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A fé é cega

Kaká é indiscutivelmente o melhor do mundo. Já falamos sobre isso em outras colunas, já lembramos todas as características que fazem dele o craque do momento. Bom moço, boa família, bom caráter, cabeça no lugar, desempenho dentro de campo insuperável.
 
Mas Kaká não é perfeito, apesar de mais uma atuação sua no último domingo pelo Milan ter sido simplesmente digna de nota máxima.
 
A promoção de Kaká a melhor jogador do mundo ampliou ainda mais a mídia sobre ele, que já era gigantesca desde o gol que decidiu o título do Rio-São Paulo de 2001 para o São Paulo e alçou o então Cacá ao estrelato no futebol do Brasil.
 
Hoje, tudo o que Kaká faz torna-se motivo de manchetes nos jornais do mundo inteiro. Obviamente sem o frenesi de David Beckham, mas tão impactante quanto o meia do LA Galaxy e futuro astro de Hollywood. Por conta dessa mídia exacerbada sobre ele, Kaká não pode escorregar em nenhuma coisa que faz.
 
E Kaká, cada vez mais, parece que não dá motivo para escândalos e destruição de sua imagem. Não há noitada regada a mulheres e bebida. Não há nem mesmo comparecimento a festas em que estejam presentes celebridades do mundo da moda de Milão.
 
Kaká é avesso à badalação. É um cara família, caseiro, daqueles que, se não fosse jogador de futebol, iria ser o típico pai de família de classe média. Assim como é seu Bosco, o pai de Kaká. Mas dessa união familiar de Kaká pode surgir, hoje, o grande problema para a imagem do melhor jogador do mundo na atualidade.
 
Não por maldade, muito menos por falta de caráter, mas por fé.
 
Kaká nunca escondeu sua devoção a Jesus Cristo. Desde a maneira como celebra seus gols, erguendo as mãos aos céus como se estivesse sendo abençoado por mais uma conquista, até à celebração de Ano Novo na igreja que o acolheu, confortou e ajudou no momento mais difícil da vida, quando corria o risco de ficar paraplégico.
 
O problema é que a igreja que Kaká sempre freqüentou, ajudou e ajuda até hoje está envolvida num escândalo mundial de lavagem de dinheiro. Seus fundadores, o casal Hernandes, são acusados ainda de estelionato e falsidade ideológica, estando atualmente presos nos Estados Unidos.
 
A fé de Kaká o permite que acredite na inocência de Sonia e Estevam Hernandes. Tanto que o atleta já declarou publicamente apoio incondicional a ambos. Afinal, a família de Kaká sempre esteve próxima de ambos, por amor ao filho, por crença em Jesus Cristo, assim como outros milhões em todo o mundo.
 
Só que, hoje, para o bem de sua profissão e sossego, Kaká deveria manter sua imagem afastada da igreja. Isso não significa abandoná-la, muito menos publicamente mostrar repulsa à religião. Afinal, isso não combina nada com ele. Assim como um escândalo de lavagem de dinheiro, estelionato e falsidade ideológica.
 
Mas Kaká, por ter uma família tão bem estruturada, é o único jogador eleito o melhor do mundo na última década que não tem um staff de profissionais auxiliando-o no gerenciamento de sua imagem. Sempre saiu do bom senso de sua família e dele mesmo as principais decisões de como fazer para sempre ser visto como o craque que é.
 
Só que a fé é cega. E, hoje, essa fé pode prejudicar a imagem de um jogador, que até então, parece ter tudo para ser um dos mais completos da história do futebol mundial.
 

Kaká pode ser visto como um menino ingênuo que se meteu numa fria. Mas hoje seria muito melhor que ele orasse de casa mesmo. Só para não dar mais trela a um caso que, hoje, é questão para ser resolvida pelas polícias do Brasil e dos Estados Unidos.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br