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Estado de choque

Outro dia um amigo meu sentenciou a causa do péssimo relacionamento entre torcida e polícia nos estádios brasileiros: “o maior problema é que o policial que vai ao jogo é do batalhão de choque. Para ele, bandido e torcedor é a mesma coisa!”.
 
Achei a tese interessante, mas sinceramente achava que ainda carecia de mais estudo. Mas, depois deste domingo, definitivamente ficou comprovado que, enquanto o futebol brasileiro não repensar quem deve ser o responsável por garantir a segurança nos estádios, a evolução do esporte como negócio é algo ainda longe de alcançarmos.
 
Sim, sem dúvida André Luís errou e feio no jogo. Expulso com justiça, perdeu a cabeça e a compostura ao deixar o sempre nervoso campo do estádio dos Aflitos. Explosão de raiva que nunca se justifica, ainda mais quando parte de um jogador experiente como André, mais do que acostumado aos insultos dos torcedores, onde quer que seja, aqui ou em Bagdá.
 
Mas até aí o que ele fez (responder com agressividade aos insultos) não é caso de polícia. Muito menos para um festival inconseqüente como o que foi visto em Recife na tarde do último domingo.
 
Abuso de autoridade, uso excessivo da força, agressão moral e física. Tudo isso foi visto por parte dos “policiais” que estavam nos Aflitos como responsáveis por garantir a segurança do jogo entre Náutico e Botafogo. Para melhorar, a responsável pela “voz de prisão” a André Luís aproveitou os microfones das rádios e televisões ávidas para explicar a confusão para justificar sua decisão, colocando ainda mais lenha na fogueira.
 
Não bastasse a truculência na “dominação” do “meliante”, os policiais mostraram o quanto são despreparados ao levarem André Luís para fora do estádio por um portão que passava pelo meio da torcida do Náutico.
 
Teoricamente os policiais tinham de proteger público, jogadores, árbitros e demais profissionais envolvidos na cobertura do jogo. Mas o que fizeram foi gerar um dos maiores estados de revolta dos últimos anos num estádio brasileiro, fazendo dos Aflitos um campo de irresponsabilidade administrativa.
 
E aí voltamos para a conclusão de meu amigo, feita há cerca de um mês. Nos estádios, é o pior tipo de policial que está presente para garantir a segurança do espetáculo. Ele é aquele que parte da tese de que primeiro tem de bater para depois perguntar. É aquele que coloca o Brasil nas estatísticas dos piores países em eficiência policial. É aquele que ajuda a aumentar os índices de morte no país no confronto entre “policiais” e “bandidos”.
 
O batalhão de choque da PM de Recife deixou não apenas o Botafogo em estado de choque. Que pelo menos o lamentável episódio sirva de exemplo para mostrar que, enquanto o futebol brasileiro não souber tratar a todos com respeito, viveremos em constante estado de choque, perplexos com a falta de solução para um problema tão simples que é tratar torcedor como consumidor e jogador como estrela. Enquanto isso não acontecer, o futebol continuará a ser um circo. Com o palhaço mudando de figura a cada rodada…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br