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A importância de um veículo como a Universidade do Futebol para o desenvolvimento da modalidade no país

Primeiramente, sinto-me lisonjeado em ocupar, a partir de hoje e semanalmente, o posto do colega Antonio Afif, um dos mentores e condutores do projeto da Universidade do Futebol.

Projeto que pretendeu, desde sua fase embrionária, contribuir com a evolução do futebol no Brasil, nos mais variados aspectos que, somando-se em suas especialidades, são reunidos sob o guarda-chuva da gestão.

Evidenciaremos, portanto, a pertinência da Universidade do Futebol no contexto evolutivo da gestão do futebol no Brasil.

Talvez uma das características ainda marcantes no contexto do futebol no Brasil seja a nostalgia provocada pelas conquistas desportivas e os diferentes estilos de jogo, ocorridos no país a partir da década de 1950.

Com efeito, ao passo em que essa noção contribuiu, na prática, para a inserção desportiva do futebol nacional em âmbito internacional e, na teoria, para a construção de sua mítica imagem, por outro lado, serviu de acomodação administrativa e intelectual, ao longo das décadas seguintes, provocando, até mesmo, a negação de que esse esporte seja um “produto” com valor de mercado.

“Realmente, há um saudosismo pelos tempos românticos, mas, a despeito da comercialização do futebol, a mística não acabou. Helal defende essa tese: ‘No que diz respeito à comercialização do futebol, (…) minha suposição era a de que o advento da propaganda nos estádios e nas camisas dos times, assim como a transmissão de jogos pela TV, tiravam muito da aura mística e sagrada do futebol, fazendo com que este universo se transformasse em um mero meio comercial, desencantando os torcedores e contribuindo para a queda do público. Essa hipótese não foi confirmada pela pesquisa. Apesar de haver uma certa nostalgia pelo tempo ‘não comercial’, mais ‘romântico’ e ‘amador’ do futebol, os torcedores acostumaram-se à mudança e parecem ter entendido que a comercialização foi o meio encontrado para que os clubes equilibrassem seus orçamentos.” (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 92).

Outra opção passa a existir após o reconhecimento de tal característica. Em outras palavras, o que fazer com a gestão do futebol enquanto produto de um mercado consumidor – agora, afetado internacionalmente, pela globalização, mas que também dela pode fazer uso?

“Saldanha já falava em seu trabalho clássico, ‘Subterrâneos do futebol’, de 1963, que ‘qualquer time de primeira divisão, onde haja profissionalismo na Europa, tem um treinamento de alta categoria. Alguém poderia argumentar que ‘nós estamos certos e eles errados’. Que nosso espontaneísmo e nossa anarquia é que são bons. A prova é que ‘ganhamos copas do mundo pra cima deles’. Isto é absolutamente falso. A anarquia não é forma de desenvolvimento em nenhum setor de atividade humana. Se um matuto que conhece segredos da agricultura, por exemplo, obtém êxito apenas com sua enxada e com seus palpites se vai chover ou não, é lógico que o seu talento para o plantio obteria muito melhores resultados se utilizasse um trator em vez de uma enxada e os métodos modernos de agronomia’.” (VIEIRA SANTOS, 2002, p.48).

De forma geral, o sistema em que se desenvolve todo o futebol brasileiro, ainda sofre para romper com velhas e, hoje, inadequadas formas de gestão de seus negócios. O anteriormente mencionado saudosismo ainda ecoa nas instituições e nas pessoas, fazendo com que o passado determine o presente e, consequentemente, limite as perspectivas de futuro.

“O consultor de organização de empresas Michael Hammer certa vez observou: ‘Um indício de que a empresa tem problemas é quando me dizem que já foram muito competentes no passado. O mesmo ocorre com os países. Não se deve esquecer a própria identidade. É muito bom que tenham sido extraordinários no século XIV, mas isso foi antes, e agora é agora. Quando as recordações têm mais peso do que os sonhos, o fim está próximo. A marca distintiva de uma organização verdadeiramente bem-sucedida é a disposição de abandonar o que lhe trouxe o êxito e começar de novo.” (FRIEDMAN, 2005, p.434).

Portanto, a visão purista e idílica do futebol, no Brasil, deve perdurar, apenas no sentido de revigorar-lhe na essência – porém, como combustível de uma grande indústria que necessita, constantemente, de gestão profissional em busca da manutenção e expansão de suas atividades.

“O futebol brasileiro passou por grandes mudanças, mas muito pouco realmente se transformou. Houve mudanças na legislação e uma grande expansão na estrutura física. A gestão melhorou, principalmente, dentro de campo. No âmbito estritamente administrativo houve avanços, mas a profissionalização ainda é um processo em andamento. A primeira e, talvez, única transformação real ocorreu quando da sua popularização (ou democratização) e profissionalização dos jogadores, processo que revolucionou as relações de trabalho, ocorrido entre as décadas de 1920 e 1930.” (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 21).

As palavras acima atestam que o desenvolvimento do futebol brasileiro esteve condicionado a fatores alheios à capacidade de gestão profissional das instituições, salvo rara exceção do trabalho realizado dentro do campo, na área técnica.

Esse privilégio, indolente, permaneceu inabalável, ao longo de décadas do século XX, porque assim foi o posicionamento dos tomadores de decisão na gestão do futebol nacional. Porém, esse posicionamento comodista vê a globalização do futebol cobrar o atraso, com crescente grau de exigência. 

“No entanto, a gestão desse grande negócio ainda está muito aquém do que se esperaria de uma indústria tão importante. A diferença é notável, se compararmos com outros países, principalmente os da Europa, Estados Unidos e Japão, com outros ramos da indústria do entretenimento (do qual a indústria dos esportes em geral e do futebol, especificamente, faz parte) e maior ainda se comparada com outros setores, como o financeiro. Portanto, partimos do princípio que a transformação do futebol em negócio é um movimento já existente e irrefreável e, sendo assim, além de estabelecer regras claras para a atuação dos agentes, é necessário, pelo bem do futebol, gerir essas transações de maneira mais profissional possível.” (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 05).

Indústria, entretenimento, negócio. São termos, freqüentemente, aplicados ao profissionalismo do moderno futebol mundial, cujos reflexos dentro do país já são, indubitavelmente, sentidos.

O desafio aos tradicionais modelos de gestão do futebol nacional são amplificados pela globalização. Todavia, a tomada de decisão profissional rumo a sua evolução, inerente ao controle administrativo, pende da resolução das diferenças entre o antigo e o novo, o arcaico e o moderno. 

“No Brasil, os avanços na gestão, sejam dentro do campo, sejam na esfera administrativa, têm sido cercados por suspeitas e resistências, principalmente das lideranças ligadas a antigas oligarquias regionais, que ainda mantém sob seu poder as federações estaduais. Donos do melhor futebol do planeta, nós teríamos o que aprender? Esse misto de arrogância, atraso estrutural e, talvez, excesso de purismo ou cuidado com a cultura, acaba dificultando a implementação de hábitos e culturas mais profissionais dentro do futebol. A identidade, fortemente arraigada, dificulta grande parte das mudanças e transformações, embora estas estejam ocorrendo de qualquer maneira, forçadas por variáveis independentes e externas.” (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 40).

As

sim, a definição sobre o que vem a ser gestão moderna do futebol brasileiro, é contundente, porém precisa: “No caso do futebol, devido à resistência em adotar inovações, a gestão moderna é, simplesmente, a que utiliza os métodos comuns de gestão, praticados por qualquer organização profissional.” (VIEIRA SANTOS, 2002, p.13).

Reconhece-se, pois, a dificuldade de adaptação na fase de transição entre as duas linhas da gestão do futebol nacional.

 

Entretanto, justamente nessa dificuldade transitória que é possível, aos clubes, resignar-se em favor do planejamento, em sintonia com o que deve ser feito em âmbito administrativo interno, bem como pautados pelas tendências oriundas de um mercado do futebol globalizado e profissional.

 

Com efeito, “a mercantilização do futebol já é um fato. Resta-nos agora decidir que tipo de comercialização queremos: uma amadora, oligárquica, retrógrada e corrupta ou uma profissional, organizada, com regras claras, onde as pessoas sejam tratadas como consumidores e sejam respeitadas por isso.” (VIEIRA SANTOS, 2002, p.91)

 

Em resumo: deixar de transferir a responsabilidade pela condução dos rumos da gestão do futebol brasileiro e passar a, pelo menos, tentar controlar e influenciar a administração dos clubes, a partir de fatores endógenos, minimizando os riscos causados pelas variáveis externas.

 

Nesse sentido, ratifica-se como um excelente fórum de discussões e busca por informações de qualidade o portal da Universidade do Futebol, cuja contribuição de inúmeros especialistas nas mais diferentes áreas do conhecimento contribuirá para o desenvolvimento evolutivo deste esporte. 

 

O futebol brasileiro necessitava de conteúdo. Não necessariamente mais, mas melhor. E, a partir de agora, isso está ao alcance de todos, como resultado de anos de envolvimento dos seus idealizadores e colaboradores, que não merecem outra palavra senão “parabéns”.

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O nome da rosa

Li, como toda a gente, O nome da rosa de Umberto Eco. A história passa-se na Idade Média e o autor conta-nos como um monge de nome Guilherme de Baskerville, acompanhado do jovem Adso (que só depois de velho narra o que viu) quer descobrir uma morte estranha, numa abadia do norte da Itália. – morte que é a primeira de uma série de sete, que Baskerville interrompe ao desmascarar o culpado. No centro da abadia, levanta-se uma enorme biblioteca, considerada a mais importante e completa de toda a cristandade. Durante a investigação, Guilherme de Baskerville encontra-se em concorrência com a Inquisição e com o seu incontornável representante Bernard Gui, o qual defende que os hereges são os homicidas que Guilherme procura, designadamente os seguidores de Dolcino, o criador de uma seita hostil ao papado. Consegue, através de horrendas torturas, arrancar confissões, favoráveis à sua tese, a vários monges. Mas não convence Baskerville. Este a conclusão a que chega é bem diversa: conclui que as mortes não são obra de hereges e que os monges morrem, ao tentarem ler um livro misterioso, ciosamente guardado na biblioteca. A cena final do livro põe frente a frente Baskerville e o assassino, um cego que era um dos monges mais velhos da abadia. Desmascarado, o assassino faculta ao investigador o livro que já havia provocado sete mortes. Tratava-se do segundo volume da Poética de Aristóteles (384-322 a. C.), uma obra desconhecida até então e na qual o Estagirita faz uma profunda reflexão, chegando mesmo a abordar a questão do riso. Acusado por Baskerville, Jorge, o assassino, tem um comportamento estranho e, em vez de esconder o livro, aconselha ao investigador a sua leitura.

 

Baskerville começa a leitura do livro, mas muniu-se de um par de luvas, pois que descobriu que as páginas do livro se encontravam envenenadas, com um líquido que nelas deitara o monge criminoso. E não escondeu a questão seguinte: por que pretendia ele matar os monges que lessem a Poética de Aristóteles? Porque o livro falava do riso e o riso é o contrário da fé. Pergunta-lhe Guilherme: Mas quais são os efeitos perniciosos do riso?… Responde Jorge: “O riso é a fraqueza, a corrupção, o amolecimento da nossa carne. É a diversão para o camponês, a licença para o alcoólico e até a Igreja instituiu o Carnaval, espaço de muitos crimes e vícios. Portanto, o riso não passa de uma coisa vil (…)”.  Mas Baskerville queria saber mais: “Se há tantos livros que falam do riso, da alegria. Por que só este lhe inspirava tamanho terror? Declara o criminoso: “Porque era do Filósofo (Aristóteles). Cada um dos livros desse homem destruiu uma parte da ciência que a cristandade tinha acumulado, ao longo de séculos. Os primeiros Padres transmitiram-nos o que era preciso saber sobre o poder do Verbo e bastou que Boécio comentasse o Filósofo para que o mistério do Verbo divino pudesse ser questionado e parodiado. O livro do Génesis diz-nos o que é preciso saber sobre a composição do cosmos e bastou a Física do Filósofo para tudo o que nos foi ensinado fosse repensado. Cada palavra do Filósofo, em que (pasma bem!) há bispos e papas que acreditam, é um perigo para a cristandade”. Jorge faz do livro de Aristóteles o pretexto das suas angústias, diante dos problemas da Igreja. Baskerville, ao invés, não teme o riso, nem a crítica, pois que chega mesmo a pensar num cristianismo sem igreja.

 

Como se vê, o riso, o anedotário, a mordacidade intencional dos dissidentes, dos críticos, dos resistentes, que se opõem a qualquer cartilha ortodoxa, é considerado um perigo, pelos instalados, pelos carreiristas, pelos conservadores. Há muitos séculos, como hoje.

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A importância da Universidade do Futebol para o desenvolvimento da modalidade no país

Olá amigos. Nesta semana temos um marco para o futebol brasileiro. Não! Não é uma final de Copa do Mundo, nem tampouco a definição das cidades que serão sedes.

Trata-se da solidificação de um projeto que teve suas sementes plantadas há algum tempo e que agora se apresenta de forma imponente.

Nasceu a Universidade do Futebol!

Para o amigo mais assíduo, o contato já havia se estabelecido com os primeiros esboços do que seria essa Universidade, para os mais novos, sejam bem vindos. Para ambos, convido à reflexão sobre a importância e o significado desse marco para o desenvolvimento do futebol no Brasil. (Sim! Apesar das cinco estrelas, temos muito a desenvolver).

O primeiro ponto que deve ser destacado é o conceito de Universidade. Em geral idealizada como uma instituição na qual o conhecimento é elaborado, desenvolvido e difundido, e retornado à sociedade. Processo esse no qual é imprescindível a participação de pessoas das mais diferentes frentes, seja no ensino, seja no aprendizado.

Enfim, uma Universidade do Futebol! Que não se melindrem os profissionais que se julgam tão aptos e sabedores de tudo sobre futebol. Numa Universidade, o espaço é aberto para todos. Tal compartilhamento e convívio de diferentes saberes, tanto em formas como em profundidade, consiste na pedra fundamental para o sucesso de um projeto universitário.

Um projeto que deve abrir nossas mentes sobre a necessidade de aprendermos e ensinar constantemente, de reconhecer que o agrupamento e a transmissão de conhecimento enriquece a modalidade, e que o saber de cada um não deve ficar guardado a sete chaves, mas sim, compartilhado e posto a uma constante evolução em prol de cada um e do futebol enquanto ciência.

Futebol, Ciência? Sim, a multidisciplinaridade do futebol pode levar alguns a fazer referências a algumas ciências aplicadas à modalidade e outros a simplesmente considerarem o futebol enquanto uma ciência, mas deixemos essa rusga de lado. O fato é que a ciência encontra diferentes segmentos no futebol.

Apenas para elencar algumas que surgem rapidamente à cabeça (o amigo com certeza lembrará de outros tantos). Eis algumas áreas de conhecimento que formam a grande teia de saber do futebol:

Fisiologia – Medicina – Fisioterapia –  Nutrição – Bioquímica – Biomecânica – Psicologia -Preparação Física – Sociologia – Antropologia – História – Técnica- Tática – Pedagogia – Ludicidade – Treinamento – Gestão – Marketing – Jornalismo – Construção – Tecnologia – …

Uma rede de saber que exige profissionais especializados nas mais diferentes especialidades. A Universidade do Futebol vem suprir uma carência, ocupando um espaço, que é de fato ilimitado, possibilitada pelas atuais tecnologias do mundo virtual, no qual o conhecimento pode se propagar em lugares e velocidades incomensuráveis.

Para o sucesso da Universidade, é preciso que todos nós reconheçamos nossa importância, através de nosso envolvimento e participação, seja enquanto receptores ou transmissores de conhecimento, tendo em mente que o compartilhamento é a base para a evolução da modalidade.

Na ânsia de pesquisa, ensino e extensão, os pilares tradicionais de uma Universidade, destacam-se a inovação e modernidade das idéias e recursos disponibilizados, focando cursos, conteúdo e troca de experiências em torno do universo chamado futebol.

Desejo sucesso para todos nós, calouros desta Universidade, que possamos aprender, compartilhar e tornar este espaço mais do que um espaço de discussão, um espaço de consolidação e desenvolvimento da ciência futebol.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br