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“Bola em disputa”: um conteúdo da Lógica do Jogo nas tomadas de decisão dos jogadores de futebol

No dicionário Michaelis, um dos sinônimos para o verbo “disputar” é o verbo “competir”.

Colocar alguma coisa em disputa, então, significa colocar essa mesma coisa em competição.

Em um jogo de futebol, o tempo todo, a cada transmissão ou condução da bola, ela está se aproximando mais, ou menos, de ser colocada em disputa.

Isso quer dizer, em outras palavras, que quando os jogadores de uma equipe circulam a bola pelo campo (ou a conduzem, driblam, dominam), estão a todo instante aproximando-a ou distanciando-a de uma competição direta com o adversário.

Colocar ou afastar a bola da disputa durante uma partida de futebol é inevitável na construção do jogo de uma equipe.

Claro, quando a bola é colocada em disputa a partir da ação de um jogador, o risco de que ela seja perdida aumenta – assim como os dos desequilíbrios organizacionais decorrentes disso.

Muitas vezes, porém, colocá-la em disputa (por exemplo, com uma bola cruzada a partir da linha de fundo do campo, para um jogador que está atacando o espaço para tentar fazer o gol, contra dois defensores) é condição necessária para aumentar as chances de gol ou de uma vantagem organizacional.

O fato é que, no geral, dentro de uma curva de normalidade (verificado estatisticamente por esse que vos escreve), as equipes de futebol tendem a apresentar características típicas e de certo modo parecidas, jogo a jogo, no como e quanto colocam a bola em disputa em suas partidas.

Isso não quer dizer que, por vezes, fora da curva, equipes não possam colocar, com menos frequência do que a média “normal”, a bola em competição durante suas ações. E nem o contrário (equipes que colocam a bola em disputa o tempo todo em suas decisões circunstanciais de jogo)!

E ainda que pareça apenas uma “peça” informativa e óbvia para o jogo (colocar ou não a bola em disputa), convido aos leitores para enxergá-la (a “óbvia peça informativa”) como conceito primordial para ensinar/treinar/desenvolver jogadores a decidir/agir a todo instante durante o jogo.

Vejamos.

Imaginemos uma sequência ofensiva durante uma partida de futebol, que teve início com o goleiro em uma reposição, passou por cinco jogadores que trocaram no total de oito passes até que o desfecho da jogada fosse a finalização ao gol adversário.

Quantas vezes nessa sequência a bola esteve mais próxima de ser colocada em disputa? Nenhuma vez? Uma, três? Em todos os passes até a finalização?

Sob o ponto de vista daquilo que foi gerado como resultado final (o arremate ao gol), não há importância alguma sobre o número de vezes que a bola entrou em competição direta.

Mas, ao analisarmos jogo a jogo, uma grande quantidade de sequências ofensivas, fica evidente que quanto menos a bola é colocada em disputa na procura pelo gol, maiores as vantagens organizacionais que uma equipe conquista, e maior sua chance de construir sequências ofensivas que envolvam o adversário e terminem em finalização.

Então, em outras palavras, pode (e deve) fazer parte do conteúdo individual e coletivo de jogadores e equipes, saber potencializar, ou não, a cada ação, a colocação da bola em disputa, quando se domina, controla, conduz, passa e/ou finaliza uma jogada.

E, como conceito, o colocar ou não, a bola em disputa em uma ação, se distancia totalmente da ideia de evitar o confronto coletivo com o adversário ou a não busca pelo gol.

Saber evitar colocar a bola em disputa é um conteúdo que está subjugado a necessidade inexorável de cumprir com o objetivo do jogo a partir de sua Lógica.

Por isso abre um vasto leque de opções, caminhos e ideias, mas acima de tudo não deve perder conexão com a Lógica do Jogo – porque assim perderia sentido.

Da mesma maneira e ao mesmo tempo, cabe como conceito, em qualquer Modelo de Jogo, sem depender necessariamente da construção de um!

Mas, aí, já é uma outra conversa, tema para outro texto…

Por hoje, é isso!

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O alinhamento técnico nas categorias de base de um clube formador

O futebol brasileiro de formação passa por algumas transformações significativas. Recentemente, em um curso de treinadores promovido pela CBF, inúmeras foram as discussões relativas aos trabalhos desenvolvidos em diferentes clubes do futebol nacional. Dos procedimentos de gestão às questões mais específicas dos 90 minutos (ou menos, dependendo da categoria), muitas ideias, opiniões e exemplos foram debatidos com o objetivo de capacitar os inúmeros treinadores presentes para o aperfeiçoamento de suas atuações profissionais.

Neste ambiente de discussão foi possível perceber o quão consolidado está a importância dos projetos de longo prazo para a obtenção de jogadores que atendam as demandas do futebol moderno.

Quem acompanha minhas publicações já deve ter percebido que por vezes apresento alguns cases técnicos ou administrativos para que todo o conhecimento teórico que cada leitor busca seja tangível e com reais possibilidades de aplicação.

Esta semana, o case que será discutido é do clube que trabalho atualmente e que inicia seus primeiros passos de um projeto formativo, logo, de longo prazo.

Desde sua fundação, em 2010, será o primeiro ano que o Novorizontino, clube do interior do Estado de São Paulo, disputará a competição oficial organizada pela Federação Paulista de Futebol nas categorias sub-11 e 13. Além disso, voltará a competir nas categorias sub-15 e 17 e deve se organizar para a disputa da Copa São Paulo de Juniores em 2015.

Após dois anos de clube, como auxiliar da equipe profissional e, em 2013, técnico da equipe sub-20, atualmente, além de treinador das categorias de base exerço também a função de Head Coach, com a missão de coordenar os trabalhos técnicos das equipes de formação.

A seguir irei apresentar alguns projetos e ações que estão sendo (ou serão) implantados durante a temporada, com a atuação de um corpo técnico qualificado e que podem servir de referência ou exemplo para qualquer profissional da modalidade:

•Definição do perfil de captação;
•Formação dos elencos através de seletivas ou avaliações semanais com o elenco já aprovado;
•Definir as características do DNA do Tigre, considerando: a cultura do clube, o mercado, os Modelos de Jogo atuais e o indivíduo;
•Reuniões Técnicas Semanais para o exercício da capacitação continuada;
•Definição do Currículo de Formação do Clube;
•Distribuição dos Conteúdos do Currículo para cada Categoria;
•Padronização da Metodologia de Treinamento;
•Definição do Microciclo Padrão de cada Categoria;
•Aplicação de Ferramentas de Controle do Treinamento;
•Aplicação de Ferramentas de Controle de Competição;
•Desenvolvimento de uma Avaliação Interdisciplinar, com scores técnico, tático, físico, clínico, comportamental, social, perfil de mercado, entre outros;
•Corpo técnico ciente de cada atleta submetido ao processo de formação do clube, independentemente da categoria;
•Comunicação formal intracomissões através das reuniões de planejamento semanal;
•Comunição formal intercomissões através das reuniões administrativas;
•Criação de Banco de Dados: de fornecedores, de atletas em monitoramento, de atletas em potencial de equipes adversárias, de profissionais;
•Abastecimento contínuo de informações à Coordenação;
•Avaliação 360º bianual entre o corpo técnico;
•Criação de um Relatório Anual da temporada;
•Melhoria contínua em todos os processos técnicos do clube.

Quem está acostumado com o ambiente dos clubes de futebol sabe o quão complicado pode ser a aplicação de cada um destes processos devido às complexas relações humanas que os compõem. Para colocá-los em prática, a qualidade/competência dos recursos humanos é imprescindível.

Trabalharemos muito e, ao longo da temporada, devo escrever mais sobre o tema, detalhando alguns dos processos que estão sendo aplicados e, quem sabe, servindo de inspiração para os clubes pequenos.

Formar bem é uma das únicas (senão a única) maneiras de se competir com os grandes. Então, que não percamos tempo!
 

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100 dias para a Copa do Mundo

Enfim, a espera pela Copa do Mundo vai chegando ao fim, já que em menos de cem dias o Brasil organizará o Mundial Fifa 2014.

A expectativa aumenta e os corações começam a bater em um só ritmo.

Entretanto, não se pode esquecer que o esporte tornou-se um grande negócio que movimenta bilhões de dólares.

Há cem dias da Copa, a Alemanha tinha 100% de suas obras concluídas, a África do Sul, 80% e o Brasil não conseguiu entregar metade do prometido.

Dentre vários motivos, este fato se deu em razão de um planejamento ruim ou pela falta dele.

Destarte, o gerenciamento de projetos corresponde à aplicação de conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades do projeto a fim de atender às suas demandas, sendo realizado por meio da integração dos processos de iniciação, planejamento, execução, monitoramento e controle, e encerramento.

O gerenciamento de projetos busca balancear três fatores conflitantes (tempo, custo e escopo ou qualidade) , o que aparentemente não foi observado na organização da Copa do Mundo.

Apesar disso, não podemos subestimar a capacidade do brasileiro tirar o sucesso da adversidade e atingir objetivos mesmo sem organização e com um planejamento ruim.

A alegria e a hospitalidade do povo brasileiro farão da Copa do Mundo no Brasil a melhor de todos os tempos, o que não apagará os transtornos com aeroportos, mobilidade urbana e escassez de energia elétrica.

Vale destacar que, mesmo sem a plenitude da organização, as cidades-sede experimentarão melhora de seus aeroportos e algum avanço na mobilidade urbana.

Portanto, há cerca de cem dias da Copa do Mundo, ainda temos muito trabalho pela frente, e a certeza de alguma melhora.

Mãos à obra e que o país possa mostrar ao Mundo que não é bom somente dentro das quatro linhas.

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Melhorando a comunicação no futebol

Numa coluna anterior comentei sobre a importância da comunicação para treinadores e executivos do futebol. Nesta semana quero aprofundar mais essa contribuição e compartilhar um pouco sobre a comunicação efetiva, a mensagem verbal e a não-verbal.

Uma comunicação efetiva envolve o ato de fazer perguntas, estimular a expressão e saber ouvir. No contexto do futebol, como um esporte coletivo, a comunicação efetiva é sempre mencionada como um fator crítico para o sucesso de uma equipe. Pois por meio dela, o treinador conseguirá estabelecer objetivos com seus atletas e auxiliares, além disso irá ensinar ou aprender, resolver problemas do dia a dia e compreender um pouco mais os sentimentos reais dos demais.

É muito importante para os treinadores conseguirem enviar suas mensagens de forma efetiva, uma vez que a informação emitida por ele é apontada como um elemento de grande relevância para o rendimento de uma equipe de futebol.

Indo direto ao ponto, todo líder deve sempre buscar aprendizados que tornem cada vez melhor sua comunicação, certo? E por isso, compartilho aqui alguns elementos importantes sugeridos por Dietmar Samulski e Martens, que devem ser considerados durante o envio de mensagens verbais e não-verbais.

As mensagens verbais são aquelas utilizadas para corrigir um comportamento inadequado, ensinar uma determinada habilidade técnica ou tática ou elogiá-lo por seus esforços, pois nestes momentos específicos o treinador geralmente utiliza a fala.

• Seja direto – Sempre que for possível fale diretamente com a pessoa a quem a mensagem se direciona. Evite falar com terceiros e pedir que transmitam a informação, pois ela pode ser distorcida durante o processo de comunicação, ou seja, corre o risco de virar aquela história do “telefone sem fio”. Ainda, fale o que realmente precisa, sem rodeios para chegar ao assunto de interesse, quanto mais rodeio mais pessoal parece e o risco da outra pessoa não receber a mensagem de maneira apropriada aumenta consideravelmente;

• Assuma suas mensagens – Procure utilizar o “eu” e “meu” em vez de “o time” ou “nós” quando estiver se referindo à sua mensagem;

• Seja completo e específico – Forneça à pessoa a quem você está comunicando todas as informações necessárias para que ela possa compreender a mensagem e a sua intenção ao transmiti-la;

• Transmita a mensagem imediatamente – Quando você observar alguma coisa que lhe incomode ou que precisa ser modificada, não demore para transmitir a mensagem;

• Demonstre suporte – Se você deseja que as outras pessoas ouçam suas mensagens, não as transmita de forma sarcástica, utilizando comparações negativas ou por meio de julgamentos. Dê suporte positivo ao atleta, por meio de declarações não-agressivas para facilitar o processo de comunicação efetiva.

De acordo com Weinberg & Gould, a mensagem não-verbal pode ser transmitida de várias maneiras, como a aparência física, a linguagem corporal, o toque e o tom da voz. Seguem alguns elementos a serem considerados para o envio de mensagens não-verbais.

• Aparência física – Precisamos saber que normalmente a primeira impressão que temos de uma outra pessoa vem da aparência física, como sua roupa, perfil corporal e estilo de cabelo por exemplo. No futebol, é valioso que o treinador procure demonstrar saúde, utilizar trajes esportivos durante os treinamentos e contextualizados com a realidade do clube, pois a sua apresentação poderá revelar sua capacidade de comunicação;

• Postura – o treinador deve procurar ter uma postura confiante e simpática, pois este tipo de atitude demonstra a sua satisfação com seu trabalho, o que serve de motivação para seus atletas. Ou achamos que as atletas prefeririam treinadores irritados, cansados e infelizes?

• Expressões faciais – O rosto das pessoas é o melhor indicador do que ela está sentindo ou pensando. Os atletas sabem disso e frequentemente avaliarão o rosto de seu treinador, tentando encontrar sinais que lhes digam mais do que as palavras. Precisamos compreender que um sorriso por parte do treinador pode melhorar bastante o ânimo de um jovem atleta que esteja num momento de insegurança.

Então, amigo leitor, pelo comentado acima acredito ser mais do que importante os treinadores, enquanto líderes e influenciadores de seus times, prestarem bastante atenção quanto a forma de sua comunicação, tanto a verbal quanto a não-verbal. Você concorda?

Até a próxima!

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Cristiano Ronaldo, Neymar e Messi: heróis da cultura!

Não sei se este meu artigo vai provocar qualquer expressão vulcânica de antipatia, ou que o acoimem de arcaico e submisso a ideias feitas. Por mim, considero tão legítima uma opinião depreciativa pela minha tese, de hoje, como a minha reverência pelos nomes maiores da História do Desporto.

De fato, no meu modesto entender, e cingindo-me só ao futebol, o Neymar, o Messi, o Cristiano Ronaldo, o Ibrahimovic, o Ribéry, etc., etc. são para mim heróis da cultura! E não utilizo, unicamente, um critério romântico, o meu critério é verdadeiramente racionalista, como adiante o tentarei provar. Mas completo a minha tese: os jogadores acima citados são, para mim, heróis da cultura, ao lado de qualquer cientista, literato ou artista, notáveis por muitos títulos. Às interrogações: Saramago ou Ronaldo? Tom Jobim ou Neymar? Borges ou Messi? Ribéry ou Paul Ricoeur?

Responderei, sem receio: em inteligência, em generosidade, em vontade de transcendência (ou superação), em genialidade, os futebolistas aqui nomeados são iguais a qualquer nome grande da vida cultural. Ao volver à roda, percebo que colhi de surpresa muita gente: Mas será possível o Ronaldo ser tão inteligente como o Saramago ou como o neurocientista, Dr. António Damásio? É verdade! O Ronaldo nada deve, em inteligência, aos grandes escritores, artistas, ou cientistas portugueses. E porquê?

Foi aceite pelos cientistas a teoria das inteligências múltiplas que nos ensina que são sete as inteligências que encontramos, no ser humano (H. Gardner, La inteligencia reformulada. Las inteligencias múltiples en el siglo XXI, Paidós, Barcelona, 2003). Posteriormente, este mesmo autor acrescenta mais três inteligências às sete apresentadas, inicialmente. Vejamos então as dez inteligências que se encontram, nas pessoas, com predominância, em cada um dos sujeitos observados, de uma sobre as outras: musical, linguística, espacial, corporal-quinestésica, lógico-matemática, intrapessoal, interpessoal, naturalista, existencial e espiritual. Que o mesmo é dizer: a inteligência humana tem todas estas características, mas há quem tenha uma delas muitíssimo mais desenvolvida do que as outras, o que acontece com os gênios, com os superdotados.

Portanto, o Ronaldo ou o Neymar beneficiam de uma inteligência corporal-quinestésica que não estava ao alcance do gênio literário e musical do José Saramago ou do Tom Jobim. Por seu turno, o Dr. António Damásio, um homem universal das neurociências, com a sua extraordinária aptidão mental (e muito lido em Descartes e Espinoza) não conseguiria nunca fazer de Portugal inteiro uma grande família celebrando, em uníssono, alguns êxitos de indiscutível relevo internacional.

É que o desporto, mormente o futebol, é o fenômeno cultural de maior magia no mundo contemporâneo. E do futebol são o Neymar e o Messi e o Ronaldo três intérpretes de eleição, como outros não se encontram, hoje, nos seus países. Assim, porque o futebol é uma Atividade Humana e o ser humano manifesta-se, sobre o mais, através de uma expressão cultural, seja qual for o modo de expressão utilizada – o futebol é cultura e os seus agentes são também agentes culturais.

Ora, o Messi, o Neymar e o Cristiano Ronaldo fazem do futebol, como ninguém, uma expressão cultural: fazem do futebol uma façanha inspirada no misticismo patriótico; e do gesto desportivo um movimento de incontornável eficiência e beleza; e da sua motricidade um espaço de transcendência (ou superação) e portanto de abnegação, de pundonor, de grandeza de ânimo. O que pretendo eu dizer com a palavra “transcendência”?

Quero dizer que não há determinismo na História e no ato da transcendência o impossível pode ser possível. Com o Cristiano Ronaldo como seu capitão, a seleção nacional portuguesa de futebol têm um exemplo de transcendência, bem ao seu lado. E não é na convivência dos nobres exemplos que os valores se revigoram e se tomam como divisas?

Somos a decana de todas as nações da Europa; navegamos por mares nunca dantes navegados; deixamos em terras ignotas os nomes dos nossos santos e heróis; há uma arte de ser português, que o Teixeira de Pascoais explicou, consignou em livro célebre; transfundimos boa parte do nosso sangue a nações que geramos, na América, na África, na Ásia, na Oceania – os feitos de Cristiano Ronaldo são factos culturais e vêm dizer-nos que chegou a hora intransferível de voltarmos a ser portugueses, despojando-nos do sectarismo partidário, ou do retorno a um requentado fascismo, ou do neoliberalismo anglo-saxónico (onde até a língua é um instrumento de colonialismo), porque a Pátria está em perigo. Cristiano Ronaldo, um herói da cultura, provou-nos que, na unidade da fé, na unidade do patriotismo, na unidade da ação, o milagre do ressurgimento de Portugal é possível.

Quero realçar, por fim, a liderança sagaz do selecionador Paulo Bento. A superior criatividade (digamos mesmo: fantasia criadora) do Ronaldo encontrou espaço de concretização, assomou singular de inconformidade, de opulenta espontaneidade e quase de matemática certeza, porque a tática se congeminou, com demora e minúcia, para que o CR7 pudesse servir os objetivos da equipa, em todo o esplendor das suas inigualáveis potencialidades. Três golos inesquecíveis de Ronaldo?

Numa análise severa e meticulosa destes golos, estão os seus colegas de equipa e o Paulo Bento. Dou lugar especial, neste momento, a quem idealizou a tática, até porque ela é a expressão de um temperamento e de uma cultura e o reflexo de uma posição especial em face do mundo. No Suécia-Portugal do dia 19 de Novembro de 2013, não houve Cristiano Ronaldo sem uma equipa que o ajudou a que as suas inteligência e personalidade se revelassem. Essa equipa teve um líder: Paulo Bento! E um gênio: Cristiano Ronaldo! E uma grande família à sua volta: Portugal!

Sou português e acabei por dar realce especial ao Cristiano Ronaldo. Mas eu sei que o Neymar e o Messi podem fazer o que o Ronaldo fez na Suécia. Todos eles são heróis da cultura, todos eles beneficiam de uma inteligência quinestésico-corporal de que bem poucos podem usufruir.

 

*Manuel Sérgio é antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

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O que a Arena da Amazônia ensina sobre comunicação

A Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil, conheceu no último fim de semana o oitavo de seus 12 estádios. A despeito de ainda estar com 98% das obras concluídas, a Arena da Amazônia, em Manaus, recebeu seu primeiro evento teste.

O local abrigou um empate por 2 a 2 entre Nacional e Remo, válido pelas quartas de final da Copa Verde, e tudo que cercou o evento serve como subsídio para uma discussão sobre comunicação.

A inauguração da arena teve 20 mil ingressos. Desse total, 35% foram destinados a operários da obra. A estimativa do governo do Amazonas é que o estádio comporte 42 mil pessoas quando estiver pronto.

O primeiro tópico a ser observado, portanto, é a lotação. O Campeonato Amazonense de 2013 teve média de 807 pagantes por jogo. Como uma partida entre Nacional e Remo consegue colocar 20 mil pessoas em um estádio?

Há várias explicações para essa quantidade, a começar pelo fator novidade. As pessoas foram ao estádio porque queriam conhecê-lo. O trabalho do gestor nesse caso, portanto, é fazer com que essas pessoas tenham vontade de voltar. E mais do que isso, fazer com que outros queiram ir ao local. Mesmo que sejam movidos pela mesma curiosidade.

Como fazer isso? Com promoção, é claro! Comunicação adequada para chamar atenção do público e comunicação ainda mais incisiva para quem já tomou a decisão de comprar um ingresso. A pessoa que investiu tempo e dinheiro em uma entrada tem de ser bombardeada com informações e ações. E isso tem de acontecer do momento da aquisição até o retorno para casa.

E aí começam os problemas da Arena da Amazônia. O estádio estava inacabado quando foi inaugurado, com defeitos em aspectos como estacionamento, (des) orientação de público e falhas estruturais nos banheiros. Tudo isso é comunicação. E comunicação da pior espécie.

Houve relatos de torcedores que passaram até 45 minutos nas filas dos bares do estádio. Que tipo de consumidor recebe esse tipo de atendimento e volta para casa disposto a retornar a um estabelecimento?

No entanto, os problemas da inauguração ainda tinham o atenuante de se tratar, obviamente, de uma inauguração. O que aumentou a proporção da situação negativa foi o posicionamento do governador do Amazonas, Omar Aziz.

No domingo, o político foi questionado pela “ESPN” sobre o custo do estádio. A obra da Arena da Amazônia consumiu R$ 604 milhões, R$ 89 milhões do que a previsão inicial.

“Isso é problema nosso, não de vocês. Isso é problema do povo amazonense, não é teu. Não é problema da imprensa do sul [sic]. É nosso o problema, deixa com a gente. Se nós tivemos competência para construir uma arena desse porte […] nós teremos competência para dar um legado”, respondeu Aziz quando questionado sobre o que vai ser do equipamento após a Copa.

Desde o ano passado, dirigentes de times do Amazonas têm dito que não há interesse em gerir o estádio. Os argumentos são o alto custo de manutenção e o tamanho do equipamento, muito maior do que o necessário para a realidade local.

Questionado sobre o estouro no orçamento e o que vai ser da arena depois da Copa do Mundo, Aziz podia ter explicado ou construído um raciocínio que o aproximasse do público. Ele podia ter falado sobre as dificuldades de um empreendimento dessa proporção e podia ter começado a direcionar um discurso sobre o pós-evento. Em vez disso, optou pelo clima de guerra e pelo regionalismo.

A questão é: o público da Região Norte é suficiente para um estádio do tamanho do que existe em Manaus? Se for, ele será assíduo o bastante para a arena ignorar que existem outras regiões no país?

O estádio é problema de todos, sim. Sobretudo por ter sido construído com dinheiro público. E dar satisfações do que é feito com dinheiro público é parte importante de um trabalho para diminuir o distanciamento entre gestores e consumidores.

A Arena da Amazônia, como outros empreendimentos relacionados à Copa do Mundo de 2014, é uma excelente oportunidade de negócios. Se bem conduzida, pode ser um importante polo para desenvolver a região (e não apenas o futebol da região). Mas isso depende de um plano extenso de comunicação.

Esse plano de comunicação não pode ignorar a relação com o consumidor. E não há relação com o consumidor que ignore aspectos como o serviço da inauguração e as informações sobre o futuro do aparato.

A Copa do Mundo não serve apenas para 64 jogos. Enquanto o Brasil não entender isso, o país seguirá discutindo qual região tem direito a saber sobre o estádio. E inaugurando equipamentos que não dão condições favoráveis aos consumidores.

No fim, a Copa do Mundo tem servido para escancarar o quanto o Brasil trata mal a comunicação.

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Manutenção da bola, pressão em bloco alto, transição em largura… Os conteúdos do jogo não são mais importantes do que o próprio jogo?

O futebol, para aqueles que como eu, são aficionados pelo estudo do jogo, é um ambiente muito rico para exploração de conceitos e visualização de fenômenos ligados a ele (ao jogo).

Seja pelos óculos da matemática, da física, da pedagogia, da filosofia, ou de qualquer outra área do conhecimento científico que alimente e seja alimentada pela “Teoria do Jogo”, é possível, a partir do futebol (como meio, como caminho) compreender melhor a essência do jogo.

Por outro lado, e ao mesmo tempo, a partir do jogo propriamente dito, é possível também compreender o futebol como esporte coletivo de confronto, com alvo a defender, alvo a atacar, implemento (bola) como extensão do jogador e de campo com dimensões consideráveis.

É possível jogar futebol, sob o ponto de vista tático-estratégico, de diversas formas.

É possível jogar futebol em altíssimo nível competitivo utilizando-se das mais distintas referências organizacionais.

É possível vencer jogos de futebol respeitando diferentes lógicas de ação, individuais e coletivas.

Mas, jogar futebol de forma competitiva em altíssimo nível e vencer partidas só é possível, independente de estratégias, referências organizacionais e/ou lógicas de ação, se a Lógica do Jogo (interna e inexorável) for dominada e “executada” por quem joga!

Ter obsessão pela bola ou abdicar dela, pressionar em bloco alto ou bloco baixo, transicionar em profundidade ou em largura… O domínio da Lógica do Jogo pode se expressar estrategicamente de várias formas. E ainda que ela, a Lógica do Jogo, seja essencialmente única para o futebol, os caminhos para seu cumprimento são variados.

E aí há um conceito primordial para a relação que cada um de nós estabelece com o jogo de futebol quando o observamos: só fará sentido cada uma das várias formas estratégicas para dominar o jogo, e só fará sentido a existência de vários caminhos para cumprimento da lógica do jogo, se as estratégias e os caminhos não tiverem fim em si mesmos!

Isso quer dizer, em outras palavras, por exemplo, que se uma equipe propõe, como identidade marcante e básica do seu jogar, a manutenção apoiada da posse da bola, ela (a posse) só fará sentido para o jogo em sua essência, se (e apenas se) tiver como finalidade o cumprimento da inexorável Lógica do Jogo!

Se a finalidade (o fim) for ter a bola e fazer uma grande roda de “bobinho” no jogo formal 11 contra 11, haverá crítico distanciamento entre aquilo que, no cerne o jogo requer, e aquilo que se está propondo.

O objetivo no futebol é fazer mais gols do que o adversário!

E ainda que objetivo e Lógica sejam coisas diferentes, eles estão intimamente relacionados.

Não há nada de errado em adotar o modelo “A” ou o modelo “B’ de jogo!

Mas, quando os conteúdos do jogo passam a ser mais importantes do que o jogo propriamente dito, é como se ele deixasse de ser aquilo que essencialmente é – e passasse a ser outro jogo, com outro tipo de lógica interna.

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Goleiro Bruno e o retorno aos gramados

O goleiro Bruno, ex-Atlético, Flamengo e seleção brasileira, assinou o contrato para atuar pelo Montes Claros Futebol Clube, equipe do módulo II mineiro, sediado em cidade homônima no norte do estado.

O contrato foi assinado na penitenciária onde o goleiro cumpre pena de 22 anos e três meses desde julho de 2010 pelo assassinato de Eliza Samúdio e tem o prazo de cinco anos.

Agora, os advogados de Bruno solicitarão a transferência dele para Montes Claros para, logo após, pedirem ao Juiz responsável pela execução criminal naquela comarca a possibilidade do detento trabalhar fora da penitenciária.

O embasamento legal está nos artigos 36 e 37 da Lei de Execuções Penais que permitem ao preso a saída para o trabalho. No entanto, apesar da legislação permita o trabalho externo, há de se cumprir alguns requisitos.

Segundo o artigo 36, o trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, o que não se aplica ao caso em tela.

O artigo 37, por sua vez, estabelece que a prestação de trabalho externo dependerá de autorização pela direção do estabelecimento prisional, aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena.

Considerando-se que 1/6 (um sexto) da pena do goleiro seria cerca de 4 (quatro) anos, em mais alguns meses o último requisito estaria cumprido.

Entretanto, como se trata de crime hediondo (homicídio qualificado), para haver progressão da pena seria necessário o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, ou seja, cerca de 9 (nove) anos.

Portanto, por mais que o trabalho seja importante medida de ressocialização do preso, no caso em tela há importante obstáculo legal à liberação do goleiro Bruno para exercer atividade laboral no Montes Claros.

Outrossim, como o direito não corresponde à uma ciência exata, é possível que princípios constitucionais de acesso ao trabalho e outros fundamentos socioeducativos possam oportunizar o deferimento judicial do pedido de autorização judicial para o trabalho.

Vale destacar que, por mais violento que seja o crime, a legislação brasileira e o Tratado de San Jose em que o Brasil é signatário prezam pela garantia da dignidade e dos direitos humanos aos condenados.

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Lições para uma seleção de futebol

 Na semana em que a seleção brasileira de futebol faz seu último amistoso oficial (data Fifa) antes da Copa do Mundo da Fifa 2014, coube talvez ao adversário ser o nosso grande inspirador para uma grande apresentação na Copa do Mundo.

O recém-falecido líder da África do Sul foi grande líder e demonstrava frequentemente suas lições de sabedoria e liderança a todos nós. Este legado pode servir como linha inspiradora para nossa seleção brasileira, que enfrentará diferentes adversários durante a Copa do Mundo alguns menos preparados do que nós e outros talvez melhor preparados.

Esse legado de Mandela pode ser sintetizado em lições de liderança e sabedoria, extraídas da sua autobiografia escrita por Mandela com o jornalista Richard Stengel, que se aplicam facilmente no futebol, conforme podemos ver em algumas que compartilho com o amigo leitor.

1 – Coragem não é ausência de medo

Nenhum de nós nasce corajoso, diz Mandela. Tudo está na maneira como reagimos a diferentes situações. Como sabemos, no futebol a forma como reagimos aos fatos ocorridos dentro de uma partida pode influenciar nosso lado emocional e sem o controle adequado para lidar com as adversidades emocionais corremos o risco de perder uma partida decisiva.

2 – Seja ponderado

No meio de situações turbulentas, Mandela era calmo e procurava a calma nos outros. Um homem que foi seu companheiro de prisão durante os quase 30 anos em que ele esteve preso diz que só o viu bravo duas vezes – e ambas envolviam carcereiros insultando sua mulher. No futebol sabemos que manter o controle e agir conforme o planejado são recursos fundamentais para colocar em prática tudo que foi treinado para determinada partida.

3 – Lidere na frente

"É absolutamente necessário, às vezes, o líder agir independentemente, sem consultar ninguém, e apresentar o que fez à organização", Mandela disse. O que significa também ser responsável e assumir as consequências. Sua concepção é a de que líderes devem não apenas liderar, devem ser vistos liderando.

No futebol, as lideranças dentro do campo também precisar se impor com atitudes que demonstrem uma liderança efetiva no grupo, seja para inspirá-los à ação ou para segurar os ânimos em determinados momentos de uma partida.

4 – Lidere na retaguarda

Mandela sabia que não há nada que faça outra pessoa gostar mais de você do que lhe pedir sua ajuda – quando você reconhece a opinião dos outros, aumenta a lealdade deles a você. Sabia que não podia estar sempre na frente e que seu objetivo poderia morrer, a menos que permitisse que outros liderassem.

O futebol também possui essa prerrogativa, os que lideram dentro e fora do campo precisam lançar mão da estratégia de liderar na retaguarda, seja quando o técnico deixa o seu capitão liderar na linha de frente ou seja dentro do campo, ou quando o próprio capitão deixa que outro atleta também exerça a liderança em momentos de uma partida.

5 – Veja o que há de bom nos outros

É extraordinário que um homem que foi maltratado a maior parte da sua vida possa ver tanto o que há de bom nos outros. Mandela começa com a suposição de que você está lidando com ele de boa-fé. Acredita nisso, julgando que o que há de bom nas outras pessoas melhora as chances de que revelarão o melhor de si. Os técnicos, enquanto líderes, buscam de maneira semelhante ao ensinamento de Mandela, obter ou extrair o que há de melhor em cada um de seus atletas, seja nos quesitos técnicos, como também em suas competências comportamentais.

Talvez, algumas das lições citadas aqui sirvam de reflexão para aqueles que lideram nossa seleção de futebol profissional e que estas reflexões possam ajudá-los na condução deste grupo de seres humanos durante a Copa do Mundo Fifa 2014.

Mais ainda, que tais princípios possam de alguma forma serem exaltados para que os que lideram nosso país possam refletir sobre os males que estão assolando a nação e que em nossa “Copa do Mundo” particular, contra nosso egoísmo, nossa falta de pensamento coletivo, nossa constatação de impunidade e corrupção.

Luta cada vez mais difícil porém necessária para que a nossa nação não fique apenas em busca de redenção de quatro em quatro anos, a cada Copa do Mundo de Futebol Fifa!

Até a próxima!

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Isso é hora para crise?

O Brasil vai receber a Copa do Mundo de futebol e os Jogos Olímpicos, dois dos principais eventos esportivos do planeta. Ainda assim, o esporte brasileiro está em crise. Entender isso é fundamental para qualquer profissional que trabalha com comunicação.

Candidato único ao posto de sede da Copa do Mundo de futebol de 2014, o Brasil foi aclamado em 2007. A definição do Rio de Janeiro como palco dos Jogos Olímpicos aconteceu dois anos depois, em outubro de 2009. O esporte brasileiro está prestes a entrar no período mais importante de sua história. No entanto, pululam exemplos, em diferentes modalidades e em diferentes formatos, para mostrar que não há bonança alguma. Entender e discutir os porquês disso são processos fundamentais para todo profissional de comunicação.

No futebol, por exemplo: as obras para a Copa do Mundo estão atrasadíssimas, mas esse é apenas um dos aspectos negativos. A preparação do Brasil para receber o evento também tem sido marcada por enormes percalços na comunicação.

Isso começa com as secretarias locais que administram os projetos da Copa do Mundo. Um exemplo disso aconteceu na última semana, em Cuiabá, onde a regional da Ordem dos Advogados do Brasil precisou acionar a Justiça para ter acesso a dados sobre o cronograma das obras na cidade.

Nas obras relacionadas à estrutura esportiva, como os estádios, ainda há uma cobrança. E as iniciativas nas cidades? E o tal legado da Copa do Mundo? O que efetivamente estará pronto para o evento e o que será feito depois? Há estimativas consistentes e estimativas pouco consistentes sobre o que ficará no Brasil depois, mas não há nenhum plano abrangente com prazos e objetivos.

O planejamento do Brasil para a Copa do Mundo de 2014 falha ao não criar um plano abrangente e unificado de comunicação. E erra ainda mais ao não transmitir correta e detalhadamente as informações para o público. Transparência é item imprescindível em um evento dessa proporção.

O Brasil da Copa do Mundo, contudo, não é o único que está em crise. Basta ver os Estaduais inchados, desinteressantes, com jogos como Legião x Atlético Ceilandense, válido pelo Campeonato Brasiliense, que teve apenas nove pagantes. Não há nada que justifique um jogo com nove pagantes.

Melhor: um jogo com nove pagantes tem muitas justificativas implícitas. A começar por uma demonstração clara da falta de cultura de promoção que impera no esporte brasileiro. Quantas pessoas em Brasília e nas regiões próximas efetivamente sabiam quando seria o jogo e foram incitadas a comprar um ingresso?

No Brasil, falar em promoção costuma ser quase um sinônimo de falar em publicidade. Só nos últimos dias, houve protestos na equipe brasileira de taekwondo e em times como natação, vôlei e ginástica artística de São Caetano.

Maurren Maggi, campeã olímpica do salto em distância em Pequim-2008, criou um site para angariar fundos para pagar treinos e competições. Outros atletas, como o mesatenista Gustavo Tsuboi, apostaram em um mecanismo similar, mas coletivo.

No mesmo período, a Vivo encerrou um patrocínio ao basquete de Franca e o vôlei brasileiro se viu envolvido em denúncias que afastaram até o secretário-geral da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), Marcos Pina, que será investigado.

São muitas notícias ruins em um intervalo bem pequeno. Está claro que não é apenas coincidência. O esporte brasileiro vive, infelizmente, um período de crise.

A crise tem relação com uma grande lista de fatores, como o desaquecimento da economia interna e os problemas da economia externa. Também pesam aspectos como a falta de cultura de investimento em esporte.

Contudo, momentos assim também são excelentes oportunidades para reflexões. Será que o esporte brasileiro tem uma percepção clara de como funcionar como negócio? E nesse modelo, será que a comunicação tem o tratamento adequado?

Aí entra uma crítica que não é apenas a dirigentes, mas a todo o mundo do esporte. Por exemplo: o que Maurren Maggi oferece para aumentar o poder de barganha e se aproximar de patrocinadores? Que tipo de venda ela faz e quais propriedades ela inclui? Qual retorno ela oferece?

Responder a todas essas questões é fundamental para qualquer negociação. É fundamental também para entender quais são os responsáveis pelo atual momento do esporte brasileiro.

O problema é: quem faz esse tipo de pergunta? E quando esse tipo de pergunta é feita, que tipo de informação ela gera? Há pesquisas, dados ou projetos sobre novos caminhos para o esporte brasileiro? Se houver, há algo que esteja sendo colocado em prática com detalhamento e comunicação?

O esporte brasileiro nunca teve tanto dinheiro. Confederações com trabalhos minimamente estruturados, como rúgbi e handebol, mostram que é possível crescer até quando existem problemas.

A grande questão é que a proporção desses problemas depende muito de quem conta a história. E enquanto não houver um jeito certo de contar, as diferentes versões só vão ampliar a sensação de crise.