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O maior espetáculo da Terra

O Real Madrid foi pentacampeão europeu, de 1956 a 1960. Voltou a ganhar a Europa em 1966, mas apenas com o excelente ponta-esquerda Gento dos craques lendários da máquina real das cinco coroas. Como o primeiro título mundial (Intercontinental, para os europeus…) só foi disputado em 1960, o maravilhoso e irreal Madrid de Di Stéfano, Puskás, Kopa e belíssima companhia só conquistou uma taça planetária. 

Uma a menos que o Santos de Pelé, que, em 2008, celebra os 45 anos do bi do time de Pelé. Ou melhor: do time que nem precisou Dele para ser bi, contra o Milan, em três jogos, em 1963. Almir Pernambuquinho, o “Pelé branco”, ganhou a disputa com Amarildo, o Possesso milanista, bi mundial pelo Brasil em 1962, e ajudou um time espetacular a ganhar o planeta pela segunda vez. Sem Pelé – machucado.

O imenso mérito daquela seleção que se fez na Vila Belmiro foi independer de Pelé para ser maior que o mundo da bola. O Santos já era bi paulista (1955-56) quando Ele chegou ao time principal, ainda com 16 anos. Com Pelé, claro, passaria a patamares interplanetários. Campeão estadual em 1958, 1960 a 1962, 1964-65, 1967 a 1969. Pentacampeão do único torneio nacional da época, a Taça Brasil, de 1961 a 1965. Tetra do Rio-São Paulo. Duas Libertadores. E os dois mundiais.

O primeiro, em 1962, ganhando do Benfica por 3 x 2, no Rio. Goleando e encantando na Luz, em Lisboa, justificando o nome do estádio do rival, impiedosamente goleado por 5 x 2. Quando, na feliz imagem de um jornalista português, o Santos passou os 45 minutos iniciais sem tocar os pés no gramado. Tanto que jogou. Tanto que pelezou.


O time que não pisou no gramado do estádio da Luz

Mas, insisto, não era só Pelé. Era todo o time. Mesmo com um treinador que, na preleção, costumava pedir ao time para fazer um gol logo de cara para tranqüilizar e, depois, fazer o que eles (muito) bem entendiam. Esse era Lula, treinador multicampeão na Vila, de 1954 a 1967. Mas capaz de “preleções” dessa profundidade. Ou de pedir para que os dois pontas voltassem para o meio e, juntamente com os dois médios, fizessem um “triângulo” com quatro jogadores…

Podem dizer que um timaço como aquele não precisava de treinador… Pode ser. Mas Lula ganhou tudo isso. Sem ser nada daquilo. Palmas para ele. Mesmo quando fazia mexidas incompreensíveis. Até hoje, nenhum santista entende o porquê dele, no jogo decisivo contra o Benfica, em 1962, sacar o meia-direita Mengálvio (técnico, porém lento) para adiantar o polivalente lateral Lima para o meio, e deixar o veterano zagueiro Olavo improvisado na lateral-direita para marcar o ótimo ponta português Simão.

A idéia era marcar mais a partir do meio-campo, e deixar o time mais rápido. Foi uma temeridade. Simões jogou muito para cima de Olavo. Mas o Santos jogou ainda demais. Tem a ver com a mexida de Lula? Para o ponta-esquerda Pepe, maior artilheiro humano da história do clube (“Pelé nasceu em Saturno, responde ele), melhor treinador entre os craques bicampeões mundiais, Lula errou:

– Foi uma imprudência o que fez o  nosso treinador. Mas deu tudo certo, apesar disso.

Lula quase repetiria seus experimentos contra o Milan, no segundo jogo decisivo do Mundial de 1963. O Santos precisava vencer. Perdera para a ótima equipe italiana por 4 x 2, em Milão. No Rio , só a vitória interessava. E Lula deixou escapar que colocaria o meia Batista no lugar de Pepe, para compor mais o meio-campo. Por sorte do Santos e da bola, o treinador foi convencido pela direção santista que Pepe não poderia ficar de fora. Depois de perder o meio-campo e o primeiro tempo por  2 x 0, o Santos virou para 4 x 2. Dois gols de Pepe, sob chuva pesada como a bola e as balas do Canhão da Vila.

Tudo dava muito certo porque era fácil jogar certo com tantas feras. Uma equipe que fazia seis ou sete, e tomava dois ou três. Não pela fragilidade defensiva, ou por insuficiência técnica. Mas pelo gosto em atacar. Na campanha da segunda Libertadores, o Santos fez 3 x 0 no Boca, no Maracanã, com 28 minutos. Levou um gol do ótimo meia Sanfilippo num contragolpe sofrido no fim do primeiro tempo. Quando o cabeça-de-área Zito resolveu se lançar ao ataque juntamente com o meia Lima, armando uma jogada com os dois pontas Dorval e Pepe enfiados, e mais a dupla Pelé-Coutinho na entrada da área. No contra-ataque, Sanfilippo foi lançado às costas do imenso Mauro, dos mais técnicos zagueiros da história brasileira, que fazia notável dupla com o quarto-zagueiro Calvet, de refinada técnica e capacidade de antecipação. A dupla exposta pelo time que atacava como se fosse o fim do mundo que, no fim, sempre acabava sendo santista. Mesmo com laterais que não eram brilhantes. Mas eram eficientes. Sobretudo Dalmo, que batia bem na bola e, destro, jogava com eficiência nos dois lados.

Soubesse segurar a bola um pouco mais, “administrar mais o jogo”, talvez o Santos tivesse ganho alguns jogos a mais nos anos 60. Certamente teria tomado menos gols. Mas não seria cultuado pela eternidade como o timaço que foi. Justamente por não se contentar apenas em jogar bola e fazer gols.

Para interagir com o autor: mauro@universidadedofutebol.com.br

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O patrocínio e a crise

A queda no valor das ações, a quebra de algumas instituições financeiras e a escassez de crédito no mercado fez com que muitas empresas revissem seus investimentos para o futuro, obviamente.

Afinal, se o cenário de antes era bom e o de agora é ruim, não faz nenhum sentido manter a mesma perspectiva. Nada mais natural do que uma contenção de gastos, a começar pelos supérfluos.

É nessa que entra o mercado de patrocínio. Há uma tendência forte de redução de valores. Novamente, é algo bastante natural. Faz todo o sentido. Não me venham com essa que patrocínio é investimento. Tirando alguns poucos casos isolados, não é. Na grande maioria das vezes, principalmente – mas não isoladamente – em esportes de menor visibilidade, patrocínio é luxo, é ostentação.

Pesquisas, muitas pesquisas, apontam que uma das principais razões que levam empresas a patrocinar esportes é o gosto particular que o tomador de decisão possui por esse determinado esporte. A chefia gosta de golfe? A empresa patrocina golfe. A chefia gosta de cavalos? A empresa patrocina hipismo. A chefia gosta de música? A empresa patrocina a Macarena.

Ok. Ninguém patrocina a Macarena. Não mais, pelo menos. Acho.

De qualquer maneira, isso é fato. Empresas, em boa parte das vezes, não se preocupam muito com resultados das suas ações de patrocínios. Não chega a ser uma matemática exata. São tantas as variáveis que implicam no processo de compra de um produto ou serviço que é virtualmente impossível saber o quanto desse processo é exatamente motivado pelo patrocínio.

Diante dessa inexatidão, fica ainda mais compressível o motivo que leva empresas a não enxergarem o patrocínio como algo essencial ao seu processo mercantil. E daí o que leva elas a cortarem tantas verbas com o cenário e as perspectivas atuais.

Patrocínio, quando bem utilizado, é uma excelente ferramenta para alavancar negócios e não deve ser abandonado, até porque serve como fomentador de receita.

Quando é apenas uma vontade de quem controla o dinheiro, bem, aí é gasto mesmo.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br