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Honestidade e transparência

Denis Marques, Alecsandro, Rômulo, Alex Mineiro e, na última semana, Kleber. Esses cinco jogadores foram, ao longo deste ano, sondados e procurados pela diretoria do Palmeiras para que fossem jogar no clube paulista.
 
Como ficamos sabendo disso? Não foi necessário nenhum grande trabalho de apuração jornalística. Não foi nenhum empresário que alardeou encontros secretos com o objetivo de aumentar o valor do salário de seu atleta. Muito menos foi um clube que se sentiu lesado com a negociação que abriu o berreiro.
 
A própria diretoria do Palmeiras disse à imprensa que estava negociando com empresários e/ou clubes a contratação desses atletas. Sem dúvida foi louvável a atitude dos diretores alviverdes de não esconderem dos repórteres as negociações que estavam em curso. Mas nitidamente essa estratégia tem se mostrado um verdadeiro desastre.
 
Está mais do que claro que, no meio do futebol, você não pode ser 100% transparente no tratamento de dia-a-dia com a imprensa. Ainda mais num clube do tamanho do Palmeiras, com cerca de dez a 15 veículos cobrindo diariamente a equipe, a pressão e o massacre da mídia são constantes.
 
Ao ser totalmente transparente com os jornalistas, os diretores do Palmeiras abriram espaço para que outros clubes tivessem o interesse nos jogadores que estavam sendo anunciados. E, a partir disso, atravessaram o negócio e/ou tornaram-se concorrentes na busca do atleta.
 
Foi assim com Alecsandro (o Sporting, de Portugal, anunciou que não deixaria o atleta voltar ao país e contratou-o do Cruzeiro). Depois, com Denis Marques (o Atlético Paranaense disse publicamente que por menos de US$ 4 milhões o atleta não sairia). Na seqüência, Rômulo, do Cruzeiro, foi tido como bola da vez, e a bola murchou tão logo Dorival Junior disse que esperaria para ver se contaria ou não com o atleta.
 
Depois, foi Alex Mineiro, que entrou em leilão, vencido pelo mesmo Atlético de Denis Marques e que aumentou o quanto pagava ao atleta após o Palmeiras ajudar a despertar a vontade de Fluminense e Santos.
 
Mas o último caso, envolvendo Kleber, ex-Necaxa, mostra a total falta de preparo dos dirigentes alviverdes em lidar com a imprensa. O Palmeiras anunciou data e hora de uma reunião com o jogador, na qual apenas oficializaria o acordo apalavrado. Na segunda-feira passada, Kleber não apareceu. Na terça, descobriu-se que Vanderlei Luxemburgo havia lhe telefonado. No mesmo dia, o atacante Florentín abandonou o clube da capital por conta dos salários atrasados…
 
O resultado foi desastroso. Kleber fechou com o Santos, que atravessou o negócio depois de o Palmeiras afirmar publicamente que estava com o acordo apalavrado.
 
Em todos esses casos, ficou claro que ainda falta um norte, pelo menos no que tange ao relacionamento com a imprensa, para a nova direção palmeirense. Não podem os diretores do clube anunciarem seus passos estratégicos para a imprensa. É dar aos seus rivais, de presente, um tempo para pensar num contra-ataque.
 
A atitude da diretoria palmeirense seria, mais ou menos, como se uma multinacional anunciasse que iria adquirir uma empresa do mesmo ramo de atuação antes de o negócio ser sacramentado. Sem dúvida alguma haveria um atraso ou mesmo o cancelamento do acordo.
 
E é assim que tem trabalhado a nova diretoria alviverde. Sem um amparo profissional para o relacionamento com a imprensa. Sem estar preparada para trabalhar a imagem do clube. Sem saber que rumo tomar quando tem de falar com um jornalista.
 
É óbvio que o clube tem procurado mudar a cultura dos últimos 20 anos de relacionamento duro e difícil com os jornalistas. Mas não será dando a cara ao tapa que se mostrará uma nova atitude.
 
A não ser que nada tenha mudado, e até agora a diretoria apenas blefou, usando a imprensa para ficar bem com a torcida, mas blefando que estaria negociando uma nova contratação, enquanto tenta reequilibrar as contas do clube.
 
O certo é que ter honestidade não significa ter 100% de transparência no tratamento com os jornalistas. E isso, ao que parece, a diretoria palmeirense ainda não aprendeu.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br