Categorias
Sem categoria

Posse de bola ou "toque de bola"?

As primeiras três resenhas apresentadas à Universidade do Futebol abordaram alguns temas que, juntos, formatam uma linha filosófica de trabalho no campo. As ideias discutidas representam parte da vertente metodológica do meu novo momento como treinador. A partir de agora, mencionarei mais detalhadamente sobre pontos táticos importantes do jogo.

O jogo brasileiro já foi recheado de troca de passes e por se acreditar tanto no "poder do toque de bola”, hoje mais comum e tecnicamente denominado “posse de bola”, o nosso futebol tinha ideia tática de jogo para os seus times. É incrível como a predominância de um grande conceito tático teve o poder de transformar e estigmatizar um jogo a ponto de fazer escola. Esse comportamento virou chancela brasileira no futebol internacional. Corria e encantava o mundo a fama do toque de bola do futebol brasileiro. Falava-se muito do jogador canarinho, mas também da "cadência" do nosso jogo.

Hoje isso se perdeu. Não temos toque de bola, ou posse de bola, e o jogo brasileiro se descaracterizou. Onde foi que erramos se é que podemos considerar que erramos?

Ao contrário do que muita gente pensa, a posse de bola eficiente e eficaz que alguns treinadores querem reimplantar ao jogo brasileiro não é a simples troca de passes sem objetivos e ou ofensividade. Tem de haver profundidade em suas intenções ainda que se comece e ou passe pelos lados do campo.

A posse de bola de valor que o futebol moderno já conhece e aplaude era o "toque de bola genuíno" que o jogo brasileiro praticava na época que não havia o êxodo dos grandes craques e nem a "ansiedade burra" imposta ao jogo de hoje. Agora, nossos jovens saem cedo do Brasil para dar qualidade ao jogo dos grandes clubes europeus.

Enquanto isso, a era do computador trouxe a exigência das respostas rápidas a tudo em nosso mundo. Inclusive no trânsito da bola em campo. O jogo que antes era articulado, agora é apavorado. Tudo em nome da velocidade e ou vitória. A bola que antes era trabalhada para chegar ao gol adversário agora deve estar lá de qualquer jeito, pois o importante é ganhar.

Efeito colateral disso: o jogo se perdeu, ou não existe mais jogo. Perdemos jogadores e o jogo! Aquele toque de bola que o técnico Pep Guardiola, então comandante do Barcelona, falou ter "copiado" para formar, talvez, o melhor jogo que o mundo já viu se perdeu para dar lugar a esse "jogo moderno" dos brasileiros.

Para resgatarmos o toque de bola canarinho será preciso alguns sacrifícios e ou sacrificados. É filosófico e verdadeiro. Algo muito forte terá de acontecer para mudarmos a mentalidade da comunidade da bola no Brasil e fazermos cultura de um novo e melhor jogo.

Pois bem, posse de bola é troca de passes sim: com qualidade; velocidade; de flanco a flanco às vezes, mas com profundidade, em direção ao gol adversário e com finalizações; etc. Só que hoje, para se alcançar esse nível de posse de bola é preciso resgatar no jogo brasileiro alguns conceitos perdidos: a técnica, a organização posicional que é base para o conjunto, o prazer pela troca de passes…

Perdemos a confiança e ou a necessidade de jogar com os companheiros. O "entorno" do jogo pressionou os jogadores e as equipes a jogar pra frente de tal forma que a "vitória é sempre o mais importante", custe o que custar.

Talvez, por isso, estamos tendo mais derrotas que antigamente. Não encantamos mais o mundo, apesar dos ótimos jogadores que ainda temos. Não tenho dúvidas, nossa escola de talentos, a "escola de rua", continua produzindo jovens habilidosos que se adequam perfeitamente aos padrões atuais do futebol. A escola brasileira de futebol, a que fomenta o jogo, é que precisa se modernizar e transformar o seu toque de bola em posse de bola.

É a mesma coisa, mas, é diferente. Assista aos jogos das seleções de 70 e 82, dois grandes ícones da qualidade do jogo mundial e o Barcelona de hoje. Causam o mesmo prazer, mas são diferentes. O "jogo brasileiro" caiu de moda. Somos uma "grande colcha de retalhos" quando o assunto são as táticas coletivas. Estamos nos emendando em verdades e mitos retrógrados que estacionaram o desenvolvimento na qualidade de treinos e jogo.

Sempre procuro oferecer os dois lados à discussão. Esse é o meu lado professor, que a cada ano que passa me faz acreditar que realmente escolhi a profissão que me cabe. Por isso, devo ser justo dizer que existe uma fatia considerável no mercado de treinadores brasileiros que está procurando mudar o estado de coisa em treinamentos e concepção de jogo.

Infelizmente, ainda não temos nossa profissão de treinador regulamentada, no país do futebol, e tudo é muito difícil para fazer valer algumas posições. Como vamos provar aos dirigentes, mídia e torcedores, por exemplo, que é preciso tempo para implantar um modelo de jogo em uma equipe de futebol profissional? Alguém tem a resposta? Se conseguíssemos resolver esta questão poderíamos eliminar muitos problemas do jogo brasileiro.

Mas, vamos falar do que interessa… O Barcelona da posse de bola e ou toque de bola ganha quase tudo com eficiência e eficácia. Mesmo com o "entorno" que cerca um clube e um time dessa envergadura. Reconheço que o perfil de jogo do Barcelona é cultura estabelecida com trabalho de mais de 20 anos. Desde os tempos de Cruiff e Rechack, seu auxiliar, além de alguns outros profissionais que lá se mantém desenvolvendo a metodologia de trabalho vigente.

Mas, será que existe mesmo um método de treinos que facilite esse processo? Que desenvolveu e continua desenvolvendo o jogo deles? Que seria capaz de ser transportado para o futebol brasileiro para colocá-lo de novo em sua direção? Posso garantir que há.

Existe uma metodologia de treinos afeita às características e necessidades do futebol brasileiro que está lá e pronta para ser usada. Trata-se da ampla abordagem da "metodologia sistêmica" de conceber e treinar o jogo. É entender e trabalhar o jogo como jogo evitando dissecá-lo para encontrar respostas aos fenômenos que só existem na complexidade do próprio jogo.

Êta coisa complicada!! Não há nada complicado! Essa metodologia é tão simples que permitiu aos teóricos complicá-la e a colocarem numa redoma de acesso limitado e aos práticos se assustarem e a rejeitarem.

Voltando mais uma vez ao toque de bola, convido a comunidade futebolística brasileira a começar reaprender a usar esta metodologia organizando o jogo pelo poder da posse de bola.

Vamos resgatar o toque de bola brasileiro. Não haverá "extracampo" que seja capaz de atrapalhar. Ainda que demoremos um pouco, vamos pegar o caminho certo e que já conhecemos: o caminho do toque de bola!!

Mudando o assunto sem sair dele… Em dezembro de 2012 tive a oportunidade de interagir com o alto nível de competência dos professores João Paulo Medina e José Guilherme de Oliveira. Assisti às suas aulas no Programa de Qualificação de Treinadores de Futebol –
Licença A – da CBF-PUC-Minas.

Foram trinta saborosas horas e de muito ganho. Fui privilegiado ao curtir esses momentos. Quantas dúvidas puderam ser desfeitas a cerca da "periodização tática" no futebol, pano de fundo das explanações do Prof. Medina e tema central do Prof. José Guilherme.

Fui atraído ainda mais pelo tema, e só para deixar registrado, deixo aos leitores a impressão do Prof. José Guilherme, com a qual compartilho sem pestanejar: "Escola Brasileira de Futebol e Periodização Tática são um casamento perfeito. Nasceram uma para a outra."

Estive na Espanha com o Atlético-PR disputando um torneio contra grandes equipes do Leste Europeu. As boas respostas que a nossa equipe deu em campo me fazem acreditar ainda mais nesta verdade. O futebol brasileiro é um gigante adormecido que precisa despertar para um jogo tático mais bem jogado.

Até a próxima resenha.

Para interagir com o autor: ricardo@universidadedofutebol.com.br

 

Categorias
Sem categoria

Assentos marcados

Complementando a abordagem da semana passada, em que relatei a experiência de ir à inauguração do Maracanã no jogo Brasil x Inglaterra, gostaria de avançar sobre o debate (eterno) dos assentos marcados em estádios, que é uma realidade na Europa e deverá ser uma tendência nas novas arenas brasileiras.

Alguns críticos ou até mesmo uma parcela significativa do torcedor comum argumenta sob a ótica do "popular", que a existência de cadeiras marcadas tenderia ao aumento do ticket médio, afastando os espectadores de menor renda e, por tabela, as torcidas organizadas.

Estes argumentos são fruto de uma mudança cultural. Tal e qual se dizia que a proibição de fumar dentro de bares e restaurantes acabaria com o lucro destes empreendedores. Ou quando se transformou o cinema e o colocou em locais mais seguros, dentro de shoppings, com cadeiras mais confortáveis, serviços melhores e, naturalmente, ticket médio maior, fazendo com que as pessoas de menor renda tenham que esperar o filme ser exibido em TV aberta alguns anos depois da sua estreia no cinema.

Acompanhar jogos de futebol em um ambiente confortável, seguro e com bons serviços é um caminho sem volta. Ninguém mais terá saudade dos antigos estádios após experimentar os novos.

Mas há que se relevar um aspecto importante, o qual já fui mais resistente mas que agora vejo que é possível atender a diferentes classes sociais, com diferentes faixas de preços e serviços adequados para cada setor.

É o tal "Sistema do Avião", em que as pessoas podem partir de um mesmo ponto e chegar em outro, em um mesmo meio de transporte, com serviços diferenciados para quem pagou mais por isso – seja na poltrona mais espaçosa, reclinável ou atendimento de bordo diferenciado.

É o que faz o Borussia Dortmund, que reserva uma parte da arquibancada para a torcida organizada, sem cadeiras, que permite um espetáculo ímpar para quem frequenta o "Signal Iduna Park", registrando quase 100% de ocupação durante uma temporada regular em um estádio com capacidade para pouco mais de 80.000 espectadores.

A linha é esta. A mudança cultural precisa ser feita e, às vezes, ela é dolorosa. O importante de todo esse processo é melhorar a oferta para os torcedores e permitir que os clubes passem a explorar melhor o potencial das arenas em termos de receitas, procurando desvincular a relação direta de "Performance Esportiva x Taxa de Ocupação" do estádio.
 

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

 

Categorias
Sem categoria

Lições do Superman para o futebol brasileiro

"Man of steel" ("Homem de aço"), novo filme protagonizado pelo Superman, chegará na próxima sexta-feira aos cinemas dos Estados Unidos (no Brasil, a previsão é que o longa seja lançado no dia 12 de julho). Antes da estreia, contudo, a obra dirigida por Zack Snyder (de "300" e "Watchmen") já serve como um compilado de lições para o futebol brasileiro.

O filme é a primeira aparição do icônico super-herói nas telas grandes desde “Superman Returns”, dirigido por Bryan Singer (“Os Suspeitos”, “X Men” e “X Men 2”) e lançado em 2006. Na época, a obra custou quase US$ 400 milhões, sofreu para arrecadar esse valor e colocou em xeque o futuro do “Homem de aço” nos cinemas.

Entre 2006 e agora, porém, a Marvel lançou uma série de obras de sucesso inspiradas em super-heróis. O maior exemplo foi o filme da equipe “Os Vingadores”, que chegou às telas em 2012 e amealhou US$ 1,5 bilhão mundialmente.

Histórias sedimentaram na DC Comics a ideia de levar aos cinemas um produto sobre a Liga da Justiça, grupo formado por heróis da editora. Não apenas pelo potencial global de arrecadação nas bilheterias, mas pela enorme quantidade de licenciamentos.

O novo filme de Snyder é um embrião disso. A missão do longa é revitalizar a franquia do Superman, e isso não representa apenas a pressão por um resultado consistente nas bilheterias. A meta é faturar.

O custo de produção de “Man of steel” ficou na casa dos US$ 225 milhões. Além disso, a Warner Bros. Colocou na produção outros US$ 150 milhões em campanhas de marketing.

Segundo o site “Advertising Age”, a produção do filme estima já ter recuperado mais de 75% do valor. “Man of steel” tem cem contratos de patrocínio ou placement, número recorde para o cinema.

Como o filme ainda não foi lançado, é cedo para fazer qualquer avaliação sobre a obra. Também seria igualmente precipitada uma projeção sobre o desempenho nas bilheterias. Mas já é possível dizer que há várias lições para o esporte nessa história.

A primeira dela é que nenhum dano de imagem é definitivo. Se fosse lançado logo depois do filme de Singer ou tivesse uma abordagem similar, o longa de Snyder sofreria muito com comparações – e com o fracasso – do antecessor. Nesse caso, a comunicação e o tempo tiveram papéis fundamentais para descolar uma obra de outra.

O segundo passo foi dar a franquia a um fã. Sempre que pode, Snyder mostra o quanto é interessado e o quanto entende da liturgia que envolve o Superman. Assim, as pessoas que admiram o personagem têm alguma segurança de que ele será retratado com respeito e precisão.

Além da recuperação da imagem e do respeito à história, o filme do Superman ensina ao futebol que ninguém pode ignorar o perfil do consumidor. A sociedade atual é diferente de quando o personagem foi criado, e os jovens de hoje são radicalmente distintos dos garotos daquela época. Eles mudaram o jeito de consumir informações, e isso criou novos paradigmas de heroísmo.

Até hoje, a franquia iniciada com “Superman”, obra dirigida por Richard Donner em 1978, é considerada o exemplo mais bem acabado de aparição do herói nos cinemas. Hoje em dia, porém, o filme ofereceria pouco para os jovens consumidores.

Outro ensinamento do novo Superman é a abordagem sistêmica, coisa que os heróis da DC nunca tiveram no cinema. Enquanto a Marvel criou um universo que comportasse todos os heróis e foi espalhando elementos disso pelos filmes até unir as pontas em “Os Vingadores”, “Man of steel” é o primeiro passo de um projeto que pode desembocar em “Liga da Justiça”. Pode.

Uma das razões do sucesso de “Os Vingadores” é que o filme sempre soube o que queria. Desde a concepção das aventuras individuais dos heróis, a Marvel colocou tudo a serviço de uma obra maior. Com isso, conseguiu resultados expressivos em todas as etapas.

No futebol brasileiro, é comum avaliarmos apenas o resultado. Um time é bom quando vence, e uma estratégia é eficiente quando funciona. Damos pouca atenção aos detalhes e aos processos. E aqui eu incluo imprensa, torcida e até profissionais do esporte.

A seleção brasileira comandada por Dunga era boa até a Copa do Mundo de 2010 porque vencia, ainda que usasse em demasia o contra-ataque, tivesse um repertório minguado e reservas em nível inferior ao dos titulares. A derrota para a Holanda nas quartas de final da África do Sul escancarou todos esses problemas.

Com Mano Menezes, o time era ruim porque não vencia. A seleção rejuvenesceu, passou a controlar mais a bola e mudou radicalmente a movimentação. A equipe passou a trocar mais passes laterais, mas ficou menos aguda e incisiva.

O time montado por Luiz Felipe Scolari, que no próximo sábado vai estrear na Copa das Confederações, é muito mais parecido com o de Dunga. Não pelos jogadores – a maioria foi convocada por Mano –, mas pela filosofia. É uma equipe que agride sem a bola, que produz retomadas em velocidade e que cadencia pouco.

No começo do trabalho de Mano Menezes, o colunista Tostão chegou a dizer que o Brasil vivia uma crise de esquizofrenia. Os jogadores eram moldados para o contragolpe e conviviam com essa ideia desde a base, mas atuavam em uma equipe que se propunha a ficar com a bola.

Sanada essa “crise existencial”, a seleção ganhou competitividade. E aí, pouco importa o que o Brasil vai produzir como “escola” ou “filosofia de jogo”. Quem avalia apenas o resultado não se preocupa com esse tipo de detalhe.

Não existe um jeito ruim ou um jeito bom de montar um time. Existem caminhos, e a escolha entre eles depende do que se quer atingir. Por isso, uma noção sobre o todo é tão relevante quanto uma análise sobre as minúcias.

O sucesso que o novo filme do Superman atingiu antes de ser lançado tem muito disso. A obra é abrangente, fala a diferentes perfis de públicos, atualiza um personagem clássico e tem uma série de ingredientes convidativos. Além disso, foi concebida como um produto, com um modelo de negócios que depende pouco do desempenho.

Isso soa como um acinte num momento de tantas más notícias para a mídia brasileira. Os últimos cortes foram cadernos da “Folha de S.Paulo” (o jornal acabou com “Ilustríssima” e “Equilíbrio”). A editora Abril fará uma redução ainda mais substancial, que pode atingir até 11 títulos, mas o processo ainda não foi totalmente anunciado.

Em alguns lugares isso é mais latente, mas o jornalismo ainda carece de um modelo de negócios mais eficiente. Não é possível que o faturamento esteja baseado no binômio formado por venda e anúncios.

O que o filme do Superman ensina, e que no cinema j&aa
cute; é até comum, é que o segredo é a criação de produtos. A bilheteria pode até não ser o ideal, mas a venda de cadernos, chaveiros, roupas e todo tipo de objeto alusivo ao personagem deve garantir a receita.

Aí cabe uma discussão para o futebol: de onde o futebol tira receita? Ela está atrelada ao desempenho, não apenas esportivo, mas de mídia ou de público? O futebol sabe se transformar em produto?

No Brasil, iniciativas de licenciamento e uso de marca ainda são produzidas fora de clubes e confederações. Há empresas que crescem muito nesse nicho, como Meltex e SPR, que gerenciam lojas e complementam estoques das equipes parceiras.

O que vira produto, porém, ainda é apenas o que esse tipo de empresa produz. O futebol não sabe transformar em produto o que tem de mais diferente, que é a emoção oferecida ao público. É algo que nem o cinema teria capacidade de fazer.

A reconstrução do personagem, o respeito à história, a preocupação com o consumidor, a abordagem sistêmica e a transformação em produto são bases para o sucesso precoce do novo Superman. Isso precisa ser assimilado urgentemente pelos profissionais do futebol brasileiro.

No caso do filme, ações simples de comunicação e gestão conseguiram dar fôlego a uma franquia que teve um percalço enorme há apenas sete anos. A situação talvez fosse mais grave do que qualquer crise de imagem de seleção ou clube.

A diferença é que no cinema eles tiveram tempo para esperar a poeira baixar e planejar direito. No futebol, a urgência e o perfil imediatista que imperam no Brasil fazem desse um exemplo bem distante. Talvez seja mais fácil esperar ajuda do Superman…

 

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Torcedores são indenizados por agressões de policiais

Em abril de 2009, em um dia de clássico Atlético-MG e Cruzeiro, os torcedores alvinegros, como de costume, concentraram-se em um posto de gasolina, próximo à entrada norte do Mineirão quando um carro com torcedores rivais passou pela avenida e foi alvo de vaias e ataques.

Em seguida, a polícia militar interveio no tumulto e um dos autores da ação caiu ao chão. Ao se levantar, ele foi até o policial dizendo que não havia necessidade de tanta violência.

Segundo consta nos autos, o policial ouviu a reclamação e desferiu golpes de cassetetes e coronhadas no torcedor, que estava com a família. O filho do torcedor também foi agredido e preso e sua filha, empurrada e ameaçada. Um quarto torcedor que passava pelo local, interveio e também agredido e conduzido para a viatura policial. Todos os fatos foram registrados por equipes de televisão.

A ação foi movida contra o Estado de Minas Gerais que apresentou contestação alegando que no dia do jogo havia um aglomerado de torcedores que estavam muito exaltados, ocupando a rua e intimidando os policiais.

Segundo a defesa, os torcedores disseram que tinham amigos na polícia militar e que iriam providenciar a expulsão do policial da corporação. Na defesa alegaram, também, que um dos torcedores desacatou o policial chamando-o de "tenente de merda", o que resultou na voz de prisão.

"Como reagiu à determinação, o policial teve que se defender", disse a defesa. Argumentou ainda que a PM estava agindo no estrito cumprimento do dever legal.

Valendo-se dos testemunhos, laudos do Instituto Médico Legal e de imagens de TV, o magistrado entendeu que o limite da legalidade foi extrapolado quando os agentes policiais partiram para as agressões.

Para a julgadora, os danos morais são devidos já que os torcedores se viram em situação vexatória e humilhante ao serem agredidos por policiais militares em público. Assim, condenou o Estado de Minas Gerais ao pagamento de R$ 30 mil a três torcedores e R$ 15 mil a uma torcedora.

Trata-se de decisão de Primeira Instância, ainda passível de recurso.

Vale destacar que a entidade organizadora e os clube mandante, nos termos do Estatuto do Torcedor possuem responsabilidade objetiva pelos danos sofridos pelos torcedores nas imediações do estádio.

Apesar de se tratar de decisão recorrível, agiu com acerto ao condenar o Estado de Minas Gerais ao pagamento de indenização por danos morais causados aos torcedores, eis que é dever do Estado assegurar a ordem e a segurança dos torcedores e qualquer ação ou omissão que importe em desrespeito aos seus direitos fundamentais são passíveis de punição.

 

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A lesão no esporte, sua recuperação e o coaching: qual a relação entre eles?

Muitos são os atletas de futebol que passam por situações desconfortáveis com lesões graves ao longo de suas carreiras, temos exemplos de superação e também exemplos de encerramento da carreira esportiva por causa destas graves lesões.

Será que muitos atletas e profissionais envolvidos no futebol conhecem os impactos e reações psicológicas que se apresentam após a instalação de uma lesão. Mas, então, uma vez não conhecendo estas reações como então passar a conhecê-las?

Um dos modelos mais aceitos que explicam como um atleta reage a uma lesão é o modelo de grief reaction, proposto por Kubler-Ross (1969), no qual o atleta após constatada a lesão passa por cinco estágios emocionais:

1. Negação, o atleta não acredita que a lesão possa ter acontecido com ele e tende a negar-lhe a devida importância.

2. Raiva, o atleta pode tornar-se agressivo com as pessoas a sua volta.

3. Barganha ou negociação, o atleta tende a negociar consigo mesmo na tentativa de se recuperar mais rápido; passando a racionar, pensar e propor soluções na tentativa de evitar a realidade da situação.

4. Depressão, o atleta reconhecer a lesão e suas prováveis consequências; a incerteza sobre seu futuro se instala.

5. Aceitação e reorganização, o atleta aceita a lesão e passa a estar apto para o processo de reabilitação.

E como os treinadores podem ter um rápido diagnóstico sobre o atleta após a lesão?

Existe um Checklist proposto por Heil (1999) que possibilita a avaliação do ajuste psicológico do atleta. Este é dividido em duas partes, sendo que na primeira parte denominada observação procura-se observar fatores situacionais e pessoais que estejam relacionados a dificuldade de adaptação à lesão.

Na segunda parte, denominada atenção, o treinador deve-se manter atento a fatores que normalmente não são observáveis no início do processo, mas que também podem interferir na recuperação do atleta (figura 1).

 

Checklist de adaptação à lesão (Heil)

Observação

Situacional

·  Pouco envolvimento com a reabilitação;

·  Recaídas na reabilitação;

·  Baixa capacidade mental após o retorno à atividade física;

·  Incapacidade de melhorar a habilidade física.

Pessoais

·  Apatia ou tristeza, expressão de culpa por abandonar o time;

·  Medo excessivo em determinadas horas;

·  Excesso de confiança;

·  Dor.

Atenção

· Problemas pessoais;

· Problemas físicos;

· Incapacidade de traçar metas de desempenho realistas;

· Preocupação com a lesão, com incerteza da recuperação completa.

E agora??? Já compreendemos a importância das reações psicológicas e também como ter um diagnóstico sobre as reações do atleta. Mas, como promover um adequado e eficaz processo de reabilitação?

Com o objetivo de potencializar e facilitar o processo de reabilitação, podemos utilizar as várias técnicas de superação existentes e dentre elas podemos citar o estabelecimento de metas, auto conversação, o relaxamento e a visualização.

E é neste ponto justamente que entra o trabalho do Coach junto ao atleta, pois o profissional desta área experiente e capacitado tem plenas condições de promover a adequada aplicação das técnicas acima citadas num processos de coaching para apoiar na recuperação da lesão do atleta.

Vamos compreender um pouco mais destas técnicas de superação a seguir!

Estabelecimento de metas

O trabalho de Coaching promove o estabelecimento de metas congruentes com a realidade, com os valores e desejos do atleta, bem como com validade sistêmica na vida pessoal e profissional do atleta. Podem ser estabelecidas metas para retorno a prática esportiva, são cridos pontos de avaliação e também estágios de avanço menores do que a meta final, promovendo o avanço gradual em direção ao objetivo traçado e com o aumento da confiança e da capacidade de realização de tarefas por parte do atleta. Isso aumenta consideravelmente a auto estima do atleta durante o processo de recuperação.

Auto conversação

A adoção das técnicas de auto conversação é extremamente importante para que o atleta possa lidar com a redução da autoconfiança, desenvolvendo no atleta a capacidade de bloquear pensamentos negativos.

Visualização

As técnicas de visual
ização podem ser divididas em quatro grupos:

• Imagem de recuperação ou afirmação, na qual pode-se imaginar uma meta de reabilitação sendo atingida ou ainda imaginar um atleta conseguindo atingir todos os objetivos traçados;

• Imagem de cicatrização, neste caso é preciso uma imagem que represente a capacidade efetiva do corpo de se curar como por exemplo a recuperação de um atleta com uma fratura, que passa a imaginar o fluxo sanguíneo chegando até a área lesionada e produzindo a cicatrização.

• Imagem de tratamento, quando o atleta toma conhecimento dos mecanismos que ocorrem durante o tratamento e o atleta pode imaginar esses efeitos positivos acontecendo naquele momento da fisioterapia.

• Imagem de performance, face a incapacidade momentânea de praticar o esporte naquele momento, o atleta pode visualizar imagens que simulem a performance específica, isso pode auxiliá-lo no treinamento de situações presentes em treino e competição e também ajuda a manter a confiança.

Relaxamento

A utilização das técnicas de relaxamento são uteis no alívio da dor e do estresse, que frequentemente acompanham os quadros de lesões e sua recuperação. Um exemplo prático que podemos compartilhar trata-se de um programa de dois minutos proposto por Lindemann (1984), conforme abaixo:

• Inicialmente o atleta adota uma posição cômoda em um lugar tranquilo e agradável;
• Fecha os olhos;
• Desenvolve uma atitude positiva para o exercício;
• Concentra-se no seu próprio ritmo de respiração;
• A inspiração deve acontecer naturalmente;
• Após a inspiração o atleta começa imediatamente uma expiração profunda;
• Após a expiração, o atleta faz um pequeno intervalo (sem forçar);
• A relação entre o tempo de inspiração e expiração deve ser aproximadamente de três para cinco, respectivamente;
• O atleta deve manter o exercício por dois minutos;
• O atleta deve abrir os olhos e aplicar uma fórmula positiva de autoafirmação, com por exemplo: “Estou me sentindo muito tranquilo e pronto para o trabalho”.

Esta técnica pode ser utilizada antes da aplicação de uma das técnicas de superação mencionadas anteriormente neste artigo ou quando o nível de tensão estiver aumentado.

Bem, agora sabemos a relação entre a recuperação de uma lesão no esporte e o trabalho de coaching, certo? Desta forma, apoio nesta empreitada não falta. Então boa recuperação e conte com o trabalho de um bom coach.

 

Para interagir com o autor: gustavo.davila@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Domingo, eu vou ao Maracanã…

No último domingo, os torcedores carioca e brasileiro puderam voltar a cantar a célebre música que embalou, por muito tempo, as arquibancadas do Maracanã. E ele voltou moderno, funcional e belíssimo.

Estive presente no amistoso entre Brasil e Inglaterra que marcou a reabertura do mais importante estádio do país e um dos mais emblemáticos do mundo. Além de poder aproveitar o domingo de lazer no novo Maracanã, procurei circular, dentro e fora do estádio, para ter um olhar um pouco mais técnico sobre a gestão e a operação do equipamento.

Pude constatar que temos muito mais pontos para elogiar do que para criticar. O estádio ficou, de fato, fantástico. E a operação, com algumas falhas (naturais, por ser o primeiro evento, que falarei a seguir), poderia, tranquilamente, ganhar uma nota 8,5 pelo conjunto da obra.

Sobre a organização, o entorno estava todo fechado para a passagem de carros, o que facilitou em muito o acesso ao estádio – aqui, cai por terra uma máxima que sempre se defendeu erroneamente no Brasil: “que seria necessário que uma arena estivesse circundada por avenidas largas e gigantescas”. O acesso deve sempre privilegiar o transporte público, como o foi na reabertura do Maracanã. Cheguei de forma muito tranquila pelo metrô. As duas estações próximas ao estádio (“Maracanã” e “São Cristóvão”) estavam sinalizadas para indicar os melhores acessos do público conforme seus portões de entrada.

Do lado de fora do estádio, as filas estavam grandes para a entrada do público, demorando algum tempo para o efetivo acesso. A demora foi justificável por conta das “vistorias de segurança”, nos mesmos moldes do aeroporto, com esteiras de Raio X e portas de detecção de metal. Novos procedimentos, novos aprendizados para melhorias paulatinas no futuro.

Já dentro do estádio, o visual é fantástico em qualquer assento. Quatro telões de alta definição complementavam as informações relacionadas ao jogo. Os assentos são bastante confortáveis (apesar de ter visto relato de amigos que mostraram assentos quebrados ou sujos).

Stewards e Seguranças, ao invés de policiais fardados, fizeram a organização e orientação do público dentro do estádio. Abordei este assunto aqui e aqui. Isto é fundamental se quisermos dar, de fato, uma nova cara à operação dos novos estádios.

A parte de bares e banheiros também esteve dentro de uma organização desejável, sem o registro de maiores problemas. Fiz questão de ir, no intervalo da partida, em ambos. Percebi uma pequena fila para os bares no setor que estava, o que é perfeitamente normal. Li e vi reportagens que relataram que alguns produtos haviam acabado, o que, da mesma maneira, acaba por ser uma falha que tende a ser corrigida ao longo do processo de aprendizado da operação.

O único problema que pude registrar e, talvez, um tanto quanto desagradável, ocorreu com a marcação de assentos. Tentei acessar o assento que eu havia comprado juntamente com minha noiva (nº 7 e 8, fila W do Setor 313) e, quando cheguei, havia outro casal no lugar. Pedi para sentar ali, o que me foi negado. Optei por sentar ao lado (assentos 4 e 5), em um lugar que estava livre. Aí virou bola de neve: minutos depois chegou outro casal, que deveria sentar nos lugares 5 e 6. Viram a situação e se acomodaram ao lado, nos assentos 4 e 5.

Outro tempo se passou e chegou um grupo com quatro pessoas, que exigiu sentar nos lugares de 1 a 4. Aí virou uma grande confusão, com a ira de várias pessoas sobre o primeiro casal desta breve história. Pedimos aos Stewards para intervir e eles não o fizeram (a orientação geral para arenas é que os Stewards façam a primeira abordagem, indicando quem está certo e, quem estiver em assento errado, conduzi-lo ao correto. Caso a primeira abordagem não resulte, deve-se chamar os seguranças para a solução do impasse). Por fim, com a pressão e o início do jogo, o casal saiu do lugar onde estavam sentados e todos que ali estavam conseguiram se acomodar.

Este tema de “assentos marcados” é polêmico. Trata-se de uma mudança cultural do público, que só vai ocorrer com o tempo e com um certo desgaste inicial, o que também é muito natural. O que não pode é parar com o processo, devendo ser um ato contínuo firme e sem abrir exceções em nenhum evento. E também, agora apontando uma falha grave da organização, é colocar “meio termo” para ingressos – no relato que fiz, a confusão se deu, na verdade, porque no Setor 313 em que estávamos os lugares eram marcados, sem exceção. No Setor 517 (que era o setor do referido casal), o ingresso indicava “Assento Livre”. Para quem não está habituado a ir em jogos, ainda mais em um estádio praticamente novo, a confusão é natural.

Nas imagens a seguir, temos o ingresso deste casal, com a indicação “Assento Livre” e o setor que eles deveriam estar sentados. O que podemos observar é que a confusão foi gerada por uma “exceção” aberta pela operadora do jogo, que permitiu lugares livres em um espaço. O resultado foi que as pessoas acabaram sentando nos corredores, o que deveria ser proibido – os corredores são pontos de fuga e de segurança fundamentais. Eles devem sempre (sem exceções) estar livre para o fluxo de pessoas.

 

Na saída, vi alguns relatos de demora e pequenas confusões para acesso ao metrô, o que também classifico como “normais”. Temos que convir que, se mais de 60 mil pessoas saírem de um mesmo ponto a outro, ao mesmo tempo, não será tarefa das mais fáceis, em qualquer lugar do mundo.

Fui duas vezes ao Maracanã, contando com esta do último domingo. A primeira havia sido em 1992, na final do Campeonato Brasileiro, quando eu tinha apenas 11 anos. Naquele dia, três pessoas morreram por conta da queda de uma parte das arquibancadas onde estava a torcida do Flamengo, ferindo ainda outra centena de espectadores. Outros 11 anos se passaram e agora posso dizer: chegamos definitivamente na nova era de estádios no Brasil. Que assim seja. Que a operação continue se aperfeiçoando e que possamos entregar, cada dia melhor, um serviço mais qualificado para o torcedor de futebol brasileiro.

Ah, posso classificar a experiência no novo Maracanã como EXCELENTE, tal e qual pode ser constatado pela imagem abaixo:


 

Para interagir com o autor: < a href="mailto:geraldo@universidadedofutebol.com.br">geraldo@universidadedofutebol.com.br

 

Categorias
Sem categoria

O catalão de Neymar e o smartphone

O “Esporte Espetacular”, dominical da “TV Globo”, exibiu no mês passado uma entrevista exclusiva com o inglês David Beckham, que defendeu o Paris Saint-Germain até o fim da temporada 2012/2013 do futebol europeu. Além de ter sido solícito e efusivamente elogioso em todo o bate-papo, o jogador se esforçou para gravar chamadas com o nome do programa. A tarefa demandou muito esforço para quem, como ele, não domina a língua portuguesa.

O português enrolado de Beckham lembrou o esforço feito por músicos internacionais que se apresentam no Brasil. Todos eles ensaiam um “muito obrigado” ou qualquer expressão simpática na língua nativa.

Na última segunda-feira, Neymar foi apresentado oficialmente como novo reforço do Barcelona. O ex-jogador do Santos foi recebido por um Camp Nou lotado, e as primeiras palavras que ele falou para os adeptos da nova equipe não foram em português. Aliás, não foram sequer em espanhol. O atacante arriscou uma saudação em catalão.

Quem conhece a história de orgulho da Catalunha e a pressão separatista que há na região sabe que Neymar foi extremamente feliz ao escolher “Visca el Barça!” como a primeira frase dita no novo clube. Preparação é isso.

Voltando à entrevista de Beckham, o inglês enfatizou dois aspectos: o amor que sente pelo futebol e o quanto ele é tímido / simples. Agora eu convido você a fazer um esforço de memória: quantas vezes você ouviu coisas similares de Neymar?

Neymar é tímido, e isso é inato. O ídolo santista não é expansivo, tampouco comunicativo. O ponto é que sabe esses atributos, que teoricamente soariam pejorativos, para construir um personagem simples, que desperta facilmente a empatia do público. Aos 21 anos, o atacante não é apenas a maior referência técnica do futebol brasileiro atual. Ele também é um modelo a ser seguido em termos de relação com a mídia.

É por isso que, ainda que não seja uma estrela consolidada na Europa, Neymar levou tanta gente ao Camp Nou na segunda-feira. É isso que explica o carinho que as crianças demonstraram com ele.

A personalidade de Neymar não é a mais adequada a um popstar. No entanto, o estafe dele soube lapidar essas características e criar um personagem extremamente eficiente. O atacante fala a diferentes tipos de público, tem um índice de rejeição baixíssimo e se esquiva habilmente de polêmicas.

Desde que foi alçado aos profissionais do Santos, Neymar mudou radicalmente nesse aspecto de postura e comportamento. O atleta passou por treinamentos, entendeu o que pode ser feito e ganhou uma porção enorme de conhecimento empírico.

A evolução de Neymar como porta-voz é um dos alicerces da construção do garoto-propaganda Neymar. Vale lembrar: o atacante foi no ano passado a terceira personalidade mais acionada na publicidade brasileira – perdeu apenas para o apresentador Luciano Huck e para a cantora Ivete Sangalo.

As mudanças na relação de Neymar com a mídia já eram perceptíveis quando ele estava no Brasil. Na Espanha, a grande alteração é a relação da mídia com Neymar. Em um primeiro momento, o motivo mais óbvio para isso é que acabaram as perguntas sobre quando ele sairá do país e qual time ele defenderá.

Também mudou um pouco o tom da relação. Neymar, ídolo no Brasil, era constantemente adulado quando atuava no país natal. Na Espanha, em contrapartida, o clima é mais de curiosidade em torno de uma aposta para o futuro do Barcelona.

Antes mesmo de entrar em campo, Neymar tem trabalhado para dissipar essas dúvidas. A postura do atacante, que escolheu o Barcelona e sempre enalteceu o clube, é parte disso. A saudação em catalão e as respostas bem engendradas também.

Outra resposta que chamou atenção na coletiva de Neymar: o atacante disse que foi ao Barcelona para ajudar o argentino Lionel Messi a seguir como o melhor do mundo. A comparação óbvia é com o comportamento de Robinho, outro ex-jogador santista. Quando trocou o clube alvinegro pelo Real Madrid, o atacante disse que uma das razões era um plano para ser o número 1 do planeta.

Robinho escancarou naquela época a vontade de ser protagonista. Neymar assumiu na última segunda-feira condição de coadjuvante. O discurso do novo candidato a astro oferece menos pressão e contribui para aproximar o ídolo dos torcedores.

É muito cedo para dizer se Neymar será um ídolo do futebol mundial – a despeito de tudo que ele já fez pelo Santos, o atacante ainda é uma referência limitada ao âmbito brasileiro. Contudo, o roteiro dele fora de campo já é um dos exemplos mais bem burilados de uso da comunicação para a construção de um astro no esporte mais popular do planeta.

O poder da imagem

Um dos exemplos do bom uso que Neymar faz da comunicação é o quanto ele sabe ser a própria mídia. No último treino que fez no Santos, o atacante colocou na cabeça uma câmera para capturar imagens da atividade.

O resultado foi pouco refinado, mas ofereceu ao público uma perspectiva diferente: a chance de combinar áudio de um jogo com a visão do atacante mais badalado do Brasil.

A gravação de Neymar foi publicada no canal oficial do Santos no site de vídeos Youtube. E isso serve como mote para uma discussão sobre decisão recente do jornal “Chicago Sun Times”. O periódico decidiu demitir toda a equipe de fotografia. É, TODA A EQUIPE.

Para compensar, a diretoria ofereceu cursos de capacitação aos jornalistas de texto. A ideia é começar a usar apenas imagens produzidas com smartphones.

A decisão do jornal foi extremamente criticada nos Estados Unidos. Sobretudo porque o jornalista fotográfico Robert Hart criou um blog provocativo para dizer que havia sido substituído por um iPhone.

A decisão do “Chicago Sun Times” custou 28 empregos, e isso gera um trauma claro, mas não pode ser avaliada apenas por isso. É fundamental que o movimento seja visto como símbolo de uma nova era na comunicação.

Imagens e textos são igualmente fundamentais para uma notícia. Quando decidiu demitir a equipe de fotografia, porém, o “Chicago Sun Times” não priorizou o texto. O movimento revela uma busca por uma visão diferente.

O que o jornal espera é uma visão como a da câmera na cabeça de Neymar. A ideia é colocar ali uma visão mais pessoal, ainda que ela tenha menos recursos técnicos.

A demissão coletiva, que no jornalismo é chamada de “passaralho”, é sempre traumática. Nesse caso, contudo, é uma aposta em um modelo diferente, mais focado na experiência.

A evolução da comunicação mudou radicalmente o comportamento de personalidades e criou novos paradigmas de comportamento para porta-vozes. Os jornalistas não evoluíram na mesma medida e ainda buscam caminhos para isso. Ab
rir mão da imagem técnica pode não ser a melhor das rotas, mas é uma tentativa.

Com novas mídias e várias plataformas para publicar conteúdo, qualquer um é mídia hoje em dia. Da mesma forma, os smartphones transformaram todos em fotógrafos. Nos dois casos, o principal desafio é saber captar e contar as histórias. Afinal, mesmo com saudação no idioma local, simpatia e comportamento ensaiado, a essência de um show ainda é sempre a música.
 

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

 

Categorias
Sem categoria

No país dos banguelas

Xico Sá, brilhante, publicou ontem, durante o jogo amistoso entre Brasil e Inglaterra, em seu Facebook: "Se tivesse aqui no Maracanã hj, Nelson Rodrigues diria: ñ há um desdentado, só gente c/ saúde dentária de artista de cinema” (sic).

O Brasil tem 30 milhões de desdentados. Destes, 8 milhões não tem nenhum dente na boca.

Para a maioria de nós, problemas dentários se resumem à dor, a algo estético que pode ser mais facilmente corrigido com aparelho, a um acidente (inclusive no esporte) que faça quebrar ou perder um dente.

Nada que nos dificulte os caminhos para viver e desfrutar a vida plenamente na sociedade. Ainda, 45% da população não têm acesso a material de higiene bucal (escovas, pastas, fio dental).

E, somente, 70 milhões de brasileiros tem, em suas casas, acesso à água fluoretada, capaz de reduzir em 60% os riscos de cáries. Todos estes são dados do Ministério da Saúde de outubro de 2012.

Logicamente, este cenário evidencia uma grande questão de saúde nacional a ser enfrentada. Em contrapartida, temos 20% dos dentistas de todo o mundo. Mais que a soma de EUA e Canadá. Um dentista para cada 838 brasileiros – o triplo do que recomenda a OMS.

Como costumo dizer, o Brasil possui grande déficit de cidadania, sendo esta questão como mais um dos seus fatores. Acessibilidade e inclusão: duas palavras importantíssimas nesse contexto.

Quais as dificuldades que uma pessoa sem dentes enfrenta na busca por emprego? Quais os reflexos disso na saúde mental, na auto-estima, no convívio social?

Todos os quase 80 mil ingressos foram ocupados para o jogo de reabertura do Maracanã. De fato, um estádio lindíssimo, multicolorido, reformado totalmente, uma grande festa, pese toda polêmica que o antecedeu.

São quase 5000 mil cadeiras destinadas aos portadores de necessidades especiais, numa clara e moderna política de acessibilidade e inclusão no esporte, que já acontecem na Europa e nos EUA.

Os novos estádios construídos, no Brasil, para a Copa do Mundo, devem estimular ainda mais esta tendência – ou dever do Estado e de todos – de garantir o binômio acesso e inclusão social através do esporte, contribuindo para o desenvolvimento do país e, também, criando um círculo virtuoso para a indústria esportiva.

Meu pai, comerciante do setor de autopeças, contava que um cliente, dias atrás, queria incrementar seu caminhão e gastou uma boa quantia de dinheiro.

Não tinha alguns dentes na boca. Mas, com o desenvolvimento econômico do Brasil, tinha conquistado, com o trabalho, o dinheiro para equipar melhor seu caminhão, e assim decidiu.

O grande desafio do Brasil, agora e cada vez mais, é oferecer alternativas de acesso e inclusão social às pessoas, para que, tal qual o caminhoneiro, possam decidir se se sentarão nas arquibancadas do Maracanã ou se investirão na saúde bucal.

Quem sabe, um dia, as duas opções sejam possíveis…

 

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Neymar e o dilema do Santos

Na semana que passou, a transferência de Neymar para o Barcelona dominou os noticiários esportivos. Imprensa e torcedores promoveram acalorados debates. Diante de tudo que foi dito torna-se imprenscindível algumas ponderações.

Necessario destacar que o Neymar não foi vendido, eis que o "passe" foi extinto. Na verdade, o atleta teve o seu contrato especial de trabalho rescindido.

Assim, não houve pagamento pelo atleta, mas, sim da cláusula indenizatória pela rescisão antecipada do contrato de trabalho.

Ao Santos e aos investidores, foi importante considerar a transferência neste momento, pois, a legislação da Fifa traz norma na qual a partir dos últimos 6 (seis) meses de vigência do vínculo contratual, o atleta se encontra disponível para discutir um pré-contrato com qualquer outro clube que tenha interesse em adquirir os seus direitos desportivos, sem que este clube interessado necessite recompensar, obrigatoriamente, o empregador, no qual está o jogador com o contrato de trabalho desportivo a expirar, vejamos o artigo 18, parágrafo 3º, do Regulamento do Status e da Transferência de Jogadores da Fifa, de 18 de dezembro de 2004:

– Artigo 18 Disposições especiais relativas a contratos entre atletas profissionais e clubes (…)

3. Um clube que pretende estabelecer um contrato com um atleta profissional deve informar ao clube atual do jogador, por escrito, antes de abrir negociações com ele. Um atleta profissional só poderia ficar livre para estabelecer um contrato com outro clube, se o contrato com o seu clube atual tivesse terminado ou estivesse por terminar dentro de seis meses. Qualquer violação a esta disposição deve estar sujeita a sanções apropriadas.[1]

Depreende-se facilmente do que está previsto na referida norma da Fifa que se o contrato laboral desportivo ainda estiver com período superior a 6 (seis) meses para ser executado, clube algum poderá abordar um atleta para contratá-lo sem antes consultar o seu empregador, sob pena de responder pelas sanções previstas civil e/ou criminalmente, em virtude do cometimento de aliciamento desportivo.

Tal consulta será devidamente formalizada por escrito.
Contrariamente, ocorrerá se estiver nos últimos 6 (seis) meses para terminar o contrato, caso em que o clube adquirente poderá abordar o atleta de forma direta.

Sendo assim, firmado o pré-contrato e após o cumprimento dos últimos 6 (seis) meses, o jogador encontra-se livre para se transferir para o seu novo clube, sem que compensação alguma seja devida ao clube anterior.

Todavia, caso o clube adquirente, futuro destino do atleta, queira contar com os seus serviços antes do término dos 6 (seis) meses finais, deve pagar a multa indenizatória estabelecida para estes casos, em face de o contrato firmado com o clube cedente ainda estar em vigor.

Sendo assim, considerando que o contrato do Neymar terminaria no meio de 2014, ou o Santos aceitava o pagamento da rescisão ou correria o risco de, no final do ano (seis meses antes), o atleta sair do clube sem nenhum tipo de compensação.

Portanto, diante das normativas Fifa para transferências de atletas, o Santos atuou da maneira mais recomendável a fim de se evitar prejuízos financeiros ao clube e aos seus investidores.

 

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Enfim, a negociação de Neymar

O início de uma nova era! Esta foi a expressão utilizada pelo zagueiro e capitão da equipe do Santos, Edu Dracena, durante uma entrevista, para se referir à confirmação da negociação de Neymar, até então seu companheiro de clube, ao Barcelona-ESP.

Apesar de todos os esforços do clube santista para mantê-lo pelo menos até ao final da Copa de 2014, o fato é que a pressão externa realizada sobre o craque adiantou a esperada (e inevitável) transferência para a Europa.

Tal transferência é a oportunidade de ratificação das expectativas criadas em torno do atacante. Torcedores, imprensa, treinadores e especialistas esperam uma evolução do jogador que deverá solucionar problemas distintos dos que enfrentava no futebol brasileiro.

Com maior ou menor aprofundamento, muitos afirmam que a marcação na Europa é diferente da praticada no Brasil. Se por aqui, ele estava acostumado a enfrentar marcações e pressões individuais, no Velho Continente encontrará linhas do adversário mais próximas, marcações zonais com ou sem pressing, coberturas e direcionamentos para setores de menor risco. Mecanismos defensivos comuns no futebol europeu que exigirão maior inteligência de jogo individual e coletiva de Neymar.

E não é só no momento ofensivo do jogo (para desorganizar o momento defensivo do adversário) que a evolução será necessária. A participação efetiva em todos os momentos do jogo, exigida de todos os jogadores, comum ao Barcelona e a todas as equipes taticamente evoluídas, seguramente lhe será exigida.

Nas transições defensivas, o Barcelona rapidamente apressa o adversário em espaço e tempo, enquanto no Brasil, o Neymar comumente perde segundos preciosos reclamando com a arbitragem. Quando reage mais rapidamente, faz uma ou duas pressões no adversário portador da bola sem um maior compromisso coletivo.

Defensivamente, para cumprir o modelo de jogo da equipe catalã, o jovem atacante deverá jogar orientado para a recuperação da posse de bola o mais rápido possível.

Para isso, comportamentos de jogo habituais como estar à frente da linha da bola e andar enquanto compõe o balanço ofensivo deverão ser substituídos.

Já nas transições ofensivas, a evolução passa, principalmente, por jogar com menos toques na bola no setor tiki-taka da equipe espanhola e também saber ocupar espaço distante da bola, cumprindo a função determinada pelo modelo e pelas circunstâncias do jogo.

Tal evolução é necessária para evitar o excesso de jogadas individuais nas faixas intermediárias do campo de jogo e a demasiada centralização à bola.

A capacidade do jogador é indiscutível e sua adaptação ao futebol europeu seria mais rápida se ele saísse do país com mais competências, que lhe serão exigidas, já adquiridas. No entanto, no Brasil, tanto na formação, como no profissional, ainda estamos distantes de termos o futebol evoluído como realidade.

E como disse Edu Dracena, inicia-se uma nova era! Não para o Neymar, um grande talento que vai para uma das maiores equipes do futebol mundial, mas para o Santos, que segundo o zagueiro, estava acostumado a dar a bola ao atacante e esperar para ver o que acontecia.

Sem o Neymar, vamos precisar mais de Muricy, que trouxe os reforços que queria para a temporada 2013 e ainda assim continuou praticando o que muitos chamaram de "Neymardependência".

O treinador santista, pelas suas conquistas, pelo peso que possui no futebol nacional e pelo seu cargo é um dos responsáveis por acelerar (ou desacelarar) o processo de evolução do nosso futebol.

De acordo com a declaração de Edu Dracena e os próximos jogos da equipe santista, agora sem o craque, vamos torcer para que a nova era não comece nos decepcionando.

Obs: Muricy Ramalho foi demitido no início da sexta-feira e optei por não alterar o conteúdo da coluna. Que os votos feitos ao Muricy sejam estendidos ao novo treinador da equipe santista.

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br