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O passado, o hoje, a tática e o desabafo…

Muitas são as divergências quando o assunto é futebol. Torcedores, especialistas, treinadores, dirigentes; não bastasse o olhar direcionado pela esfera em que cada um se encontra, há ainda de se considerar que dentro de suas próprias esferas, consensos mesmo, talvez só os “emocionais”.
 
Faz algum tempo escrevo e me dedico a estudar o futebol (mais especificamente as questões físico-técnico-táticas-mentais). Sem desconsiderar as outras “esferas” que envolvem esse esporte, não temo em dizer que em muitos aspectos o nosso brasileiro-futebol parece andar a passos de tartaruga (daquelas bem pesadas e paradas).
 
Dia após dia os “leões precisam ser vencidos”; e se assim não for, a própria selva dá conta de desaparecer com a anunciada competência deste ou daquele profissional. Quem em um dia é a solução para todos os problemas, no outro não serve para mais nada.
 
A história do mundo está aí para nos dar muitos exemplos de que ou se evolui e se prepara a cada dia, ou o passado acaba consumindo nossas verdades. No futebol, não bastasse a história como baliza, há realmente que se preocupar: muitos que nele trabalham estacionaram no tempo e vivem do “fazer cômodo” que repete pressupostos arcaicos e abdicam (como se fossem máquinas programadas) do “pensar”.
 
Hoje trato com jogadores das categorias de base vindos de várias partes do Brasil. Todos muito dispostos, com gigante potencial para aprender. São inteligentes. Sonham mudar o seu mundo.
 
Muitos deles (ou quase todos eles!), porém, estão viciados no automatismo robótico e mecânico do agir sem pensar, do fazer sem significado. Grandes potenciais mal estimulados e quase “crentes” de que devem ser adestrados, obedecer ordens, correr e pronto!
 
O futebol, apesar de futebol, é diferente em vários aspectos em diversos países pelo mundo. Nós brasileiros somos os maiores campeões mundiais da modalidade. Às vezes leio livros escritos por autores de outros países, que falam do nosso futebol como exemplo a ser seguido.
 
Exemplo a ser seguido! Qual exemplo?
 
Talvez escrevam para vender livros, tentando contar os segredos do “brazilian soccer”. Talvez escrevam porque são espertos. Talvez não tenham a menor idéia do que estão a dizer.
 
O peso de termos vencido mais “Copas do Mundo” que outros países não nos deve impedir de detectar grandes falhas (na maioria das vezes desencadeadas pelo frenético empirismo) que enlaçam nosso futebol – porque mais uma vez eu venho lembrar: “se não sabermos porque ganhamos, não saberemos também porque perdemos”.
 
Talvez não saibam os europeus, mas nossas conquistas têm grande colaboração deles. Jogadores brasileiros que aos poucos vão sendo transformados em robôs no Brasil vão para a Europa e quase sempre se “libertam” da tutela do não-pensar. Bem ou mal, são melhor estimulados; ganham vida.
 
Quando convocados pela seleção nacional se reúnem, e como são inteligentes, conseguem jogar.
 
Quanto tempo vamos continuar acreditando que jogadores de futebol são preguiçosos, burros e incapazes de realizar algo mais complexo e elaborado?
 
Quanto tempo vamos preparar, na base, jogadores adestrados, limitando-os pela nossa limitação?
 
Jogadores tornam-se profissionais sem ter vivenciado e aprendido uma gama de conteúdos táticos que lhes dariam autonomia enquanto atletas. Autonomia!
 
Sinceramente não sei por quanto tempo “sobreviveremos” se nosso cenário não mudar. Talvez muitos de nós nem acredite que ele precise mudar. E aí, pelo poder do convencimento continuaremos a acreditar que no futebol não há mais nada a se evoluir, “inventar” ou fazer taticamente.
 
Como é nisso que grande parte de nós acredita, talvez nada realmente mude. Se acreditamos em verdades absolutas e em “impossíveis”, dificilmente ampliaremos nossos possíveis. Então realmente nada vai mudar; mas não porque não há o que se mudar e sim porque não se pode ir para uma direção que não se sabe que existe.
 
Se ganhamos mesmo com tantas falhas e problemas no processo, quanto mais teríamos ganho e quanto mais fácil teria sido se as coisas fossem feitas corretamente?
Busquemos entender o processo. Busquemos entender o jogo. Pensemos sobre o jogo. Ensinemos a pensar sobre o jogo.
 
“Treinemos o jogo e não o automatismo de movimentos. O movimento está no jogo, mas o jogo não está no movimento automatizado”.
 
Equipe tática é equipe pensante. Autonomia para jogar, autonomia para viver…
“(…) pois aquele garoto que ia mudar o mundo, mudar o mundo; agora assiste a tudo em cima do muro (…)”
 

– DIGA NÃO A TRABALHOS QUE DEIXAM AS EQUIPES “EM CIMA DO MURO”!

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br