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Banco de Jogos – jogo 9

A distribuição das atividades ao longo da semana deve ser feita de forma planejada e criteriosa. Para aumentar a densidade de alguns comportamentos de jogo que precisam ser aperfeiçoados, as reduções do número de participantes e das dimensões do campo são boas alternativas.

A coluna desta semana exemplifica uma atividade de ataque contra defesa em que as situações de finalização e de proteção da meta são constantemente estimuladas.

Jogo Conceitual de Finalização e Proteção do Alvo

– Dimensões do campo: ~ 26,5m x 60m;

 

– Número de Jogadores: 4 atacantes + 2 apoios laterais vs 3 defensores + goleiro, conforme ilustra a figura:

 

– Sugestão do tempo de jogo por série: 30 segundos;

Regras do Jogo

Ataque

1.Apoios laterais jogam com 2 toques e não podem invadir delimitação da grande área;

2.Toda reposição é em favor da equipe que ataca e não podem ser feitas aos apoios laterais;

3.É permitido 2 toques na bola sendo liberada a quantidade de toques para finalizar. Se o atleta der mais de 2 toques e não finalizar ou finalizar com interceptação da defesa = 1 ponto para a defesa;

4.Gol = 3 pontos;

5.Gol de fora da área, tirando do goleiro (entre o cone e a trave) ou de cruzamento = 5 pontos;

Defesa

6.É permitido 3 toques para os jogadores de defesa;

7.Atacante receber a bola em impedimento (inclusive os apoios laterais) = 1 ponto;

8.Defesa completa do goleiro = 1 ponto;

9.Uma série sem sofrer gol = 1 ponto;

Assista aos vídeos com os exemplos de algumas regras:
 

Regra 3

 

O jogador número 6 da equipe que ataca faz um passe para o jogador número 11. Ao receber o passe, o jogador dá mais do que 2 toques na bola e tenta a finalização, porém, ela é interceptada pelo jogador número 4 da equipe que defende. Esta ação vale 1 para a equipe de defesa.


Regra 5

 

Após cruzamento do jogador número 2, a bola sobra para o jogador número 11 que faz um passe ao jogador número 7. Em seguida, o jogador número 9 recebe um passe e finaliza no canto esquerdo do goleiro entre o cone e a trave. Esta ação vale 5 pontos para a equipe de ataque.


Regra 8

 

Após troca de passes da equipe que ataca, o jogador número 10 executa uma finalização e o goleiro realiza uma defesa completa. Esta ação vale 1 ponto para a equipe de defesa. Após a defesa, outra bola é reposta novamente para a equipe que ataca.

Aguardo dúvidas, críticas e sugestões. Abraços e bons treinos!

Leia mais:
Banco de jogos – jogo 1
Banco de jogos – jogo 2
Banco de jogos – jogo 3
Banco de jogos – jogo 4
Banco de jogos – jogo 5
Banco de jogos – jogo 6
Banco de jogos – jogo 7
Banco de jogos – jogo 8

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José Pedroto e Pinto da Costa: dois símbolos!

Parece que foi ontem e são passados 44 anos sobre a pergunta que José Maria Pedroto me fez, com ar seguro do êxito da sua interrogação: "Diga-me cá, porque diz que não há educação física e a preparação física está errada?".

O professor João Mota (felizmente ainda vivo e são – e que o seja por muitos anos) que, nessa altura, era seu amigo e confidente (julgo não exagerar) logo me segredou: "Se se lhe mete na cabeça que tem alguma coisa a aprender consigo, está feito, nunca mais o larga. Ele é assim!".

Eu, em matéria de treino, era, sou, serei discípulo do dr. David Monge da Silva, durante a década de 70, meu colega na docência, no ISEF, ele de Teoria e Metodologia do Treino Desportivo, eu de Filosofia das Atividades Corporais. O fato de ter por mim horas e horas de conversa com o Monge da Silva e ainda, com menor frequência, com o Jesualdo Ferreira, o Mirandela da Costa, o Carlos Queirós e o Nelo Vingada, que criaram a disciplina de futebol, no ISEF, permitiu-me que respondesse a José Pedroto, com alguma segurança e mesmo num ímpeto de entusiasmo: "Se não me engano, tanto a preparação física, como a educação física, que por aí andam, são dois produtos de Descartes".

Comecei assim, acompanhado pelo João Mota, um convívio fraterno com o José Maria Pedroto, que não passou de uma dúzia de encontros, sempre no Porto, na pastelaria Petúlia e no café Valasquez e um outro em Lamego, acompanhados pelas nossas mulheres (a dra. Cecília Pedroto não me deixa mentir).

Comecei assim uma aprendizagem que se aprimorou com o José Mourinho e o Jorge Jesus. E, aqui e além, com o Artur Jorge, o Toni e o André Vilas-Boas. E ainda um “homem do futebol”, injustamente esquecido: Fernando Vaz! Aqui, também não devo esquecer o Prof. Mário Moniz Pereira, o maior treinador da história do atletismo, (e não só do atletismo português) que muito me ensinou também em matéria do treino…

José Maria Pedroto, na galeria de retratos dos muitos treinadores de futebol que já conheci, era uma alma forte, de aço puro, mas com uma qualidade que distingue os sábios: sabia que não sabia. Defendo, hoje, a criação de um Gabinete de Inteligência Competitiva (GIC) e uma organização que permita aos clubes, com alta competição, transformarem-se em produtores de conhecimento, como o hospital, para os médicos, ou o tribunal, para os juristas.

Sem invocar a necessidade do estudo de autores como Bachelard, Althusser, Piaget, Popper, Kuhn, Feyerabend, Foucault e Habermas – podemos avançar sem receio que o trabalho científico, num departamento de futebol, se situa no âmbito das ciências hermenêutico-humanas, em interdisciplinaridade com todas as outras.

Porquê? Porque o futebol, como Atividade Humana que é (e não só Atividade Física) é o homem-futebolista que estuda e trabalha e não só o físico. A tradição positivista que fazia do anátomo-fisiológico a única valência a ter em conta, na medicina e no desporto, está morta definitivamente. Por isso, no futebol, não há remates, mas pessoas que rematam; não há fintas, mas pessoas que fintam; não há saltos, mas pessoas que saltam. Se eu não preparar pessoas para os remates, para as fintas, para os saltos – não há remates, nem fintas, nem saltos que possam servir à tática (ou táticas) que o treinador estabelece.

A grande revolução que há a fazer, hoje, no treino, decorre da resposta a esta interrogação que o treinador deve fazer, de si para si, antes de cada sessão: qual é o tipo de homem que eu quero que nasça deste treino?".

E, ao mesmo tempo que a tática se imprime na motricidade dos jogadores, qualidades intelectuais e morais e políticas se desenvolvem no seu ânimo, no seu entendimento da profissão que abraçaram. O futebol do futuro não vai contentar-se com o bom, vai exigir o melhor – que, no futebol, não é tática tão-só!

José Maria Pedroto, se ajudou à construção (lado a lado, com Pinto da Costa) do novo F.C.Porto, tal se deveu, em primeiro lugar, à amizade que o unia ao seu presidente, mas também à sua permanente vontade de mais informação. Ele rapidamente concluiu que eu, de futebol, bem pouco sabia. Mas, nem por isso deixou de pacientemente me escutar, porque até em mim, modestíssimo professor do ISEF de Lisboa, a sua argúcia poderia descobrir uma palavra, uma sugestão, com algum interesse à sua visão do futebol. Pedroto já sabia que não havia fronteiras rígidas entre os diferentes campos do saber.

Conservo uma carta extensa, que me escreveu e que bem merece uma séria reflexão interdisciplinar. De Jorge Nuno Pinto da Costa está tudo dito. É o líder admirado e respeitado de uma organização modelar, disciplinada (porque é numa organização modelar, disciplinada de trabalhadores do conhecimento que está o segredo). Mas, não deixo de acrescentar ainda que, com ele e José Maria Pedroto, o futuro do F.C.Porto deixou de confinar-se às sombras da dúvida e da ansiedade, para transformar-se numa força, num horizonte, numa luz, numa fé. Pinto da Costa e José Pedroto: dois símbolos, sem os quais o F.C.Porto não seria o que hoje é.

Edgar Morin, no seu livro Ciência com Consciência escreve: "Uma teoria, dotada de alguma complexidade, só pode conservar-se à custa de uma recriação intelectual permanente". Foi isto o que fez José Maria Pedroto; é isto o que faz Jorge Nuno Pinto da Costa. Com os resultados que se veem. Quais as escolas científicas e filosóficas, onde eles podem filiar-se? Ocorre-me a famosa passagem de Shakespeare: "Há mais verdades, no céu e na terra, do que podem discernir todas as filosofias do mundo".

Uma nótula a terminar: quando o Prof. José Mourinho treinava o futebol "portista", ele e eu dialogávamos, com alguma frequência um com o outro. Muitas vezes, por meio do "fax". Só que, de quando em vez, o "fax" não era escrito pelo José Mourinho, mas pelo sr. Antero Henrique que me dizia escrever em nome do seu treinador de então. No entanto, muitas vezes fiquei na dúvida sobre a autoria do texto que me era enviado.

Hoje, quando o vejo, nos jornais e na TV, lado a lado com o sr. Pinto da Costa, durante as sessões de treino do F.C.Porto, sou tentado a não ter dúvidas: havia dedo do sr. Antero Henrique, num ou noutro "fax" que me chegavam, em nome do meu querido e antigo aluno José Mourinho (hoje, sou eu o discípulo e ele o mestre). E, se assim for, é indesmentível a competência do sr. Antero Henrique. De fato, nestas coisas o presidente, raramente se engana…

 

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela
Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal.

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ABC pode perder mandos

Em partida válida pela 27ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série B entre ABC-RN e Palmeiras o evento desportivo tornou-se pequeno diante de novas cenas de descaso e desrespeito ao torcedor.

De acordo com informações divulgadas pela imprensa, o ABC, clube mandante, disponibilizou número de ingressos superior ao autorizado pelo Corpo de Bombeiros.

Antes do início da partida, o grande número de torcedores em um dos acessos ao estádio Frasqueirão causou tumulto e até invasão de campo de pessoas em pânico atemorizadas com o iminente risco de esmagamento e pisoteamento.

Segundo informações de dirigentes do ABC, 16 mil ingressos foram colocados à venda, e o público presente foi de 15.636 pessoas. Entretanto, de acordo com o Corpo de Bombeiros Militar, o estádio Maria Lamas Farache, conhecido como Frasqueirão, tem capacidade máxima de 15 mil pessoas.

Destarte, o incidente causado pelo excesso de torcedores atrasou em 55 minutos a partida que foi vencida pelo clube potiguar por 3 a 2.

Dirigentes do ABC responsabilizaram a Polícia Militar sob o fundamento de que o clube havia solicitado um efetivo de 500 policiais para a segurança da partida, número pedido quando a expectativa de público supera as 12 mil pessoas. Entretanto, segundo o clube potiguar apenas 150 homens foram destacados para o jogo. A tese é reforçada sob o argumento de houve atraso na abertura dos portões em virtude de atraso dos policiais.

Apesar do alegado e ainda que as informações concedidas pelo ABC sejam verídicas, segundo o Estatuto do Torcedor a responsabilidade pela segurança dos torcedores é do clube mandante e da entidade organizadora do evento.

Ora, trata-se de evento privado e, portanto, em eventual falta de contingente de forças públicas de segurança, compete ao organizador e ao mandante providenciarem segurança privada.

No que concerne à venda de ingressos em número superior ao estabelecido pelo Corpo de Bombeiros, o Estatuto do Torcedor estabelece em seu art. 23. que perderá o mando de jogo por, no mínimo, seis meses, sem prejuízo das demais sanções cabíveis, a entidade de prática desportiva detentora do mando do jogo em que: tenha sido colocado à venda número de ingressos maior do que a capacidade de público do estádio; ou tenham entrado pessoas em número maior do que a capacidade de público do estádio; ou tenham sido disponibilizados portões de acesso ao estádio em número inferior ao recomendado pela autoridade pública.

Ou seja, comprovando-se a existência de um dos fatos acima, o clube potiguar deve ser severamente punido até para que sirva de exemplo para outros clubes.

O fato é que apesar das cenas lamentáveis, podia ter sido muito pior. Em 1989, em partida válida pela semi-final da Copa da Inglaterra, uma situação semelhante resultou a morte de quase uma centena de pessoas.

Mas, este resultado menos danoso não se deu por mérito dos organizadores, mas pela sorte dos torcedores terem conseguido acessar o campo de jogo impedindo-se o esmagamento nos alambrados.

O mais triste de tudo é perceber a indiferença dos organizadores do espetáculo que, ao invés de buscarem alternativas para atender melhor ao seu torcedor, tentam empurrar responsabilidades.

Portanto, espera-se uma punição exemplar para que a partir desta partida inicie-se uma midança de paradigmas no futebol brasileiro antes que tenhamos uma grande tragédia.

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25 anos de nossa Carta Magna e o esporte brasileiro: temos o que comemorar?

Dia 05 de outubro passado comemoramos as “bodas de prata” da Constituição Federal Brasileira. Batizada pelo seu relator, Ulysses Guimarães, de Constituição Cidadã, não recebeu ela, naquela ocasião, apoio do partido político que desde 2003 se encontra à frente do Governo Federal, por conta do entendimento nele presente de que os marcos regulatórios da Carta tinham seus limites no ordenamento societário estabelecido a partir do modo de produção capitalista, não antevendo anseios de sua superação..

25 anos depois, o processo de recrudescimento das forças conservadoras faz aquele mesmo partido – além de outros do campo da esquerda – defendê-la, por visualizar na conjuntura brasileira e mundial sérios indícios do esfacelamento daquilo que nela indicava avanços, ainda que consignados na lógica capitalista.

Se no âmbito geral o entendimento vai em direção ao acima apontado, o que temos a dizer acerca do seu capítulo destinado ao Esporte? Também em relação a ele ficamos com a compreensão de que devemos defendê-lo por identificar nele avanços hoje ameaçados?

Se há os que comemoram os “25 anos de Constitucionalização do Esporte brasileiro” – e não são poucos – existem também – e não são muitos – os que não enxergam no artigo 217 e seus parágrafos motivos para comemorações.

Primeiro, ao traduzir o desporto como “direito de cada um” (“É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um…”), não deixa dúvidas sobre o porquê de sua não presença no conjunto dos direitos sociais (Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. – Redação dada pela Emenda constitucional nº 64/2010).

Segundo, por dar base a uma lógica de organização esportiva formatada sob forte influência dos referenciais neoliberais de Estado e Governo que passaram a vigorar em nosso meio. As leis infraconstitucionais Zico (Lei 8672/93 e Decreto 981/93) e Pelé (Lei 9615/98 e Decreto 2574/98) deram margem ao descrito por Meily Assbú Linhales* como um processo de mudança dirigido fundamentalmente pelo confronto entre os interesses liberalizantes — que buscavam autonomia de mercado para o esporte — e os interesses conservadores, que entendiam essa liberalização como uma ameaça ao poder constituído oligarquicamente.

Pois o embate entre liberalizantes e conservadores foi responsável pelo surgimento da autonomia e da pluralidade como elementos de mudança, que contraditoriamente mesclavam-se aos traços deixados pela conservação de antigas práticas. Tal linha de reflexão — ainda de acordo Meily e por nós endossada — nos conduziu a um quadro onde, em nenhuma das duas direções, se consolidaram alternativas que vissem o Esporte como uma necessidade e/ou direito social, e tampouco o Estado como mediador e ponto de equilíbrio entre os interesses antagônicos existentes no setor esportivo.

Pois a chegada do PT ao Governo Federal, mesmo que limitada pelas alianças ao centro e dele, à direita, acenou para a possibilidade do até então contra-hegemônico traçar a indicação de parâmetros para que a democratização do Esporte (e da libertação do lazer de seu jugo) pudesse ocorrer e ser usufruída por todo o conjunto da população brasileira.

Derivou-se daí a necessidade de se estabelecer as condições para que se construísse o entendimento do espaço de vivência das práticas corporais e esportivas, como local privilegiado de elevação do nível de seu entendimento, enriquecendo-as de valores que interagissem na construção de uma cidadania (esportiva) plena.

É neste entendimento que se sustentaria o princípio da Inclusão: primeiramente, entendendo ser dever de o Estado garantir a toda sociedade o acesso ao Esporte e ao Lazer, neles identificando a capacidade privilegiada de vir a contribuir, ao lado de outras ações de governo, nos esforços de inclusão social (daí derivando-se o jargão inclusão social através do esporte) de parcela significativa da população brasileira.

Materializar-se-ia assim, o objetivo de sinalizar para a inversão da lógica da presença do Estado no campo esportivo, atribuindo-lhe prioritariamente caráter subsidiador, contudo, de outro sentido que não aquele reforçador do modelo concentrador, representado graficamente por uma pirâmide trazendo, em seu vértice, o esporte de alto rendimento e, em sua base e centro, respectivamente, o esporte de massa e o estudantil subordinados aos objetivos do “de cima”.

O que se almejava propor era a implantação de um modelo exemplificado por círculos autônomos e, ao mesmo tempo, interdependentes, nos quais o esporte recreativo (ou social, como também o chamam), o estudantil e o de alto rendimento fossem respeitados em suas especificidades e, em um mesmo momento, mantivessem canais de comunicação sinalizadores de um conceito de sistema esportivo construído em relações isonômicas e não hierarquizadas, respeitando-se para o financiamento público dessas suas dimensões, o estabelecido em nossa Constituição.

Em paralelo, desanuviando-se o quadro, visualizar-se-ia o Lazer em toda sua plenitude, cada vez mais livre das amarras da cultura do entretenimento e não mais submetido à dominação da instituição esportiva, cada vez mais propenso a ser assumido como política de estado de índole transversal e intersetorial.

Pois a esperança traduzida em possibilidade histórica não se traduziu em realidade histórica, frustrando a expectativa de muitos e empurrando para frente a materialização do que ainda permanece no universo da utopia.

O texto constitucional, referenciado no trabalho desenvolvido pela Comissão de Reformulação do Esporte Brasileiro (Decreto 91.452 – 19/07/85), constituída pelo então ministro da Educação da “Nova República” de José Sarney, Marco Maciel, e coordenada pelo liberal, capitão de fragata e professor Manoel José Gomes Tubino, responsável maior pelo Relatório “Uma nova política para o Desporto brasileiro: Esporte brasileiro, Questão de Estado” (1985), cedeu à pressão dos “senhores feudais do esporte” – expressão do professor acima, portanto livre de qualquer desvio esquerdista – criando um precedente hoje justificador da lógica de privilegiar a exceção (recursos públicos para o esporte performance) em detrimento da regra (recursos p&uacu
te;blicos prioritariamente para o esporte educacional e de participação), ainda que, se assim não fosse, daria no mesmo, pois na lógica piramidal acima exposta, ingressando os recursos onde quer que fosse, seu destino seria o alto rendimento, situação mantida até os dias atuais.

Mas ao pessimismo da razão devemos juntar o otimismo da ação, conforme lição Gramsciana, e nesse sentido devemos saudar a iniciativa legislativa — primeiro da Câmara Federal e em 17 de setembro passado, do Senado — de aprovação do Projeto de Lei de Conversão (PLV 22/2013), oriundo da Medida Provisória 620/2013, deliberando por regras impositivas da democratização, participação e transparência das entidades esportivas, tanto as de administração quanto as de prática do esporte, estando agora nas mãos da presidente Dilma sua sanção.

Que não precisemos esperar as bodas de ouro para termos o que festejar no terreno esportivo, mais do que nosso desejo é nosso esforço de trabalho e luta no campo das políticas esportivas.


*O pensamento da professora Meily aqui apropriado deriva de sua dissertação de Mestrado (“A trajetória política do esporte no Brasil: interesses envolvidos, setores excluídos”) defendida em 1996 junto à área de ciências políticas do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG.

 

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Nenhuma evolução

O ocorrido em Natal-RN no último sábado (05-out) no Estádio Frasqueirão, que retardou o início do jogo entre ABC e Palmeiras, jogo válido pelo Campeonato Brasileiro da Série B, não é simplesmente a cena do absurdo ou do descaso. É, na realidade, a prova cabal de que não evoluímos nada em termos de tratamento e cuidado com o torcedor.

E aqui não estamos falando em luxo, mordomias, cadeiras confortáveis e tantos outros complementos que caracterizam as novas arenas multiuso a que tanto defendemos.

Estamos diante do eterno descaso que se dá a segurança – e que acaba, naturalmente, se refletindo indiretamente nas simbologias de estádios modernos citadas no início deste parágrafo.

Se ainda não aprendemos o básico, não há como se esperar que haja a efetiva entrega de valor adicional ao torcedor.

Vamos comparar:
 

1989

Estádio Hillsborough, em Sheffield – Semifinais da Taça da Inglaterra entre Liverpool e Nottingham Forest

1992

Estádio Maracanã, Rio de Janeiro – Final do Campeonato Brasileiro entre Flamengo e Botafogo

2000

Estádio São Januário, Rio de Janeiro – Final do Campeonato Brasileiro entre Vasco da Gama e São Caetano

2013

Estádio Frasqueirão, Natal – Jogo válido pelo Campeonato Brasileiro da Série B entre ABC e Palmeiras

Não que a comparação com a Inglaterra seja o símbolo da perfeição de um lado com o do caos de outro. Mas, o fato é que, enquanto uma tragédia impactou em uma mudança de 180º no país da rainha, por aqui, continuamos a assistir situações de total descaso, sem que haja qualquer iniciativa, seja por parte dos clubes, seja por parte da entidade de administração do esporte, para que haja uma solução efetiva.

Já não adianta mais a punição pela punição, como a perda do mando de campo ou a aplicação de multa pecuniária. O Poder Público também tem se mostrado ineficiente quando o assunto é a responsabilização civil dos dirigentes. As sanções devem começar a impactar o resultado esportivo.

Enquanto isso não ocorrer, basta ficarmos, de camarote, assistindo ao próximo absurdo no tocante ao tratamento ao torcedor. E depois não adianta reclamar que este mesmo torcedor abandone o clube em momentos de crise da equipe ou que continue registrando taxas pífias de ocupação do estádio.

Basta sempre rememorar que não o respeitamos no momento que mais precisamos dele…

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Por que tudo que você sabe sobre futebol está errado

Rodrigo Leitão, ídolo e companheiro de coluna aqui na Universidade do Futebol, já havia abordado o tema em texto publicado no dia 22 de setembro deste ano.

Voltei a ouvir sobre o assunto em uma reunião de jornalistas, e essa segunda referência foi suficiente para aguçar demais a curiosidade. Fui atrás do livro “Os números do jogo – por que tudo que você sabe sobre futebol está errado”, de Chris Anderson e David Sally (Editora Paralela, 352 páginas), e desde então ainda não consegui desgrudar da obra.

Anderson chegou a tentar carreira como jogador de futebol, mas atualmente trabalha como professor de estatística na universidade Cornell, situada nos Estados Unidos. Sally também trocou o beisebol por uma vida como docente no ensino superior norte-americano – é funcionário da Tuck School of Business.

Os dois resolveram escrever um livro para esmiuçar o futebol por meio de dados estatísticos. A obra mistura histórias e dados que balizam uma série de conclusões dos autores sobre o jogo.

O livro conta, por exemplo, que o técnico David Moyes era um usuário contumaz de estatísticas quando comandava o Everton na elite do futebol inglês. O trabalho de análise no time de Liverpool é feito por Steve Brown e Paul Graley, que reúnem informações sobre adversários, possíveis reforços e os próprios atletas da equipe.

Antes de um jogo, Brown e Graley analisam vídeos das cinco partidas anteriores do rival do Everton. Buscam padrões e tentam identificar comportamentos que a equipe pode coibir para se aproximar de uma vitória.

Moyes teve trajetória de sucesso no Everton. Deixou o clube no meio deste ano para substituir o lendário Alex Ferguson no comando do Manchester United. No gigante inglês, manteve o apreço por estatísticas e dados analíticos. Até aqui, o resultado disso é o pior início da história do clube na Premier League.

É praticamente impossível ler o livro de Anderson e Sally sem fazer comparações com a história do filme “Moneyball”, obra dirigida por Bennett Miller em 2011. O longa-metragem conta a história real de Billy Beane, gerente do time de beisebol Oakland Athletics em 2002.

Naquela época, os A’s haviam perdido os três melhores jogadores. E Beane, em busca de reposição, apelou a uma metodologia baseada em números e estatísticas. Ele não apenas usou os números, mas interpretou esses dados de uma forma diferente.

Estatísticas são muito comuns no esporte dos Estados Unidos. LeBron James, maior jogador de basquete do planeta, é um fã do assunto. Ele defende o Miami Heat, time da liga de basquete profissional dos Estados Unidos (NBA), e a franquia conta com Shane Battier, outro atleta conhecido por ser muito estudioso.

Em entrevista concedida no ano passado, Battier revelou que ficou impressionado quando conheceu o apreço de James pelas estatísticas. O craque da equipe usa os dados diretamente no jogo – se ele está marcando alguém e esse atleta tem índices ruins em chutes no lado esquerdo, por exemplo, o camisa 6 força o rival a driblar nessa direção.

James precisa acionar o banco de dados mental em vários momentos de um jogo. O basquete é um esporte que envolve decisões urgentes e tem alto grau de exigência. Ainda assim, é possível tirar vantagem dos dados.

A repercussão sobre o livro de Anderson e Sally focou mais os dados que eles levantaram. Os pesquisadores analisaram dez temporadas da Premier League, por exemplo, e concluíram que um time faz um gol oriundo de cobrança de escanteio a cada dez partidas. O baixo aproveitamento sugere que fazer cruzamentos para a área não é a melhor opção nesse tipo de lance.

Os números obtidos pelos autores, contudo, são apenas parte da história. O futebol é um jogo complexo e oferece diferentes caminhos para a vitória. Um time pode optar por controlar a bola até encontrar espaços na defesa rival, por exemplo, ou tentar tomar a posse no campo de ataque e aproveitar um momento em que o adversário esteja menos arrumado. São duas estratégias distintas, que dependem de características e ações distintas.

É possível aproveitar a estatística de forma direta. Se o time rival tem um jogador com aproveitamento muito bom em cobranças de falta, a equipe precisa ser orientada a não cometer infrações que permitam tiros diretos. Esse é apenas um exemplo simples.

No entanto, o grande negócio é entender que tipo de comportamento esses números traduzem. É possível mapear a postura de um time a partir das estatísticas, mas como prever as reações dos atletas rivais às suas estratégias?

Traduzindo em exemplo: você pode identificar por meio de números que o rival tem uma fragilidade quando sai jogando pelo lado esquerdo da defesa. Você pode optar então por uma marcação que force a bola a passar por ali. E quando o lance estiver no setor, você pode adiantar a linha ofensiva para pressionar o adversário.

Tudo isso pode funcionar, mas também pode exigir do jogador pressionado uma decisão que abra caminho para um lance que ele não faria normalmente. Essa é a parte complexa da coisa.

O próprio livro de Anderson e Sally apresenta uma comparação entre vários esportes coletivos. Segundo os autores, o baixo número de gols marcados faz do futebol o evento mais imprevisível entre essas modalidades.

Os autores dizem que o time mais forte vence uma média de 70% dos jogos no handebol. O basquete e o futebol americano ficam um pouco abaixo desse índice, e o beisebol tem triunfos dos favoritos em 60% do tempo. No futebol, a incidência de resultados lógicos é pouco maior do que 50% das partidas.

Com base nisso, os próprios autores atribuem ao futebol um alto grau de imprevisibilidade. É possível mapear eventos e entender caminhos do esporte a partir de dados estatísticos, mas há vários componentes que não podem ser medidos.

Conheci um técnico uma vez que dizia sempre o seguinte: “Não há gol no futebol que não seja ocasionado após pelo menos oito erros do time vazado”. A tese dele é que, se você isolar componentes de um lance que acabou com bola na rede, vai perceber que quase todos os atletas tomaram decisões erradas. Ou que um mesmo jogador teve várias decisões errada.

Ainda não terminei de ler o livro de Anderson e Sally, mas recomendo muito. Eles estudaram, pesquisaram e mostraram uma série de informações que podem nortear o entendimento sobre o futebol. A obra é rica e tem um texto simples, com boa fluência. Não é um amontoado chato de estatísticas.

O que o livro deles não explica – e nem parece ter pretensão de explicar, diga-se – é o componente humano. Números podem reduzir drasticamente a margem de erro, mas as decisões vão seguir sendo tomadas por pessoas.

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Esporte e Educação para todos, não para poucos

Ana Moser, à frente do movimento Atletas pelo Brasil, insiste que a luta do grupo que lidera destina-se a criar condições favoráveis de prática esportiva para todos, não para poucos.

Como política esportiva, dentre outras bandeiras, o movimento defende que o foco deveria ser a prática esportiva inclusiva nas escolas, desde o ensino fundamental.

Uma parte importante desse processo, no Brasil, passa pelos investimentos em infraestrutura esportiva, uma vez que 75% das escolas do país não possuem espaço (quadra) para oferecer atividades esportivas e menos de 1% possuem estrutura ideal (http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/06/04/menos-de-1-das-escolas-brasileiras-tem-infraestrutura-ideal.htm)

Não é que dispõem de algo “mais ou menos”. Não possuem espaço dedicado aos esportes. Mesmo porque, antes disso, faltam-lhe salas, banheiros, bibliotecas, refeitórios…

Ou seja, recursos materiais são fundamentais: Quadras, equipamentos públicos, artigos esportivos acessíveis e de qualidade.

Recursos humanos também faltam em quantidade e qualidade significativas. Profissionais de Educação Física nas escolas, por incrível que pareça, são raros no país, em geral (exceções feitas às Regiões Sudeste e Sul).

Somem-se a isso, por exemplo, as possibilidades e intenções políticas de se reduzir a carga horária da disciplina nas escolas municipais e estaduais, e a equação de subdesenvolvimento esportivo estará criada.

Enquanto o esporte não for considerado, na gestão de políticas públicas, como meio de transformação social, inclusão e educação – lutemos para isso – sua disseminação qualitativa ficará muito limitada no Brasil.

O esporte pode mudar com a ajuda da educação. Sim! Enquanto o contrário ainda não seja possível, o melhor caminho é disseminar o conhecimento, a formação e a capacitação de todos aqueles que se interessem pelas variadas dimensões do esporte e nele atuem profissionalmente.

A estratégia é massificar o conhecimento sobre e para o esporte, sem descuidar da qualidade.

Moocs.

Em outras palavras, massive open online courses, cursos online abertos e, muitos deles, gratuitos.

Grandes universidades do mundo todo já oferecem cursos de diferentes áreas do conhecimento, com variações em seus modelos, tecnologia das plataformas, validade da certificação, gratuidade ou pagamento de mensalidades, etc.

Os três maiores portais do mundo oferecem 500 cursos distintos e não param de investir na qualificação e expansão do ensino à distância.

A única fronteira existente para que ganhem o mundo é o idioma. Mas, até isso, a tecnologia dá conta de contornar.

No Brasil, 15% dos universitários estão vinculados ao ensino à distância.

Nesse sentido, a Universidade do Futebol, pioneira no esporte e no futebol, ocupa papel de destaque e, sem dúvida, irá figurar, em breve, no rol das maiores e melhores iniciativas do gênero no mundo todo.

Os cursos Educar pelo Esporte e Educar pelo Futebol, dentre o leque de cursos técnicos e de gestão oferecidos pela Universidade do Futebol, são de vanguarda mundial e tem a capacidade de articular parceiros do setor público, do setor privado e do 3º setor, para disseminar seus conteúdos e contribuir com a formação de redes articuladas de ensino, pesquisa e mobilização social.

E, na esteira disso, as redes formarem outras redes, e outras redes, e outras redes…

A educação não precisa esperar, sentada, primeiro pela visita do esporte e do futebol.

Ela pode, sem cerimônia, bater à porta destes agora, que será muito bem-vinda e bem recebida.

Certamente, haverá retribuição da hospitalidade e cortesia, no futuro.

E o Brasil agradecerá por essa duradoura união.

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Futebol: a fisiologia do desgaste, a resistência de concentração, a criatividade e os erros de decisão

O futebol jogado em altíssimo nível competitivo tem peculiaridades muito importantes.

Claro, como esporte coletivo que é, de "invasão de território", com companheiros, adversários, bola, terreno de jogo e alvos bem definidos é de se esperar que um "sem número" de eventos bem interessantes e particulares se expressem a todo o tempo durante partidas de futebol.

Assim como outros esportes coletivos de invasão, existem diversas ações de alta intensidade durante um jogo; ações que nascem de maneira aleatória, acíclicas e interligadas, e intercaladas por momentos de recuperação – (recuperação ativa ou não, fisicamente falando – a partir do viés sistêmico, a recuperação é sempre ativa).

Sob o ponto de vista fisiológico o futebol é surpreendente. Nos tempos atuais, um jogador de futebol pode percorrer 14,0 km em uma partida (nos dados apresentados pela Uefa, em jogos da Champions League, não é incomum que esse valor apareça) – o mais comum é que a distância final média percorrida por um jogador em 90 minutos fique entre 8,5 e 12,0 km, dependendo da posição, função, equipe e circunstâncias do jogo.

Estudos mostram que, no futebol europeu, é mais comum distâncias finais mais próximas de 11,0 km. No Brasil, os poucos trabalhos publicados com jogadores profissionais a respeito do tema e os dados monitorados por alguns clubes, mostram mais frequentemente algo por volta de 9,0 km.

Dentre os esportes coletivos de invasão – (como por exemplo, futsal, basquetebol, handebol, rúgbi, etc.) é o futebol aquele em que a distância percorrida pelos jogadores e equipe é maior: no basquetebol enquanto um jogador percorre algo em torno de 5,0 km, no handebol cerca de 4,6 km, no futsal no campeonato espanhol por exemplo 4,6 km, e no último jogo do FC Barcelona na Champions League, 10,8 km para o jogador Iniesta – em jogo que sua equipe venceu pelo placar de 4 a 0.

Claro, as dimensões do terreno de jogo no futebol, associadas ao tempo de duração e ao número reduzido de substituições de jogadores em uma partida, o tornam um dos mais desgastantes dentre todos – e se pesarmos o fato de que o futebol é jogado ao ar livre, sob sol, sereno e/ou chuva fica mais fácil ainda entender as dimensões do desgaste que proporciona aos seus praticantes (e a acentuada perda de massa corporal nas partidas).

Autores importantes da fisiologia e bioquímica do esporte (como por exemplo, Bangsbo, Gunnarsson, Nédelec, Nielsen e seus colaboradores) vem relatando ao longo dos anos que se todos os procedimentos nutricionais e de recuperação forem realizados em favor do jogador após uma partida em que jogou 90 minutos, é possível que após 96 horas do jogo (ou seja, mais do que as 72 horas normalmente admitidas como necessárias), o atleta ainda não tenha conseguido recuperar 100% do seu glicogênio muscular – combustível importantíssimo para jogar futebol.

Se tomarmos o Brasil como exemplo, é possível que por questões geográficas, associadas a variáveis logísticas de viagens, clima e gramados, as preocupações com o desgaste sofrido por um jogador tenham que ser ainda maiores do que as normalmente tidas como "padrão".

E o grande número de acelerações, frenagens e tomadas de decisão que um jogador de futebol realiza em uma partida (com ou sem bola) faz com que o desgaste metabólico/energético não seja o único grande problema para a recuperação e para os jogos: há ainda prejuízos neuromusculares importantes que na prática levam ao aumento de erros nas "ações técnicas", por prejuízo na coordenação fina – e acumuladamente a lesões – além de erros de decisão que podem levar o jogador a ações técnico-táticas equivocadas.

O futebol é também essencialmente um jogo de "resistência de concentração", onde há uma "briga" constante para a manutenção do foco naquilo que precisa ser feito em nível de excelência e em frações ínfimas de tempo.

Então, sob o ponto de vista da neurociência e da psicologia do esporte, o desgaste global do jogador de futebol em uma partida é resultado de um sem número de fatores que interligados e integrados criam um emaranhado de variáveis que dão caráter de complexidade sistêmica ao jogo.

Esse desgaste sistêmico, acumulado ao longo de semanas de jogos e recuperações incompletas vão resultando, a médio prazo, em jogadores com desempenhos menos constantes, ações técnicas menos precisas e repressão a criatividade.

A longo prazo os prejuízos acumulados podem levar a jogos menos atrativos, jogadores mais cansados, propensos a lesões, e claro, carreiras atléticas de alto nível competitivo encurtadas.

Como escrevi no início do texto, o futebol, jogado em altíssimo nível competitivo tem peculiaridades muito importantes, e se não olharmos para elas "complexamente" poderemos não entender ocorrência em princípio atribuídas a "sorte" e "acaso".

É isso…

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A venda de cervejas no Serra Dourada

Conforme já exposto em outra coluna, a empresa Parlamento Restaurante Ltda havia proposto ação contra a CBF a fim de viabilizar venda de bebidas alcoólicas no estádio Mané Garrincha, em Brasília.

Após concessão da liminar, na sentença a Magistrada entendeu que o Estatuto do Torcedor proíbe a venda de bebidas alcoólicas e suspendeu sua comercialização.

Vale destacar que, ao contrário do que afirmou a Magistrada, o Estatuto do Torcedor não proíbe a venda de bebidas alcoólicas, eis que o art. 13-A da referida lei estabelece como condição de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência. Ou seja, , não há qualquer vedação expressa à venda de bebidas alcoólicas.

Recentemente uma decisão judicial do estado de Goiás trouxe novamente o debate à tona, eis que foi concedida medida liminar para venda de cerveja no estádio Serra Dourada sob o fundamento de que o produto é culturalmente ligado ao futebol e que a CBF não tem direito de impedir qualquer comércio dentro dos estádios, que são de propriedade dos clubes ou de governos municipais ou estaduais.

O juiz mencionou, ainda, o prejuízo que os comerciantes têm com a proibição oriunda de uma resolução da da CBF e acrescentou que se a cerveja é tida como um dos fatores que contribuem para a violência nos estádios, quem tem que tomar as devidas providências é a Polícia Militar.

Ora, os bares do Serra Dourada cumprem todas determinações legais como alvará de licença do Município de Goiânia. Ademais, conforme o inciso II, do art. 5º, da Constituição Brasileira, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da Lei.

Deve o Poder Público criar formas de se combater a violência, ao invés de estabelecer proibições.

Ante o exposto, entende-se como corajosa e louvável a decisão do Juiz goiano, eis que foi contrária aos interesses do Ministério Público, da CBF e até mesmo de setores da opinião pública.

Doutro giro, a referida decisão mostra coerência com o que estabelece a legislação brasileira (especialmente a Constituição), bem como está em consonância com com os estudos modernos acerca da violência nos estádios de futebol.

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O goleiro e a sua liderança em campo

Já ouvimos diversas vezes no meio do futebol a velha frase: “Toda grande equipe sempre começa por um grande goleiro!” e isso na prática nos parece verdade não é mesmo?

O goleiro que inspira confiança à sua equipe tende a ser realmente um grande destaque na sua posição, mas isso se conquista com muito treinamento apurado e condições físicas excepcionais para que este atleta possa desempenhar seu papel com precisão e a segurança esperada por todos. Mas aqui cabe ressaltar que todo goleiro precisa também ter algumas qualidades psicológicas que são indispensáveis a posição, tais como:

CORAGEM: Esta posição exige a coragem necessária para enfrentar a todo momento as diversas investidas contra sua meta.

CALMA: O goleiro deve estar sempre consciente, analisando e observando a melhor maneira de defender seu gol e esta atividade exige tranquilidade elevada para escolher as melhores opções de ação ou reação.

CONCENTRAÇÃO: Do goleiro exige-se que ele nunca se distraia ou desligue da partida, pois sua atenção no jogo e no adversário pode ser decisiva para o resultado de uma partida.

INICIATIVA: Muitas vezes um breve momento de indecisão do oponente pode ser o suficiente para que o goleiro recuperar a posse de bola.

LIDERANÇA: Por ser o último defensor da meta, naturalmente o goleiro exerce liderança em campo, comandando sua defesa e orientando os atletas em situações de perigo.

Ao observarmos as qualidades psicológicas acima citadas, podemos compreender como é importante o papel do goleiro em campo e isso nos relembra a importância de sua liderança na equipe.

Ao comandar a organização de sua área, o goleiro exerce uma liderança incontestável sobre os demais atletas que ao demonstrarem confiança nele seguem sua orientação com a certeza de que estão fazendo o melhor naquela ocasião. Sendo assim, podemos dizer que todo bom goleiro tem as características podem leva-lo a ser um bom líder.

Então, o desenvolvimento da competência de líder coach é mais do que necessária para todos os goleiros uma vez que invariavelmente estes estarão expostos ao longo de sua carreira a situações que lhe exigirão agir aplicando tais competências. Enquanto líderes necessitarão, por exemplo:

• Ter capacidade de motivar,
• Comunicar com excelência,
• Inspirar os demais à ação,
• Orientar tática e estrategicamente,
• Demonstrar autocontrole,
• Atuar como um integrador em campo.

E fica a reflexão: será que estamos preparando nossos goleiros para atuarem com excelência física, técnica e comportamental para que estes possam conquistar a alta performance na sua posição?!