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Champions League

O nome comercial da Liga dos Campeões da Europa é grafado em inglês. Nada mais justo pelo que se viu em 2007-08. Três dos semifinalistas eram da ilha que não é mais uma ilha no futebol.
 
Os pais do futebol criaram o rebento, em 1863, e depois não souberam o que fazer com ele. Viram o entusiasmo por kops (arquibancadas) e pubs (bares), mas, bola boa, mesmo, não viam nos maravilhosos gramados ingleses. Vai ver que os campos eram lindos justamente pelo pouco contato da bola com a grama.
 
De tanto a bola voar nas quermesses da ligação direta defesa-ataque, nada além de carrinhos (os “tackles”) molestavam a grama.
 
Mas isso vem mudando. De modo silencioso (ou barulhento), desde o Liverpool do final dos anos 80, passando pelas grandes equipes multinacionais deste século. Ou melhor, desde 1992, com a criação da Premier League. Quando os ingleses reinventaram o negócio do futebol. Fazendo um entretenimento mais saudável, seguro, visível, rentável. E mais aberto. Em campo e fora dele.
 
Em Moscou, na enorme decisão entre Manchester United e Chelsea, apenas dez ingleses começaram o jogo. Dirigidos por um escocês e um israelense, regiamente pagos por um americano de origem russa e por um russo de origem (de dinheiro) desconhecida.
 
Dos dez ingleses titulares, alguns são típicos como Brown e Carrick. Mas outros como Lampard, Rooney, Terry, Ferdinand, Scholes, Joe Cole, Hargreaves e Ashley Cole, sem perder o sotaque, são cidadãos e jogadores planetários. Sabem jogar e entender um jogo que muda como hoje se muda de clube e de país.
 
 

CHELSEA: O 4-1-4-1 de Avram Grant: com a bola, Joe Cole e Malouda se
juntavam a Drogba, no ataque, virando um 4-3-3.
 
Mas o que há de mais britânico nisso reside no banco de reservas. Quase por usucapião. Usucampeão. Sir Alex Ferguson é manager do Manchester desde 6 de novembro de 1986. Na primeira temporada, chegou com a bola rolando, com um elenco de bom nível, mas indisciplinado. Terminou o campeonato inglês em 11º lugar. Contratou bem para a temporada seguinte e foi vice-campeão, nove pontos atrás do Liverpool. Mas não passou do 11º lugar em 1989. Na temporada seguinte, a pressão da torcida e da imprensa foi grande pela demissão de Ferguson. Em dezembro de 1989, depois de seis derrotas e dois empates, nem sir Alex imaginava que seria uma boa continuar em Old Trafford.
 
 
 
MANCHESTER: O esquema que começou a decisão contra o Chelsea. Ronaldo para
conter o apoio de Essien.
 
O que se imaginava seria o jogo da demissão, pela FA Cup, em 1990, contra o então forte Nottingham Forest, foi o da manutenção. O Manchester seguiu adiante e ganhou o primeiro título com Ferguson. Três anos depois de ter chegado ao clube. Mas ainda faltava o mais esperado. O título inglês, que o clube não conquistava desde 1967. E só foi ganhar em 1993, no primeiro ano da Premier League.
 
Perdão por me alongar em Ferguson. Mas só para dizer que o treinador que conquistou um mundial, duas Ligas dos Campeões da Europa, uma Copa da Uefa, dez títulos da Liga Inglesa, cinco FA Cup (a Copa da Inglaterra) e duas Copas da Liga ainda quer mais. Muito mais. E quer porque aprendeu a querer saber mais.
 
Ele e o francês Arsène Wenger, do Arsenal, mudaram a cara, o jogo, e o pebolim inglês. Veja o belo jogo do Manchester desde 2007. Ou melhor: veja os belos jogos das várias equipes de Ferguson. Mudam constantemente, mas sem mudar a tônica do jogo bonito, pelo chão, com técnica e velocidade, com Cristiano Ronaldo como winger à direita, ou à esquerda. Como meia-atacante atrás de um só centroavante. Como um dos atacantes. Como o melhor do mundo em 2008.
 
Um time que muda com os mesmos jogadores. Como todo o Manchester da bandeira Giggs. Um winger canhoto do 4-4-2 de totó que, hoje, joga dos dois lados, joga como meio-campista central (não “volante”, que isso não existe no United), que joga de atacante, que joga até atrás do atacante, como fez em Moscou, ao completar seu jogo 759 pelo Manchester, superando sir Bobby Charlton.
 
Se há um time que não joga por apenas uma cartilha é o do veterano, “ultrapassado” e “conservador” Alex Ferguson. Vinte e dois anos de Manchester. Lenda e prova vivas de que o bom trabalho merece continuidade. Ou até mesmo um não mais que razoável trabalho nos primeiros três anos.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

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O congresso da Fifa e a nova regra do 6+5

Caros amigos da Universidade do Fubebol,
 
Como de costume, os olhos de todas as pessoas e entidades ligadas de alguma forma com o mercado do futebol mundial estão focados no Congresso Anual da Fifa, realizado nesta semana na Austrália, e nas decisões tomadas nessa reunião pelos dirigentes da entidade máxima do futebol.
 
Dentre todas as decisões passadas, a que merece destaque em nossa coluna é a regra do 6+5 aliada a uma alteração na regra de alteração de cidadania (aumentando o prazo de dois para cinco anos de residência para que o jogador possa atuar pela seleção local). Tais mudanças visam descentralizar o poderio das ligas mais fortes (nomeadamente inglesa, alemã, francesa, italiana e espanhola), e, em última instância, fortalecer as diversas seleções nacionais.
 
Antes de tudo, é necessário explicar exatamente a regra e distingui-la de outras semelhantes. De acordo com essa nova regra, aprovada por unanimidade pelas federações nacionais durante o Congresso da Fifa, os clubes deveriam iniciar as partidas com um “onze” composto por, ao menos, seis jogadores elegíveis para atuar na seleção nacional do país em que o clube esteja localizado.
 
Temos que diferenciar essa regra da regra relativa ao home-grown player (comentada por nós há duas colunas), em vigor na Euriopa. Essa última regra propõe um mínimo de jogadores no escrete formados pelo clube (treinados no mínimo por três temporadas no seus períodos de formação), não importando por qual seleção nacional eles possam atuar.
 
Na Europa, as duas regras (6+5 e home-grown player) deveriam ser obedecidas concomitantemente pelos clubes.
 
De toda forma, com a regra do 6+5 e com a alteração da troca de cidadania, a Fifa pretende manter um razoável número de jogadores atuando nas ligas de seus países, afastando o excessivo número de estrangeiros atualmente existentes nas principais ligas, e também promovendo uma maior força nas seleções nacionais (já que jogadores deixariam de trocar de clube com o propósito de requerer outras cidadanias para atuar em seleções de outros países).
 
Cabe-nos na discutir se tais mudanças de fato poderão surtir o efeito esperado.
 
Interessante artigo publicado por Matt Slater e Simon Austin nesta semana no site da BBC sobre o tema traz importantes dados a serem discutidos. O artigo mostra, por exemplo, como pode ocorrer uma discrepância verificada na Inglaterra, onde se encontram os clubes mais ricos do planeta. Na última edição da Champions League, três dos quatro finalistas eram ingleses. Por outro lado, a Inglaterra não se classificou para a Copa Européia de Seleções que acontecerá no próximo mês na Suíça e Áustria.
 
Curiosamente, a Liga Inglesa aponta índices mais baixos de atletas elegíveis para a seleção inglesa nos “onze”: média de quatro por clube.
 
Outros países, como Itália, Alemanha e Espanha, apresentam melhores índices: 7,3; 4,9 e 6,9, respectivamente. E essas seleções são aquelas apontadas como favoritas para vencerem a Eurocopa.
 
Tais números dão forças para que a Fifa implemente as novas regras.
 
Por outro lado, existem argumentos contrários. A própria Liga Inglesa, através do artigo supracitado, alega, entre outros argumentos, que o índice verificado em outras oportunidades era maior do que quatro jogadores por clube, e que a seleção também não apresentava bons resultados.
 
Do ponto de vista legal, entendo que a regra pode ser questionada do ponto de vista concorrencial e também trabalhista. Dentre o espírito das normas européias aplicáveis, tal regra pode ser entendida como limitação ao livre movimento de trabalhadores, bem como uma limitação ao direito de exercer a profissão. Tais pontos, de toda forma, somente serão concretizados caso a norma seja efetivamente questionada no Tribunais Europeus.
 
O fato é que a maior efetividade estaria em uma reforma estrutural, que já vem ocorrendo na Europa, com as categorias de base dos clubes. Normas de garantia de que os clubes desenvolvam trabalhos em suas bases, como as normas de club licensing, são mais efetivas e mais difíceis de serem questionadas em juízo.
 
As mudanças são necessárias, e as preocupações absolutamente legítimas. Mas é preciso estar sempre atento à legalidade de todas as formalidades, para que o tiro não acabe saindo pela culatra.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br