quando Ganso entrou em campo, o São Paulo perdia por 2 a 1. Autor da assistência para Ademilson empatar, o meia criticou em entrevista coletiva o sistema tático que o time paulista adotou no início da partida.

“Aqui não tem Pato e não tem Ganso, mas tem grupo. Não são apenas 11, mas 30 que jogam”, respondeu Muricy no mesmo dia.

No último domingo, a relação conturbada entre técnico e camisa 10 teve mais um capítulo. Muricy evitou fazer elogios a Ganso, um dos destaques em um empate por 1 a 1 com o Corinthians, e enalteceu o desempenho coletivo.

“É o que ele tem de fazer, mas precisa participar mais. É a função dele. É quem faz a ligação”, opinou Muricy.

Ganso, em contrapartida, mostrou-se satisfeito com a atuação e preferiu dizer que o São Paulo precisa evoluir na parte coletiva: “Se queremos chegar ao título, temos muita coisa para crescer. Temos de rodar a bola, achar os espaços e fazer os gols”.

Ainda no clássico contra o Corinthians, Muricy invadiu o campo logo depois do apito final. O técnico correu na direção do meia-atacante Boschilla, cria das categorias de base do São Paulo, e vociferou reclamações. “Aqui não é Cotia”, disse o treinador em alusão à sede do centro de treinamento do futebol amador tricolor.

Muricy criticou Boschilla por desatenção e falta de compromisso com a parte tática. E só foi contido quando Ganso interveio e retirou o jogador da discussão. “Eu afastei o Boschilla para que eles pudessem continuar a conversa no vestiário”, relatou o camisa 10.

Em menos de dois meses, Ganso e Muricy discordaram publicamente sobre o esquema tático do time, a participação do meia, o nível de evolução da equipe e até o melhor ambiente para uma bronca em um jogador mais jovem.

Se tivessem sido no vestiário, longe dos holofotes, essas conversas entre jogador e técnico podiam ter sido importantes para estabelecer um meio-termo e ajudar no desenvolvimento da equipe. Do jeito que elas ocorreram, só conturbaram o ambiente.

Aí é que entra o desafio da comunicação: é importante que os discursos não sejam pasteurizados, mas esse nível de dissonância só cria repercussão ruim.

É por isso que grandes corporações têm departamentos de comunicação ativos, que não apenas planejam o que e quando aparecer na mídia. Esses setores também trabalham internamente para a criação de culturas unificadas e adequadas aos valores da instituição.

Isso é mais nítido em empresas que fazem grandes aquisições. O Grupo Pão de Açúcar fez um trabalho para mostrar a funcionários do Extra, por exemplo, quais são os valores da empresa, por que cada procedimento é adotado e por que o discurso deve seguir um padrão determinado.

A Hypermarcas, empresa acostumada a fazer aquisições, tem uma equipe apenas para garantir que as companhias absorvidas poderão se alinhar ao pensamento da corporação.

Ganso e Muricy são apenas um exemplo do quanto isso faz falta no futebol. A Fifa e o Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014 também são: trocas públicas de acusações e recados velados de ambas as partes.

É aí que entra a necessidade de um planejamento de comunicação que não pode ser apenas refratário. De uma forma geral, a cultura de atendimento a profissionais da imprensa já evoluiu drasticamente no futebol. A cultura de veículos oficiais também. O que falta é um trabalho institucional.

Luiz Felipe Scolari parece fazer isso de forma empírica com a seleção brasileira. Em 2002 e no time atual ele criou ambientes de “família”, colocou valores coletivos acima das metas individuais, trabalhou com objetivos claros e mostrou comprometimento com quem faz parte do grupo. São estratégias claras para a formação de um ambiente coeso.

Scolari tem muito a ensinar a times de futebol no Brasil. Na comunicação, principalmente. 

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Violência no futebol: mais do mesmo

Na última semana um torcedor morreu, no Recife, depois de ter sido atingido por um vaso sanitário arremessado durante uma briga de torcidas depois da partida entre o Santa Cruz e o Paraná, válida pelo Campeonato Brasileiro da Série B. Duas privadas foram retiradas do banheiro, e atiradas de uma altura de 20 metros.

Ou seja, mais uma morte… mesmos discursos… e mesmo resultado… nenhuma medida efetiva.

Impressiona o fato de, ainda, debatermos temas superados em outros países como Inglaterra, Espanha e Estados Unidos.

Exemplos de sucesso no combate à violência pululam pelo mundo a fora, mas aqui no Brasil tentam “descobrir a roda” ao invés de se buscar um estudo das medidas implementadas em outros países.

Enquanto nosso Ministro dos Esportes vem a público explicar a violência, o presidente do Coselho Superior dos Esportes (CSD) (equivalente na Espanha), o advogado Miguel Cardenal, quando indagado sobre o clássico madrilenho que decidirá a Uefa Champions League, destacou que a Espanha é "un modelo en seguridad" na organização de grandes eventos esportivos.

Este paralelo demonstra o estágio de desenvolvimento de cada país.

Enquanto ainda nos preocupamos com torcidas organizadas e bebidas alcoolicas, Espanha e Inglaterra procuram as causas reais da violência a as atacam individualmente sem apontarem vilões.

Há uma série de medidas simples já adotadas com sucesso em outros países que sequer são aventadas no Brasil.

Na Europa, as pessoas que cometem atos de violência são realmente punidas e estes casos tronam-se exemplos a fim de desestimularem outros torcedores.

Ademais, ocorreu uma profunda remodelação de todos os estádios a fim de se conferir melhores condições de conforto e segurança.

Isso sem falar na facilitação na compra de ingressos, na criação de uma polícia especializada, altamente qualificada e competente para lidar com as demandas dos torcedores e nas campanhas educativas.

O “Report Taylor” (Inglaterra), a Legislação espanhola e os regulamentos das Ligas Profissionais Norte Americanas estão aí, basta estudá-las e adaptá-las à nossa realidade.

Enquanto isso, infelizmente, continuaremos comentando e relatando novos casos de violência no desporto brasileiro. 

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O bem-estar do atleta

Começa mais um campeonato brasileiro se inicia e alguns clubes começam a sentir os efeitos da troca recente da sua comissão técnica e isso não será um luxo destes, pois ao longo do campeonato será inevitável que outros clubes troquem de comando à beira do campo.

Ao contrário do que eventualmente pensamos, os atletas sentem e sentem muito toda essa mudança constante e aumento de pressão por resultados a cada novo ciclo que se inicia pela mudança instalada. E se assim funciona, fica uma dúvida: como podemos contribuir para a manutenção do bem-estar do atleta nos diversos momentos de turbulência de uma temporada?

Compartilho com você leitor a teoria do bem-estar de autoria do Psicólogo Martin Seligman, na qual ele nos ensina que esta teoria é essencialmente uma teoria da livre escolha, sendo composta por cinco elementos que abrangem as coisas que as pessoas livres podem escolher.

Estes cinco elementos são:

• Emoção positiva – esta emoção é a base da teoria do bem-estar, trata-se da sensação de felicidade e satisfação com a própria vida, podemos traduzi-la como o prazer, o conforto, a alegria que sentimos e identificamos como felicidade;

• Engajamento – é quando nos envolvemos tão plenamente numa atividade e ponto de perdermos a noção do tempo;

• Sentido – Refere-se à quando nos dedicamos a causas maiores do que nós mesmos;

• Relacionamentos positivos – Nos cercarmos de pessoas é um ótimo antídoto para lidar com os problemas da vida, muito poucas coisas positivas são solitárias. A prática da bondade produz um aumento momentâneo em nosso bem-estar maior do que qualquer outro exercício que já foi testado.

• Realização – Por mais que o caminho até o sucesso e a vitória seja árduo, todos continuam buscando avançar até seus objetivos por causa da sensação de compensação em conquista-los. A realização envolve engajamento, traz emoções positivas e pode contribuir com um sentido à vida.

Nenhum destes elementos de maneira isolada promovem o bem-estar, porém todos contribuem de maneira conjunta para ele. Para a vida de um atleta o bem-estar é de tanto valor, quanto para a vida de qualquer outra pessoa.

No livro Florescer, Martin Seligman apresenta dois exercícios muito valiosos para promover a melhora no bem-estar das pessoas que acredito sem valiosos também para os atletas.

Um dele é o simples exercício da gentileza, no qual sugere que uma pessoa sendo atleta ou não, encontre uma coisa totalmente inesperada a fazer e que traga um impacto positivo para outras pessoas. Faça esta ação no dia seguinte e observe o que acontece instantaneamente com seu humor.

Outro exercício, muito valioso também é a visita da gratidão! Este é muito importante, pois a gratidão tem o poder de tornar nossas vidas mais felizes e satisfatórias. Quando sentimos gratidão, nos beneficiamos da lembrança agradável de um acontecimento positivo em nossa vida. Aqui o mais legal deste exercício, quando expressamos nossa gratidão aos outros, fortalecemos nosso relacionamento com as outras pessoas e a sensação de expressar gratidão de forma atenciosa e intencional tem um enorme poder de contribuir para o nosso bem-estar.

Cada atleta geralmente possui alguma ou algumas pessoas que foram de grande importância em suas vidas para que se tornasse atletas profissionais e a prática deste exercício pode contribuir diretamente com a vida do atleta em momentos de turbulência ou dificuldade.

Deve-se fazer o seguinte:

• Feche os olhos e traga à sua mente o rosto de alguém ainda com vida que anos atrás tenha feito ou dito algo que mudou sua vida para melhor; alguém que você não tenha agradecido da maneira que gostaria e que você pudesse encontra-la frente a frente nas próximas semanas;

• Escreva uma carta de gratidão à esta pessoa e entregue-a pessoalmente. A carta precisa ser concreta, com declaração específica sobre o que ela fez por você e como isso afetou sua vida. Deve relatar ainda o que você faz agora na vida e mencionar que se lembra com frequência do que ela fez por você.

• Ligue para a pessoa e marque uma visita, agora o exercício fica ainda mais poderoso caso faça uma visita de surpresa. Caso a pessoa more distante, ligue sem motivo aparente e diga a essa pessoa que deseja ler uma carta que escreveu para ela.

• Quando chegar o momento leia a carta para a pessoa, perceba suas reações e se ela o interromper diga-lhe que deseja ler a carta até o final.

• Ao terminar conversem sobre o conteúdo da carta e dos sentimentos que sentem um pelo outro. Você verá que é uma experiência sensacional!

Toda vez que relembro deste exercício, penso no benefício que ele traz e como os atletas poderiam se beneficiar desta experiência para poderem enfrentar seus momentos difíceis.

E você amigo leitor, que tal escrever uma carta hoje? 

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De quem é mesmo a culpa?

Mais uma barbaridade. Mais uma história triste contada em inúmeros meios de comunicação (do Brasil e exterior) que remete ao nosso futebol. Novamente, o futebol brasileiro aparece nas páginas policiais. A morte do torcedor do Sport no jogo entre Santa Cruz e Paraná Clube na semana passada ao ser atingido por um “vaso sanitário” retirado do banheiro do Estádio do Arruda, em Recife, é mais uma que entra para as estatísticas perversas do futebol brasileiro.

Nas reportagens, o mesmo conteúdo, que tende a se repetir, infelizmente, por mais algumas vezes ainda neste ano nos campeonatos nacionais – sabe-se lá com que origem, com quais agremiações ou em qual cenário, mas com destino já sacramentado. Não se trata de uma previsão apocalíptica, apenas a constatação diante das atitudes que se costumam tomar.

Em termos de Justiça, a Desportiva é, de longe, a mais eficiente e rápida na punição a quem lhe cabe, que são os clubes (no caso citado, o Santa Cruz já perdeu mandos de campo e ainda poderá ser mais severamente punido com multas e outras sanções, seguindo os ritos processos do CBJD).

Mesmo assim, os clubes, diretamente interessados e afetados pelas barbaridades que ano após ano são acometidos em seus jogos (ou fora dele) parecem não se importar, ainda, com todo o circo que é montado sob sua marca e tutela pelas torcidas “organizadas” (ou marginais que se infiltram nestas entidades).

O mais impressionante de tudo isso é que, em pleno 2014, quem deveria zelar pela qualidade e entrega do espetáculo, bem como tentar evitar as consequências das punições que sofrem, não o faz. Já comentei, aqui na Universidade do Futebol, esta questão em outras situações no passado, da inércia dos clubes, que parecem ficar à margem de um problema tão complexo e crônico.

Como é comum, “terceiriza-se” o problema. Joga-se a culpa no governo e na polícia, que sabemos, não tem eficiência no tratamento de tantas outras questões que envolvem a segurança pública (enormemente demonstrada pelas estatísticas de criminalidade que assolam o país), quem dirá tratar com eficácia este tema igualmente complexo.

O mais impressionante é que, mundialmente, o tema segurança é tratado sim com enorme interesse por aqueles que “organizam e promovem o espetáculo esportivo”, em consonância, logicamente, com as leis e a Segurança Pública. Na sessão “The Big Debate” da revista Sport Business International (de março-2014, p. 74-75), há a explanação de ideias de especialistas e promotores de eventos para falar do assunto (na época, dialogando sobre a segurança ostensiva observada nas Olimpíadas de Inverno em Sochi). Por unanimidade, independente do tipo de evento, todos corroboram com a tese de que oferecer melhor segurança é fundamental para proporcionar uma atmosfera de evento mais positiva para o CONSUMIDOR.

Por aqui, ao tratarem como se o assunto “não pertencesse a eles”, parecendo ser “obra do acaso” ocorrer brigas generalizadas e mortes por força de uma partida de futebol, os clubes, ao negligenciarem um debate profundo, sério e definitivo sobre a violência, não deveriam ficar espantados com os números pífios de ocupação e frequência em seus estádios. Ora, para um espetáculo ruim e inseguro, quer se esperar uma atitude diferente de quem CONSOME?

Em síntese, não há como se terceirizar o problema. Há soluções já experimentadas em outras partes do mundo que servem de balizador no sentido de minimizar a violência em arenas esportivas, tendo sempre a colaboração e o interesse de quem organiza o espetáculo na construção de um projeto consistente. É preciso separar claramente as responsabilidades de “dentro do recinto esportivo”, pertencentes a quem promove o evento, para o que ocorre “do lado de fora”, que corresponde a ações regulares de segurança pública, somados a medidas de prevenção e de punição severa – ou melhor, o simples cumprimento da lei…