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Arbitragem não pratica Fair Play na Copa: erros e mais erros

Caros amigos,

mais uma vez! E como não falar, como não tocar no assunto novamente?

Será que a grande maioria das pessoas está equivocada em reivindicar a tecnologia no auxílio da arbitragem?

A Inglaterra, vítima de agora, foi beneficiada em 66. A Argentina tem o talismã Maradona (mas agora como técnico) também nesse segundo episódio que a beneficia, assim como o tão famoso gol com “La mano de Dios”, por curiosidade contra a mesma Inglaterra.

É curioso mesmo. O país que moldou (inventou) o futebol moderno, foi quem fundou a International Football Association Board (IAFB) que rege as regras do futebol. Fundada antes mesmo da própria Fifa, que surgiu 22 anos depois, a IFAB nasceu em 1882 por iniciativa dos países britânico. E não que é que ironicamente os grandes erros em Copa têm acontecido com a Inglaterra.

Perdi a conta de quantas vezes escrevemos a respeito desse tema; fizemos até um mini fórum com os colegas leitores abordando vantagens e desvantagens de se adotar a tecnologia no futebol, e eis que sempre surgem as polêmicas.

O que me incomoda, caro amigo, particularmente, é uma inconsistência da Fifa com seus próprios valores (ao menos aqueles que ela diz possuir). O tão famoso slogan do Fair Play, talvez para eles o jogo limpo, é sinônimo de ausência de tecnologia, limpo de qualquer recurso que interfira no jogo (ou nesses casos, nas decisões equivocadas dos árbitros).

Mas é Fair Play ganhar um jogo com um gol que não existiu, ou perder o jogo com outro que foi erroneamente não marcado? Isso é jogo limpo?

Se o Fair Play tão divulgado por essa entidade escorresse de verdade nas veias da instituição, eles tomariam atitudes, mesmo que pós-jogo, de cavalheiros, como os nobres cavalheiros que fundaram a IFAB poderiam imaginar. Viriam a público, na hipótese mais simples de se imaginar, e diriam que foi lamentável e que eles reconhecem o erro, mas que não podem alterar a decisão de um árbitro de campo, porém iriam estudar alternativas para que isso não voltasse a ocorrer.

Porém, cadê o Fair Play? Aliás, cadê o cavalheirismo? O porta-voz da Fifa, Nicolas Maingot, em entrevista coletiva*, reconheceu o erro. No entanto, para ele, o erro foi o lance ter sido exibido no replay do telão no estádio, uma falha humana de quem controlava o replay!

Sem comentários! Deixo o minuto de reflexão para o amigo que me acompanha.

Apenas para constar.

No lance da Inglaterra (veja o lance no vídeo a seguir) se estivéssemos um chip na bola ou uma indicação entre as traves, tal como o hóquei, o gol seria validado na hora sem reclamação de nenhuma das partes, dada a veracidade da tecnologia.

 

http://www.youtube.com/watch?v=2exC91gkh30

Caso o vídeo apareça com a mensagem: “este vídeo apresenta conteúdo de Fifa, que o bloqueou com base nos direitos autorais”, peço desculpas ao amigo, mas faz parte do ” Fair Play” da Fifa.

 

No lance do gol de Tevez, impedido, não precisaríamos de nada novo em termos de recursos, mas talvez de processos. O lance do momento em que ocorreu o gol até o reinicio da partida parou o jogo, se não errei em contas, por cerca de 2 minutos e 30 segundos, devido a reclamações. Se o quarto árbitro ou o próprio árbitro principal pudessem utilizar as imagens para validar o lance (assim como é feito no tênis hoje), o jogo teria sido reiniciado antes, com a certeza de um jogo limpo.

P.S. O árbitro deu apenas 2 minutos de acréscimos no 1º tempo

Fair Play, Fifa! Fair Play!

* Para acessar a matéria completa da Globo.com sobre a entrevista de Nicolas Maingot clique aqui.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Só muda o endereço

Entrevista coletiva para a imprensa em Johanesburgo, no estádio Soccer City. Danny Jordaan, presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo, e Jérôme Valcke, secretário geral da Fifa, eram as grandes estrelas do encontro.

Em pauta, um balanço do que foi a primeira fase da Copa. Nas perguntas dos jornalistas, porém, tudo muito diferente. Escândalo na seleção francesa, segurança para o jogo Alemanha x Inglaterra, Morumbi fora do Mundial de 2014, contratação do irmão de Jordaan para cuidar dos camarotes da cidade de Port Elizabeth, por “módicos” R$ 50 mil por mês…

Depois da entrevista, um enxame de repórteres fechou o cerco sobre Jordaan e Valcke, para massacrá-los ainda mais com as mesmas perguntas feitas anteriormente, mas na tentativa de se conseguir uma frase mais bombástica, um detalhe a mais, algo diferente.

Não adianta. Em qualquer lugar do mundo, jornalista é jornalista na essência. Por mais que a pauta seja uma, o interesse pela notícia é outro. Isso é algo que demorou, e muito, para que o técnico Dunga entendesse. Não é ele quem determina o assunto que será debatido, mas sim o jornalista que chega e faz a pergunta que melhor lhe cabe.

No final das contas, pouco ou quase nada do balanço apresentado pela Fifa foi debatido naquela coletiva para a imprensa. O que mostra, também, o quanto o expediente está ficando desgastado no dia-a-dia da produção de conteúdo.

O jornalismo vigiado e controlado pelos assessores tem dificultado ainda mais o acesso do jornalista à fonte da informação. Há um controle exacerbado sobre quem fala, o que fala, quando fala e como fala. E isso gera um atrito considerável entre as partes.

O estouro de Dunga na coletiva após o jogo contra Costa do Marfim, ou a maneira ríspida como Jordaan respondeu sobre os questionamentos a respeito de seu irmão mostram a que ponto chegou o relacionamento da fonte com o jornalista na era moderna.

E, para variar, as respostas passam a ser sempre as mesmas. Não há mais paciência na relação. Só muda o endereço de onde o atrito ocorre. Mas, no esporte, fonte e jornalista definitivamente não falam a mesma língua…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Bafana Bafana

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Como estávamos prevendo, a África do Sul foi mesmo eliminada na primeira fase da Copa do Mundo em que são anfitriões. Temíamos (e continuando a temer) um possível enfraquecimento dos efeitos positivos que a Copa pode trazer ao país sul africano no pós-evento.

Em interessante entrevista concedida à revista oficial da Fifa, edição junho/julho de 2010, Alexander Koch, conselheiro das Nações Unidas, divisão de Sport for Development and Peace, comenta sobre os impactos da Copa na África do Sul, e em especial no caráter de união do país (nation-building). Comenta que esse efeito tem especial relevância para a África do Sul por conta de seu recente passado histórico e dos diversos grupos étnicos que hoje co-habitam o país.

Temos agora que observar não só o desenrolar da Copa, como também, e principalmente, o período do pós-Copa, para termos uma noção mais concreta de como a Copa influenciará o pais, mesmo tendo a seleção nacional sido eliminada logo na primeira fase.

O efeito psicológico dessa eliminação torna-se mais relevante quando a imprensa internacional noticia que esta foi a primeira vez que um país anfitrião abandona a festa logo na primeira fase.

De igual importância será observar esse impacto e trazê-lo para a percepção das autoridades do futebol no Brasil. Evidente está que dificilmente o Brasil seria eliminado na primeira fase em uma Copa disputada no nosso próprio país.

Alguns podem então pensar que essa questão não é relevante para a organização da Copa no Brasil. Porém, entendemos de forma diversa. Pressão similar que a África do Sul sofreu para ser classificada para a segunda fase sofrerá o Brasil caso não seja campeão.

Portanto, os conceitos de “fracasso” em um e outro caso são claramente distintos. Porém, o impacto desse fracasso no pós-Copa podem ser similares.

No nosso caso, esperamos que a forma de torcer no Brasil seja alterada. Que jogos de futebol sejam menos violentos. Que as torcidas sejam mais solidárias e que o futebol tenha um caráter maior de inclusão social.

Essas são as expectativas no plano psicológico dentro do futebol.

Essa é então a grande função social que nossa seleção canarinho terá: conseguir o caneco. E, para nós, mais um motivo para torcer pelo Brasil.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Sobre o Dunga e a imprensa

Os xingamentos murmurados do Dunga e a reação editorial da Globo são apenas as faces mais visíveis de um antigo confronto entre o técnico brasileiro e a imprensa. Confronto este que ganhou maiores contornos e colocou em pauta a discussão sobre a relação da Rede Globo com a seleção brasileira.

Existem duas maneiras de se analisar o caso e de extrair dele algo de produtivo, que – convenhamos, é algo bastante raro em discussões que permeiam o futebol. A primeira maneira é entender esse confronto sob a ótica da indústria do futebol, coisa que esta coluna tende a fazer sempre que possível.

Para a indústria do futebol, o jornalismo esportivo, em si, não existe. O que existe são veículos de mídia que reproduzem e se retroalimentam do conteúdo produzido por uma partida, um time ou um campeonato. Esse organismo é fundamental para a indústria, já que ele fomenta o interesse público para o jogo. Sem ele, a indústria do futebol certamente não teria o tamanho que ela tem hoje. Afinal, é apenas através desses meios que torcedores podem acompanhar as infinitas histórias que envolvem seus times, clubes, jogadores, técnicos, diretores e afins diariamente.

Normalmente, essa retroalimentação de conteúdo é de certa forma controlada pela disseminação da demanda por informação entre diversos clubes pertencentes ao mesmo sistema. Ou seja, por mais interessados que existam, eles direcionam seus esforços para diferentes clubes, o que ajuda a facilitar todo o processo. Em um sistema com cinco clubes, por exemplo, ao invés de 100 veículos focarem em um clube só, 20 veículos focam em cada time. Isso permite uma geração de informação bastante suficiente para alimentar os 100 veículos sem ter que precisar tomar medidas mais extremas em busca de conteúdo.

No caso da seleção, isso não acontece, já que esses 100 veículos se preocupam com informação provida apenas por uma fonte. Não apenas isso, o tempo de exploração do conteúdo nas plataformas se expande, já que em período de Copa o interesse do público pelo objeto em si também se multiplica. Mas não há informação suficiente para abastecer tamanha demanda. Então, para suprir a necessidade da retroalimentação de todo o processo, algumas informações são exageradas como forma de compensar a ausência de novos conteúdos. Ou então inventadas, o que não é raro acontecer.

Como a demanda por informação é enorme, a fonte da organização se coloca no direito de cobrar pela exploração midiática. Assumindo que essa operação é fundamentada em um caráter privado, isso é bastante justo. A quem paga, a fonte se abre e permite uma exploração mais profunda de seu conteúdo. É a lógica básica da venda de direitos de transmissão de qualquer evento, esportivo ou não. Daí, portanto, a percepção de privilégio exclusivo que a Globo possui, e que outros canais também deveriam ter. E daí também a sua revolta quando não os obtém ou então quando um de seus profissionais é xingado em público pelo técnico da seleção, que falha gravemente ao não se adaptar ou compreender o caráter de ampla exposição do seu cargo e do time que dirige, do qual ele mesmo já fez parte e sofreu com aquilo que pode ser considerada uma falha de oferta de informações. Como técnico, ele é pago pela CBF, que recebe dinheiro da FIFA, que, assim como a própria CBF, recebe dinheiro da Globo, direta e indiretamente.

Entretanto, a discussão foge da análise exclusivamente industrial uma vez que, no Brasil, existe muita confusão sobre o real caráter do futebol e da seleção brasileira, o que leva à segunda forma de análise do conflito entre Dunga e imprensa. Sob a análise privada, tudo isso que foi escrito acima é válido. Mas se o futebol e a seleção brasileira são considerados algo maior do que um produto gerador de conteúdo e possuem uma legitimidade de representação de todo Estado brasileiro, tudo isso acima precisa ser descartado. Afinal, se é um bem público, não pode haver privilégio. Se é um bem público, é preciso que exista o jornalismo, ainda que não obrigatoriamente caracterizado como esportivo. Se é um bem público, toda informação deve ser acessível a qualquer cidadão através de qualquer meio existente.

Um consenso a respeito do caráter público ou privado da seleção brasileira está muito longe de existir, se é que um dia existirá, e, enquanto isso não acontece, cada lado faz uso daquilo que melhor se concilia com seus próprios interesses. Com isso, o conflito continuará a existir, seja ele técnico x imprensa, técnico x Globo ou Globo x imprensa. E continuará, também, a fazer vítimas. Que, neste caso específico, são principalmente a polidez e a língua portuguesa.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br  

Leia mais:
A importância do Media Training e o novo ‘ruído’ na trajetória de Dunga
Dunga assume equívoco e pede desculpas à torcida

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Torcida pela seleção

Essa sempre foi uma das maiores críticas de Dunga, enquanto comentarista do BandSports na Copa de 2006, para com o comportamento da mídia. Não se pode torcer contra a seleção brasileira quando começa a Copa do Mundo. O jornalista, na cabeça de Dunga, tem de apoiar e se apoiar no time nacional. Hoje, como treinador da seleção, sua cabeça é ainda mais firme nessa convicção.

Mas não é apenas Dunga quem tem esse tipo de racha com a mídia. Em quase todos os treinos de seleções, vimos treinadores e jornalistas duelando em torno do mesmo tema quase que o tempo todo. O desabafo de Maradona após conquistar a vaga para o Mundial é uma das sínteses desse fenômeno que acomete toda seleção que vai para a Copa.

Mas afinal, vale ou não torcer pelo time que representa o seu país?

A pergunta é emblemática e geralmente não está bem resolvida na cabeça do próprio jornalista. Em busca de justificativas para dizer o motivo de estar torcendo pela seleção brasileira, geralmente o primeiro argumento é de que “se não fosse o time nacional, a ida para o evento simplesmente não aconteceria”.

Balela pura.

O Brasil não tem tradição em Jogos Olímpicos, mas mesmo assim manda centenas de jornalistas para a cobertura do evento. Da mesma forma, na última edição dos Jogos de Inverno, tivemos cinco atletas na competição e mais de uma centena de jornalistas brasileiros na cobertura, in loco, do evento. Não é o Brasil que leva a mídia ao evento, mas o evento que justifica a atração da mídia para ele.

Só que o mais curioso é observar que, mundialmente, a história se repete. Dunga, Maradona, Marcelo Lippi, Carlos Queiroz… Não faz diferença quem é o treinador ou qual é a seleção. O jornalista, via de regra, acha que está faltando algo para a seleção de seu país.

Os maiores entreveros entre jornalista e entidades aqui na África do Sul aconteceram durante as entrevistas coletivas. De tanto controle que se tenta fazer para manipular a saída de informação, fica claro que isso só desgasta a relação jornalista-seleção.

Mas o engraçado mesmo é quando a bola começa a rolar. Aí parece que todo o discurso é abandonado, e o jornalista torna-se tão torcedor quanto quem está no país, torcendo pela vitória do time nacional.

Está claro de que torcer é o que o jornalista mais faz em terras sul-africanas. Independentemente de país e relacionamento com o treinador, o que importa é ver o time sair de campo com um trunfo.

No final das contas, os atritos entre treinadores e jornalistas se dão porque ambos não sabem quando é a hora de torcer e quando é o momento de trabalhar. Quando chegarmos a essa proporção, as notícias vão ter mais qualidade. E os eventos, certamente, serão muito mais tranquilos para se trabalhar… Tanto de um lado, quanto do outro.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Ghost writer

Imagine você contratado por uma pessoa ou por uma editora para escrever uma biografia.

A biografia pode ser do próprio contratante.

O contratante pode ter tido uma vida tão rica e intrincada de relacionamentos e jogos de poder, na qual o peso da verdade – e das versões das histórias – é exponencialmente maior do que a sua vida de escritor medíocre.

E o resultado final – o livro – é desejado por muitos. Principalmente antes da publicação.

Logo, é a sua vida que está em jogo. Não a do biografado.

Esse é o enredo resumido do excelente filme de Roman Polanski, O Escritor Fantasma que, acredito, teria ficado mais apropriado se mantido no original – Ghost Writer – em cartaz nos cinemas.

O protagonista aceita fazer o trabalho de seu antecessor, morto em circunstâncias ainda imprecisas, para escrever a biografia do ex-Primeiro Ministro da Inglaterra, agora vivendo no auto-exílio nos EUA, cujos manuscritos já haviam sido esboçados.

O problema começa quando o atual escritor, revisando o texto, passa a investigar algumas informações, visando estar convencido se há identidade entre a verdade da obra e a realidade.

A Aristóteles foi atribuída a frase: “a única verdade é a realidade”.

No filme, a realidade começa a ficar vívida demais para o escritor. E ele, ao se declarar sabedor da verdade da biografia do político, passa a correr risco de vida e o pânico lhe atormenta.


 

Fiquei tentado a me imaginar sendo ghost writer de algumas figuras célebres e não menos polêmicas do futebol mundial.

João Havelange. Joseph Blatter. Platini. Pelé. Maradona. Romário. Ronaldo. George Best. Ricardo Teixeira. Beckenbauer. Mario Celso Petraglia. Fabio Koff. Roberto Marinho. Juan Figger.

Essas seriam figuras óbvias demais para todos nós, pois são oriundas do futebol.

A coisa iria esquentar com a biografia de outros tantos e sua conexão com futebol. Especialmente os líderes políticos.

Ou seja, o lado invisível disso.

Hitler. Churchill. Berlusconi. Lula. Orlando Silva, nosso ministro dos Esportes. Os ditadores e autocratas de Tanzânia e Zimbábue, que pagaram milhões de dólares para os amistosos do Brasil antes da Copa 2010.

Os donos de empresas como Adidas, Nike, Puma, Traffic e tantas outras.

Iria esquentar ainda mais quando esses dois caminhos se entrelaçassem.

Nessa altura dos interesses cruzados, se eu fosse o ghost writer, talvez não estaria mais aqui pra contar história alguma…

Em tempo: se pudesse, escolheria sê-lo do Juan Figger.

Pois, como diz um amigo meu, em brincadeira, se você começa a investigar as empresas, todas elas vão acabar no Silvio Santos, o homem mais rico do Brasil.

No futebol, sempre achei que todas elas acabam, ou pelo menos passam, pelo Juan Figger.

Para interagir com o autor: barp@universidadedoutebol.com.br

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A importância do desempenho dos Bafana-Bafana

Diversos estudos foram feitos e publicados até hoje acerca dos impactos da Copa do Mundo da Fifa nos países-sede. De maneira geral, os autores especializados são uníssonos ao defenderem os benefícios que a Copa promove no determinado país.

Tais benefícios são geralmente representados por um aquecimento na economia, por uma melhora na infra-estrutura, segurança, transportes públicos, etc. Também se comenta que a Copa promove uma melhora nos campeonatos locais de clubes, com um maior interesse pela mídia e patrocinadores pelo futebol, entre outros.

Alguns autores também apontam possíveis pontos negativos, como o endividamento causado de maneira geral pela obras realizadas nos preparativos para a Copa e também pela sub-utilização dos estádios ultra-modernos que são construídos, muitas vezes em locais de pouca utilização no pós-Copa.

Diante de tais comentários, muitas vezes genéricos e pré-fabricados, a tendência é esquecer o mais importante: não importa todos esses chavões. É necessário que se analise a situação particular de cada país, para saber, então, quais seriam os impactos possíveis.

No caso da África do Sul, tendo em vista o seu passado recente de conquista da democracia, o principal benefício seria aquele de ordem social e psicológico, ficando todo o legado material um pouco de lado.

A África do Sul, apesar do fim do apartheid, ainda é um país com fortes traços de segregação e exclusão social. Os legados amargos do regime do apartheid ainda estão longe de serem esquecidos e superados. É por isso que um legado psicológico que promovesse um espírito de união nacional entre brancos e negros na África do Sul seria o maior dos feitos que a Copa poderia alcançar.

Muito bem. Até o momento, vemos uma África do Sul em festas, o show das vuvuzelas. Mas uma grande preocupação, que já foi levantada aqui nesta coluna no passado começa a aparecer muito precocemente. O desempenho negativo da seleção nacional da África do Sul.

Aqui mesmo no Brasil esse fenômeno sempre ocorre: o futebol faz as pessoas esquecerem seus problemas e ficarem felizes com a simples vitória do Brasil. Não é à toa que muitos líderes políticos incentivam, e muito, suas seleções.

Com a mais do que possível, ou provável, eliminação da África do Sul na primeira fase, esse efeito de esquecimento dos problemas pode ser invertido, e tornar-se um potencializador dos problemas existentes.

Não acho que o evento da copa será necessariamente prejudicado com a eliminação dos “bafana-bafana”. Mas tenho convicção de que o efeito moral do período pós-Copa será bem diferente em caso de sucesso ou não do time (entenda-se por sucesso um desempenho que dê orgulho ao povo, e não necessariamente a conquista da Copa).

O desempenho na Copa das Confederações, por exemplo, animou a população. Mas a eliminação precoce do time no evento principal, especialmente logo na primeira fase, pode por tudo a perder.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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III Conferência Nacional de Esporte e Lazer: intervir é preciso!

Era uma vez, um general que não deixava seus “colegas de farda” do QG em paz… Para ele, princípios e ética eram inegociáveis, e nada no mundo justificava abrir mão deles em nome de interesses políticos. Longe de se perceber “apolítico”, era daqueles poucos que sabiam discernir entre política e politicagem

Pois bem… Irritados com aquele general, puseram-se os demais a pensar uma maneira de retirá-lo do jogo… Pensa daqui, pensa dali e… Alguém traz uma ideia genial, logo aprovada por todos.

– Por que não envolver o general em uma guerra de mentirinha, camuflando-a de modo a parecer verdadeira a seus olhos? Assim pensaram e assim fizeram, e daquele dia em diante o general, crédulo na humanidade e absorto em sua importante missão, nunca mais os incomodou em suas ações e estratégias voltadas para o mundo da política real…

Lembrei-me dessa pequena estória por conta de alguns acontecimentos no campo esportivo… Estamos (quase) todos com as atenções voltadas para a África do Sul, não por conta dos problemas que a afligem e ao continente africano, mas sim pela Copa do Mundo de futebol que lá acontece, deixando em segundo plano tudo o mais… Das eleições presidenciais até outros assuntos do próprio universo esportivo, como a realização da III Conferência Nacional de Esporte e Lazer, organizada pelo Ministério do Esporte.

O modelo conceitual da Conferência não poderia ser mais bem desenhado: trata-se de ampliar a participação da sociedade civil organizada nas questões afetas à definição das políticas esportiva e de lazer brasileiras, trazendo para esse espaço aquilo que já se encontra enraizado na cultura política de outros campos/segmentos sociais, qual seja, a imperiosa necessidade da presença do controle social e da participação popular na definição das ações do poder público voltadas para a elaboração e execução de suas políticas.

Sua primeira edição, em 2004, deu-nos a impressão de que ela viria pra valer. Esporte, Lazer e Desenvolvimento Humano foi seu tema central. Experiência impar, dada a ausência quase que absoluta da tradição de espaços de construção coletiva e colegiada das decisões tomadas na história esportiva brasileira, mais acostumada com conferencistas que se recusavam a dialogar com o público, seja lá o sentido que queiram dar a esta expressão.

A segunda, em 2006, embora já carregasse o peso da desconfiança pela ausência de implementação das deliberações havidas por ocasião da 1ª, ainda mobilizaram municípios, estados e regiões em fases que antecederam sua etapa nacional, colocando todos refletindo sobre o sistema esportivo e de lazer brasileiros. Construindo o Sistema Nacional de Esporte e Lazer foi seu nome de batismo, expressando nele próprio o reconhecimento do atraso da área diante da mera constatação dos 18 anos que então completava o sistema nacional de saúde e os outros tantos da educação, ao lado de um debate no campo da cultura que já a colocava à frente da esfera esportiva.

A não realização de sua 3ª versão em 2008, ou mesmo em 2009, já anunciava algo pouco promissor. A falta de vontade política do Ministério do Esporte de dar vazão à construção das condições objetivas para a consecução das deliberações tomadas naquele fórum ficou evidente tanto com o simples enumerar das deliberações que vieram a se materializar em política de governo, quanto com o próprio anúncio do tema central da III Conferência, convenientemente pensada para 2010, ano eleitoral: Plano Decenal do Esporte e Lazer: 10 pontos em 10 anos para projetar o Brasil entre os 10 mais.

Aquilo que era central na 2ª Conferência se mistura a outros eixos de debate, numa clara perda de importância facilmente compreendida pela ausência de disposição dos senhores dos anéis de debaterem mudanças em uma estrutura que lhes vem servindo como se feita sob medida a seus interesses de manutenção do status quo… Quem se habilita a fazer um levantamento dos anos de empoderamento desses senhores à frente de suas entidades? É um acinte à lógica democrática!

O documento que a anuncia é forjado em uma matriz aparentemente ousada, mas tacanha quando revelada sua base paradigmática – a do alto rendimento – e sua perversa materialização em políticas de governo só não é percebida pelos… Que se envolveram na guerra de mentirinha, tal qual o general de nossa estorinha…

Se não ficarmos atentos, seremos vítimas de engodo, legitimando aquilo já decidido na guerra de verdade, na política real… Peguemos, por exemplo, a realização, em nosso país, da Copa do Mundo de Futebol em 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, de cuja decisão participaram Fifa e CBF e COI e COB, respectivamente, bem como a política de financiamento do esporte desavergonhadamente voltada para o alto rendimento em detrimento da compreensão do direito ao acesso ao esporte e ao lazer por parte da sociedade brasileira… A quem duvida, convido a fazer uma breve análise da execução orçamentária do Ministério do Esporte desde sua criação até os dias atuais, triste constatação para quem acreditava na mudança…

Engodo, segundo o “Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa”, é “coisa com que se seduz alguém…”. Deixa-se engodar aquele que permite ser enganado com promessas vãs. Não podemos permitir sermos empulhados, alvos de zombarias…

Voltemos nossas atenções para o lócus da política concreta; reconheçamos o caráter conservador, retrógrado e reacionário do campo esportivo e a aliança com ele construída por setores aparentemente progressistas; identifiquemos no projeto Brasil potência esportiva o modelo que dá as costas às desigualdades sociais que nos fazem, aí sim, imbatíveis; reconheçamos em nossos jovens futebolistas, “pé-de-obra” vendida no mercado internacional da bola por empresários que nada ficam devendo aos donos de escravos de um passado não tão remoto como parece ser.

Mas também reconheçamos, lançando mão do princípio da contradição, o caráter não monolítico das instituições, buscando fortalecer seus setores dotados de postura contra-hegemônica capaz de subverter a relação de poder hoje configurada, única possibilidade de darmos sentido emancipatório ao processo de participação popular na construção da política esportiva e de lazer brasileira.

Que a resposta à pergunta sobre qual conferência queremos – a do engodo ou a da qualificação da participação popular/controle social na elaboração e execução de políticas de esporte e lazer – não só não deixe dúvidas quanto ao compromisso com a defesa da segunda premissa, como também contribua na mudança da correlação de forças historicamente presente no campo esportivo, condição indispensável para que, arejando-o, oxigenando-o, também nele possamos afirmar que a esperança venceu o medo.

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

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A Fifa e o Marketing de Emboscada

A emboscada é tão antiga quanto as batalhas. A partir do momento em que diferentes grupos começaram a entrar em combate, a emboscada foi adotada como estratégia.

A idéia da emboscada é simples. Se você tem um grupo forte e vai entrar em conflito contra um grupo fraco, você vai pra cima no combate direto. Se você tem um grupo fraco que vai entrar em combate contra um grupo forte, porém, você precisa adotar uma estratégia que permita anular a força do inimigo e fazer com que a situação lhe dê alguma vantagem no combate. Daí, então, você tenta a emboscada, que consiste em uma ação planejada que faz uso do elemento surpresa e das condições ambientais para colocar o inimigo em uma situação de inferioridade, mesmo que ele seja mais poderoso ou em maior número.

Para uma emboscada dar certo, ela precisa ser muito bem planejada, muito bem organizada e muito bem executada, além de ter que contar com uma certa dose de ingenuidade do inimigo. E foi tudo isso que a cervejaria holandesa Bavaria fez nessa Copa. Foi uma ação de marketing de emboscada primorosa.

Quando as câmeras do estádio que era palco de Holanda x Dinamarca mostraram o grupo de torcedoras holandesas trajando micro-vestidos alaranjados, ninguém que não fosse da Holanda imaginava que aquele era um grupo de torcedoras organizado por uma empresa. Aos olhos internacionais, era apenas um grupo de amigas que deveria ter viajado para a Holanda para festar durante a Copa do Mundo. Aos olhos da Fifa, era uma ameaça à Ambev, dona da Budweiser e patrocinadora oficial do evento. Tanto era uma ameaça que o grupo de meninas foi arrastado com certa violência para longe de suas cadeiras e levado a uma sala do estádio onde ficaram trancadas por algumas horas. Duas delas, supostamente as organizadoras e de fato as únicas holandesas do grupo, foram inclusive presas posteriormente, acusadas de infrigir a nova lei que a África do Sul criou para a Copa que torna o marketing de emboscada crime.

E foi aí, bem aí, que a Fifa caiu na emboscada armada pela Bavaria. A verdade é que se a Fifa não tivesse feito nada, ninguém ia saber que os vestidos que as meninas usavam eram parte de um brinde distribuído pela Bavaria na Holanda, afinal nem marca eles tinham – diferente das calças que a mesma empresa distribuiu em 2006 e que fez com que alguns torcedores tivessesm que assistir a um jogo da Holanda de cuecas. Mas como a Fifa tomou uma contra-medida desproporcional, algo que era previsível, o caso teve repercussão mundial, e os poucos milhares de euros gastos pela Bavaria na confecção dos vestidos e na contratação das meninas, se transformou em milhões de euros ganhos com exposição espontânea. A Fifa caiu como um patinho. A ação foi rápida, bem planejada e organizada, e o inimigo foi extremamente ingênuo. Típica emboscada.

Uma marca de jeans, que eu não sei qual é, tentou fazer a mesma coisa ao estender uma camisa gigante na torcida do Brasil durante o primeiro jogo. O programa Pânico também, aparentemente, colocou uma faixa na beira do gramado. Como não houve uma reação desproporcional, os casos não ganharam maior repercussão.

O da Bavaria não. Foi no ponto. Be-a-bá do marketing de guerrilha. Case de estudo para faculdades.

Pena que a cerveja é ruim.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br  

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Alto nível: como avaliar e formar jogadores – mini fórum com os leitores

Hoje (ou nesta terça), começa (ou começou, depende de quando o amigo ler esse texto) a Copa para o Brasil. Dunga diria que a copa começou à quase quatro anos, quando deu início ao seu trabalho a frente de seleção.

Planejamento, coerência, filosofia de trabalho e comprometimento são os termos da moda. Mas aproveitando o gancho de tão significativo evento, vamos refletir sobre alguns aspectos.

Se pela ótica da comissão técnica (e não desmereço nem critico esses pontos), dentre os critérios de escolha da seleção brasileira estava o comprometimento e o próprio desempenho técnico dentro da seleção brasileira, em maiores destaques do que o próprio desempenho técnico pelos clubes, pergunto: como se avalia um desempenho e o que esperamos de um jogador de seleção brasileira em termos de performance?

Se hoje o Brasil parou para ver a estréia da seleção, estamos em frente a jogadores de alto nível, de referencia mundial, lembrando novamente a frase de Phil Jackson que nem sempre os melhores jogadores formam o grupo mais forte, mas independente disso é um grupo de alto gabarito, ainda que alguns questionem.

Olhando para a formação de jogadores, e depois para uma seleção que representa o país numa Copa do Mundo, é inevitável pensarmos em como o Brasil prepara seu talento para que chegue a esses níveis.

E nesse ponto gostaria apenas de levantar algumas questões, haja vista que é necessário definir critérios para avaliar o desempenho de alto nível e adequá-los a processos de formação para que se desenvolva um projeto de formação de excelência. Assim, a pergunta é como avaliamos os jogadores de uma seleção? Quais os critérios e aspectos que a geração atual apresenta que devemos buscar nas próximas gerações?

Sim, a pergunta começa a ganhar uma nova perspectiva. E para o amigo que ainda me acompanha nesta leitura, trago um “balde de água fria”. Não tenho a respostas para tais perguntas.

“Brincadeira! Essa é boa… faz a pergunta e não responde” alguns podem dizer. Porém peço compreensão, pois a idéia é justamente discutir que passos devem ser seguidos, que processos devem ser implementados, aproveitando-me novamente da grande participação dos amigos com seus comentários e sugestões.

Tal pergunta pode ser direcionada na busca por uma diretriz de formação de jogadores. Não entro no mérito dos aspectos pedagógicos, de formação humana e geral que são imprescindíveis, mas quero me ater na formação final propriamente dita identificando potenciais jogadores para futuras Copas do Mundo, ou seja, já olhando para a ponta da pirâmide.

Como a análise de jogo, o scout, a análise de desempenho com o auxílio da ciência, da tecnologia e do conhecimento específico propriamente dito devem ser desenvolvidos e implementados na busca de novos jogadores.

Essa discussão será composta por alguns pontos ao longo das próximas semanas, (em tempo, na próxima fecharemos a discussão do tema copa 3D, conforme o prometido. Depois damos sequência ao tema apresentado hoje).

Como avaliar os jogadores de alto nível do ponto de viste técnico e tático
Como definir parâmetros para a formação de novos jogadores com base nessa avaliação
Como adequar tais parâmetros aos processos pedagógicos
Como intervir com base no desempenho técnico e tático de novos jogadores

Como o amigo pode perceber não é uma discussão superficial, por isso conto novamente com os comentários e participações de todos para abrirmos mais um mini fórum de discussão.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br