Categorias
Sem categoria

Vitórias: análise de desempenho no futebol

Por muitas décadas a análise do desempenho de jogadores e equipes de futebol, foi atribuição gerenciada por preparadores físicos, departamentos de preparação física e também de fisiologia do esporte dentro e fora dos clubes.

Com o entendimento de que o desempenho geral (e complexo) dentro de um jogo poderia se correlacionar com resultados de testes físicos e/ou fisiológicos, controlados em campo ou laboratório, ficou mais do que justificada, a necessidade de avaliações que pudessem medir níveis de força, resistência e de velocidade dos jogadores de futebol.

Essas medidas, ao longo da preparação e da competição, representavam então, o principal marcador (depois dos resultados dos jogos), da condição dos jogadores para desempenhar aquilo que lhes era necessário dentro das partidas.

Porém, como muitas vezes essas medidas não justificavam exatamente os bons e os maus resultados de jogo, emergiram questionamentos, e também (e principalmente) mudanças de entendimento a respeito dos resultados do testes.

Com o surgimento e aperfeiçoamento de tecnologias que permitiram olhar para o jogo sob diversos outros/novos ângulos – e com a melhor compreensão sobre aquilo que efetivamente ocorria dentro dele –, novas variáveis ganharam importância e passaram a ser observadas.

O significado de “desempenho”, de maneira geral passou a abarcar algo
mais amplo.

O significado de “análise de desempenho” deixou de ser uma análise estritamente “física” e passou a ser uma busca permanente a algo mais específico (sob o ponto de vista da complexidade) do jogo e do jogar.

Em grandes clubes europeus, por exemplo, o controle refinado de treinos e jogos a partir de GPSs, imagens, softwares de análise de vídeo, “scout”, cardio-frequencímetros e acelerômetros (dentre outros) tem permitido, há algum tempo, uma observação mais apurada do que é o desempenho de jogadores e de equipes – e mais ainda, um entendimento melhor do porque se ganha e do porque se perde.

Esses controles não são privilégio de equipes européias, claro.

No Brasil, alguns clubes de futebol de ponta, no altíssimo nível, dispõem dessas e/ou de outras tecnologias, o que têm dado suporte total à comissões técnicas para melhor desenvolvimento de suas equipes, jogadores e das correções de rota nos trabalhos.

A análise dos motivos que levam à vitória e à derrota está cada vez mais fina – o que a médio prazo pode possibilitar um controle muito mais amplo sobre as variáveis que levam uma equipe a vencer (claro, sem perder de vista a imprevisibilidade e a complexidade, típicas do jogo).

O mais importante disso tudo, é que a análise de desempenho está em um caminho sem volta (e isso é ótimo). Cada vez mais se faz presente a tendência de que a avaliação sobre um jogo deve ter correlação altíssima com o seu resultado.

Afinal de contas, se os resultados de qualquer análise apontam para bom desempenho, mas a equipe não consegue bons resultados em jogo, ela (a análise), não está definitivamente fazendo seu papel.

Se um sujeito vai ao médico, faz um check-up e tudo parece estar bem, pode ser ainda que não esteja. Ele pode ter feito os exames errados, o que não possibilitou a ele ver aquilo que precisava ser visto.

O desafio da “análise de desempenho”, no momento atual, é justamente esse. É preciso analisar o que é efetivamente determinante para o significado complexo de “desempenho”.

É preciso ver, o que precisa ser visto…
 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br
 

 

Categorias
Sem categoria

Algumas reflexões sobre sua atuação profissional

Reorganizar-se, adequar planejamentos pessoais e profissionais, redefinir metas e refletir sobre os comportamentos em diferentes situações do cotidiano devem ser práticas corriqueiras de quem busca a excelência pessoal. Porém, muitas pessoas deixam (quando deixam) tais práticas somente para o curto período dos votos de Ano Novo.

Então, aproveitando tanto o público que se atualiza constantemente, como aquele que procura atualizações pontuais, escrevo a coluna desta semana trazendo reflexões (já que não tenho as respostas) relativas às suas intervenções profissionais.

Meses atrás foi discutida numa coluna, a resposta emocional dada pelos jogadores nas diferentes circunstâncias que acontecem num jogo de futebol. A partir destas respostas (que somente são observadas jogando), foi mencionado que uma comissão técnica tem informações valiosas para intervir individualmente, com o intuito de aperfeiçoar o jogar coletivo. Tal aperfeiçoamento é um dos grandes objetivos de um treinador, logo, conseguir dar vida a sua ideia de jogo e fazer com que ela seja reproduzida o maior tempo possível poderá aproximar sua equipe da vitória.

Sabidamente, a expressão coletiva do referido jogar pretendido é um reflexo de tudo que o técnico e sua comissão têm construído no dia a dia de treinamentos e nos jogos anteriores.

Esta construção é feita a partir de cada abordagem, preleção, sessão de treino, cobrança, conversas individuais ou quaisquer outras situações passíveis de intervenção.

Em tempos em que estão cada vez mais frequentes as discussões sobre as tendências da metodologia de treinamento, não podemos abrir mão da discussão de outras variáveis que, com maior ou menor magnitude, influenciam no resultado final de um jogo. Uma dessas variáveis se refere as suas respostas emocionais e intervenções diante dos variados problemas expostos pela sua respectiva equipe.

Pergunto: você dedicou algum tempo para analisar como reagiu frente aos problemas de sua equipe no ano de 2012?

É bastante comum, para cada uma das situações que surgem no cotidiano de treinos e jogos, transferirmos a responsabilidade dos problemas exclusivamente aos jogadores. Dessa forma, observam-se nos treinadores reações diversas como irritações, lamentações, raiva, nervosismo, entre outros comportamentos que exteriorizam a insatisfação com o desempenho da equipe.

Será que os jogadores são os únicos responsáveis pelos erros? Será que alguns caminhos e escolhas utilizados pela comissão, ao invés de contribuírem com a evolução da equipe, reforçam e potencializam os erros? 

Como apontei no início, infelizmente, não tenho as respostas. Tenho inclusive, mais perguntas…

Sugiro que façam um exercício de resgate de suas reações e intervenções no ano de 2012.

Quantas vezes você teve que gritar com seus jogadores para que cumprissem determinada função do Modelo de Jogo?
Quantas vezes você deixou de gritar com seus jogadores por eles não cumprirem determinada função do Modelo de Jogo?
Quantas vezes você narrou o jogo de sua equipe para que ela jogasse melhor?
Quantas vezes você deixou de narrar o jogo de sua equipe para que ela jogasse melhor?
Quantas vezes você faltou com respeito com algum jogador?
Quantas vezes algum jogador lhe faltou com respeito?
Quantas vezes você minou a formação de “panelas” no grupo?
Quantas vezes você consentiu a formação de “panelas” no grupo?
Quantas vezes você chamou “de canto” aquele jogador que tem errado excessivamente nos treinamentos?
Quantas vezes você deixou de chamar “de canto” aquele jogador que tem errado excessivamente nos treinamentos?
Qual a quantidade das intervenções realizadas numa sessão de treinamento?
Qual a qualidade das intervenções realizadas numa sessão de treinamento?
Como você reagiu diante daquele jogador “boleirão”?
Como você reagiu diante daquele jogador ansioso?
Como você reagiu diante daquele jogador medroso?
Como você reagiu diante daquele jogador preguiçoso?
Como você reagiu diante daquele jogador polêmico?
Como você reagiu diante daquele jogador imaturo?
Como você reagiu diante daquele jogador nervoso?
Como você reagiu diante do jogador líder?
Como você reagiu diante do jogador esforçado?

Poderia continuar elaborando perguntas que remetem às suas intervenções e reações. Porém, as indicadas acima já são suficientes para um bom exercício de autoconhecimento.

Quem sabe um dia todos os profissionais do futebol entendam que se recorrermos à capacitação e à formação continuada, estudando diversas disciplinas que se relacionam com o futebol, teremos mais ferramentas para extrairmos o melhor de cada um dos nossos atletas. Se esse dia chegar, teremos em mente que antes de retirarmos o melhor do outro, precisamos retirar o melhor de nós mesmos.

Enquanto isso, alguns poucos treinadores refletem constantemente sobre a prática e outros reproduzem comportamentos sem o mínimo exercício de reflexão. Todos, no entanto, agem como atratores do sistema “jogo de futebol” e atraem a configuração das suas respectivas equipes. Pergunto novamente:

Você atrai a configuração da sua equipe para as vitórias?

Abraços e boas reflexões…

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

 

Categorias
Sem categoria

O locaute da Liga Americana de Hóquei Profissional (NHL): exemplo para o futebol?

Desde setembro de 2012, a NHL, liga americana de hóquei no gelo, está em regime de locaute, ou seja, há a recusa por parte da entidade patronal em ceder aos trabalhadores os instrumentos de trabalho necessários para a sua atividade. Portanto, os dirigentes impedem os atletas de terem acesso aos ginásios e locais de treinamento.

O locaute se deu porque, no dia 15 de setembro de 2012, terminou a validade do contrato trabalhista entre jogadores e a NHL. Como os interessados não chegaram a um acordo, a liga foi paralisada e está sem perspectiva de jogos.

As principais divergências diziam respeito à distribuição da receita e salários altos. A liga pretendia uma porcentagem maior da distribuição de receitas e diminuir o teto salarial. Por óbvio, não houve concordância dos atletas.

No contrato expirado em 15 de setembro de 2012, ao final da temporada, tudo o que era arrecadado pela liga (alimentação, ingressos, entre outros) era distribuída entre NHL e jogadores na seguinte proporção: 57% da receita para os jogadores e 43% da receita para a liga.

Para solução do conflito, a NHL propôs contrato trabalhista de seis anos – receita dos jogadores começando com 49% e terminando em 47%; e os jogadores propuseram contrato trabalhista de cinco anos – receita dos jogadores começando com 54,3% e terminando em 52,3%.

Para se ter uma ideia, na NBA, os jogadores têm direito entre 49 e 51% da receita. Em razão disso, a liga parou e muitos jogadores foram jogar em outras ligas.

No último domingo, após 113 dias, enfim, os atletas, por meio de sua associação (NHLPA) e os dirigentes da liga chegaram a um acordo e estabeleceram um contrato básico de trabalho, ou seja, um documento que traga todas as relações profissionais na liga, como, por exemplo, quanto do faturamento da NHL é destinado para o pagamento de salários.

A NHL faturou US$ 3,3 bilhões em 2012 e ainda não foram divulgados detalhes sobre o novo contrato básico de trabalho.

O fato é que com o acordo, a NHL em 2013 terá uma edição reduzida com 48 rodadas, como ocorreu no campeonato de 1994/1995.

Após o impasse, a preocupação dos dirigentes agora será repatriar os atletas que estão jogando nas ligas europeias, especialmente a russa e, ainda, a queda de interesse do público pelo hóquei, eis que pesquisa aponta que um percentual elevado de pessoas não pretende voltar a acompanhar a liga.

Independente de se avaliar as condutas das partes envolvidas, o locaute na Liga Profissional Americana de Hóquei mostrou a força dos atletas da modalidade, oportunidade em que surge a indagação: os jogadores do futebol brasileiro teriam força para paralisar as competições?

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A nossa indústria

Em reportagem do Jornal Valor Econômico desta terça-feira, dia 8, intitulada "Patrocínios de empresas começam o ano tímidos", relata o cenário vivido pela indústria cultural no tocante a dificuldade de captação de recursos ante a forte concorrência do esporte por conta dos megaeventos, em especial a Copa 2014 e Copa das Confederações 2013.

A matéria mostra claramente a relação e o posicionamento de ambas as indústrias no mercado do entretenimento, tal e qual a teoria do segmento nos mostra. A competição que o esporte e a cultura fazem é pelo interesse do tempo livre das pessoas e, naturalmente, os diferentes investimentos advindos das empresas, do governo e outros entes interessados.

Chama atenção o fato de o nosso segmento de esporte passar por um momento bastante favorável, reconhecido inclusive pelos “concorrentes”, e de como estamos nos preparando para a manutenção qualitativa deste status, bem como a estruturação em momentos que os segmentos concorrentes estiverem mais fortalecidos.

A discussão sobre o mercado é algo bastante complexo e não será conclusiva, como é natural imaginar – serve, no entanto, como ponto de reflexão, lembrando ainda que existe uma forte concorrência interna, dentro do próprio segmento esportivo por si só, que se ramifica em inúmeros tentáculos, partindo desde o âmbito global até as atividades locais/regionais de esporte.
 

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br
 

 

Categorias
Sem categoria

A necessidade do mito

Em certo momento do filme “As aventuras de Pi” (tradução infeliz e reducionista de "Life of Pi", do excelente diretor Ang Lee, que ainda está em cartaz no Brasil), após ter apresentado duas versões de uma mesma história, o protagonista que dá nome à trama pergunta ao interlocutor, um escritor canadense, se ele prefere o relato fantástico ou a história mais realista. O ouvinte escolhe a primeira opção.

Pi é um indiano criado em um zoológico. Os pais dele decidem vender o empreendimento da família e mudar para o Canadá, mas a viagem é interrompida abruptamente. O navio afunda, e o personagem-título é o único humano a sobreviver.

Durante o exílio no mar, Pi é obrigado a conviver com um tigre de bengala chamado Richard Parker. A história envolve nuances da relação entre o menino e o animal, passagem por uma ilha misteriosa e imagens sensacionais. O filme é constantemente comparado com "Avatar" pelo uso da tecnologia 3D, mas considero mais pertinentes as relações com "As invenções de Hugo Cabret" (pelo visual) e "Peixe Grande e suas histórias maravilhosas" (pelo conteúdo).

As duas versões da história devem-se à reação dos agentes da seguradora. Pi relata o que aconteceu após o naufrágio, e os funcionários dizem que não podem colocar isso no relatório. O indiano então usa o mesmo cenário e monta um roteiro parecido, mas muda os personagens e censura o fantástico.

A segunda história é mais forte, triste e crível. Ainda assim, o interlocutor de Pi escolhe a primeira versão (note que a pergunta não é "qual você acha que é verdadeira?", mas "qual você prefere?").

 

 

Mas o que o filme tem a ver com esporte? É simples: a segunda forma de contar histórias, pasteurizada e sem ferir a expectativa de quem ouve, não é suficiente para construir mitos. Os mitos são a matéria-prima básica do esporte, que não pode abrir mão do que é fantástico.

Mito, aliás, é a palavra perfeita para esse produto básico do esporte. Porque mito pode se referir a um relato fantástico, à narração de um feito ou até ao próprio ídolo. Afinal, não são esses os elementos que balizam relações emocionais como o ato de torcer?

Falar sobre o processo de construção de mitos demandaria tempo e espaço. Para um aprofundamento sobre o tema, sugiro o livro "Futebol: mitos, ídolos e heróis", de Sergio Settani Giglio. Também vale dar uma olhada em toda a obra da psicóloga Katia Rubio, uma das principais especialistas em psicologia do esporte no país.

Para nós, o ponto mais importante da discussão é o comportamento que cria ídolos. Não existe um manual para a construção de um personagem que interaja bem com os microfones e reverbere. Contudo, é possível usar algumas técnicas e notar que existe um elemento imprescindível: ele precisa transmitir autenticidade.

Com tudo isso em mente, tente ver um jogo da Copa São Paulo de futebol júnior. Quando o fizer, dê atenção especial às entrevistas antes, durante e depois das partidas. Acompanhe o que dizem atletas, técnicos, dirigentes e outros profissionais envolvidos com os times de base.

Depois, tente ver um comercial da varejista esportiva Foot Locker, dos Estados Unidos, com participação de atletas da liga profissional de basquete do país (NBA). Há bons exemplos aqui (http://tinyurl.com/ayjl84k) e aqui (http://tinyurl.com/cr7pcly).

Por último, complete o exercício e tente imaginar como seria a participação de um jogador brasileiro de futebol em um comercial desse tipo. Ou então recorra a exemplos de atletas tupiniquins em peças publicitárias. Exemplos disso pululam no maior arquivo da sociedade moderna, também conhecido como internet.

A constatação é inevitável: há exceções, mas a maioria dos atletas brasileiros – e aqui não me refiro apenas ao futebol – é totalmente despreparada para lidar com a mídia. Eles podem ser famosos e podem frequentar diferentes plataformas de comunicação, mas ainda falta muito para agirem como verdadeiros mitos.

Nas principais ligas esportivas dos Estados Unidos, é comum que os atletas sejam preparados para a construção de figuras públicas. Não é apenas o que falar, mas o como falar. Alguns deles fazem cursos complementares, como trabalho de fonoaudiologia e até o uso de profissionais que preparam atores.

O mais importante, contudo, é a transformação do atleta em personagem. Ele pode ser reconhecido pelo visual, pelo comportamento ou por frases específicas, mas é fundamental criar uma marca.

Por mais paradoxal que seja, os atletas precisam criar marcas e aprender técnicas para transmitirem autenticidade. E como eu disse lá em cima, autenticidade é fundamental para gerar empatia.

É claro que há exemplos contrários. O goleiro Marcos, que se aposentou no ano passado, é um caso de quem passou a carreira rasgando manuais de comportamento e de como falar com a mídia. Ainda assim, é um dos maiores ídolos da história recente do futebol brasileiro.

Marcos conseguiu falar diretamente com o torcedor. De forma inata, sem planejamento voltado a isso, o goleiro criou um personagem falastrão, sincero, emotivo e dedicado. Qualquer um associa esse tipo de atributo ao ex-dono da camisa 12 do Palmeiras.

Quando uma empresa investe no esporte, a meta é usar o segmento para associar uma marca a certos atributos. Atletas só são apostas viáveis quando têm um perfil diretamente associado às características que as companhias buscam.

Nenhum atleta consegue virar personagem se apenas repetir declarações padronizadas ou se não souber usar a mídia. Neymar brilha pelo que faz em campo, mas vende ainda mais pelo jeito "ousadia e alegria" de ser.

Portanto, o fantástico no esporte não é apenas uma questão de formação de idolatria. Ser fantástico é, para os atletas, uma questão de sobrevivência.
 

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

 

Categorias
Sem categoria

Escolha duas

A convite da Universidade do Futebol, participei, como ouvinte, do Footecon, em dezembro.

Na palestra do executivo Carlos Alberto Júlio, foi mencionada uma anedota corporativa, da qual já tinha ouvido falar, mas que foi bem oportuna relembrar.

Disse que, certa vez, uma pessoa tinha a necessidade de serviços de impressão gráfica, em Nova York. Ao chegar ao estabelecimento comercial, encontrou na parede o seguinte: "Bom, barato, rápido: escolha duas alternativas".

Em que pese ser algo lógico e de fácil compreensão, vale a pena desentranhar o que o próprio palestrante o fez naquele dia. "Se algo é bom e barato, dificilmente será feito rapidamente. Se algo é bom e rápido, não vai ser barato. Se algo é barato e rápido, não pode ser bom."

Pode parecer um contrassenso ter encontrado isso ao se querer contratar um serviço. Entretanto, creio ser um ótimo indicador de transparência da relação entre fornecedor e cliente, além de servir de alento e educação, nessa louca ciranda consumista, que desconsidera, por vezes, limites de capacidade de entrega de produtos e serviços. O ajuste entre a expectativa do consumidor e a consciência do fornecedor é a medida do êxito e da perenidade do relacionamento entre ambos.

O futebol sempre desfrutou de condição privilegiada, uma vez que a concorrência pelos seus clientes fora pequena e o grau de fidelidade, em se tratando da paixão pelo clube, altíssimo. Porém, a equação partia de falsas premissas. A principal delas dizia respeito ao tamanho da torcida: esquecia-se de qualificar a relação. Melhor tratamento à torcida = melhor rentabilização.

Dentro da conjuntura econômica positiva no Brasil, nos últimos anos, aliando-a a um potencial de desenvolvimento enorme do mercado interno do futebol, entendo que a melhoria em infraestrutura nos estádios, como exemplo de indutor, pode contribuir, significativamente, para que o "melhor" possa se estabelecer como objetivo e auxiliar no "maior" (crescer a base de consumidores).

A paixão é a essência da indústria esportiva. Mas a razão econômica não pode ser desconsiderada. E é ela que tem contribuído – ainda que como algo imperioso, não orgânico – para que a gestão esportiva se profissionalize e transforme, positivamente, o futebol.

E essa valorização da ordem econômica – não digo supremacia – é sentida em toda a cadeia de valor do futebol.

Seja para escolher reforços para o elenco, contratar profissionais para o marketing, departamento médico, advogados e consultores, executivos, membros da comissão técnica, não há como se entrar num ciclo virtuoso querendo as três alternativas ao mesmo tempo.

Apenas duas delas podem fazer com que as instituições atinjam o nível de excelência.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Inteligência de jogo, situações-problema urgentes e a fragmentação dos treinamentos

O jogo de futebol é uma composição infinita e imprevisível de um sem número de situações-problema.

Essas situações-problema, por mais que possam se assemelhar eventualmente, umas das outras, sempre, ainda que por mínimos e imperceptíveis detalhes (aos olhos do observador), são diferentes.

Isso quer dizer que a complexidade do jogo, em sua essência, proporciona contextos que vão exigir do jogador respostas extremamente ímpares e particulares a cada circunstância.

E como se não bastasse a evidente imprevisibilidade de situações que surgem no jogo, exigindo do jogador maleabilidade e adaptabilidade para responder precisamente a elas (às situações), há também, especialmente nas ações determinantes do resultado uma urgência muito típica.

Isso quer dizer que dentro do ambiente imprevisível do jogo, as ações de maior importância (as decisivas) se dão em circunstâncias em que o tempo para decidir e agir, é mínimo.

Nessas circunstâncias, se o jogador não estiver bem preparado, ele pode levar cerca de 550 a 750 milissegundos para efetivamente expressar soluções às exigências momentâneas do jogo (o processo desde a intenção prévia da ação, no córtex frontal cerebral seguindo todo caminho "normal" até a ação efetiva [córtex frontal → córtex parietal ↔ córtex motor → estruturas musculares] pode levar esse tempo).

O problema é que em muitas situações emergenciais dentro do jogo de futebol, o tempo disponível para o "decidir-agir" é muito menor do que 550 milissegundos (pesquisas mostram tempos de 30 (isso mesmo, 30 e não 300) milissegundos a se dispor em situações urgentes dentro da grande área).

O êxito nessas situações é explicado hoje a partir de uma ideia de que os jogadores podem ser treinados para anteciparem suas decisões/ações de maneira a responder ao problema quase que ao mesmo tempo em que ele surge concretamente.

O tempo para mobilização da inteligência no contexto de jogo em situações emergenciais, em que os conflitos surgem de maneira urgente e necessitam de respostas rápidas é essencial para o êxito.

Gastar mais tempo para resolver o problema pode significar aumentar o número de conflitos a serem resolvidos, e também em última instância não resolver a situação de forma satisfatória.

A interação entre companheiros de equipe e adversários faz com que ao se gastar mais tempo, permanentemente novas "variáveis" da circunstância sejam avaliadas e tanto a atuação adversária para dificultar a ação com bola, quanto a atuação de companheiros para estruturar novas possibilidades de "ajuda" interfira diretamente nas decisões a serem tomadas, e logo nos desfechos possíveis.

Essas interações se manifestam de forma tão variada quanto o número de situações-problema que podem surgir, e isso pode dificultar sobremaneira a mobilização da inteligência em antecipação, porque a cada novo contexto uma nova e quase desconhecida circunstância se apresenta.

Para interferir no processo de mobilização da inteligência quando os tempos disponíveis para a ação são maiores (porém em contexto de jogo, ainda diminutos), e/ou quando são extremamente escassos, é necessário então que o jogador seja preparado para resolver problemas nesse contexto.

A grande questão é que quando se pensa no delineamento para preparação de um jogador de futebol, via de regra, são nos referenciais cartesianos que as tentativas de elaborá-lo se estruturam.

É então comum que para preparar o jogador para o jogo, a solução encontrada seja a fragmentação do mesmo (do jogo), em partes que cuidem de forma isolada das necessidades atléticas do jogador.

É comum também que quando da busca para contemplar essa ou aquela situação-problema no jogo, sejam feitas (em distanciamento da complexidade) ações não condizentes com "o todo" e tão pouco com "carga" que possa gerar ajustes efetivos para o jogar.

Ora, um treino tático é físico, um treino técnico é físico; e os treinos físicos podem ser qualquer coisa.

Onde se separa no jogo uma ação do jogador em técnica, tática, física ou psicológica?

Onde começa uma e termina a outra se todas elas são a manifestação do mesmo fenômeno; o jogar?

O jogo é imprevisível. As ações determinantes são urgentes. A inteligência precisará, nesse contexto, ser mobilizada inúmeras vezes em antecipação. A decomposição dos treinos em partes (parte física, técnica, tática, etc.) não contribui em nada para o condicionamento da mobilização da inteligência da maneira descrita.

Se a inteligência humana é circunstancial, e as circunstâncias referidas no contexto do futebol são emergenciais e imprevisíveis, é essencial e também urgente (como já disse inúmeras vezes outrora), que o paradigma regente deixe de ser "treino é treino, e jogo é jogo" e se transforme no "jogo é treino e treino é jogo".

Somente assim, os treinos e a preparação realmente farão sentido, e o acaso, na maior parte das vezes, passe apenas a ser tema principal das conversas do bar…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A (re)construção do modelo de jogo e o ritmo de jogo

Uma determinada equipe apresenta ao final de uma temporada, para cada um dos momentos do jogo, um nível específico de resolução dos problemas que são impostos pelo jogo. Exemplificando, numa equipe que tem como comportamento de organização ofensiva sempre sair jogando evitando chutões e construir um ataque posicional com passes curtos, a comissão técnica tem condições de avaliar qualitativa e quantitativamente em que nível tais ações estão sendo executadas.
Com as mudanças dos jogadores ocorridas por diversos motivos, entre eles, contratações, promoções de atletas das categorias de base, negociações e até lesões, é fato que a nova formatação desta equipe expressa uma dinâmica do seu jogar significativamente distinta daquela que terminou a temporada. Ou seja, por mais que um time-base tenha se mantido, a chegada de quatro, três ou até dois jogadores é suficiente para gerar alterações funcionais no sistema que diferem do modelo de jogo pretendido.
Essas alterações são ainda mais bruscas se os comportamentos que se desejam construir são opostos aos que os jogadores apresentavam em seus clubes/treinadores anteriores. Como exemplo, um determinado jogador habituado a ter como referência para a marcação somente o adversário, terá dificuldades de adaptação num sistema em que as referências de marcação também consideram o próprio gol, a bola, a região do campo e os seus companheiros.
Então, no início da temporada, cada comissão técnica tem um trabalhoso problema nas mãos: verificar novamente em que nível sua equipe se encontra na resolução dos problemas do jogo. Para isso, mais do que verificar a condição física individual, que traz informações muito pobres relativas ao sistema, a comissão técnica precisa agendar um bom número de jogos amistosos. Somente jogando será possível conseguir a real informação de todos os comportamentos individuais e coletivos apresentados, relativos ao modelo de jogo.
Com a real informação da equipe em mãos, possibilitada por uma análise complexa, tem início o desenvolvimento da temporada competitiva (imediatamente para os grandes clubes brasileiros e mais tardiamente nas categorias de base e outras equipes que não disputam competições nacionais). Devido às mudanças supracitadas, provavelmente, muitos comportamentos de jogo terão regredido e então, a comissão técnica tem mais um trabalhoso problema nas mãos: o desenvolvimento das atividades que possibilitarão a evolução constante do sistema/equipe.
É neste aspecto do desenvolvimento da periodização que muitos treinadores se equivocam. Influenciados por resultados positivos em temporadas passadas, simplesmente replicam sessões de treinamento que julgam terem sido positivas em suas últimas equipes. Esquecem, portanto, que o novo sistema, formado por novos elementos, apresenta um jogar atual diferente daquele anterior, logo, as sessões de treino também devem ser diferentes.
Além disso, restringem o jogo coletivo ao somatório das ações individuais e não aprofundam em treinamentos que permitirão a expressão em alto nível de dinâmicas setoriais, intersetoriais e coletivas.
E qual o reflexo destes equívocos?
As desculpas comuns em todos os inícios de temporada, em que muitos treinadores justificam os maus rendimentos competitivos à falta de ritmo de jogo.
Planejar sessões de treino complexas, criar atividades que ao mesmo tempo sejam técnica-tática-física-mental, jogar, discutir, analisar e avaliar minuciosamente a equipe são princípios básicos de uma pré-temporada muitas vezes negligenciados pela comissão e aceitos pela diretoria e imprensa.
Felizmente, as ditas desculpas não duram mais que um mês. Infelizmente, as desorganizações em algumas equipes brasileiras (mesmo com ritmo de jogo) duram uma temporada inteira.
Como você realiza sua pré-temporada?
 

Categorias
Sem categoria

Escuta, Zé-Ninguém

"Quem quer que esteja lutando pela preservação da vida e pelo futuro dos seus filhos deve necessariamente opor-se ao fascismo, mesmo que mascarado de democracia, tanto da direita como da esquerda. Não tanto porque os fascistas de esquerda, à semelhança dos fascistas de direita, no seu apogeu, tenham uma ideologia assassina, mas porque transformam os jovens em desempregados, em inválidos, em tristes e deprimidos; porque, através de uma informação alienante, exaltam o Estado mais do que a Justiça, a mentira mais do que a verdade e a guerra mais do que a vida".

Estas palavras, com mais de 60 anos, não são da minha autoria. São de Wilhelm Reich, no seu livro Escuta, Zé-Ninguém. E tudo isto, Zé-Ninguém, onde tu também tens algumas culpas. Foram perseguidos ou mortos Sócrates, Jesus de Nazaré, Galileu, Tomás Morus, Giordano Bruno, Mahatma Gandhi, Luter King, Nelson Mandela, Oscar Romero e tantos, tantíssimos mais, ao longo dos anos até hoje, e tu acreditaste e aplaudiste, numa atordoadora vozearia, as hipócritas palavras dos reis e dos ditadores e o cascalhar diabólico do riso de contentamento dos algozes e dos esbirros.

Muitas vezes dás a entender de que o que gostas, verdadeiramente, é de ditaduras. Com efeito, o ditador pensa e deseja e decide por ti. Tu ficas com o tempo bastante para beberes uns copos, para jogares às cartas, para navegares na internet, para discutires o trabalho dos árbitros de futebol e para contemplares, crédulo, acéfalos programas televisivos. E assim vais continuando Zé-Ninguém!

Há, em Portugal e num Estado de Direito, 852.000 desempregados e um OE de tamanha austeridade que a criação de empregos parece quase impossível. Por outro lado, o governo, por sua vontade, privatizava tudo: a saúde, a educação, a justiça, a defesa, etc, – enfim, tudo o que pode ser serviço público! Demais, trata-se de um governo de ideologia neoliberal, ou seja, sabe muito de economia, mas de uma economia ao serviço da exploração do trabalho, da maximização do lucro e do agravamento das desigualdades.

Escuta, Zé-Ninguém, sou, como tu, um apaixonado do futebol. O meu Belenenses vive dentro do meu coração. Mas sei que o futebol é produto, não é causa. Embora também não passe de um Zé-Ninguém para a lógica da economia neoliberal, o pensar ainda não paga imposto…

Escuta, Zé-Ninguém, o futebol é sintoma, não é causa! McLuhan disse, um dia, que o mundo se transformou numa aldeia global – a aldeia global do capitalismo neoliberal, da destruição dos fundamentos sociais da democracia e do Ronaldo e do Messi e do Neymar e tantos mais, também todos eles, embora inconscientemente, ao serviço da triunfante economia de mercado que não deixa passar um mês sem dolorosas medidas de desvalorização salarial, como se nelas residisse o principal fator de desenvolvimento.

Escuta Zé-Ninguém, não deixes de frequentar os estádios onde joga o clube do teu coração. O futebol é o fenômeno cultural de maior magia no mundo contemporâneo. Mas, lucidamente, criticamente. Como um sujeito, não como um objeto!

Em 1969, no Estádio Nacional, eu vi um jogo de futebol (Acadêmica x Benfica, final da Taça de Portugal) transformar-se num espaço de contestação política ao fascismo salazarista. "Velhos tempos!", diremos nós. Mas com futuro…

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Para interagir com o autor: manuelsergio@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

O direito desportivo em 2012

O novo ano traz consigo um balanço de tudo que passou e o ano de 2012 foi um ano especial para o desporto e para o direito desportivo.

Um ano olímpico por si só já em um ano especial e 2012 brindou o mundo com os Jogos Olímpicos de Londres. A temporada marcou o Barcelona e o Corinthians como os maiores vencedores do ano. Tivemos o retorno do Atlético-MG à ponta da tabela e a ressurreição de Ronaldinho Gaúcho. Em termos de bola na rede, Fred foi o grande nome ao levar o Fluminense ao título brasileiro. A seleção brasileira colecionou fracassos, mas Neymar continuou dando show no Santos.

No direito desportivo, o Superior Tribunal de Justiça do Brasil em diversas rodadas teve mais repercussão do que o próprio futebol, perdas de mando de campo, suspensões de atletas, punições baseadas em vídeos ditaram o tom. Aventou-se até a hipótese do cancelamento de uma partida em virtude de um gol anulado por suposta interferência externa.

O ano terminou com a recusa do Tigre em retornar ao gramado na final da Copa Sul-Americana e novamente o direito desportivo foi destaque.

A promulgação da Lei Geral da Copa levou o direito desportivo às conversas de bares. A venda de bebidas alcoólicas em estádios, a meia-entrada, a soberania nacional tornaram-se assuntos debatidos em todos os lugares.

Seminários, encontros e congressos de direito desportivo pulularam por todo o país e pelo exterior. Temas como marketing esportivo, Lei de Incentivo ao Esporte, Estatuto do Torcedor, contrato de atletas, entre outros foram expostos e debatidos por grandes nomes do direito desportivo. Também começam a despontar cursos de capacitação, especialização e outros.

Com os debates, vários nomes seguem a trilha iniciada pelo saudoso dr. Marcílio Krieger e pelo exemplar professor Álvaro de Melo Filho.

Infelizmente, toda essa exposição ainda não foi suficiente para que as faculdades incluam o direito desportivo como cadeira obrigatória nos cursos de direito, mas, de toda sorte, o direito desportivo evoluiu muito.

Inclusive, há três excelentes revistas atualmente, a Síntese de Direito Desportivo do IOB, a Revista Brasileira de Direitos Desportivo do IBDD em parceria com a RT e "Direito Desportivo $ Esporte: Temas Selecionados" do IMDD em parceria com o IDDBA.

Portanto, 2013 desponta como um ano ainda mais promissor para o direito desportivo e, que venham os grandes eventos esportivos.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br