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Os interesses do engenheiro e tecnólogo no desenvolvimento da tecnologia esportiva

Olá amigos!

No texto inicial dessa série que aborda os interesses dos profissionais no desenvolvimento da tecnologia esportiva, fizemos um questionamento sobre como estabelecer um diálogo partindo dos interesses de cada um destes profissionais. Como suprir as necessidades dos técnicos e atletas sem se distanciar das necessidades do público em geral, e se aproximando dos interesses do gestor ou investidor?

Hoje, iremos identificar os objetivos e interesses daqueles que detêm o conhecimento sobre a tecnologia e os recursos, sejam eles engenheiros de computação, analistas de sistemas, tecnólogos, enfim, profissionais relacionados ao desenvolvimento propriamente dito.

Para eles, quais seriam os interesses? Talvez sejam os mais simples e fáceis de identificar:

Utilização dos conhecimentos modernos em tecnologia para otimização e atendimento das necessidades dos clientes;

Case de sucesso no mercado tecnológico.

Não consigo ver muito mais do que essas duas pretensões. Com certeza, quem for do meio pode ter algo a acrescentar, mas imagino que, relativo ao esporte, são esses os interesses de quem desenvolve tal segmento.

Vale destacar o convívio pessoal, nesses últimos anos, com tais profissionais e a riqueza que a tão famosa multidisciplinaridade traz para a concretização de projetos.

Fruto de incessantes piadas, o pragmatismo do engenheiro, sobretudo no desenvolvimento de projetos, na elaboração de metas, no levantamento de requisitos, é elemento admirável e até mesmo invejável para o mundo do futebol.

Se o futebol apresentasse o rigor e o cuidado que os profissionais em tecnologia possuem no desenvolvimento dos projetos, com certeza, as surpresas estariam restritas aos justos aplausos destinados às imprevisibilidades do campo de jogo, da magia, do artista, do futebol em sua essência, e não a aspectos obscuros, estranhos e mesquinhos que, por muitas vezes, interferem no desenrolar do jogo.

E quando nos referimos ao rigor e cuidado, tomemos por definição que não são sinônimos de rigidez e medo, mas que sejam compreendido como zelo e comprometimento com o sucesso do projeto, o que, para os interesses do desenvolvedor, significa a satisfação do usuário final.

Talvez, este seja um dos maiores “problemas”. Gosto de chamar assim, pois, quando falamos em problemas sempre esperamos encontrar as soluções. Isso porque a satisfação do usuário vem atrelada aos resultados, os quais no meio esportivo, diferem, e muito, dos resultados que constam na gestão de qualidade no desenvolvimento de softwares.

Para nós (esporte), o resultado está intimamente ligado ao placar, para os desenvolvedores o resultado relaciona-se à capacidade do usuário em utilizar e alcançar os objetivos traçados inicialmente ao escolher determinada tecnologia.

Neste ponto se encontra o grande erro. Nós do esporte, em muitas vezes, queremos que o computador entre em campo e faça um gol de cabeça, ao invés de estudar, planejar e intervir com base nas informações processadas, comparadas, armazenadas e exibidas em alta velocidade, dinamismo e precisão dos sistemas desenvolvidos pelos engenheiros. Mas aí, já são outros interesses…

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Produto nobre I

“Não me conta o final daquele filme que eu ainda não vi!”. “Vou chegar em casa e ver o final da novela que eu deixei gravando”. “Só estou esperando dar o horário para ver a reprise daquela série que eu não consegui ver hoje na hora em que ela sempre passa”.

Provavelmente você já se deparou com alguma dessas três situações. Com você mesmo, ou um parente próximo, um amigo. Tanto faz. Alguma vez na vida alguém já te falou uma dessas frases. Mas, sem dúvida, é quase certo que você nunca ouviu as expressões que vem a seguir.

“Não me fala quanto foi o jogo que eu ainda não vi!”. “Vou chegar em casa e ver aquele jogo que eu deixei gravando”. “Não vejo a hora de mostrarem de novo o jogo que eu não vi quando foi transmitido ao vivo”.

O que vale para a vida comum, não vale para o esporte. E, talvez em especial, para o futebol. Nunca soube de ninguém que não quisesse ver um jogo ao vivo. Claro, desde que o jogo tivesse, de fato, um significado especial para a vida daquela pessoa.

Só que quantos capítulos finais de novela, filmes que todos comentam (“Avatar”, por exemplo, ainda está na minha lista dos filmes a serem vistos) ou séries imperdíveis nós já deixamos para ver no outro dia, com mais calma, quando não tinha outro compromisso? Tenho certeza que várias vezes deixamos passar com a certeza de que dá para “deixar para depois”.

Algo que nem casamento consegue fazer para o esporte. Quantas vezes o radinho não foi o companheiro fiel para o torcedor desesperado no banco de uma igreja? E o pai do noivo, o noivo, o tio da noiva, o pai da noiva e, às vezes, a noiva não agradeceram a transgressão alheia?

Por esses motivos, aparentemente tão banais, que o esporte tem se tornado cada vez mais um produto altamente importante para os canais de televisão. Em tempos de revolução na forma como as pessoas consomem a TV, não haverá nada mais nobre do que a emissora ter o esporte dentro da sua grade de programação.

Com o desenvolvimento das ferramentas que permitem ao telespectador decidir qual programa vai assistir e, em qual momento, só o esporte manterá ainda a “ditadura” do canal de TV.

A grade fixa de programação, que foi uma das chaves para o sucesso da Globo como empresa de mídia, está com os dias contados. Se eu puder programar a minha TV para captar o sinal com aquele programa e só exibi-lo (sem intervalos comerciais) quando eu estiver em frente ao aparelho, tudo o que não for esporte está fadado a “ficar para depois”.

O capítulo final da novela, o filme que todos comentam, a série favorita. Não importa qual seja o programa, basta um clique no botão e ele ficará disponível para mim quando eu estiver disponível para eles.

Só que não dá para alguém querer ficar imune a um evento esportivo. Deixar “passar”. Esperar para ver mais tarde. Conhecer o resultado apenas quando eu estiver disponível para assistir àquela partida.

Não! Quando o tema é esporte, eu quero ver ao vivo. Não quero melhores momentos, apenas o gol, ou os cinco segundos finais de um jogo de basquete. Quero ver a história toda. E no momento em que ela acontece. Afinal, é só aí que é impossível prever qualquer resultado.

Quando, aqui no Brasil, o esporte perceber o grau cada vez maior de importância que ele tem para o futuro da televisão, provavelmente veremos dias melhores nas modalidades.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Falcão entrevista José Mourinho: hoje peço licença aos leitores

Minha intenção inicial para o texto desta semana, era a de discutir uma interessante declaração do treinador da equipe do Internacional de Porto Alegre, Jorge Fossati, que disse recentemente que seu esquema tático preferido é o 1-3-4-2-1 (que as pessoas confundem, segundo ele, com o 1-3-6-1).

Basicamente, iria explorar o fato, de que apesar de em uma foto estática (como na figura que segue), aparentemente, a ocupação dos espaços do campo de jogo ser igual para os esquemas táticos 1-3-6-1 e 1-3-4-2-1, na verdade, as dinâmicas que regem cada uma de suas linhas fazem com que eles (os esquemas) apresentem identidades de jogo bastante diferentes.

Porém, vou pedir licença aos leitores, para reproduzir na sequência, uma interessante entrevista, do treinador José Mourinho, em uma das poucas oportunidades em que responde perguntas a um entrevistador brasileiro (Paulo Roberto Falcão).

A entrevista foi publicada pela edição eletrônica do jornal Zero Hora (http://zerohora.clicrbs.com.br) de 06 de fevereiro de 2010, e segue na íntegra, logo abaixo:

Mourinho: “O craque? O craque é a equipe!”

Em passagem pela Itália, Paulo Roberto Falcão entrevistou José Mourinho, técnico da Inter de Milão e um dos treinadores mais respeitados do mundo

Paulo Roberto Falcão

Estive na Itália na semana passada e me encontrei com José Mourinho, o mais respeitado treinador europeu da atualidade e certamente um dos melhores do mundo. Aos 47 anos, ele comanda a Inter, de Milão, lidera o campeonato italiano, fala cinco idiomas e ganha mais de 10 milhões de euros por ano. Campeão da Uefa e da Liga dos Campeões pelo Porto entre 2002 e 2004, Mourinho foi contratado a peso de ouro pelo Chelsea da Inglaterra e elevou ainda mais sua cotação ao ganhar dois títulos nacionais (2005 e 2006) depois de 50 anos de abstinência.

Em junho de 2008, assumiu a Inter, já tendo conquistado o título da Série A na temporada da Itália e a Supercopa da Itália. Na Inter, ele comanda os brasileiros Júlio César, Maicon, Lúcio e Thiago Motta. Português de Setúbal, filho de um goleiro do União de Leiria, Mourinho chegou a tentar a carreira de jogador, sem muito sucesso, mas formou-se em Educação Física, fez vários cursos para treinador e começou a deslanchar ao ser contratado pelo Sporting de Lisboa para ser o tradutor do técnico inglês Bobby Robson, com quem manteve parceria também no Porto e no Barcelona. Depois, ainda no Barça, foi treinador adjunto do holandês Van Gaal, antes de voltar para Portugal já como técnico principal, primeiro de Benfica e União de Leiria, e posteriormente do Porto, com o qual conquistou seus primeiros títulos europeus. É um estudioso do futebol, um estrategista, um gestor de pessoas e um profissional extremamente meticuloso, como se pode ver nas respostas às 20 questões que lhe apresentei.

Falcão – Você é considerado, ao lado de Alex Ferguson, o mais reconhecido treinador europeu. Importa ser o número 1? Como você vê esta questão?

Mourinho – O número 1 é uma coisa muito relativa. Quem ganha mais vezes é o número 1. Ferguson ganha há 30 anos. Eu ganho há sete anos. Guardiola ganhou tudo à época (temporada) passada. E há ainda outros que foram ganhando coisas importantes. Mas o importante é estar no topo muito tempo.

Falcão – Você teve forte influência de Bobby Robson no início da carreira. Considera-se um seguidor de suas ideias? Que outros profissionais o inspiraram?

Mourinho – Bobby Robson foi um senhor do futebol e eu um sortudo por trabalhar com ele. Futebolisticamente temos poucos pontos em comum. Em comum, a paixão pelo futebol e a consciência de que o aspecto psicológico é fundamental.

Falcão – Futebol europeu e sul-americano: ainda há diferenças acentuadas na sua opinião ou a globalização do futebol misturou tudo? Se há diferenças, quais são, quem leva alguma vantagem?

Mourinho – Futebol é futebol. Mas as diferenças culturais são importantes. Não há dois futebóis iguais. O talento na América do Sul nasce todos os dias, mas a organização tática e a intensidade do jogo são muito mais altas na Europa. Pelo clima, pela personalidade, pela cultura, pelos árbitros. Há tantos fatores que condicionam e fazem o futebol diferente em todo o mundo.

Falcão – Os treinadores brasileiros não têm tido a mesma sorte dos jogadores no futebol europeu. Wanderley Luxemburgo não teve sucesso no Real Madrid, Luiz Felipe teve mau desempenho no Chelsea. Por que na sua opinião?

Mourinho – Os jogadores têm mais tempo para se adaptarem. Os treinadores, quando o resultado não é imediato, saem logo, quase sem ter tido tempo para perceber onde estavam, e as suas necessidades de adaptação à realidade nova. O talento dos jogadores, desde que modelado às exigências da intensidade e do rigor tático europeu, vem sempre acima, e todos sabemos que o inato, o dom, o talento que Deus deu, existe aos quilos no jogador sul-americano que, depois, enquadrado com as características do jogador europeu, faz um produto final de grande qualidade. O problema do treinador sul-americano na Europa, se calhar, será o mesmo tipo de problema que um treinador europeu pode sentir para treinar na América do Sul.

Falcão – Você ainda tem entre suas metas treinar a seleção de Portugal?

Mourinho – Sim… mas quando for velhinho. Adoro treinar e jogar, adoro treinar todos os dias e jogar grandes jogos todas as semanas. Quero continuar ao mais alto nível em Espanha, Inglaterra ou Itália. Na seleção, está-se muito tempo de férias. E eu, sem futebol, não sou feliz.

Falcão – Portugal tem chances na África do Sul? Você, que trabalha com jogadores da Seleção Brasileira na Inter, acha que a diferença técnica entre as duas seleções é grande?

Mourinho – Portugal tem chance porque num torneio de curta duração tudo pode acontecer. Mas, objetivamente, há seleções com mais talento em quantidade. Portugal tem jogadores top, mas não 22. Não comparemos Portugal com o Brasil, porque o Brasil pode fazer três seleções iguais. Mas, num jogo, Portugal pode ganhar ao Brasil. Futebol não é matemática, onde dois mais dois são sempre quatro.

Falcão – Quem são os seus favoritos para a Copa do Mundo?

Mourinho – Os de sempre. Os que têm na sua história alguma Copa. E a Espanha, que tem uma estrutura de base muito forte, com jogadores de meio campo e ataque fantásticos.

Falcão – Você passa as férias em Salvador e tem vários jogadores brasileiros na Inter. De onde vem esta ligação com o futebol brasileiro?

Mourinho – Desde sempre o futebol italiano teve jogadores brasileiros, alguns verdadeiramente top. E quem ama futebol, quem ama talento, quem pensa que sem talento não há futebol, obviamente se sente ligado ao futebol brasileiro, o maior produtor de talento.

Falcão – Apesar de contratarem dezenas de jogadores brasileiros, os europeus às vezes passam a impressão de conhecer tão pouco clubes e futebol brasileiro. Isso é real? Por quê?

Mourinho – Enquanto trabalhei na Inglaterra saí um pouco do controle do futebol brasileiro porque na Inglaterra o jogador não comunitário só pode entrar depois de ser já consagrado, mas em Portugal há sempre a necessidade de pesquisar no Brasil, principalmente em clubes onde o jogador não está ainda inflacionado
. Recordo que o meu primeiro clube como treinador, a União de Leiria, de onde saltei depois para o FC Porto, estive no Brasil um mês a saltar de campo em campo, de clube em clube, de treino em treino, de Estado em Estado. Encontrei jogadores com ambição e talento, que em Portugal fizeram um grande trabalho e me ajudaram a ter sucesso. É preciso trabalhar na prospecção, e no Brasil encontra-se talento.

Falcão – A Fifa costuma eleger o melhor jogador do mundo a cada fim de ano. Por que os grandes jogadores que estão fora da Europa nunca são selecionados?

Mourinho – Boa pergunta. Talvez porque os grandes jogadores que não estão na Europa são logo contratados. Com quantos anos veio Ronaldo para a Europa? E o Roberto Carlos? E o Kaká? E o Maicon? Saem muito cedo e no momento da maturação já estão com a camisa de um grande clube europeu.

Falcão – As suas biografias que circulam na internet lhe dão dois rótulos: genial e arrogante. Você aceita algum deles? Como se autodefine?

Mourinho – Sou José Mourinho, com suas qualidades e defeitos. Mas no futebol estou para servir o meu clube e os meus jogadores, não para ser simpático ou político. Fora do futebol, sou uma pessoa diferente, mas muito fechado à minha intimidade e autonomia.

Falcão – Qual a sua ideia de formação tática? Tem um esquema preferencial? Três zagueiros?

Mourinho – Penso que o mais importante é uma formação adaptada às características dos jogadores e adaptada às necessidades da competição que se joga. Um treinador deve ter a cultura tática suficiente para saber treinar e jogar de um modo que se adapte aos jogadores. O mais importante é o jogador sentir-se feliz e confortável no modo como a equipe joga e nas funções que o treinador decide.

Falcão – O trabalho tático é fundamental ou não é tão necessário quando uma equipe é experiente como a sua Inter?

Mourinho – Trabalho tático é fundamental. Uma equipe deve estar em campo segura, os jogadores devem saber o que fazer em todos os momentos do jogo. E de jogo para jogo surgem fatores novos, e devemos reduzir ao máximo essa imprevisibilidade. Trabalhar taticamente sempre.

Falcão – Você costuma treinar em sigilo, sem a presença da imprensa no treino? Em que isso ajuda?

Mourinho – Gosto de trabalhar tranquilo, sem a presença de adeptos (torcedores) ou imprensa. Acho que na hora dos feedbacks em que, por vezes, o treinador critica ou ensina o seu jogador, a intimidade dá muito maior segurança ao jogador. No entanto, reconheço que o trabalho da imprensa deve ser respeitado, e a paixão dos adeptos deve ser alimentada. Por isso procuro de vez em quando abrir o treino.

Falcão – No futebol atual, é indispensável que todos marquem? O craque do time precisa marcar?

Mourinho – O craque? O craque é a equipe! Ganhamos todos e perdemos todos. Somos todos iguais. Não digo marcar, não digo que um atacante deve recuar 30 metros para marcar. Mas trabalhar, devem trabalhar todos. E um atacante pode trabalhar se pressionar o seu adversário na frente. Sem correr muito, pode atrasar a saída do adversário para o contra-ataque. Sim, sim, temos todos que trabalhar.

Falcão – Nesta questão da aplicação coletiva, há diferença entre jogador sul-americano e europeu?

Mourinho – Não vejo diferença. Já tive de tudo, europeu que trabalha e joga para o coletivo, europeu egoísta, egocêntrico, sul-americano que morre em campo pelo coletivo, sul-americano com dificuldade de percepção do trabalho coletivo. Mas, com honestidade, empatia e trabalho, penso que todos podem exprimir o seu talento num enquadramento coletivo de base.

Falcão – O número de atacantes é importante, ou interessa mais que vários jogadores cheguem na frente na hora certa?

Mourinho – A ocupação do espaço ofensivo é determinante. Como? Com jogadores mais fixos, com jogadores mais móveis, com ataque planejado e homens-referência no ataque, com jogadores de mobilidade e velocidade que chegam a posições ofensivas em momentos de transição após recuperar a posse da bola. Digamos que para chegar ao estádio o adepto (torcedor) pode ir de carro, a pé, de bicicleta, de ônibus. O importante é mesmo chegar ao estádio.

Falcão – Há alguma regra do futebol que você gostaria de modificar?

Mourinho – O tempo útil. Bola fora, cronômetro parado. Jogador lesionado, cronômetro parado. Bola na arquibancada, cronômetro parado. Gandula esconde bola, cronômetro parado. Assim, o jogo deixaria de ter estas artimanhas que o fazem menos bonito e menos honesto. E, claro, a câmara de baliza óbvia. Nesta indústria, não é possível ganhar ou perder um jogo com uma bola que não entrou.

Falcão – Jogador rico, milionário, consagrado, é mais difícil de administrar?

Mourinho – Não, não. Honestidade, motivação, paixão não têm que ver com dinheiro nem estatuto.

Falcão – Depois de trabalhar em Portugal, na Inglaterra e na Itália, qual é a sua meta na carreira?

Mourinho – Trabalhar e ganhar sempre nos campeonatos de top, Itália, Espanha, Inglaterra. E ser feliz no que faço, levantar de manhã e ir a sorrir treinar, estar a 10 minutos do início do jogo e sentir a emoção de jogar. “O craque? O craque é a equipe!”.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Acadêmicos de Barueri

Eu não gosto de acadêmicos em geral.
Dou um desconto para aqueles do samba.
Talvez, na verdade, meu problema não seja com as pessoas. O meu problema é com a academia em si, e não propriamente com os acadêmicos.

Isso, porque eu tenho a sincera sensação de que a academia serve normalmente para muita pouca coisa com raríssimas e honoráveis exceções.
Na verdade, a academia muitas vezes me parece um lugar onde as pessoas falam palavras difíceis para justificar discussões que não levam a lugar nenhum. Só que as palavras difíceis fazem com que você pense que de fato se está chegando a algum lugar.

É como comparar o Big Bang Theory com o Seinfeld. Os dois não falam sobre absolutamente nada, mas o primeiro usa palavras muito mais complicadas, apesar do segundo ser bem mais engraçado.

Eu, que sou muito parecido com uma mórbida mistura de Howard Wolowitz com George Constanza, ando caminhando para a conclusão de que o que eu escrevo serve na melhor das hipóteses para nada. Mas como sou um pseudo-acadêmico, talvez eu devesse começar a escrever com um linguajar um pouco mais complexo e com uma estrutura um pouco mais acadêmica para que as pessoas passem a achar que aquilo que eu escrevo serve para alguma coisa. Vamos tentar:

O futebol brasileiro – um esporte originalmente bretão que, por sua estrutura peculiarmente simplificada e pela coincidência histórica, foi disseminado, assumido, absorvido e minimamente transformado por quase todo o conjunto sociocultural global pós-revolução industrial, dentre os quais, com particular significância, o conjunto brasileiro recém libertado da dominação colonial portuguesa – possui uma potente atmosfera fiscalizadora de funcionamento, definida aqui como a compreensão dos diferentes públicos que não estão diretamente envolvidos na estrutura interna do fenômeno, mas sim na sua parte ausente, ainda que devidamente inter-relacionada, como, por exemplo, mais evidente, a imprensa. Essa atmosfera clama há anos por uma série de mudanças dos processos econômicos e administrativos de tal fenômeno no afã de poder presenciar processos e estruturas semelhantes a outras regiões globalmente dominantes, notadamente os quase onipotente colonizadores econômicos e culturais localizados nos continentes ao norte de nossa localidade.

Das inúmeras vozes presentes dentro desse lépido organismo, a mais preponderante é, seguramente, aquela derivada da escola kfouriana, que, dentre as inúmeras redações publicadas até o presente o momento, comparou o futebol local ao basquete estadunidense em uma coluna escrita em 1995. Nela, expressava o seguinte: “Por que não temos nada nem parecido, algo que dê ao futebol a qualidade técnica e a dimensão de negócio há muito trabalhadas pelos sobrinhos de tio Sam?”.

Tal utopia foi, vinte anos mais tarde, espelhada e repetida pela escola márciobraguiana, que também defendia a estruturação do futebol sob os mesmos moldes, o que poderia ser considerada uma perfeita consonância da realização da dialética marxista, uma vez que tal conclusão é proveniente de pólos opostos de influência. Não tardaria, portanto, para que tal situação se tornasse verdadeira.

E eis que, em 2010, o futebol tupiniquim, tão conclamado a buscar a excelência dos fundamentos e padrões referenciais exteriores, deu possivelmente um dos primeiros sinais de que a filosofia demandada talvez tenha se tornado o pensamento reinante e, como tal, passou a produzir manifestações derivadas da natureza inequívoca do processo referencial. Entretanto, tal manifestação está longe de ser um objeto de apreciação, e sim um efeito significativamente menos do que positivo que usualmente imaginado, e aqui não é possível qualquer tentativa repreensiva, uma vez que ele é derivado de um processo reconhecidamente natural de negligenciamento do complexo holístico envolvido em qualquer busca por referenciais.

A manifestação em questão é a constante mudança de localidade da realização de partidas de futebol de grandes organizações esportivas que são seduzidas pelas diferentes ofertas de núcleos governamentais que ambicionam a colheita de frutos que possam gerar dividendos políticos por conta da hospedagem de disputas esportivas com ampla significância nacional. Dentro da disputa entre os pólos políticos, que indubitavelmente obedece aos processos há tempo descritos por Neumann e Morgenstern, há um processo natural e peculiar já de certa forma aceito pelo mercado referencial supramencionado, mas que ainda tarda para ser incorporado aos costumes e à cultura esportiva local. Dessa forma, o clamor recorrente por elevação dos padrões contemporâneos de operação local das variáveis incidentes sobre a manifestação esportiva deve ser mantido e fortalecido, mas a compreensão sobre os aspectos negativos relacionados a tal referencial não pode ser ignorado, sob o risco de inequívocas exposições contraditórias.

Viu?
Acabei de dissertar sobre a mudança do Barueri para Presidente Prudente e sobre o fato do Corinthians sair do Pacaembu para jogar em Barueri.
Na melhor das hipóteses, não vai servir para nada.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Tombamento do futebol

Há alguns meses, escrevi a respeito da mobilização de torcedores do Fluminense, junto ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, pedindo aos céus que livrassem o clube do rebaixamento.

Eu, particularmente, acredito que quem salvou o clube foram Cuca, Fred e companhia.

Entretanto, como havia vaticinado naquela ocasião, nem a reza fora de campo, tampouco o milagre dentro de campo que manteve o clube na elite do futebol nacional são sinônimos de boa gestão no presente e para o futuro da instituição.

Ontem, outra manifestação de amor e fé foi realizada no Rio de Janeiro, na tentativa de salvar mais um clube de futebol.

Dessa vez, o beneficiado foi o América-RJ. Clube histórico, o segundo time do coração de todos na cidade. Também, historicamente, atolado em dívidas que ameaçavam a sede do clube com um leilão judicial.

A saída: decreto do prefeito determinando o tombamento legal do imóvel. O tombamento é a modalidade de intervenção na propriedade por meio da qual o Poder Público tem a intenção de proteger o patrimônio cultural brasileiro.

Desta forma, o Estado intervém na propriedade privada para proteger a memória nacional, bem como a sua história, arte, arqueologia, cultura e ciência, preservando a memória de bens de valores arquitetônicos e históricos.

Assim, podemos dizer que os principais efeitos do tombamento são a vedação ao proprietário do bem em destruir, demolir ou mutilar o bem tombado, bem como a proibição de reforma ou pintura do imóvel, exceto após autorização judicial.

Mais ainda, o proprietário deverá manter e conservar o bem tombado dentro de suas características culturais e, caso não tenha recursos para tanto, deverá comunicar ao órgão que decretou o tombamento, a fim de que obtenha ajuda ou seja substituído por esse na realização das obras necessárias.

Outro efeito do tombamento é conceder o direito de preferência ao Poder Público em caso de alienação do bem tombado, devendo o proprietário notificar o Estado para que exerça esse direito.

Aqui o perigo de que, mais uma vez, o dinheiro público seja gasto para salvar clubes de futebol que fazem parte da história do Brasil e que, historicamente, são mal administrados.

Nada disso impede o leilão judicial. Apenas determina ao novo proprietário que obedeça às normas acima. Esperneio em vão…

A gestão dos nossos clubes de futebol não necessita de decreto de tombamento. Já está “tombada” há algum tempo.

Em tempo: nada contra os clubes cariocas. Fluminense e América-RJ foram objetos das colunas por mera coincidência.

Ou será que são um microcosmo altamente representativo do futebol brasileiro como um todo?

Não sei.

Sei que, se algum dia estiver atolado em dívidas, vou rezar bastante e torcer para conhecer o prefeito da minha cidade, pedindo para decretar o tombamento legal da sede da minha empresa e da minha casa.

Pensar e trabalhar… Deixarei pra depois.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Vida de jogador de futebol

Nossas escolhas têm, assim como as escolhas de qualquer outra pessoa, 50% de chances de estarem certas e 50% de chances de estarem erradas.

Claro, cada um de nós se baseia em uma infinidade de conhecimentos e experiências anteriores para tomar decisões, e quando decidimos algo, fazemos com a expectativa de que, ao “consultar” esses conhecimentos e experiências nos nossos “registros”, tal decisão seja a melhor.

O fato é que algumas vezes realmente fazemos boas escolhas e outras tantas, não. A cada acerto ou erro, cada um de nós aprende algo, e esse aprendizado é consequência também daquilo que já havíamos aprendido antes.

Isso quer dizer, em outras palavras, que cada um de nós pode enxergar a mesma situação de forma pouco parecida, de acordo com a maneira que aprendemos a ver o mundo (e essa visão se transforma conforme vamos vivendo novas experiências e acumulando novos conhecimentos).

No futebol, ao longo desses últimos anos, tenho tido contato com vários jogadores profissionais. Alguns começando, alguns terminando a carreira, e outros tantos no auge da profissão.

É comum que aqueles que estão terminando a carreira tenham algum tipo de conselho para dar aos que estão começando. E não são conselhos quaisquer; são conselhos daquele tipo: “siga esse caminho que estou indicando, porque eu não segui e me arrependo”.

Ser jogador de futebol e chegar a uma equipe profissional requer muitas coisas além daquelas que são imaginadas por aqueles que almejam “chegar lá”, ou que estão “lá”, mas não querem ser “mais um” no meio da multidão.

Essas “muitas coisas” (além daquelas imaginadas) envolvem uma série de decisões e escolhas que levarão ao mau, bom, pior, ou, melhor caminho.

O problema é que, no caso do futebol, muitas dessas decisões sofrem interferência de empresários, que se tornam “tutores” (tomam à frente de pais mal instruídos), que quando incompetentes ou mal intencionados condenam ao fracasso adultos jogadores que um dia foram garotos sonhadores cheios de talentos.

No futebol, assim como na vida, de uma maneira geral, uma escolha errada é capaz de desencadear uma série de eventos que podem nos levar a caminhos que não faziam, no início, parte do nosso mapa guia.

Mas no futebol, como, habitualmente, desde as categorias de base, jogadores acabam sendo tutelados por pessoas que se acostumam a tomar decisões por eles: fazer uma escolha errada significa ser passageiro de um ônibus onde o motorista decide para onde virar a direção, de acordo com a sua visão de mundo – o jogador (o passageiro) não sabe que rumo o ônibus vai tomar, e o motorista (o tutor) não faz ideia de onde quer chegar.

Então, se você é pai e seu filho quer ser jogador de futebol, abra bem os olhos! E se está lendo esse texto, não há desculpas; você faz parte do grupo de pessoas que tem acesso a internet, a informação. Por isso, pesquise, leia, ajude.

Se já é jogador, e está começando, está no auge ou no final da carreira, acredite no que vou dizer: se você não se preparar para a vida fora do campo de jogo, e deixar que outras pessoas decidam sua vida por você, no final, possivelmente você não vai estar no lugar que gostaria de estar, mas sim naquele lugar que fizeram você acreditar que era o melhor.

Somos responsáveis em nossas vidas tanto por aquilo que fazemos, quanto por aquilo que deixamos de fazer… Então, decida você mesmo.

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‘Invictus’ e simpáticos

Se você ainda não viu, corra para assistir “Invictus”, filme com o sempre simpático vovô Morgan Freeman e Matt Damon, que não é vovô e, também, nem tão simpático assim, e dirigido por Clint Eastwood, que deve ser um dos vovôs mais antipáticos do mundo. Eu, pelo menos, teria muito medo de ser neto dele.

De qualquer maneira, o filme é bacana. Não é nenhuma obra-prima, mas é legal. Não que eu seja um gordo de cavanhaque e que, portanto, tenha uma válida opinião sobre obras cinematográficas, mas o filme é divertido. Flui bem e você sai do cinema se sentindo bem pelas duas horas bem gastas.

Só que se você se interessa pelos macro-aspectos do futebol, você precisa assistir por mais motivos do que puro entretenimento. Primeiro, porque o filme conta a história da eleição de Mandela e a relação entre política e esporte. Quer dizer, como um político pode usar o esporte para atingir objetivos próprios. No filme, isso fica bacaninha. Afinal, é o Mandela sendo interpretado pelo Morgan Freeman. Não dá pra um personagem ficar muito mais simpático do que isso. Mas é bom lembrar que o que acontece ali aconteceu em vários de lugares ao redor do mundo, muitas vezes envolvendo ditadores, chacinas e coisas do tipo. No Brasil, por exemplo, o futebol foi e por vezes ainda é utilizado da mesma maneira que o Mandela usou o rugby. No filme, fica legal. Na vida real, nem tanto.

E segundo, e talvez mais importante, é entender o contexto do filme em si, e não da sua história. Não é coincidência nenhuma que um filme sobre o rugby na África do Sul tenha sido lançado em 2010. Afinal, é o ano em que a Fifa quer fincar sua bandeira e proclamar que a partir de então, a África do Sul é mais um país a integrar a grande nação futebolística. E o filme “Invictus” é apenas uma das maneiras que a IRB, International Rugby Board, tem pra dizer “nã-nã-nã”, a África do Sul não é do futebol. É do rugby. Afinal, conforme você pode ver no filme, foi o rugby que uniu o país no pós-apartheid. Foi o rugby o maior responsável pelo sucesso do Mandela. Foi o rugby que conseguiu se sobrepor à hercúlea tarefa de unir brancos e negros sob o mesmo fenômeno, sob a mesma bandeira e sob o mesmo hino. E não o futebol. Futebol, como um personagem fala no filme, é um jogo de cavalheiros, jogado por hoolingans, enquanto que o rugby é um jogo de hoolingans disputados por nobres cavalheiros.

A batalha do rugby com o futebol vem desde a própria fundação dos dois esportes, um pouco depois da metade do século XIX. A partir de então, o futebol se firmou como o maior esporte global e o rugby acabou se firmando como o maior esporte das colônias britânicas, notadamente na Oceania e África do Sul. Só que o rugby vem se desenvolvendo bem ao longo dos anos. É, possivelmente, o único esporte coletivo capaz de fazer frente à popularidade do futebol. Existem regiões da Inglaterra, principalmente a região norte, em que o rugby é muito mais popular que o futebol. E países com grande tradição futebolística, como Argentina e França, também são grandes redutos do esporte. Isso faz da IRB possivelmente a grande rival da Fifa, ainda que a primeira conte com 95 filiados e a segunda tenha seus 205, 206, 207, dependendo do dia e do humor.

Não que o rugby tenha atualmente qualquer condição de desbancar a popularidade do futebol em escala global, longe disso. Mas o mundo está em um constante estado de mutação, e o fenômeno globalizado do futebol é recente demais para dizer que manterá tal status para sempre. Se há 50 anos o futebol não tinha a força global que possui hoje, quem garante que daqui a 50 anos ele continuará a ter?

Ninguém. Nem o Morgan Freeman. Por mais simpático que ele seja.

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'Invictus' e simpáticos

Se você ainda não viu, corra para assistir “Invictus”, filme com o sempre simpático vovô Morgan Freeman e Matt Damon, que não é vovô e, também, nem tão simpático assim, e dirigido por Clint Eastwood, que deve ser um dos vovôs mais antipáticos do mundo. Eu, pelo menos, teria muito medo de ser neto dele.

De qualquer maneira, o filme é bacana. Não é nenhuma obra-prima, mas é legal. Não que eu seja um gordo de cavanhaque e que, portanto, tenha uma válida opinião sobre obras cinematográficas, mas o filme é divertido. Flui bem e você sai do cinema se sentindo bem pelas duas horas bem gastas.

Só que se você se interessa pelos macro-aspectos do futebol, você precisa assistir por mais motivos do que puro entretenimento. Primeiro, porque o filme conta a história da eleição de Mandela e a relação entre política e esporte. Quer dizer, como um político pode usar o esporte para atingir objetivos próprios. No filme, isso fica bacaninha. Afinal, é o Mandela sendo interpretado pelo Morgan Freeman. Não dá pra um personagem ficar muito mais simpático do que isso. Mas é bom lembrar que o que acontece ali aconteceu em vários de lugares ao redor do mundo, muitas vezes envolvendo ditadores, chacinas e coisas do tipo. No Brasil, por exemplo, o futebol foi e por vezes ainda é utilizado da mesma maneira que o Mandela usou o rugby. No filme, fica legal. Na vida real, nem tanto.

E segundo, e talvez mais importante, é entender o contexto do filme em si, e não da sua história. Não é coincidência nenhuma que um filme sobre o rugby na África do Sul tenha sido lançado em 2010. Afinal, é o ano em que a Fifa quer fincar sua bandeira e proclamar que a partir de então, a África do Sul é mais um país a integrar a grande nação futebolística. E o filme “Invictus” é apenas uma das maneiras que a IRB, International Rugby Board, tem pra dizer “nã-nã-nã”, a África do Sul não é do futebol. É do rugby. Afinal, conforme você pode ver no filme, foi o rugby que uniu o país no pós-apartheid. Foi o rugby o maior responsável pelo sucesso do Mandela. Foi o rugby que conseguiu se sobrepor à hercúlea tarefa de unir brancos e negros sob o mesmo fenômeno, sob a mesma bandeira e sob o mesmo hino. E não o futebol. Futebol, como um personagem fala no filme, é um jogo de cavalheiros, jogado por hoolingans, enquanto que o rugby é um jogo de hoolingans disputados por nobres cavalheiros.

A batalha do rugby com o futebol vem desde a própria fundação dos dois esportes, um pouco depois da metade do século XIX. A partir de então, o futebol se firmou como o maior esporte global e o rugby acabou se firmando como o maior esporte das colônias britânicas, notadamente na Oceania e África do Sul. Só que o rugby vem se desenvolvendo bem ao longo dos anos. É, possivelmente, o único esporte coletivo capaz de fazer frente à popularidade do futebol. Existem regiões da Inglaterra, principalmente a região norte, em que o rugby é muito mais popular que o futebol. E países com grande tradição futebolística, como Argentina e França, também são grandes redutos do esporte. Isso faz da IRB possivelmente a grande rival da Fifa, ainda que a primeira conte com 95 filiados e a segunda tenha seus 205, 206, 207, dependendo do dia e do humor.

Não que o rugby tenha atualmente qualquer condição de desbancar a popularidade do futebol em escala global, longe disso. Mas o mundo está em um constante estado de mutação, e o fenômeno globalizado do futebol é recente demais para dizer que manterá tal status para sempre. Se há 50 anos o futebol não tinha a força global que possui hoje, quem garante que daqui a 50 anos ele continuará a ter?

Ninguém. Nem o Morgan Freeman. Por mais simpático que ele seja.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Pão caseiro

O processo de formação de jogadores de futebol, no Brasil, ao longo de sua história, foi muito mais intuitivo do que planejado estratégica, cientificamente e pedagogicamente.

Com efeito, a origem multifacetada dos garotos que ascendem das categorias de base dos clubes dificulta a construção de uma metodologia consolidada e condizente com sua história e perfil sociocultural, bem como, econômico.

Dificulta, mas não deveria impedir.

Não são poucos os clubes brasileiros com um belo histórico de formação de grandes jogadores. São Paulo, Santos, Cruzeiro, Grêmio e Internacional, atualmente, são os maiores expoentes. E têm faturado muito dinheiro com transferências internacionais de jogadores a partir da década de 1990, quando se deu a explosão deste fenômeno.

O Internacional acaba de fechar um acordo de colaboração com o Tottenham (da Inglaterra). O que querem os ingleses? Saber quais são os segredos do clube na formação em série de ótimos jogadores.

Fora deste eixo, Vitória, Paraná Clube e, até mesmo, o América-MG, para citar exemplos, tornaram-se referência na revelação de talentos. Os dois primeiros até figuraram em competições regionais e nacionais com competência.

Entretanto, com a velocidade ditada pela globalização mundial – e o futebol é o fenômeno que melhor lhe representa e dela faz bom uso – a grande maioria dos clubes no Brasil negligenciou suas receitas caseiras de formação de jogadores e ficaram condicionados à linha de produção em larga escala, exigida pelos mercados compradores.

O grande problema reside no fato de que não conseguiram valorizar justamente aquilo que sempre diferenciou nosso país e o tornou sinônimo de bom futebol: ter um padrão mínimo de qualidade nessa metodologia de formação.

O resultado é que se confunde formação com revelação. Temos revelado, ainda, bons jogadores. Mas em número cada vez menor, apesar do volume de transferências ao exterior ter crescido.

O grande sintoma da falta de sustentabilidade desse modelo é que, também, o número de repatriados aumenta a cada ano. Por um lado, bom para que nossas competições se fortaleçam com melhor nível técnico. Por outro, o perigo de que se comece a perceber que jogador brasileiro “é tudo igual”, mas pelo lado ruim…

Robinho ilustra boa parte dessa história.

Não há um verdadeiro método de formação de jogadores consolidado no Brasil. Não conseguimos capturar nossa essência e transformá-la numa linha de produção de nível internacional.

O renomado professor João Paulo Medina defende que o futebol brasileiro é forjado em três cenários: a praia, a rua e o futsal. O conjunto deles é que faz imprimir a marca do futebol brasileiro nos jogadores.

Acrescento, modestamente, a necessidade de um componente pedagógico na formação. Isso mesmo, ensinar regras, tática, comportamento, disciplina, aprendizado humano mais amplo, além da própria educação formal nos colégios. Esquece-se da valorização do ser humano, fundamental para formar, e não apenas revelar.

Em recente conversa com um treinador italiano, dizia-me que, em sua época de jogador sub-20 do Genoa, todo mês os boletins escolares eram avaliados pelos dirigentes, como em muitos clubes italianos.

Numa dessas, mesmo ele sendo capitão da equipe, por estar com notas baixas, treinou a semana inteira, mas não jogou no fim de semana.

Não é exagero, portanto, o que se escuta sobre o nível de exigência profissional dos clubes europeus.

Devemos repensar a receita do nosso pão caseiro. Não esquecer a sua essência. Ao contrário, aproveitar-se dela com sabedoria e organização.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Os interesses do gestor no desenvolvimento da tecnologia esportiva

Olá amigos!

No texto anterior, fizemos a seguinte pergunta referente aos novos produtos e recursos tecnológicos no esporte: “Quem participa do desenvolvimento desses novos produtos, das inovações que chegam tanto ao publico como ao atleta e treinador?”.

Identificamos alguns segmentos e profissionais que podem ou devem fazer parte do processo de desenvolvimento, cada qual com um interesse específico. Ou ainda com mais de um interesse.

Hoje, damos sequência ao tema, tentando especular sob a ótica do gestor esportivo. Imaginando como ele deve encarar e participar desse processo.

O que representam as inovações para o gestor?

Nesse aspecto, é necessário fazermos, ainda que superficialmente, alguns esclarecimentos e diferenciações. Para ser breve caracterizemos dois tipos e gestor.

O gestor fornecedor é aquele que lida com o desenvolvimento das inovações que chegarão ao esporte, ao público, que busca desenvolver e ampliar mercados por meio de inovações ou melhorias em seus produtos e serviços.

O gestor usuário é aquele que se beneficiará dos serviços e produtos, utilizando-os como instrumentos para alcançar seus objetivos.

Para o gestor fornecedor, é possível identificarmos como interesses:

O desenvolvimento de um produto que ganhe escala ou grandeza financeira;
Fortalecimento da imagem da empresa;
Aquisição de valores agregados, atribuídos pelos consumidores como qualidade e solução.

Para tanto é necessário que sua participação seja parametrada em pesquisa de mercado do ponto de vista de identificar o que o consumidor procura, seja ele o gestor usuário, ou mesmo o grande público. E o mais importante: conseguir gerir um modelo de negócios que contemple ambos, seja aproximando-os sob algum eixo comum do produto em si, seja unindo-os sob o prisma de imagem e publicidade (o que é mais comum).

Uma chuteira pode calçar uma equipe inteira mediante acordos financeiros vantajosos, o que contempla alguns dos interesses do gestor usuário, porém não se pode esquecer da qualidade e inovações para o seu principal usuário no campo do alto rendimento que é o atleta, o elemento comum entre os segmentos de alta performance e o grande público (com este por meio da imagem).

Por outro lado, o produto deve ser pensado como qualquer outro visando o grande público, além das questões comerciais que não entraremos em detalhes, como ponto de distribuição, por exemplo, do ponto de vista tecnológico deve oferecer ao consumidor alguns aspectos primordiais como segurança e conforto, além dos fatores mercadológicos como design e individualidade.

Lembro remotamente de um recente suposto problema com um modelo de chuteira que foi ventilada como possível causa de lesões em atletas de alto rendimento, dada a incidência em curto espaço de tempo de algumas graves lesões de joelhos em atletas de alta performance, que provavelmente afeta a imagem junto ao grande público.

Assim, é imprescindível a participação do gestor fornecedor na concepção do projeto de novos produtos, nas tomadas de decisões estratégicas e no acompanhamento das tendências do mercado consumidor.

Quanto ao gestor usuário, podemos identificar como interesses:

A utilização dos produtos e serviços para otimização dos processos utilizados para alcançar seus objetivos, seja ele gestor de uma entidade esportiva vinculada a resultados de campo, como um clube de futebol ou ainda como entidade organizadora como uma federação;
Obtenção de resultados;
Instrumentos de avaliação e controle;
Ferramentas de apoio e suporte para o desenvolvimento do trabalho.

Para o gestor usuário, o foco vai estar sempre vinculado ao resultado, mas o item relacionado ao suporte ao trabalho ganha importância ímpar nesta questão.

Suporte este que pode estar desde equipamentos de musculação que facilitam os processos de planejamento de treinos, como a aquisição de equipamentos de jogo (chuteiras e uniformes de alta qualidade) a recursos que facilitam e dão suporte ao desempenho dos atletas, como peso do material utilizado, por exemplo.

Neste caso, o sucesso pode ser visto como bons acordos que fornecem materiais e equipamentos em forma de patrocínio para fornecimento de uniformes, por exemplo, como também investimentos feitos pelo gestor em bens ou serviços que possibilitem um bom desempenho tanto do atleta como da comissão técnica. O que é uma boa chuteira e um excelente uniforme para o atleta pode ser um software ou um equipamento especifico para a comissão técnica, mas ambos têm o mesmo significado: suporte e otimização do desempenho, ainda que a questão de fornecimento tenha valores e outros interesses por trás.

Em resumo, enquanto para o gestor fornecedor a tecnologia deve ser desenvolvida com vistas ao mercado, para o gestor usuário o olhar deve ser focado no resultado, e não apenas no resultado medido em numero de vitórias, mas o resultado vinculado a desempenho e performance, permitindo que as qualidades e competências do atleta ou do técnico sejam produzidas nas melhores condições possíveis, sejam elas de estrutura, equipamentos ou sistemas, para aí sim buscar o resultado.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br